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www.revistaoutdoor.pt nº7 setembro/outubro 2012 outdoor Revista Torna-te fã porto santo, a primavera eterna por Aurélio Faria Entrevista com João Rodrigues aventura Kilimanjaro por Luísa Tomé desporto adaptado Vela sem Limites evento Grande Trail Serra D´Arga pedais de xisto Rota em BTT nas Aldeias Históricas sobrevivência Como sobreviver a Catástrofes descobrir sintra Diretrizes EDITORIAL 05 GRANDE REPORTAGEM PORTO SANTO, Primavera Eterna por Aurélio Faria 06 EM FAMÍLIA ATIVIDADE — Costa do Sol By Kayak nº7 Setembro_Outubro 2012 14 VIAGEM — Auroras Boreais 16 EVENTO — Grande Trail Serra D´Agra 20 aventura EVENTO — Festival Bike Portugal 24 DESAFIO — Kilimanjaro por Luísa Tomé 26 06 entrevista João Rodrigues — Um sucesso de um velejador! 34 POR TERRA AVENTURA — Pedais de Xisto 38 EVENTO — Ultra Trail Aldeias do Xisto 44 POR ÁGUA ATIVIDADE — Vela 46 evento — Foi assim o The Tall Ships 52 CRÓNICA — Heróis do Mar 56 FOTOGRAFIA PORTFOLIO DO MÊS — José Carlos Sousa 62 FOTO-REPORTAGEM — Vindimas no Dão 68 FOTO DO MÊS - A Praia de Porto Santo 74 SOS Sobreviver a Catástrofes - A vida em Campo 76 Percorrer descalço, de preferência na maré baixa, ao nascer ou ao pôr do sol, os 9km de areia fina e dourada é a mais conhecida atividade outdoor do Porto Santo. Aurélio Faria dá-nos a conhecer os encantos desta ilha. 34 DESCOBRIR região de sintra 80 projeto — Rumo a Santiago 88 LIVRO AVENTURA — Interrail 92 DESAFIO — Rescaldo Ironmena 98 kids quintas pedagógicas 100 ATIVIDADES OUTDOOR 104 DESPORTO ADAPTADO VELA SEM LIMITES 110 ESPAÇO APECATE O novo Plano de Formação de Activos da APECATE Uma história de sucesso... Estivemos à conversa com João Rodrigues. Com um currículo fantástico, o velejador contou-nos alguns segredos e deixou-nos com imensa vontade de velejar... Uma entrevista a não perder! 114 equipamento 118 vouchers 120 a fechar 122 Os textos e imagens presentes na Revista Outdoor são da responsabilidade dos seus autores. Não é premitido editar, reproduzir, duplicar, copiar, vender ou revender, qualquer informação presente na revista. 80 Na Região de Sintra existem inúmeros caminhos e mistérios por descobrir. Neste número damos a conhecer a principais pequenas rotas que nos levarão a conhecer esta região de uma forma diferente. Editorial Ficha técnica chegou o número 7! V amos desfrutar dos últimos dias de Verão? www.portalaventuras.clix.pt Edição nº6 WPG – Web Portals Lda NPC: 509630472 Capital Social: 10.000,00 Este é o mote para mais um número da Revista Outdoor! Nesta edição iniciamos a nossa fantástica viagem pelo Mundo Outdoor na ilha do Porto Santo, terra de boas gentes e de uma beleza inconfundível! A pé, de BTT, ou a nado, não o deixaremos ficar indiferente a este, nosso, paraíso natural. Rua Melvin Jones Nº5 Bc – 2610-297 Alfragide Telefone: 214702971 Site internet: www.revistaoutdoor.pt E-mail: [email protected] Registo ERC n.º 126085 Das ilhas, passamos para o continente onde não faltam sugestões de eventos e atividades para realizar sozinho, em família ou com amigos! Paramos em Sintra onde vamos descobrir 5 pequenas rotas.. os famosos PR’s! Mas, se as atividades por Terra não são o seu forte, aceite o nosso convite, venha velejar connosco e descubra alguns segredos de João Rodrigues, um dos atletas portugueses que marcou presença nos Jogos Olímpicos. Na categoria de fotografia, os amantes da natureza podem deliciar-se com as vindimas na região do Douro e com mais um fantástico portfólio de um fotógrafo Português. Quanto à foto do mês, voltamos ao Porto Santo e à sua magnífica praia galardoada como uma das 7 maravilhas. Lá por fora, convidamo-lo a descobrir o Kilimanjaro e apresentamos-lhe o Livro Interrail… desfrute, leia e aventure-se! Continue a seguir-nos no Portal Aventuras e os seus fins de semana já não serão os mesmos! Até Novembro e não se esqueça, desafie a rotina! ø Nuno Neves Editor e Diretor Nuno Neves | [email protected] Marketing, Comunicação e Eventos Isa Helena | [email protected] Sofia Carvalho | [email protected] BEBIANA CRUZ | [email protected] Revisão Cláudia Caetano Colaboraram neste número: ana barbosa, ana lima, ana quinta, antónio pedro nobre, artur pegas, Aurélio Faria, carlos sá, charles lindley, filomena gomes, joão rodrigues, josé carlos sousa, luísa tomé, luís varela, pedro pedrosa, susana muchacho. som bebiana cruz Design Editorial Inês Rosado Fotografia de capa aurélio faria Desenvolvimento Ângelo Santos 5 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR Grande Reportagem PORTO SANTO, PRIMAVERA ETERNA Reportagem Porto Santo Já ouviu falar do Piano de Mugearite? Sabe onde descansa o mero Beiçolas? Qual é a localização do primeiro farol para os navios vindos da Europa? É fácil encontrar o Facho e as matamorras ligadas aos ataques dos piratas? Em que ilhéu há galerias subterrâneas e fornos da cal? A que é que os porto santenses chamam Olho de polvo, Boca de leão e Cabeço do caranguejo? Ainda há moinhos em laboração? E muros emparelhados de proteção às videiras de jacquet? Indicará o GC374YK as piscinas naturais das Salemas? O que resta do tesouro do Galeão holandês? Onde voam o garajau e as cagarras? O que é que fascinou Charles Darwin no Porto Santo? Qual é a mais recente área marinha protegida nacional? Grande Reportagem P ercorrer descalço, de preferência na maré baixa, ao nascer ou ao pôr do sol, os 9km de areia fina e dourada é a mais conhecida atividade outdoor do Porto Santo. Mas para os menos sedentários e mais curiosos, pisar a areia fina do recife de coral desmantelado há 40 mil anos, deverá ser apenas o primeiro passo num paraíso atlântico do turismo proativo e sem limite de idade. “O clima seco e estável, sem grandes amplitudes na temperatura do ar e da água do mar, - nunca mais de dez graus, um recorde no Atlântico... -, permite durante todo o ano passeios a pé, mergulho e caça submarina, observação de aves, de cetáceos e baleias, à prática de BTT e de desportos aquáticos...” - resume Nuno Silva, sócio da Bonus Journey, uma das empresas que organiza atividades outdoor. windsurf, com garrafa de mergulho, com GPS na mão ou binóculos ao pescoço... - e quem tiver tempo deve experimentar todas as hipóteses-, é possível observar inúmeras preciosidades biológicas, geológicas e culturais nesta ilha de 42 km2 formada há 19 milhões de anos e povoada desde o século XV. Os limites são a vontade pessoal e a duração da estadia. As rotas propostas são uma singela escolha pessoal, e podem ser feitas por conta própria, ou profissionalmente com empresas locais. (vide caixa) TREKKING: AS ROTAS DOS PICOS Os 517m do cume do Facho, o pico mais alto da ilha, valem pela vista, soberba, que revela a dimensão da ilha e as diferenças entre as altas, escarpadas e recortadas costas oriental e norte e a praia de areia que ocupa quase todo o litoral sul. Do cume onde outrora se acendiam fogueiras com feixes (fachos) para alertar de ataques de piratas ou da passagem de baleias, ILHA OUTDOOR observa-se, a olho nú, os 6 ilhéus As múltiplas atividades outdoor do Porto Santo e a silhueta mon“As múltipossíveis respondem a estas e a tanhosa da Madeira. plas atividades centenas de outras curiosidaSubir ao pico do Facho, imoutdoor possíveis des que revelam a rica e sofriplica um pequeno desvio da da história da Ilha Dourada. PR2, uma das pequenas rorespondem a estas e De janeiro a dezembro...a tas já sinalizadas na ilha. a centenas de outras pé, de bicicleta, de cavalo ou Com variantes norte e sul, curiosidades que revede barco, numa prancha de a PR2 ou Vereda do Pico do Foto: Bonus Journey lam a rica e sofrida história da Ilha Dourada.“ 8 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR Reportagem Porto Santo Foto: Bonus Journey Foto: Bonus Journey “Os mais Castelo, permite a ascensão do da como o cabeço do Caranguejo atentos e silenmais arborizado e conhecido marcam as primeiras observapico porto santense. Refúgio e ções, antes da pisar caminho ciosos na marcha defesa contra piratas argelidominado pelos Ciprestes poderão ter a sorte de nos e franceses, o pico Caste(Cupressus macrocarpa). avistar perdizes e poulo guarda ainda vestígios das Integrada na Rede Natura antigas fortificações e da cis2000, na Diretiva Habitats, a pas, ou rapinas como terna. Área do Pico Branco e da Terra a Manta e o FranNo cimo, a estátua de Schiappa Chã regista a maior concentracelho.” de Azevedo homenageia o orgação de flora endémica bem connizador da reflorestação do Porservada. to Santo, e permite observar a árdua Em escarpas praticamente inacesconstrução dos muros emparelhados que síveis, e aqui a ajuda de um guia é fundatravaram a erosão com exemplares de espécies mental -, é possível observar Urtiga (Urtica exóticas e mais resistentes à adversidade cli- portosanctana), Erisimum arbuscula, Molarimatérica, como o Pinheiro de Alepo, o Pinheiro nha (Fumaria muralis subsp. Muralis var. laeta) bravo e o Cipreste. Os mais atentos e silenciosos e a Vicia costae. Nas arribas desta área, poisam na marcha poderão ter a sorte de avistar per- duas espécies de aves marinhas, a Cagarra e o dizes e poupas, ou rapinas como a Manta e o Garajau. Francelho. VEREDA DO PICO BRANCO E TERRA CHÃ Outro desvio, noutra Pequena Rota, - a PR1 da Vereda do Pico Branco e Terra Chã-, permite conhecer uma das lendas locais. Conta a lenda que foragidos da lei ou dos piratas argelinos foram surpreendidos por uma derrocada, e ficaram sepultados na Furna dos Homiziados ou dos Amaziados. A gruta está situada nas imediações da vereda traçada para os burros que transportavam cereais que eram malhados no terreiro que ficou conhecido como Terra Chã. Esta é uma vereda panorâmica que permite vistas fantásticas, e o acesso ao topo do Pico Branco, assim designado por causa de uma coluna de pedra branca, e de líquenes brancos da espécie com nome comum de urzela (Rocella sp.), durante muito tempo usada na tinturaria. Na subida para o cume, a formação prismática da Rocha Quebrada e a falha rochosa conheci- O MUGEARITO DE ANA FERREIRA Mais baixo que os picos do nordeste, o rochoso Ana Ferreira (283m) assemelha-se ao dorso de um dinossauro, e é a maior saliência topográfica da parte ocidental do Porto Santo. No flanco leste, esconde aquele que é considerado por alguns especialistas, um dos tesouros geológicos mais bonitos do mundo: o Piano, ou Pedreira, os diques de mugearito com uma idade calculada em 12 milhões de anos. Na disjunção prismática remanescente de dezenas de anos de exploração de pedra, explicam os geólogos, pode ainda observar-se como decorreu o lento arrefecimento do magma. Os traquiandesitos, como são designadas estas rochas vulcânicas, foram naturalmente classificadas como Geossítio 1 (33° 02’ 36.31’’ N 16° 22’ 12.18’’ W) no recém-criado Geoparque do Porto Santo. (vide ROTA DARWINIANA). Curiosidade histórica contemporânea: a Pedrei- OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 9 Grande Reportagem ra foi palco nos anos 80 de um concerto que juntou a madeirense Road String Band com a continental Banda do Casaco. BTT E GEOCACHING: A ROTA DAS BAÍAS Foto: Carlos Freitas Com apenas metade da ilha asfaltada, e o resto em terra batida e gravilha, o Porto Santo é um paraíso praticamente inexplorado para os praticantes de BTT e que permite, aos mais afoitos praticantes, uma série de percursos downhill e crosscountry, ou rolar simplesmente até locais tranquilos. E para começar a pedalar nada como perguntar onde fica o parque fotovoltaico e o sítio de Linhares. Nas imediações, e dependendo altura do ano, é possível assistir à laboração do último moinho da ilha. Reconstruído por Manuel Eduardo Rodrigues, o proprietário compra, às vezes, alqueires de cevada e centeio só para ter o prazer de acionar as velas do moinho. Uma segunda sugestão: efetuar o percurso Ponta da Canaveira – Morenos, pedalar até ao cimo do Zimbralinho, e descer a pé, até à baía onde fundearam os navegadores portugueses “Quem fizer em 1418. O acesso, pela lia dúzia de cagação ao pico das Flores e ches referenciadas, por uma estrada de terra batida, é difícil, mas vale fora da Vila Baleira, e pelo mergulho na praia que coincidem com algude calhau de uma angra mas das rotas referidas, de rara beleza e águas ficará certamente a límpidas. Praticar BTT no Porto Sanconhecer bem a to permite aceder a baías e ilha.“ locais de possíveis mergulhos na pouco referenciada costa norte, e as descobertas poderão ser facilmente combinadas com a prática de Geocaching. Quem fizer a dúzia de caches referenciadas, fora da Vila Baleira, e que coincidem com algumas das rotas referidas, ficará certamente a conhecer bem a ilha. O Porto das Salemas (GC374JH), em baixa-mar (consultar tabela de marés) permite chapinhar numas piscinas naturais fantásticas. O Porto dos Frades (GC374YK) - a cache encontra-se perto do antigo forno da cal -, é outro oásis de tranquilidade. Para quem não tem vertigens nem medo de uma cache de nível 5 de terreno devido à fragilidade do solo, a Falésia das Cores (GC374Z3) impõe o maior desafio porto santense aos geocachers. O cabeço do Guilherme (GC3VRFB), geocache em manutenção, vale pela vista sobre o local onde se afundou em 1724 o galeão holandês 10 Setemrbo_Outubro 2012 OUTDOOR MERGULHO E MAR: A ROTA DOS ILHÉUS Foto: Carlos Freitas Foto: Carlos Freitas Foto: Carlos Freitas O Beiçolas é encontro obrigatório para quem mergulha no Madeirense. Naquele que é considerado já o melhor mergulho do arquipélago da Madeirense, o manso mero deixa-se tocar pelos mergulhadores que visitam o casco do cargueiro afundado. Além do Beiçolas, badejos, barracudas, enxaréus e raias são outros peixes que se podem facilmente observar no cargueiro transformado em recife artificial. À profundidade, posição e à distância perfeitas, OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 11 Reportagem Porto Santo repleto de peixe, e permitindo ainda imersões noturnas, o mergulho do Madeirense é um de muitos mergulhos possíveis em águas sempre claras, com visibilidade de dezenas de metros, e nunca frias (19/20o no inverno, e 24/25o no verão). Os 2 centros locais de mergulho organizam idas à dúzia de spots mais conhecidos: os Canhões (18m), um mergulho fácil, onde é possível encontrar munições de um galeão espanhol; a Baixinha e as Escadinhas; o Chinês, mergulho profundo...; as Bicudas, onde existe uma curiosa formação vulcânica, com bacias e canyons recortados como dedos; o Cabeço das Laranjas e o Jardim dos Leques... A maioria dos mergulhos é efetuada em profundidades inferiores a 35 metros, e nas imediações de 3 dos seis ilhéus do Porto Santo que integram a Rede Natura 2000 e desde 2008, a Rede de Áreas Marinhas e o Projeto Life. O desembarque nalguns ilhéus, só possível com agentes turísticos autorizados, vale pela observação da flora costeira da Macaronésia e da avifauna marinha que nidifica nos grandes rochedos-guardiões da ilha. Uma lagartixa e duas tarântulas endémicas valem ainda a visita, mas é a fauna malacológica, e as mais de cem espécies de caracóis, Foto: Carlos Freitas Slot ter Hooge (O castelo de Hooge). Com mar calmo, será difícil imaginar como terá sido o naufrágio em que morreram 221 pessoas. Mais fácil é perceber a cobiça do caçador de tesouros Robert Sténuit, que segundo arqueólogos portugueses, poderá ter retirado em 1975, 2 toneladas de prata em lingotes e moedas dos fundos do porto do Guilherme. Na Casa Colombo, alguns artefactos testemunham a história mal contada da descoberta do Slot ter Hooge. O calhau da serra de Fora ou Prainha, a praia do Contrim (costa norte, vereda à esquerda do Porto dos Frades), e a praia do Penedo do Sono (atrás do Porto de Abrigo), são outras sugestões para desmontar da bicicleta e dar um mergulho. Grande Reportagem alguns endémicos, que merecem o estatuto de proteção aos ilhéus. O ilhéu da Cal, ou ilhéu de Baixo, destaca-se pelas ricas minas de calcário. As encostas, perfuradas por cavernas, dão entrada a antigas galerias de exploração. O ilhéu de Cima foi nos primeiros tempos do povoamento conhecido também como ilhéu dos Dragoeiros, a árvore que produzia o tão procurado sangue de drago usado na tinturaria. anualmente à ilha praticantes de caça submarina. Diogo acompanhou durante o verão, os grupos privilegiados com outra hipótese outdoor: um mergulho na baía do Ingrato Grande, na base das galerias do ilhéu da Cal. Com botes motorizados, é possível ainda percorrer outras galerias naturais, junto ao mar, e conhecer formações como o Olho de Polvo e a Boca do Leão... BALEIAS E GOLFINHOS GEOSÍTIOS E A ROTA DARWINIANA «Estava sossegado no barco, à espera da saída Nos ilhéus ou na ilha, se encontrar um caracol, dos mergulhadores, e quando ouvi o esguicho pare porque poderá ser uma espécie única no mundo como a Serraturotula juliformis. Nas de água e o arfar, apanhei um susto...» Diogo Vasconcelos lembra o encontro imediato imediações da Fonte da Areia, é possível enconcom a pacífica mas gigantesca baleia piloto que trar facilmente fósseis de caracóis. Depois da viagem de circum-navegação, e de se acercou da embarcação. O neto do último vigia de baleias, caçadas até escrever “A origem das espécies”, o naturalis1982, lamenta que a atividade do avô não seja ta fascinou-se com a diversidade de moluscos agora desenvolvida para uma atividade que dá existentes no Porto Santo, quando não era ainda já emprego a muita gente nos Açores: a observa- conhecido o património geológico de excepção. ção de golfinhos, baleias e outros cetáceos, facil- A grande variedade de formas, rochas e estruturas geológicas, a maioria de origem vulcâmente avistados, a pouca distância das nica, permite uma interessante e pecostas porto santenses, sobretudo no dagógica rota outdoor com a visita inverno. “Em aos catorze geosítios do Geopark. Os mares da região são também qualquer parAlém da famosa disjunção prisrota para cardumes de cavalas te da ilha, e mesmo mática do pico de Ana Ferreira, da Índia, o tunídeo de carne sem grandes conhecia paisagem do ilhéu de Cima quase branca, e que atrai já mentos de geologia, é possível compreender a riqueza geomorfológica da ilha.” 12 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR Reportagem Porto Santo revela o Cabeço das Laranjas e os Tubos de Lava, a baía do Zimbralinho tem uma disjunção esferoidal, o porto das Salemas, os conjuntos de filões... Em qualquer parte da ilha, e mesmo sem grandes conhecimentos científicos, é possível compreender a riqueza geomorfológica da ilha. despertam a atenção. A construção do campo de golfe com a criação de uma zona húmida de 60 hectares dinamizou também nos últimos anos um novo ecossistema, que permite já a observação permanente de espécies como garças e patos-reais. VOO LIVRE E AVES: ROTAS AÉREAS A TROTE… Com ventos predominantes de norte e dominantes de sul e oeste, e devido à sua posição geográfica, o Porto Santo não será o local ideal para a prática de voo livre. Mas os pilotos experientes de parapente e asa delta encontram aqui, algumas semanas por ano, condições para voos curtos, mas inesquecíveis que terminam quase sempre em aterragens na praia. O sítio preferido de descolagem é o pico de Ana Ferreira. Com os pés assentes na terra, e binóculos bem assestados existem, no entanto, mas nos céus e arribas, condições únicas para a observação de aves, em particular das aves marinhas. Há duas IBA – Áreas Importantes para as Aves – identificadas, uma na parte ocidental, outra nos ilhéus, onde nidificam Cagarras, Pintainhos, Roques-de-Castro, Gaivotas de pata amarela, Almas Negras e Garajaus, e são avistadas anualmente migratórias como a Rola-do-mar e a Garça-branca. Entre as aves terrestres nidificantes, são as rapinas de maior porte como o Francelho e a Manta, ou pequenas aves como o Corre-Caminhos ou Canário da Terra, que mais Infelizmente, perdeu-se há muito a tradição das burricadas entre os veraneantes, e o burro do Porto Santo está agora praticamente extinto. Em alternativa, e a cavalo, na única empresa que comercializa esta hipótese, é possível ainda percorrer a trote ou a passo, interessantes percursos off road pelos caminhos florestais ou de terra batida. NADAR NO PARAÍSO Sem dúvida, a melhor maneira de terminar umas férias Outdoor será sempre, e num dia de mar calmo, dar umas braçadas nas águas da ponta da Calheta, onde, quais animais míticos, quase se tocam ilhéu da Cal e o pico de Ana Ferreira. Depois de uns dias no Porto Santo, é fácil crer no mito da Antiguidade e partir com a convicção de que o paraíso fica onde a Esfinge olha para o Dragão. ø Aurélio Faria Saiba Mais sobre o Porto Santo em PNMadeira.pt OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 13 Em Família costa do sol by kayak 14 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR Por automóvel, mota, comboio, bicicleta, a pé, patins, etc... são muitos os meios pelos quais desfrutamos a nossa maravilhosa costa. Agora, imagine-se diferente, imagine-se audaz e razoavelmente feliz ao disfrutar de tudo o que a Costa do Sol lhe pode oferecer, de uma só vez... por mar. O estuário do Tejo passou a ser um meio privilegiado por forma a que possa aliar desporto e turismo de uma forma segura, económica e fantástica. Com embarque no Porto de Recreio de Oeiras a BORK You dispõem de um variado leque de canoas, kayaks e surf skis permitindo adequar material e nível técnico de cada praticante. A “vontade” é o quanto baste para que desfrute do estuário do Tejo, não precisa de saber remar, muito menos de ser um super atleta, a BORK You enquadra os seus clientes de uma forma correta e escolhe a melhor rota, maré e embarcação. ø FICHA TÉCNICA As rotas da BORK: • A rota dos Fortes • Costa do Sol • Oeiras by Kayak • Cascais by Kayak • Lisbon by Kayak O que trazer: • Chinelos, ténis, botas neoprene • Calção de praia, de neoprene ou licra • Camisola ou t-shirt • Garrafa de água • Pode trazer máquina fotográfica (water proof), não se vai arrepender. Quem pode fazer: • Jovens a partir dos 8 anos de idade Material disponível: • Kayaks de mar • Surf Skis • Sit on tops • Pagaias • Coletes Preços: 20, 25 e 40€ O passeio inclui seguro por praticante, guia, palamenta (embarcação, colete e pagaia). Duração do passeio: Mínimo de 1 hora máximo de 4 horas, se as condições o permitirem a BORK You pode promover desembarque em uma das praias da costa e tirar proveito de uns bons mergulhos. Um Programa: Bork You OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 15 Em Família Atividade A traídos por locais como o Guincho, Cabo da Roca, Cascais, Estoril ou Belém, muitos turistas, desportistas e famílias passam grande parte do seu tempo a descobrir locais fantásticos ao longo de toda a Costa do Sol formando a nossa Riviera. Em Família Em busca das Auroras Boreais ano novo de exceção em busca das auroras boreais. Quando era criança, nas frias noites que antecediam o natal, passava bastante tempo a perscrutar o céu. Procurava em vão encontrar a azáfama das renas que puxavam o trenó do simpático velho de barbas. Mais tarde, percebi que o Pai Natal se fazia deslocar de formas mais terrenas, mas nem por isso deixei de olhar para o céu na esperança de ver nestas latitudes uma Aurora. A nossa viagem inicia-se em Reykjavik, e levar-nos-á a visitar o Geyser – o original! e a cascata Gulfoss, uma das mais impressionantes da Islândia. O dia terminará no sopé do vulcão Hekla onde iniciaremos uma “caça” às luzes do norte. Ao contrário do que se pensa, a Islândia não é demasiado fria no inverno. É fria, sem dúvida, mas se vos disser que a temperatura média na capital em janeiro é um grau negativo conseguimos perceber que não falamos de extremos. A corrente (quente) do Golfo banha a Islândia amenizando as agruras do inverno. Depois de uma retemperadora noite de sono, partiremos para Este para a região do maciço do vulcão Eyjafjallajökull, que ficou célebre por ser o responsável pela nuA magia de ver estas luzes dançantes que ora são verdes ora alaranjadas vem de fumo que inundou os ares Com esda Europa em 2010. torna-se real na Islândia. Entre perança, já Visita às quedas de água de Selnovembro e inícios de março as teremos visto aujalandsfoss - que podemos atranoites árticas por vezes dão-nos roras, mas a nossa vessar por detrás - e a Skógarespetáculos que ficam gravafoss onde segundo a lenda um dos para sempre na nossa mebusca continuará antigo viking escondeu um cinmória. Por isso, propomos que até encontrarmos to em ouro e onde por vezes se traga toda a sua família para um as mais belas e coloridas. OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 17 Em Família Viagem - Islândia O inverno a norte não tem só neve, gelo e frio. O inverno a norte não são só noites longas, sol tímido e uma lareira que não cessa de crepitar. O Grande Norte tem luz. Uma luz sem igual que raramente se encontra abaixo do paralelo 50 – São as Auroras Boreais, um espetáculo que todos os anos invade os céus da Islândia sem que para isso tenha que pedir licença. Em Família vê o seu reflexo. Com cinto ou não, esta queda de água é lindíssima e imponente (cerca de 60 metros). Visitaremos o centro de interpretação do vulcão Eyjafjallajökull e a quinta Þorvaldseyri, onde iremos aprender um pouco sobre a erupção de 2010 e os seus efeitos na vida quotidiana das populações. Aqui, os mais jovens podem ver ao vivo o que aprendem nas suas aulas de geografia. Mais tarde, visitaremos as praias negras da região de Vík e um dos maiores campos de lava da Islândia. Quando a noite finalmente cair e as temperaturas baixarem iniciaremos uma nova caça às auroras. regressaremos a Reykjavik, mas em rota teremos tempo para conhecer a povoação de Vík onde faremos um passeio nas suas praias de areia negra para observar os fantásticos pináculos de Reynisdrangar que se encontram junto ao mar. Segundo a lenda, os dois pináculos são dois trolls petrificados pelos deuses após terem tentado arrastar um navio para terra, sendo apanhados, foram transformados em rocha aos primeiros raios de sol da manhã. A norte da aldeia de Hveragerði, famosa pelas suas casas verdes, faremos um último passeio na região geotermal ou iremos a Grændalur onde poderemos usufruir de um banho termal e relaxar antes de regressarmos à capital. O hotel que nos aloja serve-nos de base para os próximos dois dias. Exploraremos um dos mais belos parques da Islândia considerado igualmente como dos maiores parques nacionais da Europa, o Parque Nacional de Vatnajökull. Iniciaremos a nossa visita na região sudeste do parque, uma zona com paisagens lindíssimas onde florestas crescem nas imediações de línguas glaciares que quase alcançam o mar. Sem dúvida, um local obrigatório para se visitar. Faremos uma caminhada entre bétulas até à queda de água de Svartifoss, famosa pelas suas colunas de basalto. No caminho, teremos fantásticas vistas sobre os dois maiores glaciares da Europa, os Vatnajökull e Hvannadalshnúkur cuja altitude é de 2110 metros. Com esperança, já teremos visto auroras, mas a nossa busca continuará até encontrarmos as mais belas e coloridas. Assim, passaremos a última semana do ano em busca das mais mágicas luzes dos céus e visitando um dos mais fantásticos locais do planeta, a Islândia. ø A noite de 31 de dezembro aproxima-se a passos largos e não tarda estará na hora de formular desejos para o novo ano e celebrar as belezas naturais que a Islândia nos mostrou. Por isso, 18 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR Artur Pegas Próxima viagem: Várias datas de outubro a abril. Especial fim de ano com saída a 25 de dezembro. www.papa-leguas.com Programa: D1: Voos cidade de origem - Reykjavik D2: Reykjávik D3: Reykjavík– Geysir – Gullfoss - Vulcão Hekla D4: Hekla – quedas de água de Seljalandsfoss e Skógarfoss – quinta Þorvaldseyri – Museu Skógasafn – Kirkjubæjarklaustur Parque Nacional de Vatnajökull - Skaftafell Jökulsárlón – Sheep farm Vík – Hot springs of Ölkelduháls – Reykjavik Voo de regresso D5: D6: D7: D8: Por Família Em terra Evento 20 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR O Grande Trail Serra D’Arga é um evento para toda a família. Estão inscritos mais de 900 atletas e apresenta-se como uma grande festa do desporto da corrida em Natureza. N o dia 6 de outubro por volta das 10h da manhã será dado o arranque deste grande evento com um Trail Jovem na belíssima Mata do Camarido em Caminha. Podem participar crianças dos 0 aos 16 anos com distâncias a percorrer entre os 500m e os 2000m. Desta forma, queremos dar às crianças a oportunidade de se divertirem num espaço de excelência para a prática de desporto. De seguida é a vez dos adultos fazerem um Free Trail com 9km. É um treino que percorre a mesma Mata do Camarido e a zona história de Caminha. Desta forma, os atletas ficam a conhecer o melhor desta Vila fazendo o que mais gostam que é correr. Da parte da tarde teremos as Jornadas Técnicas no auditório do Hotel Portas do Sol em Caminha, aqui será apresentado muito desporto relacionado com a modalidade assim como saúde e auto superação. No dia 7 de outubro deslocamo-nos até à aldeia de Dem em plena Serra D’Arga, e aí às 8 badaladas da torre da igreja local será dada a partida para uma maratona de 43km extremamente dura. Estão inscritos perto de 500 atletas para este desafio que, procuram ultra- Em Família Evento Grande Trail Serra D’Arga Em Família passar os seus limites físicos e psicológicos. Às 10 badaladas da torre da igreja de Dem será dada a partida para mais 500 atletas que vão percorrer 21 ou 12 km. Os atletas dos 21km vão terminar a sua prova na mítica aldeia de S. Lourenço da Montaria, passando pelo Mosteiro de S. João D’Arga e o fantástico rio âncora, já os dos 12km passam na aldeia de S. João D’Arga e no Mosteiro com o mesmo nome voltando a Dem. A festa termina com a entrega de prémios e com vários agrupamentos musicais locais que vão mostrar a sua arte. Todos os atletas na chegada são presenteados com muita festa e carinho popular. Todo este evento só é possível com a ajuda de mais de 150 pessoas que fazem parte do Staff. De referir que algumas delas fazem mais de 500 quilómetros com o único intuito de apoiar e ajudar os atletas. As gentes locais também se mobilizam perante este dia de festa em plena serra. Também nada disto seria possível caso não tivéssemos o apoio de muitas empresas e marcas assim como as autarquias locais. De referir que a RTP se associou a este evento como media partner, algo inédito no nosso país. Temos a participação de toda a elite Nacional e alguns dos melhores atletas do Mundo. Contamos também com a presença de atletas de várias Nacionalidades como: Itália, Alemanha, Suíça, Espanha, Irlanda e de referir a presença de 19 atletas de França. Todos estes fatores aumentam a nossa responsabilidade e confiança que este evento nos propõe. Esperemos que todos fiquem satisfeitos e queiram voltar no ano seguinte. ø Carlos Sá www.grandetrailserradearga.blogspot.pt Todo este evento só é possível com a ajuda de mais de 150 pessoas que fazem parte do Staff. De referir que algumas delas fazem mais de 500 quilómetros com o único intuito de apoiar e ajudar os atletas (...) 22 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR Onde eficiência e cOntrOlO se juntam. OCCAM Advanced Dynamics é a tecnologia com que criámos a bicicleta de trail mais eficiente do mercado. Uma máquina que te fará subir mais ágil do que nunca e te dará o máximo controlo para fazeres faísca em qualquer descida. Nova Orbea Occam, onde eficiência e controlo se juntam. ADY GSB THT CHT www.orbea.com Aventura Evento festival bike portugal 24 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR Aventura FestivalBike Portugal D e 19 a 21 de outubro, o Festival Bike Portugal - Festival Internacional da Bicicleta, Equipamentos e Acessórios e Salão de Ciclismo Profissional, evento que se realiza no Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas, em Santarém, volta a ser o centro das atenções do mundo da bicicleta. A qualidade e a diversidade de produtos em exposição, a apresentação de novos modelos de bicicletas, equipamentos e acessórios, o envolvimento de empresas e instituições que promovem a bicicleta como um meio saudável para a prática desportiva ou para momentos de lazer, têm sido motivos de atração e fortes contributos para o crescimento continuado do número de visitantes, tendo a última edição registado uma afluência de cerca de 27 mil visitantes. O recinto exterior será palco para a exibição de várias modalidades. Para esta edição do Festival Bike, o programa foi desenvolvido em função dos milhares de visitantes e de acordo com as várias modalidades que se praticam com bicicleta. A realização do 1º Dowtown Festival Bike Portugal, o 1º Troféu da Juventude, o 1º Passeio Familiar “Miradouros de Santarém”, o 1º Festival de Monociclos, o 1º Troféu Sprint Bike e Utilização Livre, Run & Bike, a decorrer paralelamente ao duatlo, e ainda uma Pista para Utilização Permanente do Público são as novidades desta edição, mas é possível encontrar atividades para todos os gostos. Realce para a 8ª Maratona de BTT, o 9º Encontro Nacional de Ciclismo, o 1º Troféu da Juventude, o 8º Encontro Nacional de Cicloturismo, o 5º Duatlo Festival Bike, o 2º Ciclo Cross, as finais dos Campeonatos Nacio- nais de BMX e de Dirt Jumping. Exibições de Trial Bike, as entregas de prémios da Associação de Ciclistas Profissionais, Sessões de Autógrafos, Test – Drive’s, Workshops complementam o programa. Com um vasto programa de atividades competitivas, o envolvimento de prestigiadas empresas e a presença de atletas de renome, o Festival Bike Portugal é já uma referência incontornável deste mercado. ø Horários: Sexta-feira, 19/10: 10h às 17h (só profissionais) Sexta-feira, 19/10: 17h às 21h (público em geral) Sábado, 20/10: 10h às 22h (público em geral) Domingo, 21/10: 10h às 20h (público em geral) OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 Festival Bike Portugal www.cnema.com 25 Aventura Kilimanjaro Aventura Kilimanjaro Q uinze mais sete mais dez mais…, contava ansiosa os minutos que teria de percorrer no aeroporto de Schiphol até chegar à porta de entrada do voo da KLM que me levaria a Nairobi. O avião tinha saído com mais de uma hora de atraso de Lisboa e eu já me tinha mentalizado que teria que dar uma corrida se não quisesse perder a ligação, mas quando a hospedeira me entregou o mapa do aeroporto de Amesterdão as minhas esperanças começaram a diminuir. É um aeroporto bastante luminoso e confortável, mas quanto tempo demoraria para fazer a distância que me separava do terminal de partida? Comecei a lembrar-me da última vez que lá tinha aterrado e veio-me à memória os seus longos corredores envidraçados. Tinha o estômago do tamanho de uma amêndoa. Fervilhava por dentro mas tentava não transparecer o nervosismo. Só mesmo quando o avião aterrou e apagaram as luzes de cinto de segurança é que me lancei furiosamente à minha mochila e me coloquei em posição de lançamento no corredor do avião. - Excuse me, I´m late! - corria o mais rapidamente possível pelos tapetes rolantes, tentando desviar-me. Respiração ofegante, mãos a tremer, será que o meu estômago já chegou ao tamanho de um pinhão?!?! Porta de embarque vazia, olho em redor perdida, alguém sentado perto me diz – They just left, go ahead! – não penso duas vezes e lanço-me pela manga em direção ao avião. Tive sorte, são holandeses, a hospedeira ri do meu ar esbaforido. Pega no meu cartão de embarque e manda-me sentar. Consegui. Embarquei para Nairobi! Começo a descomprimir. Vou passar uma noite na capital do Quénia e fazer o restante percurso até Moshi, cidade que se encontra na base da montanha, de camioneta local. O voo é tranquilo, converso pontualmente com os meus companheiros de assento. Acontece com quem viaja tantas horas sozinho. Somos brindados mesmo antes de aterrar por um momento musical muito especial. Um coro queniano que regressava a casa, já com saudades de cantar, levantou-se e surpreendeu todo o avião com as suas vozes alegres e fortes. À chegada a Nairobi espera-me uma surpresa menos boa. A minha bagagem não conseguiu correr tanto quanto eu e ficou em Amesterdão. O autocarro para a Tanzânia é de manhã bem cedo, o que quer dizer que tenho que me ir embora e deixá-la para trás. Não te preocupes, dizem-me no aeroporto, nós enviamos a tua bagagem para onde estiveres. Tenho as botas de caminhada calçadas, a minha mochila, cantil, um polar e pouco OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 27 Aventura “Vou passar uma noite na capital do Quénia e fazer o restante percurso até Moshi, cidade que se encontra na base da montanha, de camioneta local.” mais. Por hoje não me vou preocupar mais, penso. subiram, onde treinam no seu país. Tema de conversa não faltou. Procuro o grupo de espanhóis ao qual me vou juntar. Parece que um deles também está sem bagagem. Na realidade não se apresentam como espanhóis, Juan, Catalunha, José, Miguel e Iñaki, País Basco e finalmente Rafael, Madrid. - Maria Luísa por favor, puede ser nuestra intérprete? – Não tive rapidez para responder prontamente, a minha mente continuava a deambular na bagagem que não aparecia. Sabia que o sucesso de chegar ou não ao cimo dos 5895 m, para além da boa condição física, era o equipamento. Não conseguiria certamente aguentar temperaturas de 25° negativos com o polar e o impermeável que trazia na mochila. José António, amigo que me aconselhou a rota que tinha elegido para subir ao Kilimanjaro, tinha-me dito - Faz a Machame, é uma rota mais alpina, paisagens mais bonitas e tens mais um dia para aclimatar. – E sem equipamento, pensava, será que consigo? Maria Luísa – chama-me o Rafa mais alto – Me oyes? O rebuliço na estação de camionagem entretém-me do atraso da partida. As mochilas já estão no tejadilho da velha camioneta que nos levará através das planícies africanas por pouco mais de 200 km. Ouço falar em 4 a 5 horas de viagem, penso para comigo que pelo aspeto da camioneta e com burocracias de postos fronteiriços, é melhor nem sequer querer saber. Vou aproveitando o meu lugar à janela para me deslumbrar com as aldeias masai e responder aos acenos dos pastores, tão vibrantes nas suas vestes vermelhas. Pouco depois da passagem da fronteira avistamo-lo. - Uau, look over there! – os passageiros levantam-se nervosos. Algo vem animar a lentidão dos 30km/h de velocidade cruzeiro a que viajamos. À nossa esquerda, magnífico, coroado de branco, Kili, a montanha sagrada! Passaram 8 horas desde que saímos de Nairobi e sinto-me contente por não ter tido voo para o aeroporto do Kilimanjaro. Feitas as contas, gostei desta viagem lenta e já me sinto parte do grupo, tento falar o meu melhor castelhano, aprendo palavras novas e ouço com agrado as histórias que os meus novos amigos têm para me contar. Os locais que já visitaram, as montanhas que 28 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR Estava uma manhã amena e encontrávamo-nos no jardim do hotel, na nossa primeira reunião com o guia, Benjamin. Iríamos partir dentro de alguns minutos para a porta de entrada do parque nacional. No nosso grupo havia três pessoas na casa dos 30 anos e os outros três elementos acima dos cinquenta. O seu inglês não era famoso e custava-lhes bastante entender o inglês com sotaque africano do nosso guia. Fui nomeada intérprete e porta-voz oficial do grupo. Depois de algumas explicações, Benjamin leva-me a mim e ao Miguel a um grande armazém nas traseiras do hotel para que possamos alugar material. Não consigo evitar sorrir ao entrar. – Este material foi esquecido na montanha, não? Depois de um pequeno percalço com o autocarro onde seguíamos que avariou e foi chamado outro para o substituir, chegamos a Machame gate, uma das portas de entrada do Parque Nacional do Kilimanjaro, que se encontra a cerca de 3km da aldeia com o mesmo nome. É no meio de uma fértil e luxuriante floresta tropical que começamos o nosso primeiro dia de caminhada. Fico impressionada com o número de carregadores que vão fazer parte do nosso grupo, mas se pensarmos na logística que é necessária para construir um acampamento confortável, percebemos que carregamos mesmo a casa às costas. Benjamin necessita de mais algum tempo para se organizar e propõe-nos começarmos a caminhar devagar com Amani, o guia auxiliar. Frisa mais do que uma vez, “têm que ir lentamente, não se esqueçam”. Encontramo-nos em meia hora. Debaixo de uma chuva miudinha e persistente embrenhamo-nos na floresta desejosos de começar a andar depois de dois dias comprimidos em cadeiras de aviões e camionetas. Seguia à frente conversando animadamente com o Rafa, capitão da marinha reformado que descobriu o fascínio das montanhas depois de passar tanto tempo no mar, quando ouço Amani chamar – Maria, slower, you are going too fast. – Parámos com algum espanto à espera. Aguardamos perto de um feto enorme, e entretemo-nos a observar as suas folhas que se desenrolam em formas tão harmoniosas. Em pouco tempo estamos todos reunidos. Benjamin explica-nos, vamos ter que nos habituar a caminhar a um ritmo lento, o ritmo que vamos ter hoje e daqui para a frente, será o mesmo que teremos no dia de cume, quando subirmos para os quase 6000m. Além disso estamos a aclimatar, a dar tempo ao nosso corpo para se adaptar à altitude, quanto mais devagar andarmos, melhor será a nossa adaptação. – Eu sei que apetece andar mais rápido, ainda estamos abaixo dos 3000m, mas a partir de amanhã vamos ter altitudes superiores e os nossos movimentos devem ser sempre calmos e lentos e, mesmo nas tarefas mais básicas, como entrar e sair da tenda, caminhar no acampamento e afastarmo-nos para tirar fotografias, é sempre este ritmo que devem seguir. – Compreendo que com a alegria do início, nos entusiasmamos e ainda não conectamos com ritmo da montanha. Pouco depois a floresta densa diminui. Já nos encontramos a 3100m no nosso primeiro acampamento. “É no meio de uma fértil e luxuriante floresta tropical que começamos o nosso primeiro dia de caminhada.” OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 29 Aventura Kilimanjaro Procuro entre o amontoado de roupa usada algo que não me fique exageradamente grande. Ao fim de um tempo esqueço os tamanhos, fico feliz apenas por encontrar o que necessito. Saco-cama, luvas, gorro, impermeável, outro forro polar e calças impermeáveis. Benjamin continua positivo, - a tua bagagem vai ser entregue amanhã no primeiro acampamento, este material é só para prevenir. O Miguel aluga também um saco para colocar o material e eu aproveito para colocar lá dentro o que não vou precisar nos primeiros dias. Há um fator muito positivo nesta minha falta de bagagem, sou a primeira a estar pronta quando é necessário partir. E assim foi, passados pouco minutos estou à porta do hotel com a minha pequena mochila prontíssima. Aventura Hoje vamos passar por uma das paisagens mais espetaculares desta rota, o Shira plateau. - Uma das várias belezas desta montanha é a diversidade de ecossistemas. Todos os dias vais ter um diferente, Maria. – dizia-me Benjamin enquanto caminhamos em fila atrás dele, seguindo o seu ritmo tranquilo. – Hoje vamos passar por uma das paisagens mais espetaculares desta rota, o Shira plateau. - Atravessamos uma área em que as Ericas arboreas estão 30 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR a recuperar de um incêndio de há uns anos. A neblina matinal torna a paisagem mais misteriosa. Perto do acampamento espera-nos outra maravilhosa surpresa, avistamos o espetacular monte Meru com os seus 4565 m e Kibo, o nosso objetivo. O monte Kilimanjaro tem 3 cones vulcânicos, Shiva, formado na primeira erupção; Mawenzi na segunda e Kibo onde se encontra o calças de trekking e uma lifa e fui para a tenda beber o meu chá matinal. – Pareces otra persona Maria Luísa – diz José com um sorriso. Acho que já se tinham habituado a ver-me sempre com a mesma indumentária. – Não sei o que fazer com tudo aquilo José, já me tinha habituado ao essencial. – Agora sobrava-me roupa, barras energéticas, frutos secos, enfim, coisas que só precisamos quando as temos. José é o elemento mais velho do grupo, com a calma que os seus 60 anos lhe permitiam, este basco extremamente amável e bem preparado é um montanheiro por excelência. O nosso terceiro dia de caminhada foi sem dúvida um dos mais apreciados por todo o grupo. Começamos com uma forte subida, deixando para trás Shira plateau. À nossa frente, Kibo! Caminhamos em direção ao nosso objetivo, o que nos trás energia para continuar a subir esta enorme parede de rocha. Fizemos uma variante no trilho, escapando às dezenas de trekkers que se encontram na montanha, e subimos aos 4700m da Lava tower. Esta lindíssima formação rochosa, com aproximadamente 100m de altura, vai permitir-nos ter vistas - We are a 100% group! We’ll Dirigimodeslumbrantes e seguir a máximake it to the top. Pole, pole! – -nos para o cénico ma dos alpinistas “climb high Encontramo-nos na tenda messleep low”, o que nos vai ajuse depois de um lanche ajanacampamento de Bardar na aclimatação. Optámos tarado reunidos com os guias ranco, passando por linpor ficar a meio caminho num para uma última conversa díssimos dendrosenécios, acampamento menos popuantes da subida final. Benjalar, que nos permite um fim min encoraja-nos, dizendoessas plantas gigantes de dia com conversa animada -nos que temos o mesmo ritque povoam o nosso sobre as características próprias mo de caminhada, estamos em imaginário. de bascos, catalães e madrilenos. sintonia e vamos todos conseguir Houve alturas em que me parecia chegar ao cume. Pole, pole significa que cada um dos espanhóis pertendevagar. ciam a países diferentes. A esperança de voltar a ter o meu saco diminuía à medida que No último acampamento, Barafu que fica a 4600 subia em altitude e me afastava da civilização. m, subimos sem o guia até aos 5000 m para ver Benjamin no entanto continuava a afirmar que como nos sentíamos. Só Iñaki o mais novo do ele iria aparecer. - Hakuna matata. – Dizia-me grupo sentia fortes dores de cabeça e estava com o seu sorriso aberto e franco. De qualquer preocupado. Todos o encorajávamos mas o seu modo já estava a usar meias número 40 de um semblante continuava carregado. Iñaki é profesdos meus companheiros espanhóis. sor de educação física e está em óptima forma, Como usufruímos de mais um dia na montanha, a aclimatação decorreu muito bem. O espírito de grupo é muito bom e foi sendo reforçado pela caminhada lenta, pelos longos piqueniques e pelas agradáveis conversas na tenda messe ao chegar aos acampamentos. Dirigimo-nos para o cénico acampamento de Barranco, passando por lindíssimos dendrosenécios, essas plantas gigantes que povoam o nosso imaginário. E foi neste maravilhoso cenário num nascer de sol vibrante e luminoso que comecei a ouvir chamar pelo menú nome. Cabeça fora da tenda, ensonada, não queria acreditar no que os meus olhos viam! Às costas de um carregador o meu saco com todo o equipamento! Não sei se pelo sono ou simplesmente porque já estava mentalizada que não o iria ver a minha alegria não foi muita. De repente, senti-me como as crianças na noite de Natal, que, com tantos brinquedos novos acabam por não brincar com nenhum. Vesti as OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 31 Aventura Kilimanjaro ponto mais alto, Uhuru Peak, formou-se aquando da terceira erupção deste enorme vulcão. Aventura Fico fascinada com tanta beleza, a sombra do monte Meru está magnífica, a luz do nascer do sol é mágica, respira-se tranquilidade. não tem nada a temer. Caminhamos juntos há vários dias, a montanha une-nos, ninguém quer deixar ninguém para trás. Construímos uma sólida amizade e espírito de entre ajuda, a subida nunca seria a mesma se um de nós desistisse. Descansamos um pouco e às 11h30 da noite somos acordados pelo Peter, o nosso excelente cozinheiro que conseguiu fazer refeições deliciosas com tão poucas condições. Percebemos que o cozinheiro é também um dos fatores de sucesso nas ascensões. Precisamos comer para ter forças, com a altitude é normal perder o apetite, logo, se as refeições não forem apetitosas muito dificilmente recuperamos. Neste caso, apenas um chá e uns biscoitos. - Não vale a pena encher muito o estômago, vão ver muita gente a vomitar por aí acima - Benjamin ri-se. Somos dos primeiros grupos a partir, mas já se vêm algumas luzes dos frontais seguindo o trilho. Vai ser um longo dia, entretenho-me a observar as estrelas. O céu estrelado na montanha é fascinante. Fazemos paragens muito curtas de hora a hora para beber um pouco de água e comer algo, e como está muito frio paramos apenas 3 ou 4 minutos. Quando se começa a aperceber uma pequena luminosidade chegamos a Stella point. Sabemos que a partir daqui a inclinação é um pouco menor e já só falta um último esforço. Amani dá-nos chá quente que trouxe num termos e algumas bolachas. Benjamin empresta-me um segundo par de luvas, tinha as mãos geladas. O chá, o descanso e as mãos mais quentes dão-me ânimo para continuar e é às 6h20 da manhã 32 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR com o sol a romper que chegamos ao Uhuru peak, passando pelos maravilhosos glaciares e cascatas de gelo que ocupam grande parte do cume. É sempre um momento de grande emoção chegar ao nosso objetivo depois de tantas horas a caminhar. Fico fascinada com tanta beleza, a sombra do monte Meru está magnífica, a luz do nascer do sol é mágica, respira-se tranquilidade. Como o tempo está bom, permanecemos uma boa meia hora a deambular e a fotografar. Benjamin tem que nos chamar para iniciarmos a descida de regresso a Barafu, onde toda a equipa nos aguarda para nos felicitar. Descansamos um pouco, comemos uma boa sopa e seguimos pela rota Mweka até ao acampamento com o mesmo nome. Esta é a noite de despedida de toda a equipa que nos ajudou nesta nossa aventura. Depois de ter estado sem a bagagem durante alguns dias, os meus sacos a partir daí foram sempre muito mais reduzidos, mantinha-me com o essencial. Vários foram os conselhos, dicas e histórias que ouvi acerca desta ascensão, inclusivamente de atletas muito bem preparados que não chegavam ao topo. O sucesso da nossa ascensão foi sem dúvida a união do nosso grupo. A montanha uniu-nos, manteve-nos em sintonia e habituou-nos ao seu ritmo pole, pole. ø Luisa Tomé Papa-Léguas www.papa-leguas.com Entrevista João Rodrigues por Bebiana Cruz Outdoor: Iniciou-se na modalidade bastante jovem. Sente-se privilegiado de ter descoberto esta modalidade com apenas 9 anos? João rodrigues: Claramente! Foi primeiro que tudo um privilégio nascer na Madeira, no seio de uma família com fortes ligações ao mar. Depois foi um golpe de sorte o meu pai ter decidido investir numa prancha à vela, no final dos anos 70. O resto é uma história de amor à primeira vista e de toda uma vida em torno de um projeto desportivo. Seria preciso mais caracteres do que aqueles que certamente me disponibilizaram, se quisesse cabalmente responder a esta pergunta. Posso apenas dizer que, hoje em dia, essa preparação resulta de anos e anos de experiência acumulada, sendo que a mesma foi personalizada de acordo com aquilo que pensava ser melhor para mim. Não tenho a presunção de afirmar que é a melhor preparação possível, nem de que tenha conseguido chegar sequer perto do que seria um modelo perfeito. Mas é algo pessoal, inteiramente criado por mim e adaptado à minha forma de ser, pensar e estar. Em Portugal, quais são os melhores spots para a prática do windsurf? Mesmo sendo suspeito e mesmo correndo o risco de parecer tendencioso, continuo a considerar que o melhor spot do país para a prática da prancha à vela, na vertente até agora Olímpica, Como é a rotina diária de um atleta de é de facto a Madeira. Como um todo. Não é só alta competição? pelo maravilhoso facto de termos o ano inteiA mesma de qualquer pessoa que tenha ro temperaturas amenas, quer de ar quer descoberto a sua vocação e que queide água. É também pelas condições ra explorar todo o seu potencial de mar e vento que é possível en“Não tenho enquanto ser humano: total decontrar à volta da ilha, haja vona presunção dicação! tade de as procurar, fruto dos microclimas induzidos pela de afirmar que é a A mudança de hábitos acentuada orografia da ilha. E melhor preparação alimentares e de vida é também pelo facto de num possível, nem de que tesão sacrifícios que vacurto espaço, encontrarmos lem a pena? condições ímpares para a pránha conseguido chegar A palavra sacrifício esvaziatica de outras modalidades sequer perto do que -se de sentido quando associaque servem de complemento seria um modelo da a uma vida com significado. à preparação de qualquer atleta perfeito.“ Assim sendo, não posso falar de de prancha à vela, nomeadamente sacrifícios, mas sim de compromissurf - com as melhores ondas da Eusos ou mesmo de comprometimentos. ropa - BTT - com alguns dos melhores Não fiz nenhuma mudança de hábitos alimentrilhos que se pode imaginar - SUP - nas mesmas tares ou de estilos de vida para ser um atleta de águas de temperaturas tão agradáveis - e trail alta competição. Esta era a vida que queria ter e percorrendo das mais belas montanhas que se era assim que gostaria de viver. Por um conjun- pode imaginar! Tudo isto junto, numa ilha tão to de circunstâncias absolutamente milagrosas, pequena, com acessibilidades fantásticas, faz da isso foi possível acontecer e prolongar-se por Madeira e do Porto Santo a materialização do muito mais tempo do que à partida seria de su- paraíso na terra! Pelo menos para mim... por. Respondendo diretamente à sua pergunta, recorro às sábias palavras de Fernando Pessoa: Sente que esta é uma modalidade valorizada no nosso país? “Valeu a pena? Tudo vale a pena Infelizmente, de forma alguma! Jamais perceSe a alma não é pequena. berei porque é que nunca se investiu verdadeiQuem quere passar além do Bojador ramente na classe mais acessível do programa Tem que passar além da dor. Olímpico, que é também a mais rápida e sem Deus ao mar o perigo e o abismo deu, sombra de dúvida das mais espetaculares. ApeMas nele é que espelhou o céu.” nas na Madeira, e porque dois clubes investiram recursos financeiros e humanos nesta classe, a Como é feita a preparação para as com- prancha à vela continua a ter forte representatipetições? vidade, como o atestam as sucessivas represen- OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 35 Entrevista João Rodrigues Neste número da Outdoor estivemos à conversa com João Rodrigues. Com um currículo fantástico, o velejador contou-nos alguns segredos e deixou-nos com imensa vontade de velejar... Uma entrevista a não perder! Entrevista alto da sua carreira? Corrijo: o recorde nunca foi homolgado pelo Guiness Book of records. Aparentemente, não cabia em nenhuma categoria. Não foi o ponto mais alto. Não tenho por norma classificar iniciativas deste género de pontos altos, da mesma forma que os insucessos que fui somando não foram adjetivados de pontos baixos. São faces da mesma moeda, que não é mais, repito, uma forma de vida com significado. Reconheço que foi um marco interessante da minha carreira desportiva, e que era inevitável que um dia viesse a ocorrer. A prancha à vela desde cedo fascinou-me também pela autonomia que concedia a quem se aventurasse a explorá-la. Se aos 10 anos, fazer a travessia desde o Clube Naval do Funchal até ao ilhéu do Lido, numa distância de meia milha talvez, foi uma aventura inesquecível, o certo é que abriu caminho a outras odisseias. Depois de percorrer toda a costa das ilhas da Madeira e do Porto Santo, olhei para o horizonte e o que vi: as Desertas. Depois, naturalmente surgiu a travessia Porto Santo Madeira. E finalmente, faltava ligar a Madeira às Selvagens. Essa oportunidade surgiu por ocasião da celebração dos 40 anos de elevação destas ilhas a reserva natural, a primeira em Portugal. Por coincidência, também nesse ano, celebrei a passagem aos “entas”, pelo que se uniu o útil ao agradável! Numa organização do Parque Natural da Madeira, a mesma realizou-se num bonito “De cada tempo de dez horas, o que me vez que penso permitiu chegar ao meu destino, a Selvagem Grande, a nisso, não posso tempo do chá das cinco! deixar de sorrir ao lembrar-me da expe- Alcançou também um tações Olímpicas, as recentes presenças em campeonatos do mundo feito inédito ao garanriência que foi pare da Europa, quer em juniores, quer tir a sexta presença nos ticipar nos JO em séniores, com destaque para o reJogos Olímpicos de Verão (...)” cente título de vice-campeão do mundo em Londres2012. Qual é a masters de um velejador madeirense. Conta com 22 Medalhas de Ouro, 16 Medalhas de Prata e 13 Medalhas de Bronze. Qual é o segredo do sucesso? Não há absolutamente nenhum segredo. Há, isso sim, 31 anos de dedicação a uma modalidade... e sensivelmente umas 15000 horas em cima de uma prancha... Entrou para o guiness ao ser o primeiro velejador a fazer a travessia em prancha à vela entre a ilha da Madeira e as ilhas Selvagens. Este foi o ponto mais 36 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR sensação de reforçar mais um lugar na história do desporto português? De cada vez que penso nisso, não posso deixar de sorrir ao lembrar-me da experiência que foi participar nos JO de Barcelona 92, de como isso mudou a minha vida e de como pensei que dificilmente poderia repeti-la. Depois disso, vieram mais 5 ciclos Olímpicos, todos eles distintos, todos eles profundamente marcantes. Mas em nenhum momento fiz da marca “seis JO” uma referência ou um objetivo. Simplesmente aconteceu. Na verdade, não penso muito nisso. Com um percurso recheado de sucessos, o que lhe falta alcançar a nível profissional? “O futuro pertence aqueles que acreditam na beleza dos seus sonhos” Eleanor Roosevelt. Quais são as maiores dificuldades para os iniciantes na modalidade? Hoje em dia, nenhumas! Qualquer que seja o nível, fisionomia, equilíbrio, idade, é possível aprender a velejar numa prancha à vela num espaço de horas, desde que estejam reunidas três condições essenciais: vento e mar calmos, material adequado à pessoa em questão, um bom instrutor. ø Sabe mais sobre o João Rodrigues em Facebook Perfil João rodrigues O velejador João Rodrigues, atleta português com mais presenças em edições dos Jogos Olímpicos, é um dos embaixadores do evento. O atleta, natural da Madeira, fez história no dia 16 de Junho de 2011 ao tornar-se no primeiro velejador de prancha à vela a fazer a travessia entre a ilha da Madeira e as Ilhas Selvagens - 160 milhas durante 12 horas - jamais conseguida em prancha à vela (windsurf) numa só etapa. A iniciativa integrou o programa das comemorações do 40.º aniversário da criação da Reserva Natural das Ilhas Selvagens, a primeira reserva natural de Portugal. Por coincidência, João Rodrigues também completou 40 anos a 2 de Novembro de 2011. João Rodrigues, Campeão e Vice-Campeão do Mundo de Windsurf (Prancha à Vela), em 1995 e 2008, tetra-campeão Europeu, conta com mais de 120 internacionalizações e 51 medalhas conquistadas em competições internacionais – 22 de Ouro, 16 de Prata e 13 de Bronze. OUTDOOR Julho_Agosto 2012 37 Entrevista João Rodrigues Escreveu o livro “Crónicas de um velejador”. Como surgiu este projeto? Surgiu da necessidade de partilhar com familiares e amigos aquilo que estava a viver e que saia, de certa forma, do padrão normal. Não era para ser um livro. Começou aliás por um parágrafo a dar conta de que tinha chegado a Qingdao, no sul da China, no verão de 2007. Mas depois embalei e quando dei por mim, tinha material para um livro, que foi o derradeiro lançamento literário inserido nas comemorações dos 500 anos de elevação da cidade do Funchal, a 30 de Dezembro de 2008. É possível que venha a publicar um segundo volume destas crónicas... afinal, passaram-se mais quatro anos. Por Terra pedais de xisto 38 Setembro_Outubro 2011 OUTDOOR Por Terra Pedais de Xisto OUTDOOR Setembro_Outubro 2011 39 Por Terra E se de repente tudo parasse no tempo? de traçar uma Grande Rota pedestre e de BTT A BTT é a máquina do tempo ao per- unindo todas as Aldeias do Xisto (GRAX) é ancorrer a Grande Rota das Aldeias do tigo mas só agora dá os primeiros passos com os primeiros grupos a “arriscarem” Xisto, uma nova travessia em um travessia especialmente em BTT possível de realizar BTT. A ADXTUR- Agência para em diferentes formatos e nível de “(...) o Desenvolvimento Turístico dificuldade consoante o número uma nova das Aldeias do Xisto é quem de dias escolhido para duração travessia em BTT promove o projeto, dinamida aventura. Percorre aldeias zando uma parceira entre preservadas, praias fluviais, possível de realizar todos os Municípios envolcumeadas e vales de serras em diferentes formatos e vidos e agentes privados dominadas pelo Xisto, com nível de dificuldade con(alojamentos, restaurantes, paisagens de cortar a respisoante o número de dias empresas de animação) de ração e encontros imediatos modo a tornar a GRAX uma com veados selvagens, que de escolhido para durealidade. nos transportam para outros ração da aventempos e paragens. tura.” O desafio Atualmente, é possível fazer já GRAX parte desta travessia com recurso a A rede de Aldeias do Xisto conta presentemente com 27 Aldeias situadas no Pinhal In- GPS, unindo 18 Aldeias do Xisto, num total de terior, uma zona que se pode delimitar grosso 239km, subindo um total de 10.500m de desmodo entre a Serra da Estrela e o Rio Tejo e nível acumulado (!) e descendo outro tanto, e entre a Serra da Gardunha e a Serra do Sicó, voltando à mesma aldeia onde começamos. Não atravessada pelo Rio Zêzere e onde as Serras é para qualquer um/a mas como é possível esda Lousã e do Açor são as rainhas. O projeto colher o número de dias que se leva para fazer a 40 Julho_Agosto 2012 OUTDOOR Por Terra Pedais de Xisto travessia, dadas as várias opções de alojamento (bem típico por sinal) existente, acaba por conseguir adequar-se o percurso à nossa capacidade ou nível de preparação. A recompensa Em, julho passado um grupo de 5 ciclistas aceitou o desafio de fazer esta versão da travessia em 4 etapas, uma versão Ultra claro está, com dias duros e um calor que contribuiu para aumentar o desafio e para uns mergulhos saborosos nas praias fluviais por onde se passa. No primeiro dia (64 km; +3267 m; -3059 m; 5-6h) deparamo-nos com “a parede”. Para quem tem ganas de subir, a saída é mesmo da vila da Lousã, onde se pode dormir de véspera, mas para os mais poupados (de pernas, claro) um início numa das Aldeias do Xisto Talasnal ou Casal Novo ajuda a que a subida virtualmente impossível de pedalar, um pouco mais à frente, da Cerdeira até quase ao Trevim (ponto mais alto da Serra da Lousã), se faça com mais fôlego. Fazendo a travessia no sentido dos ponteiros do relógio segue-se até ao Concelho de vizinho de Góis e às Aldeias de Aigra Velha e Nova e Pena, com desvio opcional a Comareira. Um pic-nic à beira da Ribeira de Pena (Rede Natura 2000) deixa-nos com forças para atacar a cumeada que leva a Fajão, já na Pampilhosa da Serra. Aqui o restaurante Pascoal nunca deixa mal ninguém, onde após uma bela chanfana, acabamos a pernoitar na Cadeia (calma, é só uma residencial). O segundo dia (54 km;+1962 m ;-2373 m;4-5h) reserva-nos um descida alucinante até ao “Atualmente é possível fazer já parte desta travessia com recurso a GPS, unindo 18 Aldeias do Xisto, num total de 239km (...)” OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 41 Por Terra Zêzere, não sem antes passar pelo paredão da Barragem de Santa Luzia onde chegamos por um single track parte do Centro de BTT aqui recentemente inaugurado. Seguindo na margem direita do Zêzere após os Janeiro de Cima (Fundão) e de Baixo (Pampilhosa), cruzamos o rio em Cambas e surge um belo empeno por aí a cima recompensado com vistas magníficas sobre os meandros do Zêzere e alguns dos Geo-Sítios do GeoParque Naturtejo, reconhecido pela UNESCO. A passagem pela Aldeia do Xisto de Alvaro (Oleiros) é assinalada com mais um mergulho na piscina flutuante e para os realmente duros o dia ainda não acabou já que Vilar dos Condes é o destino de eleição para uma pernoita memorável nas casas de Turismo em Espaço Rural aí existentes e pelos cozinhados e mimos da Teresa (a dona). O terceiro dia é longo e variado (78 km | +3264m | -3275 m | 6-7h). Os profundos meandros do Zêzere só nos deixam em paz em Pedrogão Pequeno (recomenda-se provar a sopa de peixe local), onde do monte da Senhora da Confiança quase que nos podíamos lançar de parapente em direcção à ponte Filipina lá nos confins do Zêzere onde chegamos a voar, mas mais baixinho, com a BTT por cima da calçada medieval. Deste local de rara beleza e paz não temos alternativa a não ser, subir por outra calçada (será para o céu?) e após uma sucessão de aldeias chegamos 42 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR à Praia Fluvial da Aldeia do Xisto de MosteiroPedrogão Grande, uma das mais recentemente classificadas. Uma bela tosta na esplanada do restaurante típico e antigo lagar, mergulho para refrescar e prontos para “tirar a pele ao rabo” até às Fragas de São Simão, um dos ex-libris da travessia. Um desfiladeiro em forma de praia (ou será vice-versa?), cenário natural para uma cena bucólica ou talvez não, já que os caracóis, tremoços e imperiais do barzinho ao lado das piscinas naturais poderão ser responsáveis por acabar a etapa logo ali. Até porque mesmo ao lado (que é como quem diz, a uma rampa de distância) está o Casal de S.Simão (Figueiró dos Vinhos), Aldeia de Xisto com restaurante onde é possível pernoitar. Para os que rapam o osso até ao fim, a Ultra etapa acaba na Ferraria de São João, 10 quilómetrozinhos mais à frente, sempre a subir é claro. A quarta e última etapa (44km, +1999m ; -1729; 3-4h) desta versão Ultra da GRAX é, à boa maneira ciclo-turistica, de “consagração”. Mais suave que as anteriores, permite chegar um pouco mais cedo ao final (ótimo para quem viaja para longe) ou... levantar mais tarde da cama. Uma noite extra na Aldeia do Xisto da Ferraria de S.João (Penela) também pode não ser mal pensado pois aí existe o primeiro Centro de BTT criado em Portugal, com 5 percursos circulares que permitem descobrir ainda melhor a zona (e Por Terra Pedais de Xisto um recentemente criado Fun Trail para miúdos e graúdos se divertirem sem ir muito longe). Mas voltando ao quarto percurso leva à passagem pelo São João do Deserto, praia fluvial da Louçainha e a Aldeia do Xisto de Gondramaz, já depois de sair de Penela e entrar em Miranda do Corvo. Gondramaz, marca pela beleza da aldeia, onde não faltam curiosidades como formas fálicas aninhadas nas paredes e muros de xisto das casas (onde está o wally?) que deixam intrigados quem não resiste em as tocar ou observar. Esta é uma etapa fresca, com sombras, e com muitas probabilidades de encontros imediatos com uma das espécies de Veado ou Corço que vagueiam pela Serra da Lousã, mas atenção, pois a distração pode ser a queda ou colisão frontal do artista com consequências nem sempre agradáveis (ainda há pouco tempo aconteceu...). Bem mais agradável é a descida final até à Lousã para quem lá iniciou a volta à 4 dias (ou mais), já que essa encosta final é onde se encontram alguns dos melhores trilhos de free-ride e downhill do País. Qual usar? É só perguntar a um dos loucos voadores que por ali descem quase todos os dias, fazendo da Lousã uma das mecas do BTT de Portugal. ø Em resumo GRAX- Grande Rota das Aldeias do Xisto em BTTversão Ultra em 4 etapas Aldeias do Xisto visitadas: Casal Novo, Talasnal, Chiqueiro, Vaqueirinho, Cerdeira, Aigra Velha, Aigra Nova, Comareira, Pena, Fajão, Janeiro de Cima, Janeiro de Baixo, Alvaro, Pedrogão Pequeno, Mosteiro, Casal de S.Simão, Ferraria de São João, Gondramaz. Praias Fluviais visitadas: Janeiro de Cima, Janeiro de Baixo, Cambas, Alvaro, Mosteiro, Ana de Aviz, Fragas de São Simão, Louçainha. Tracks de GPS, viatura de apoio e marcação de alojamentos: A2Z-Adventures.com (desde 390€) Dormidas para as 4 etapas: Fajão, Vilar dos Condes, Ferraria de São João. Outras dormidas possíveis: Lousã, Talasnal, Candal, Comareira, Pena, Janeiro de Cima, Alvaro, Pedrogão Pequeno, Mosteiro, Casal de S.Simão, Gondramaz. Rede de alojamentos especializados em receber ciclistas - www.bikotels.com Mais informações sobre alojamentos e restaurantes e informação turística- www.aldeiasdoxisto.pt Pedro Pedrosa www.A2Z-Adventures.com OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 43 Por Terra Evento ultra trail aldeias do xisto O AXtrail®series 2012 traz pela primeira vez um Ultra Trail às Aldeias do Xisto (UTAX). A prova que encerrará o circuito promete 82 km de puro trail, com desníveis generosos, single tracks espetaculares, e aquelas paisagens a que a Serra da Lousã e as Aldeias do Xisto já nos habituaram. Já realizadas as duas primeiras séries do circuito AXtrail series® 2012, a #03 e última série terá lugar a 10 de novembro na Lousã e será composta por duas provas distintas: o UTAX com 82km de 44 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR distância, e o Trail da Lousã com apenas 30km mas igualmente interessante e desafiador. Ambos os percursos garantem a passagem por várias Aldeias do Xisto e por trilhos de grande tecnicidade e beleza! O UTAX será a prova rainha do circuito deste ano e, para além de um percurso notável com 5000 m de desnível e um tempo limite de 20 horas, terá a mais valia de ser uma das provas qualificativas para o UTMB 2013 com 3 pontos atribuídos (dos 7 necessários para ir a sorteio). Para além da grande dureza física, esta prova Por Terra Axtrail 2012 Fotos: Sérgio Azenha promete marcar a diferença pelo território pontuado pelas Aldeias do Xisto, repletas de escadarias e recantos, ribeiras, pontes e aromas que fazem lembrar os tempos dos nossos avós. A menos de dois meses da data da prova, a organização já conta com cerca de 100 inscritos para o Trail da Lousã e mais de 130 para o UTAX, e as inscrições continuam abertas! sã, e com treinos um pouco por toda esta serra. Trata-se de dois dias exclusivamente dedicados à modalidade, com a presença garantida de alguns dos melhores atletas nacionais e internacionais e cujo objetivo é proporcionar aos presentes workshops técnicos de trail running, promover a troca de experiências e o convívio entre atletas. ø Trail Running Camp Outra novidade do circuito deste ano é a realização de um Trail Running Camp no fim d semana de 27 e 28 de outubro, também na Vila da Lou- O programa será divulgado brevemente em www.axtrail.com. Axtrail 2012 OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 45 Por Água Atividade vela 46 Maio_Junho 2012 OUTDOOR OUTDOOR Maio_Junho 2012 Fotos: Aporvela 47 Por Água Vela Por Água Portugal um País de Marinheiros… a VELA atual A história da navegação de recreio em Portugal remonta ao século XIX, altura em que chegaram ao país os primeiros modelos fabricados pelo mundo fora. O nome do primeiro clube náutico português começou por ser Real Associação Naval e foi fundado por D. Pedro V, que encabeçava a lista de assinaturas, seguido de D. Luís. Afinal, era preciso «Animar a construção e promover o divertimento de regatas em Portugal…», como ainda hoje se pode ler nos velhos Estatutos que datam de 1855. Entretanto, D. Maria II começou também a dirigir os seus interesses para o «Divertimento de Regatas», bem como o Conde de Alcáçovas, que escolheu Paço d’Arcos para os festivais náuticos. Era vulgar ver D. Luís embarcado no navio de guerra Conde de Tojal a acompanhar as provas disputadas muitas vezes entre a Marinha Real Portuguesa e tripulações inglesas de navios fundeados nas nossas águas. A Associação Naval de Lisboa – designação atual – é o clube náutico mais antigo da Península Ibérica. Encontra-se instalada nos velhos edifícios da Grande Exposição do Mundo, junto às margens do Tejo, e continua a manter um calendário muito preenchido, funcionando um pouco como o grande motor da vela na capital. Ao longo dos tempos foi formando jovens na arte de bem velejar. Adquiriu barcos-escola, promoveu cursos e contratou monitores proporcionando a qualquer associado a aquisição de conhecimentos náuticos mais complexos, nomeadamente através do Curso de Patrão de 48 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR Costa e de Motor. Este é apenas um exemplo, o primeiro em Portugal. Pelo país foram aparecendo outros clubes náuticos que, com melhores ou piores instalações, com mais ou menos dinheiro, se dedicam de alma e coração à prática e à divulgação do desporto de vela. Nas suas fileiras estão normalmente ex-velejadores que tudo fazem para que cada vez haja mais velas nos planos de água nacionais. Na primeira metade do século XX, velejadores portugueses participavam já em competições internacionais, alcançando lugares cimeiros, as Olimpíadas de 1948, 1952 e 1960 proporcionaram anos de glória à vela nacional. Após um período de estagnação, que correspondeu à década de 70 e às suas convulsões políticas, deu-se o ressurgimento: foram criadas e dinamizadas muitas escolas de vela, que iniciam os jovens na modalidade e dão continuidade às aspirações de todos os amantes do mar, independentemente da idade ou condição social. A modalidade regista um índice de crescimento fora do comum e uma grande implementação junto dos mais novos. As diversas classes de vela encontram-se atualmente espalhadas por pequenos e grandes clubes. Umas foram vedetas nos anos cinquenta, sendo hoje mantidas como barcos-escola (é o caso das classes Vaurien e Snipe), outras, mais recentes, foram introduzidas em resultado da divulgação internacional (420, Laser e 470) e outras ainda são as estrelas da modalidade (Star e Sharpie). Num país com grandes tradições ligadas ao mar, São barcos de uma só vela e de um só velejador, feitos de madeira ou de fibra. Houve quem dissesse um dia que estas embarcações “parecem caixotes de madeira que andam para trás quando passa um petroleiro”. Da fase de iniciação fazem parte aulas teóricas e práticas, aprendendo-se, nomeadamente, a fazer nós e a conhecer as correntes e os ventos. Dentro do Optimist, o velejador tem que saber lidar com os numerosos cabos, o patilhão móvel, o vertedor de água, para além da vela e do leme. Tudo está previsto para o contacto com a água, desde a utilização obrigatória do colete à existência de fatos secos, de botas e do indispensável chapéu ou boné, não vá o Sol fazer das suas… Normalmente, o jovem velejador vê o clube ser selecionado pelo pai e, depois de tratadas as burocracias, começa o contacto com “Normalmente, outros aprendizes. Poupo a o jovem velejador pouco tem-se noção que os receios são comuns. vê o clube ser selecioFace a isto, os monitores nado pelo pai e, depois têm um papel importante de tratadas as burocrano apoio aos velejadores. GUSTAVO LIMA Estes são, habitualmente, cias, começa o contacto Gustavo Lima é, sem dúvida, velejadores de outras clasum vencedor nato, para quem com outros aprendises que já passaram por sisem vitórias a vida tem menos zes. (...)” tuações idênticas e, por isso, sentido. compreendem os receios dos Ambicioso, determinado e lutador, aprendizes e nutrem por eles um percebeu que o seu futuro poderia pascarinho especial. sar pela vela de competição e, por isso mesmo, Como em todas as classes, passada esta fase de optou por interromper os estudos, no 11.º ano, e iniciação, os míni-velejadores vão fazer carreira dedicar-se a tempo inteiro ao seu sonho. O propara os campeonatos regionais, nacionais, eurofissionalismo proporcionou-lhe muitas alegrias: peus e mundiais. festejou um Campeonato da Europa (1994) e um Campeonato Mundial de Laser Radial, em 1998. Histórias de campeões Portugal conta nas suas fileiras com vários noDUARTE BELLO E MÁRIO QUINA mes ligados à vela. João Rodrigues e Gustavo Duarte Bello conquistou a medalha de prata nos Lima são dos mais recentes mas o olímpico Jogos Olímpicos de Londres em 1948. Como triMário Quina e o comandante da Caravela Vera pulante tinha o irmão Fernando e utilizaram um Cruz, João Lúcio, são velejadores que todos coSwallow. Foi a primeira vez, no que diz respeito nhecem. OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 49 Por Água Vela a prática da Vela encontra-se hoje largamente JOÃO RODRIGUES divulgada e em plena expansão. João Rodrigues é hoje o atleta português com mais participações olímpicas. Este ano, em LonOptimist leva os primeiros aventureiros dres, cumpriu a sexta presença nas olimpíadas. para o Mar O madeirense de 40 anos representou o nosso Os Optimist constituem a primeira aproximação país na classe RS:X. à modalidade, destinando-se a aprendizes de velejador entre os oito e os 15 anos. Durante muito tempo foi a única classe de iniciação à vela para jovens a partir dos oito anos. Por Água à vela, que houve um resultado de tão grande envergadora para Portugal. A história, a bem das cores nacionais, voltou a repetir-se passados 12 anos. Nos Jogos Olímpicos de Roma, em 1960, Mário Quina subiu ao pódio com o irmão, José, para receber a medalha de prata da classe Star. Também em Atlanta Portugal subiu ao pódio com Hugo Rocha e Nuno Barreto na classe 470 para receber a medalha de bronze. JOÃO LÚCIO Falar com João Lúcio significa adquirir muitos conhecimentos náuticos, ouvir muitas histórias ligadas ao Mar, ficar a conhecer países que quase não conseguimos encontrar no mapa e começar a olhar para dentro das pessoas de uma forma diferente. te a Sul do país, mostrando aos jovens como se vivia a bordo das caravelas quinhentistas. Outras classes surgiram entretanto, mais competitivas e com uma postura mais radical como é o caso da 49er em que os velejadores cumprem as regatas quase sempre com um dos flutuadores fora de água. Para que o público pudesse assistir mais de perto à competição náutica e para que fosse mais fácil perceber o que estava a acontecer nos Jogos Olímpicos de Barcelona estreou-se o Match Racing, regatas de cerca de 20 minutos, com um percurso de vai e vem, montado junto a terra, em sistema de round robin (todos contra todos) e em que competem duas embarcações totalmente iguais, sendo vencedor o que primeiro cortar a linha de chegada. Com o aparecimento de novas marinas João Lúcio já viajou um pouco por e portos de abrigo ao longo da costa todo o mundo, conhece bem muiportuguesa a vela de cruzeiro temtas terras banhadas pelos oceaOutras classes -se desenvolvido em grande escala nos e consegue descobrir um enchendo de velas os muitos plalado positivo em tudo o que surgiram entrenos de água nacionais e animanacontece a bordo. Hoje é o tanto, mais comdo o excelente campo de regatas comandante da Caravela petitivas e com uma que a costa portuguesa tem. ø Vera Cruz, propriedade da postura mais radical APORVELA, e uma das ativiAna Lima dades a que se tem dedicado como é o caso da é à divulgação da vela, de Nor- 49er (...) 50 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR DESCOBRE A TUA PRÓXIMA AVENTURA NO TEU SMARTPHONE! APLICAÇÃO GRATUITA BREVEMENTE DISPONÍVEL Pesquisa por atividade/local Rotas e Roteitos Consulta da Revista Outdoor Compra de vouchers de desconto Notícias | Eventos Atividades Outdoor Pontos de Interesse Viagens | e muito mais... Por água Evento foram assim as the tall ships races 2012 liSBOA por todos. Os tripulantes que chegaram à capital portuguesa puderam envolver-se na vida local. “Lisboa recebeu de uma forma fantástica as “The Tall Ships Races”. Este espaço é único, um gigantesco cais aos pés da cidade de Lisboa, uma vista deslumbrante e a capacidade de misturar os muitos tripulantes com a vida na cidade. A organização está de parabéns, tudo correu muito bem desde a forma como todos fomos recebidos até aos muitos apoios sempre necessários a quem chega do mar. Uma palavra também para os jornalistas portugueses que abraçaram os «Tall Ships» e divulgaram junto do grande público todas as atividades”, aponta Robin Snouck-Hurgrove, chairman da STI. Entre os muitos veleiros presentes na Grande Regata contam-se wseis navios portugueses: Navio-Escola Sagres, Creoula, Santa Maria Manuela, Caravela Vera Cruz, Vela Náutica II e Veloce. Oficiais de ligação consideram-se “felizardos” Os oficiais de ligação foram parte integrante do evento com a clara missão de estabelecer a comunicação entre a tripulação e o pessoal de terra. Vera Costa, 20 anos, foi a oficial de ligação do Rupel, um veleiro belga da classe B. Inscreveu-se nesta edição das “The Tall Ships Races” para ganhar experiência e se divertir. “Adorei a experiência, os belgas foram muito simpáticos e entendemo-nos “Foi um evento fantástico. Tivemos milhares de visitantes de todas as idades (...)” OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 53 Por água The Tall Ships Races A passagem das “The Tall Ships Races 2012” por Lisboa foi um verdadeiro sucesso. Ao longo de quatro dias – entre 19 e 22 de julho – foram quase meia centena de veleiros que deram vida ao Cais de Santa Apolónia e que pintaram Alfama de forma diferente. Os visitantes contaram-se às centenas de milhares e o grande objetivo da APORVELA, entidade organizadora do certame em Portugal em parceria com a Sail Training International (STI), foi alcançado. Para além de puxar o público para o Mar, a Associação Portuguesa de Treino de Vela conseguiu embarcar 220 jovens nos vários veleiros participantes na Grande Regata. “Foi um evento fantástico. Tivemos milhares de visitantes de todas as idades desde os mais jovens das escolinhas até aos mais velhos. O recinto esteve sempre cheio com pessoas que queriam visitar os veleiros. Além disso havia muita animação em terra com várias atividades, o que permitiu que famílias inteiras passassem um fim de semana diferente junto ao mar”, conta António Lobato. O presidente da APORVELA quer continuar a apostar em trazer jovens para o Mar e afirma que “esta regata é sem dúvida um bom ponto de partida”. Os 49 veleiros acostaram num dos melhores portos do mundo. A excelência em termos de condições e localização do Cais de Santa Apolónia é destacada Por água “Trainees” elogiam aventura no Mar As “The Tall Ships Races” têm como objetivo levar para os oceanos jovens de todo o mundo e transmitir o máximo de informação sobre a melhor forma de estar e usufruir do mar. Em pleno oceano os jovens são postos à prova num sistema de quartos (4 horas) em que as tarefas podem ser ir ao leme, ficar na vigia, faina geral de mastros, trabalhar na “gallery” (cozinha), ou baldear o convés entre outros. De Saint-Malo vieram centenas de jovens que contaram as suas peripécias. João Baptista, 18 anos, de Lisboa, aluno do 12.º ano, navegou no Bark Europa e soube pela APORVELA da oportunidade: “Espetacular, apesar de não ser a primeira vez. A bordo utilizávamos vocabulário alemão e isso foi o mais difícil”, conta. Heinrich Teschemacher de 23 anos, um jovem alemão de Niedersachsen, frequenta a escola náutica e declarou que na primeira perna da regata estava “muito vento, mas que, em termos gerais, foi ótimo”. Teschemacher garante mesmo que “dentro de dois anos” vai iniciar-se “As “The como profissional na Marinha MerTall Ships cante”. ø Races” têm como objetivo levar para os oceanos jovens de todo o mundo (...)” muito bem. Gostaria muito de voltar a participar numa futura edição”, conta a estudante de Engenharia do Ambiente que escolheu este cargo por considerá-lo o mais interessante e o que permite um maior contacto com diferentes culturas. José Carvalheira, 23 anos, frequenta o Curso de Piloto de Aviação e é estudante de Psicologia. Assim que soube que a regata ia passar por Lisboa, fez logo a sua inscrição para oficial de ligação. O praticante de vela foi responsável pela ligação com o veleiro britânico Maybe: “Foi um trabalho recompensador. Gosto muito de trabalhar em equipa e ver como estas funcionam. Interagi bastante com as tripulações dos vários veleiros, este convívio foi fantástico”, revela. Marta Brito, estudante de Direito de 21 anos, ouviu falar do evento pela sua mãe que trabalha num porto marítimo. “Além desta ligação ao mar que tenho através da minha mãe também gostava muito de me especializar em Direito Marítimo”. O veleiro que lhe foi atribuído foi o polaco Kapitan Borchard: “A tripulação foi muito simpática e até tentaram ensinar-me polaco.O comandante até fez questão de trocar uma caneta comigo, foi muito giro”, destacou a jovem que considera o posto de oficial de ligação como a melhor maneira de ter contacto com as tripulações dos veleiros e com outras culturas. 54 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR Ana Lima Por Água Crónica heróis do mar E u e os meus amigos encontrávamo-nos sentados junto a uma das docas de Lisboa, à espera do Skipper. Iríamos ter uma manhã de iniciação à navegação à vela. Estávamos animados e falávamos com movimentos largos de braços, escondendo algum nervosismo e ansiedade perante a perspetiva de nos principiarmos na atividade dos nossos antepassados mais ilustres, personagens principais da primeira Globalização económica. Sentia na nuca os olhares atentos de visionários como o Infante D. Henrique; de navegadores como Vasco da Gama e Fernão de Magalhães, ou Diogo Cão e Bartolomeu Dias; e de exploradores como Roberto Ivens e Hermenegildo Capelo. Tínhamos a oportunidade de provar naquela manhã ventosa de Verão que, passados mais de quinhentos anos, ainda possuíamos aquela proteína de ADN particular dos Portugueses que despoleta em nós a nostalgia pelos oceanos, a aventura 56 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR pela descoberta dos mares. O nosso Skipper chegou com algum atraso. Algo também típico português. Não foi devido às marés, nem aos ventos, mas porque apanhou trânsito na marginal. Vicissitudes da modernidade. Era um homem novo, nem magro nem gordo. Tinha óculos escuros da moda, cabelo alourado, pele morena. Envergava um pólo cor de laranja, bermudas lisas e sapatos de vela castanhos. Parecia uma fotocópia certificada de Skipper de alguma prova da America’s Cup. Depois das apresentações efetuadas e em jeito de introdução, assegurou-nos que, em qualquer situação, aquele barco nunca se viraria. Ficámos a olhar uns para os outros, surpreendidos. Mas ainda há barcos que se viram? Tínhamos algumas dúvidas e receios, mas nunca nos passou pela cabeça que este barco poderia, numa eventualidade remota, virar. As minhas dúvidas eram maiorita- Esperámos junto ao barco (um Bénéteau 25, próprio para instrução e regatas) que o Skipper fizesse os primeiros preparativos. Vimo-lo ir buscar umas velas enroladas a outro barco e colocá-las no chão do “nosso”. Depois de mais umas manobras e uns movimentos indecifráveis, fez sinal para subirmos. Uns com mais cuidado que outros, lá subimos e sentámo-nos nos locais que nos indicou, três de um lado e dois do outro, junto a ele. Ligou um pequeno motor fora de bordo e lá fomos devagarinho, saindo da doca. A manhã estava solarenga e fresca. O Sol iluminava tudo com uma luz forte, que favorecia e aumentava o tom das cores. As gaivotas faziam voos rasantes na marina por entre os inúmeros mastros, criando a dimensão sonora comum a qualquer marina a todas as latitudes. perspetiva nova para mim. Quando chego a Lisboa pela Ponte, a panorâmica é maior, mas de um ângulo picado, orgulhoso. Dali do rio, o ângulo é mais baixo, proporcionando uma vista, para mim, mais pessoal, quase íntima. Eu e Lisboa, tu cá tu lá, num olhar arregalado (pelo menos da minha parte), de espanto mudo perante a beleza luminosa da minha cidade. Por Água Heróis do Mar riamente do foro técnico e resumiam-se a uma pergunta: como é que um Skipper e cinco pessoas sem experiência em navegação à vela conseguem manobrar um barco? A resposta surgiu à posteriori, de forma natural. Assim que saímos da doca, o Skipper pediu à Clara e à Marta para içarem a vela principal. Explicou-lhes como fazer e elas seguiram as instruções à risca. Uma ficou junto ao mastro para ajudar a colocar a bainha da vela na reentrância daquele, e a outra foi para a cabina içar a adriça. Após um momento em que as duas não se conseguiam coordenar, o que nos obrigou a andar em círculos para apanharmos o vento na posição correta, elas lá conseguiram encontrar um modo de entendimento e a vela principal foi içada. Agora sim, o batismo de vela começou. Mais tarde, foi a vez de o Guilherme armar a bujarrona. Navegávamos à bolina, em direção a Belém. Durante uns minutos estive “O Perguntámos ao Skipper porque é que estiresponsável pelo leme. nosso Skipbordo é à direita, e bombordo é à esquerEstava toda orgulhosa! per chegou com da. Com os pés descalços sobre o braço do No entanto, o Skipper leme, respondeu-nos que “bom-bordo” achou melhor que algum atraso. Algo o devolvesse vistambém típico portuto não ter certeza guês. Não foi devido às de eu o conseguir marés, nem aos ventos, passar entre os dois molhes; andava aos mas porque apanhou ziguezagues. É muito trânsito na marcomplicado dirigir um ginal. “ barco à vela. Se viro o leme para a direita, o barco curva para a esquerda; se o viro para a esquerda, o barco curva para a direita. Eu sou canhota, mas um canhoto a querer dirigir outro canhoto é demasiado confuso! Ali não havia ondas, mas com o meu ziguezague, já me sentia enjoada! Imaginei o olhar reprovador de Bartolomeu Dias, criticando a minha falta de jeito. Havia de ser bonito ter-me a mim como piloto no Cabo das Tormentas… Nunca chegaria a ser o Cabo da Boa Esperança comigo como timoneira. Saímos. Dentro daquele pequeno barco é que me apercebi da enorme largura do rio Tejo. Nós ali, pequeninos, vendo os cacilheiros na sua ida e vinda, a Ponte 25 de abril ao longe e o céu enorme por cima de nós! O Skipper falou-nos das colinas de Lisboa e da sua influência nos ventos e nas refregas e da importância da cor escura na superfície da água para as identificar a tempo. Eu não prestei muita atenção àquela informação, pois estava deliciada com a magnífica vista da cidade. É uma OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 57 Por Água “Dentro daquele pequeno barco é que me apercebi da enorme largura do rio Tejo. Nós ali, pequeninos, vendo os cacilheiros na sua ida e vinda, (...) “ é o lado esquerdo, porque na altura da exploração da costa africana, esta ficava (e continua a ficar, claro está) sempre do lado esquerdo, dando orientação e segurança aos marinheiros portugueses, à medida que iam velejando mais para Sul, desbravando o Atlântico. Perante este meu desconhecimento, imaginei que Diogo Cão elevava os braços ao céu, pedindo desculpas por tão ignorante descendente. Numa altura de mais vento, o Skipper mandou-nos para estibordo, junto dele, para que contrabalançássemos o barco, que navegava inclinado com a força do vento. – Susana, dá-me esse cabo azul. – Pediu. – Cabo? Qual cabo? – Eu não via nenhum cabo. Nem azul, nem cor-de-rosa ou mesmo amarelo às bolinhas. – Dá-me esse cabo que está aos teus pés! – Repetiu. Eu olhava para os meus pés, olhava para o Skipper e encolhia os ombros sem saber o que dizer. Os meus companheiros de batismo olhavam em silêncio ora para mim, ora para o Skipper, como se estivessem a ver um jogo de ténis, com o mesmo ar incrédulo que eu tinha. Eu queria ajudar o Skipper, participar o mais possível na lide do barco, mas não via cabos azuis que pudesse lhe entregar. Eu sei que sou míope, mas o barco não é muito grande e os meus pés não conseguem afastar-se muito de mim, mesmo que eu quisesse. Não via 58 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR cabo algum, só uma série de cordas no fundo do barco, uma delas, por coincidência, azul. – Mas é isso mesmo! Isso não é uma corda, é um cabo! – Gritou o Skipper exasperado. Não existem cordas na vela. Cordas são para alpinismo ou canyoning, por exemplo. As cordas possuem elasticidade, para favorecer algum tipo de amortecedor, quando uma pessoa escorrega e cai, ou precisa de ser içada. Na vela, os cabos são rígidos, característica fundamental para fazer face à força do vento e do mar. Mais uma vez, desiludi os grandes navegadores portugueses de que me orgulho tanto. Fechei os olhos e imaginei-os a abanarem a cabeça, de braços cruzados sobre o peito, com ar reprovador. O Bénéteau 25 velejava a grande velocidade, todo inclinado, saltando nas ondas provocadas pelos outros barcos que passeavam no Tejo. Era emocionante sentir o vento e os salpicos da água na cara e nos braços. Tal como crianças excitadas, fazíamos adeus aos outros velejadores que nos respondiam divertidos. Pensariam de certeza que éramos novatos. Após um momento de silêncio em que todos iam a olhar para o perfil ondulado de Lisboa, o Skipper gritou-nos “caça a vela!” e depois com ar autoritário “morde o cabo!”. O cabo já eu sabia o que era; agora caçar a vela e morder o dito já não me fazia grande sentido. Nunca tinha visto o Padrão dos Descobrimentos, e principalmente o Infante D. Henrique, de frente. Deste lado é visível a forma de caravela (como é na perspetiva lateral), mas também a forma de espada e/ou crucifixo. Muitos portugueses desconhecem que o Padrão foi desenhado e construído para a Exposição do Mundo Português em 1940. A ideia original para o Padrão era a de uma obra efémera e foi erigido como tal em materiais mais perecíveis, tais como o gesso. Só no final da exposição é que foi construído em pedra. Por Água Heróis do Mar Caçar… Morder… De início não tinha essa noção, mas agora a vela parecia-me ser um desporto muito violento. Depois da tradução de “marinheirês-português”, lá entendi o que o Skipper queria dizer e fiquei mais aliviada. Afinal a vela não é nada violenta, e o facto de termos caçado a vela e mordido o cabo, fez com que velejássemos com mais velocidade. A emoção aumentou, pois o barco ia realmente bastante inclinado, com água a entrar no bordo mais a baixo e connosco praticamente em pé, a tentar contrabalançar com o nosso peso o outro bordo. Sabia bem aquela vertigem da velocidade do vento impelido numa vela triangular, salpicada com a água fresca no rosto. É muito diferente da habitual caminhada no campo e na serra. Notei outra coisa interessante. O Centro Cultural de Belém, ao contrário do que a maioria das pessoas dizem, não esconde ou ensombra o Mosteiro dos Jerónimos. Aquela construção do século XX começa no alinhamento do Museu de Marinha, um pastiche construído no século XIX, que nasce junto ao final do Mosteiro. Uma coisa é certa, a massa construtiva do Centro Cultural é grande; tão grande (ou maior) como a massa do edifício da Agência Europeia de Segurança Marítima, junto ao Cais do Sodré. No entanto, o CCB permite que as pessoas tomem contacto com o Tejo, coisa que a Agência (parece-me que ainda) não faz. A passagem por baixo da Ponte 25 de abril foi mais um motivo de grande emoção e para gritarmos urras e vivas. O nosso Skipper sorria, olhando para nós tal como um adulto condescendente a olhar para crianças traquinas. As luzes vermelha cónica e verde cilíndrica (ou era ao contrário?) na base do pilar pareciam desligadas. Lá em cima, víamos os carros passarem no tabuleiro metálico, rápidos, ignorantes da nossa presença e excitação. O zumbido que faziam lembrava um enxame em constante movimento. Na outra margem, o Cristo Rei O Skipper retirou-me destes pensamentos, chamantinha-se de braços abertos a Lisboa, inexpres- mando-nos a atenção para a manobra que iríamos sivo. Porquê terem feito uma réplica do Corcova- realizar a seguir: viragem de bordo. Pediu para do? Porque não algo diferente desta vez? mantermos as cabeças baixas e ter cuidado Em vez de estar sempre de braços com a retranca, ao passar para o outro A abertos sem nunca os apartar num lado do barco. Meio atrapalhados, lá abraço, porque não fazer uma fomos agachados, procurando algo passagem representação de um abraço onde nos equilibrar, normalmente por baixo da afectuoso? um braço ou uma perna do batizado Ponte 25 de abril mais próximo e sentámo-nos, semfoi mais um motivo Encolhi os ombros ao Cristo pre de olho na retranca. Rei. O barco seguia com velode grande emoção cidade e eu estava feliz. Sentia Voltámos a passar em frente ao Ine para gritarmos o vento na cara e nos cabelos. fante e do seu Padrão e, mais à frenurras e vivas. As velas brancas todas enfunadas faziam-me sonhar em aventuras por paragens longínquas e exóticas. Paragens com nomes que fazem sonhar tipo Papua, Vanuatu ou Grenadines onde chegaria num navio cheio de velas enfunadas e faria imensas caminhadas. Naquele momento, o Mosteiro dos Jerónimos, o Padrão dos Descobrimentos e o Centro Cultural de Belém apareceram no nosso campo de visão. Mais ao longe a Torre de Belém e ao fundo o Centro de Coordenação e Controlo de Tráfego Marítimo do Porto de Lisboa, desenhado por Gonçalo Byrne. A perspetiva aqui também é novidade. Apesar da altura e fealdade das torres do Restelo, a zona ribeirinha e histórica de Belém, mais bela e equilibrada, consegue sobrepor-se à primeira. OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 59 Por Água te, debaixo da ponte. Mais urras e vivas. Desviámo-nos dum cacilheiro fazendo um círculo mudando de bordo novamente agachados e fomos navegando até à Praça do Comércio. ca pode querer dizer que se está de sobreaviso, que se está atento. E é realmente necessário no exemplo da vela, pois em caso contrário podemos ferir-nos na cabeça com um movimento rápido da retranca devido ao vento. Esta praça da Baixa Pombalina abre-se ao Tejo, dando as boas vindas a todos aqueles privilegiados Rumámos novamente a Belém. Agora que já esque chegam de barco, podendo usufruir desta bela távamos familiarizados com os procedimentos do vista de Lisboa. O Arco do Triunfo e as fachadas veleiro, o nosso Skipper fazia-o inclinar bastante, amarelas dos edifícios ministeriais pareciam ainda caçando a vela de forma a ganhar mais velocidamais imponentes daquela perspetiva aquática. O de. Os batizados inclinavam-se para trás, ficando quase como que em pé, devido ao ângulo do Castelo de S. Jorge espreitava cá para baibarco. Sentíamo-nos como verdadeiros xo, transmitindo uma sensação de se“Agoprofissionais, velejando sem medo, gurança. inclinados borda fora, como nas ra percebo regatas que se vêem na televisão. Esta praça é muito sui generis o fascínio que o Voltámos a mudar de bordo e a por duas razões. Primeira, porMar incute. Sentir subir o Tejo, mas desta vez foque o objetivo original da sua a vertigem pelo azul, mos mais pelo centro do rio. construção foi a instalação de Durante toda a manhã velejácomerciantes nas arcadas da pelo desconhecido, mos entre o Terreiro do Paço e praça, objetivo este que nunca a partida e a proBelém. Pode saber a pouco para foi alcançado nos anos seguintes. messa de exotiso nosso Skipper ou para qualquer Deste modo, optou-se por instalar mo (...)” outro velejador experimentado. Para os ministérios da altura naqueles nós, os cinco batizados nesta primeira edifícios. Após o terramoto de 1755, o experiência de vela, foi o suficiente para Rei tinha saído do Paço e instalado a sua ter despoletado naquela proteína particular do comitiva na Real Barraca na Ajuda. ADN Português a vontade de aprendermos mais, A segunda razão prende-se com o facto de a es- ou pelo menos, de repetirmos a aventura. tátua do rei D. José e do seu amado Gentil esta- Agora percebo o fascínio que o Mar incute. Sentir rem de costas viradas a Lisboa. Para mim significa a vertigem pelo azul, pelo desconhecido, a partida que para este rei era mais importante perscrutar e a promessa de exotismo que ela implica. Fiquei os barcos carregados que subiam o Tejo chegando com vontade de partir. Partir para outro lugar… das várias colónias, do que a sua própria cidade, “Vou continuar a procurar capital de um grande Império. Mais uma vez o Skipper avisou-nos da mudança A minha forma, o meu lugar, de bordo. Lá tivemos de baixar as cabeças, ficar de Porque até aqui eu só olho na retranca e irmo-nos sentar do outro lado. Estou bem onde eu não estou…” Agora já percebo porque é que se usa esta palavra noutros contextos menos marítimos. É um exem- Eu sei, esta parte não é minha, é do António Variaplo vivo da origem de uma das muitas expressões ções. ø Susana Muchacho idiomáticas da língua portuguesa. Estar na retranGeosphera 60 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR Fotografia Portfólio do mês — José Carlos Sousa 62 Novembro_Dezembro 2011 OUTDOOR Fotografia Portfólio OUTDOOR Novembro_Dezembro 2011 63 Parapente sobre o Portinho da Arrábida Fotografia Marisa e Inês a fazer bloco na praia da Coelha no Algarve Marisa a fazer bloco na praia de Albandeira no Algarve 64 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR Fotografia Portfólio Anicha no Portinho da Arrábida Tarde de nevoeiro na Peninha em Sintra Praia da Grota no Parque Natural OUTDOOR Março_Abril 2012 65 Sintra Cascais Marisa a Escalar no sector “Condomínio” na Azoia Fotografia Quem é o JOSÉ CARLOS SOUSA? Nasci em 1966 e começo a escalar em 1982, durante quase toda a minha vida tenho estado ligado à escalada nas suas várias vertentes e às atividades de aventura. Em 1983 tirei um curso de Escalada em Rocha, em 1998 frequentei a Escola de Alta Montanha de Benasque em Espanha. Desde 1989 que ministro Cursos de Escalada em Rocha e Cursos Profissionais ligados à segurança de trabalhos em altura e em 2000 para o Instituto do Desporto fui coautor do primeiro livro de manobras de corda e ministrei por todo o país os primeiros cursos desta área. Entre 2006 e 2008, fui também Seleccionador Nacional de Escalada pela Federação Portuguesa de Montanhismo e Escalada. Aprendi os primeiros conceitos de fotografia em 1982 com um amigo e companheiro de cordada, o José Maria Oliveira, que tinha uma paixão pela fotografia e uma Canon Reflex analógica. Ele continua a fotografar e conta já com várias publicações. Entre 1987 e 1995, fiz viagens regulares a Espanha, Itália e França para escalar, onde fui 66 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR apurando o gosto pela fotografia, mas só em 1996 faço uma rock climbing trip aos Estados Unidos e adquiro a minha primeira máquina fotográfica: uma Olympus analógica. Em 2000, fiz um upgrade para uma Sony compacta digital e começo a fotografar com mais regularidade. Só começo a ter objectivos concretos quando adquiri a Nikon D3000 em 2010 e, após ter lido o livro “Fotografia” do Joel Santos, consigo os primeiros resultados que me agradam, na minha área preferencial que é paisagem. A motivação aumenta com o reconhecimento, os prémios recebidos e com os pedidos de publicação do meu trabalho. O próximo objetivo, assim que fizer um novo upgrade de máquina e lentes é organizar uma Climbing/PhotographyTour à Nova Zelândia. ø Galeria Flickr Facebook Fotografia Portfólio Árvore junto ao Penedo da Amizade em Sintra OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 67 Fotografia Foto-Reportagem NA ROTA DAS VINDIMAS 68 Maio_Junho 2012 OUTDOOR Fotografia Foto-Reportagem OUTDOOR Novembro_Dezembro 2011 69 Fotografia 70 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR Fotografia Foto-Reportagem OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 71 Fotografia 72 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR Fotografia Foto-Reportagem provas no douro vindimas no dão A época de vindimas é sinónimo de muita azáfama nas várias regiões vitivinícolas nacionais. É o culminar de um ano de trabalho onde o produto final é a imagem de marca. O vinho! Venha experimentar um programa sensorial, preparado para lhe despertar os 5 sentidos: os olhos cheios de cores quentes, os ouvidos embalados com cantigas, o paladar estimulado pelas provas e o olfato com os cheiros intensos dos mostos que fermentam... O programa realiza-se nos dias: 21/22; 28/29 setembro 5 e 6 outubro de 2012 com um mínimo de 10 participantes. ø Um programa: Oficina da Natureza OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 73 Fotografia do mês praia do porto santo A Praia do Porto Santo foi eleita uma das 7 Maravilhas de Portugal, na categoria de praias de dunas. Um paraíso aqui tão perto e por muitas vezes desconhecido confirma o reconhecimento da qualidade excecional da praia, conhecida desde sempre como o ex-libris da “Ilha Dourada”! É sem dúvida um destino de excelência a não perder. ø Foto de Aurélio Faria Fotografia Foto do Mês S.O.S. ... sobrevivência a catastrofes a vida em campo 76 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR Na primeira parte deste artigo explicámos como se deve preparar para uma catástrofe. Damos-lhe indicações do que fazer, para onde ir, como ir, etc, na eventualidade de um dia vir a ser necessário. Se ainda não leu, comece por ler a primeira parte deste artigo na Revista Outdoor nº 6. Assim sendo, vamos partir do princípio que realmente ocorreu uma catástrofe e o leitor já colocou em prática tudo o que aprendeu na 1ª parte. Ao chegar ao seu destino, depois de montar o acampamento, deve estar atento ao rádio AM/ FM que levou, para se dar conta do ponto de situação. Sendo assim temos duas situações possíveis: A primeira é a normalização geral da situação que lhe permite voltar a casa dentro das 72 horas para as quais tem alimento, água, e tudo o resto que preparou. A segunda é se os tumultos, a falta de condições sanitárias, de alimentos e de água ou até de local para ficar ainda subsistem. É sobre esta hipótese que nos vamos focar neste artigo. Em primeiro lugar, tem de dominar o choque psicológico da situação: Não está perdido, mas está sem alimentos e água potável e não se pode deslocar aos locais a que está habituado a obtê-los. Nesta situação tem de pensar que já é um sobrevivente, porque se preparou e estará melhor do que muitas pessoas feridas, doentes e em pânico pelas cidades. Respire fundo, provavelmente estará um local bonito no meio da natureza, e prossiga fazendo um plano para aí continuar o tempo necessário. No entanto mesmo com o otimismo em alta, mantenha sempre os pés bem assentes na terra e nunca se esqueça: A Natureza não se vai adaptar a si, você é que terá de se adaptar a ela. Se leu a primeira parte deste artigo, terá no seu Bug Out Bag (BOB) o necessário para ter um abrigo, bem como ferramentas para fazer fogo com alguma facilidade. Se choveu e está tudo molhado, pode ler o excelente artigo do Pedro Alves no Blog da Escola do Mato, que o ensina a fazer fogo nestas condições. Com as necessiOUTDOOR Setembro_Outubro 2012 77 S.O.S. Sobrevivência a Catástrofes C omo ponto prévio gostaria de reforçar a ideia de que este artigo não é uma formação. Apenas visa alertar o leitor para as situações descritas e dar-lhe algumas dicas que podem ser bastante úteis, não sendo possível abordar todas as questões nem todas as variáveis numa situação deste género. Procure formação específica na área da sobrevivência e do bushcraft, para adquirir as competências necessárias e saber como lidar com um cenário deste género. S.O.S. dades de abrigo e fogo resolvidas, passemos à próxima prioridade. ÁGUA Em teoria e em média (depende de cada pessoa, clima e estação do ano) o ser humano pode estar sem ingerir água durante 3 dias. Idealmente estará numa zona com algum tipo de nascente, ribeiro, riacho, etc, e tem consigo pastilhas purificadoras. Se não sabe onde está ou não consegue ver água à sua volta, saibam que existem árvores e plantas que indicam a sua existência (p.e. o Salgueiro Chorão). Nas áreas com abundância de água a vegetação tende a destacar-se, pois é mais verde e de aspeto mais vivo. Também a grande concentração de aves indica a presença de água nas redondezas e os trilhos dos animais na sua generalidade também se dirigem à mesma. Mas até as pastilhas purificadoras podem acabar e será necessário filtrar e de seguida ferver a água que obteve (mesmo usando as pastilhas purificadoras deve filtrá-la previamente). Não vamos falar de filtros naturais mais complexos, mas deve usar pelo menos um lenço ou similar para decantar a água e seguidamente fervê-la. Se estiver a chover, com um pouco de imaginação terá este problema resolvido, pois só tem de recolher água da chuva. No entanto é bom filtrar e ferver esta água também. Existe o mito que a água da chuva é puro H2O e não é bem assim. ALIMENTO Mais uma vez dependendo de cada pessoa, um ser humano pode estar até 3 semanas sem comer se não tiver uma atividade física intensa. Numa situação deste tipo podemos obter alimentos de três maneiras: Peixe, crustáceos e afins através da pesca, aves e pequenos mamíferos através da caça e as várias partes das plantas através da re78 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR coleção. Existem várias técnicas de pesca primitiva para quem não tem as ferramentas adequadas, mas não vamos abordá-las, porque o leitor se preparou e tem um kit mínimo de pesca. Falta-lhe o isco, mas até aqui não é preciso inventar muito, porque afinal os peixes não mandam vir comer de fora, comem o que existe naquela zona. Procure minhocas, larvas e insetos e tente a sua sorte. Em relação à caça, uma vez que em princípio não tem uma arma consigo, torna-se mais complicado. Mas tempo não lhe falta e usando a imaginação conseguirá capturar alguns animais. Não é do âmbito deste artigo dar formação em armadilhas ou técnicas de caça, mas pode pesquisar sobre este assunto e obterá algumas boas ideias. Se for uma zona com coelhos, com alguma insistência e uma grande quantidade de laços feitos nos seus trilhos (normalmente identificados pelos seus excrementos característicos), mais cedo ou mais tarde acabará por apanhar um. Se não o souber preparar, por via das dúvidas limpe todo o seu interior com cuidado e coma apenas o restante. Tenha em atenção que a caça fora das zonas autorizadas e com armadilhas é proibida, por isso utilize estes métodos apenas em situações de emergência. A recoleção pode parecer o método mais simples e rápido para obter alimento, mas é preciso ter alguns cuidados. Se os jardins de nossas casas estão por vezes cheios de plantas tóxicas sem nos apercebermos, imagine na natureza. Existem várias partes comestíveis nas plantas, mas vamo-nos centrar nos frutos, embora a sua existência em abundância dependa muito da estação do ano em que nos encontramos. Existe um mito que se pode comer tudo o que as aves comem, mas não é bem assim. Alguns frutos Para quem não está muito a par destas questões, algumas espécies animais carregam uma fama Formador Certificado Instrutor de Bushcraft e Sobrevivência na Escola do Mato www.luisvarela.org OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 79 S.O.S. Sobrevivência a Catástrofes possuem componentes tóxicos para nós que não de potencialmente agressivos ou perigosos. fazem efeito nas aves. Confie antes nos mamífe- Hoje em dia, a palavra certa é mesmo essa: poros: tudo o que os mamíferos comem pode, por tencialmente. A raposa está espalhada por todo norma, ser ingerido de forma segura pelo ser o nosso país, mas não representa perigo pois humano. No caso dos frutos, existe uma abrevia- é um animal tímido e pouco se aproxima dos tura que deve decorar: PAL: Peludos, Amargos e humanos. O lobo-ibérico é por natureza mais Leitosos (os brasileiros usam CAL, de Cabelu- agressivo, mas está praticamente em vias de exdo). Desconfie se existe uma destas caracterís- tinção. Poucos exemplares haverá em Portugal, ticas, mas definitivamente não se alimente de sobretudo na zona da Serra da Estrela, Minho nenhum fruto que as tenha todas. O amargo é e Trás-os-Montes, e não há registos nas últimas comprovado apenas por colocar uma pequena décadas de lobos atacarem os seres humanos, porção na sua boca, sem mastigar, nem engo- apenas o gado. Um encontro com um Lince Ibélir. Desconfie também de frutos de cores muito rico será ainda mais difícil, pois está confinado vivas e cheiros doces ( p.e. cheiro a amêndoa), a algumas dezenas de indivíduos, apenas nas ou de bagas de cores muito claras, normalmente serras algarvias. brancas ou amareladas. Na dúvida cozinhe tudo, Apesar dos nomes sonantes dos animais descriporque existem plantas e frutos que são tóxicos tos anteriormente, que nos podem provocar alcrus, mas podem ser consumidos cozinhados. gum receio, provavelmente os maiores perigos Evite completamente os cogumelos, pois exis- virão de coisas bem mais comuns: Mosquitos, tem centenas de espécies venenosas e também carraças, abelhas e vespas. Quase todos porque são quase isentos de calorias sabemos que os mosquitos podem (100g têm entre 6 a 25 Kcal, depentransmitir doenças e que as suas dendo da espécie). Não valem o picadas por vezes infetam. NunEvite complerisco que corremos ao consumica se aproxime de ninhos de tamente os cogu-los. vespas ou de colmeias, pois o melos, pois existem ataque destes insetos em gruPOTENCIAIS PERIGOS po pode ter consequências centenas de espécies Dos riscos com a flora já falágraves. As carraças também venenosas e também mos no parágrafo anterior, por podem transmitir doenças, porque são quase isso nesta temática dos perigos além de que as suas feridas que pode enfrentar vamos aborinfetam com muita facilidaisentos de calorias dar sobretudo a fauna. Em terde. Em relação aos ratos, a sua (...) mos de cobras, apenas temos três urina causa Leptospirose, que é espécies venenosas em Portugal: A muitas vezes fatal e a sua mordeCobra Rateira, relativamente comum em dura pode transmitir tétano, raiva e outodo o país, que embora agressiva dificilmente tras doenças. conseguirá inocular veneno quando morde, pois os seus colmilhos estão na retaguarda da boca. CONCLUSÂO As duas restantes são víboras e essas sim mais Como já afirmei, este artigo tem como principal perigosas, embora o veneno não seja suficiente objetivo alertar para a possibilidade de acontepara matar uma pessoa de boa saúde. São a Ví- ceram catástrofes e dos benefícios em estarmos bora Cornuda, comum em todo o país e a Víbora preparados para elas. Ao ler ambas as partes de Seoane, existente sobretudo no Gerês. Entre deste artigo, o leitor já tem vantagem sobre a outras características, as víboras distinguem-se grande maioria da população, pois ficará com pela sua cabeça triangular e pelas pupilas ver- as bases mínimas de conhecimento para atuar perante situações deste tipo. No entanto, nunca ticais. Em termos de escorpiões, a única espécie exis- é demais salientar a importância da formação tente em Portugal é o Lacrau, presente em todo nestas áreas. Escolha formadores ou escolas o território nacional, com preferência por zonas credíveis e vai acabar por passar uns dias na namais rochosas e áridas. O seu veneno não é nor- tureza, onde certamente irá disfrutar da mesma malmente fatal e ao contrário do que se julga e divertir-se bastante. Para além disso, e mais são essencialmente noturnos. Estas serpentes e importante ainda, quem sabe não aprende uma o lacrau são animais a evitar, pois apesar de o série de técnicas úteis que um dia lhe podem seu veneno não ser fatal, implicaria uma ida ao salvar a vida, a si e à sua família. ø hospital. Luís Varela Descobrir Sintra Foto:CM As “Pequenas Rotas de Sintra” são um novo modo de conhecer o património do município, dotado de excelentes recursos naturais particularmente propícios à pratica de atividades de ar livre. Sintra 5 pequenas rotas para descobrir Descobrir Sintra PR1— Percurso de Santa Maria: O percurso inicia-se no Largo Rainha D. Amélia junto ao Palácio Nacional de Sintra , no Centro Histórico. Entre este Largo e o Turismo podemos iniciar a subida pelas Escadinhas Félix Nunes seguindo depois à esquerda pela Rua da Ferraria. Um pouco mais à frente, do lado esquerdo fica o Miradouro da Ferraria que merece uma visita. Tomando a Rua Marechal Saldanha, subimos até à Fonte da Sabuga. Da fonte, sobe-se a Calçada dos Clérigos, estando lá no cimo a Igreja de Santa Maria. Depois da passagem pela Igreja, iniciamos a descida pela Travessa de Sta Maria, até ao Largo Sousa Brandão. Aqui, temos de atravessar a estrada (com cuidado), tomar a Rua das Murtas e contornar o Parque da Liberdade. Pela extrema Norte do Parque, as Escadinhas das Murtas conduzem-nos, na descida, até à Volta do Duche Para terminar, é só seguir a Volta do Duche até ao Palácio da Vila, ponto de saída deste percurso, podendo ainda refrescar-se com a água fresca da Fonte Mourisca a meio caminho. caracteristicas: Extensão: 1,9 km; Duração média do percurso: uma hora; Local de saída/chegada: Largo do Palácio da Vila; Pontos de passagem: Fonte da Sabuga, Igreja de Santa Maria, Parque da Liberdade; Dificuldade: Baixa, desnível pouco acentuado. Mais Informações: CM Sintra PR2— Percurso da pena: O PERCURSO inicia-se no Largo do Palácio Nacional de Sintra, no Centro Histórico. Subindo a Rua das Padarias, voltamos à esquerda pelas escadinhas até alcançar a Rua da Ferraria. Continuando a subir esta rua, um pouco mais à frente, à esquerda, vale a pena ir até ao Miradouro da Ferraria, para depois continuar pelo asfalto até à Fonte da Sabuga. Da fonte, sobe-se a Calçada dos Clérigos estando lá no cimo a Igreja de Santa Maria. O percurso continua pela Rua da Trindade, onde merece destaque o Convento da Santíssima Trindade, aproximamo-nos de São Pedro de Penaferrim. Seguindo agora pela Calçada da Penalva, tomamos a Rua Visconde Faro e Oliveira e continuamos pela Rua do Rio da Bica até à fonte com o mesmo nome (1875). Por um trilho, à direita, subimos até ao “Monte Sereno”, um castelo particular que se encontra a meia encosta da Serra de Sintra. O percurso continua a subir pela Calçada da Pena até à entrada principal do Parque da Pena. Passando a porta rotativa, o caminho serpenteia por um misto de escadas e áreas planas. Sempre a descer, encontramos as ruínas da primitiva Capela de São, bem como a Álea Ferreira de Castro . Já na Igreja de Santa Maria, o percurso repete-se, seguindo pela Calçada dos Clérigos, passando a Fonte da Sabuga, a Rua da Ferraria e descendo até ao Largo do Palácio Nacional. caracteristicas: Extensão: 4.5 km; Duração média do percurso: Duas horas e meia; Local de saída/chegada: Largo do Palácio da Vila; Pontos de passagem: Fonte da Sabuga, Igreja de Santa Maria, São Pedro de Penaferrim, Castelo do Monte Sereno, Parque e Palácio da Pena, Castelo dos Mouros; Dificuldade: Alta, desnível muito acentuado. Mais Informações: CM Sintra OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 81 Descobrir PR3— Percurso do castelo: caracteristicas: Extensão: 4,7 km; Duração média do percurso: Duas horas e meia; Local de saída/chegada: Largo do Palácio da Vila; Pontos de passagem: Largo de Ferreira de Castro, Castelo dos Mouros, Igreja de Santa Maria, Fonte da Sabuga; Dificuldade: Alta, desnível muito acentuado. Mais Informações: CM Sintra O percurso inicia-se no Palácio Nacional de Sintra. Subindo a Rua das Padarias, onde fica localizada a Pastelaria Periquita, continuamos à esquerda pelas escadinhas, até à Rua da Ferraria. Aqui, seguimos a sinalética, virando à direita, até ao Largo Ferreira de Castro - início da Rampa da Pena. Subimos, passando alguns palacetes e chalets. Continuando a subir pelo asfalto até ao cruzamento para Capuchos e Pé da Serra, voltamos à esquerda para a estrada empedrada. O portão do Parque da Pena, também conhecido por portão dos Lagos, é a próxima passagem, para continuarmos a subir até à zona de entrada para o Castelo dos Mouros. Após a porta rotativa, e tomando a direção para o Castelo dos Mouros, o caminho serpenteia por um misto de escadas e zonas planas. Sempre a descer encontramos as ruínas da primitiva Capela de São Pedro. Chegando à Igreja de Santa Maria, seguimos pela Calçada dos Clérigos até à Fonte da Sabuga. Continuando, a descer, viramos à direita para a Rua da Ferraria e descemos as Escadinhas Félix Nunes para regressar ao Largo do Palácio Nacional. PR4— Percurso de seteais: O largo do Palácio Nacional de Sintra é o local de saída para este percurso. Seguimos na direção do Posto de Turismo , passando a Torre do Relógio e a Igreja de São Martinho. Tomando a estrada à esquerda, continuamos até ao Largo Dr Carlos França. caracteristicas: Extensão: 3,5 km; Duração média do percurso: uma hora e meia; Local de saída/chegada: Largo do Palácio da Vila; Pontos de passagem: Torre do Relógio, Igreja de São Martinho, Quinta da Regaleira, Palácio de Seteais, Rampa da Pena, Fonte da Pipa; Dificuldade: média, desnível muito acentuado. Mais Informações: CM Sintra 82 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR Passamos a Fonte dos Pisões e a Cascata com o mesmo nome para continuarmos a caminhada, e após percorrer cerca de 200m avistamos, à esquerda, a imponente Quinta da Regaleira . Depois de contornar a Quinta da Regaleira, subimos a Rua Barbosa du Bocage, até ao Hotel Palácio de Seteais que nos surge pela direita. Continuamos o caminho pela Azinhaga do Vale dos Anjos, que tem início mesmo em frente do portão principal de Seteais. Depois de uma subida algo sinuosa e serpenteada, entramos na Rampa da Pena. Sendo este o ponto mais alto deste percurso, iniciamos aqui a descida pelo asfalto até ao Largo Ferreira de Castro. Um pouco mais abaixo, descendo as escadinhas, podemos refrescar-nos na Fonte da Pipa. Continuando a descer, chegamos ao ponto de partida, o Largo Rainha D. Amélia. Descobrir Sintra PR5— Percurso dAS QUINTAS: O largo do Palácio Nacional de Sintra é o local de saída para este percurso. Seguimos na direção do Posto de Turismo, passando a Torre do Relógio e a Igreja de São Martinho. Tomando a estrada à esquerda, continuamos até ao Largo Dr.Carlos França. Seguindo em frente, passamos a Fonte dos Pisões e a Cascata com o mesmo nome, até chegarmos à imponente Quinta da Regaleira. Do largo em frente à Quinta do Relógio, seguimos pela Rua Trindade Coelho, que nos conduz a algumas das mais belas Quintas de Sintra como a Quinta do Castanheiro. No final, deparamos com a Quinta dos Alfinetes, assinalando o percurso de ida e de regresso. Voltando à esquerda encontramos mais abaixo a Quinta da Cabeça e o início da calçada por onde vamos descer. Depois da Quinta da Ponte Redonda, ponto mais longo do percurso, iniciamos o regresso até à Vila, que depois de percorrer um pouco de asfalto, passar a curva e contracurva, entramos num trilho conhecido como Mata do Carago devido à sua vegetação espontânea. Novamente na Quinta da Cabeça, subimos até à Quinta dos Alfinetes, para tomar a direção do Caminho dos Castanhais, onde encontramos a Quinta com o mesmo nome, seguindo-se a Quinta dos Mouros. Na Rua Fresca, subindo ao fundo as Escadinhas da Pendôa, seguimos pela rua com o mesmo nome até ao ponto de partida, o Largo do Palácio Nacional. caracteristicas: Extensão: 4,3 km; Duração média do percurso: Duas horas; Local de saída/chegada: Largo do Palácio da Vila; Pontos de passagem: Torre do Relógio, Igreja de São Martinho, Quinta da Regaleira, Quinta do Relógio, Quinta do Castanheiro, Quinta dos Alfinetes, Quinta de D. Amélia, Quinta dos Castanhais; Dificuldade: Baixa, desnível pouco acentuado. Mais Informações: CM Sintra OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 83 Descobrir Foto: Caminhos da Natureza Atividades Outdoor em Sintra Escalada e rappel em sintra A ação desenrola-se no famoso Penedo da Amizade, por baixo do Castelo dos Mouros. Por trilhos sinuosos alcançamos a base deste fabuloso penedo, que nos oferece vistas únicas dos exóticos palácios de Sintra e de toda a linha costeira para Norte. Aqui, encontramos uma variedade de vias de Rappel e Escalada que garantem diversão e desafio para todos, independentemente do seu grau de destreza ou experiência. Foto: Equinócio Dependendo das condições climatéricas e do estado da rocha a atividade poderá ser realizada noutro local de escalada na Serra de Sintra. 84 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR Ficha Técnica Dificuldade: Baixa - Iniciação (Rappel e Escalada) Duração (Tempo de atividade): 3H00 - Rappel e Escalada Idade aconselhada: Apartir dos 8 anos Tipo de Percurso: Circular Mais Informações: Equinócio Descobrir Sintra GPS PAPER Traga a sua família e /ou amigos até ao Largo da Feira de São Pedro em Sintra, para, a partir daí, ser guiado por um GPS Outdoor que vos levará a descobrir Sintra por outros caminhos. Chegue até à porta do Castelo dos Mouros sem esforços e aí o Alcaide Mouro entregar-lhe-á a chave para uma conquista serena (ou será que isto já aconteceu antes?) deste pedaço de Património da Humanidade que é Sintra. Siga o seu ”guia”, se ele o levar aos travesseiros de Sintra, delicie-se com essa maravilha e regresse ao Espaço Muitaventura por um trilho romântico e cheio de atividades, segredos e desafios. Foto: Equinócio Foto: Muitaventura Ficha Técnica Dificuldade: Baixa - Média Duração: Cerca de 5h Tipo de Percurso: Circular Mais Informações: Muitaventura AZÓIA, A OESTE DE SINTRA Desta vez o Parque Natural Sintra Cascais mostra-nos o seu lado Oeste, virado ao mar, mais selvagem. Vamos calcorrear os seus trilhos e de repente… a terra acaba! Surge o mar imenso, azul, intenso. Quem esconde mais mistérios, a Serra de Sintra ou o Oceano Atlântico? Quem chama com mais intensidade por nós, a serra ou o mar? Ficha Técnica Dificuldade: Baixa - Média Duração: Cerca de 5h Km: 12,5 Km Mais Informações: Geosphera Foto: Geosphera Vamos passar por algumas construções encarrapitadas em pontos altos e encontrar verdadeiras vistas oceânicas de deslumbrar qualquer um. Tudo isto, se a Serra o permitir. OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 85 Descobrir Atividades Outdoor em Sintra Saímos da Malveira em direção ao mar, passamos pelas Almoinhas Velhas e seguimos rumo em direção a Biscaia, daqui observamos a nossa majestosa costa e o vasto oceano, é imponente e grandiosa esta vista. Percorremos trilhos de pescadores ao longo das arribas em direção a praia do Abano com a praia do Guincho e o Cabo Raso sempre na linha do horizonte. Vamos poder observar o voo de inúmeras espécies que aqui habitam, recordar um respirar profundo e libertador, e sentir a liberdade que é podermos escolher estar ali naquele momento único. Ficha Técnica Dificuldade: Baixa Duração : Meio Dia Tipo de Percurso: Circular Mais Informações: Caminhos da Natureza Foto: Caminhos da Natureza Foto: Caminhos da Natureza Caminhada na serra de sintra - arribas rota dos antepassados - tour em buggy Foto: Guincho Adventours O desafio é conhecer um pouco da história dos concelhos de Sintra e Cascais, através do contacto com dois ancestrais monumentos: As Ruínas Romanas (Casais Velhos) e o Convento dos Capuchos, seguindo uma viagem por caminhos históricos e luxuriantes, em estreito contacto com a Natureza, num perímetro classificado pela Unesco como Património Mundial. 86 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR Ficha Técnica Dificuldade: Baixa - Iniciação Duração : Meio dia Tipo de Percurso: Circular Mais Informações: Guincho Adventours Descobrir Sintra Alojamento Sintra Boutique Hotel Um destino por si próprio com cativantes vistas sobre a cidade velha e o Parque Natural de Sintra, o design moderno e estilo contemporâneo português encontram a sua ambiente natural no coração de Sintra. O Sintra Boutique Hotel dispõe de 18 espaçosos quartos, todos os quais gozam de vistas desinibidas sobre o pitoresco centro da cidade e Parque Natural de Sintra. O seu icónico restaurante é conhecido pela sua cozinha portuguesa contemporânea baseada em produtos locais e o seu jardim bar interior fazem a escolha perfeita para relaxar confortavelmente. Central no rico património cultural, histórico e natural de Sintra, o Sintra Boutique Hotel serve como porta para as experiências enriquecedoras de Sintra e Portugal como visitas a palácios e museus, caminhadas na natureza e divertimento sem fim nas praias oceânicas. Faça do Sintra Boutique Hotel a sua base na descoberta da natureza e património de Sintra, seguindo os percursos de aventura recomendados que o levarão aos locais que estão fora do mapa turístico, que lhe mostraram uma Sintra desconhecida. O Serviço de Concierge estará ao dispor na organização de tours TT, circuitos de trecking, montanhismo e de ciclismo. O Sintra Boutique Hotel dispõe também de cestos de pic-nic para que possa passar um confortável dia fora em família, num dos idílicos espaços verdes do Parque Natural de sintra. Sintra Boutique Hotel Rua Visconde de Monserrate, nº 48 2710-591 Sintra - Portugal Tel: + 351 219244177 Web: Sintraboutiquehotel.com Email: Reservations@sintraboutiquehotel. com GPS : Lat: 38.796327 ; Long : -9.389572 OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 87 Descobrir Projeto Projeto Rumo a Santiago 2012 88 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR Descobrir Rumo a Santiago 2012 Quando, em 2010, o primeiro Caminho de Santiago foi percorrido, com a travessia do Caminho Central Português, ficou lançada a ideia para o que se viria a tornar em 2011 o projeto Rumo a Santiago. É então que, com a travessia em bicicleta dos 800 quilómetros do Caminho Francês desde Saint Jean Pied de Port até Santiago de Compostela, que nasce este projeto. O propósito principal do projeto assenta na divulgação dos Caminhos de Santiago e na disponibilização de conteúdos e ferramentas para a organização de travessias dos Caminhos em todas as vertentes (a pé, a cavalo ou em bicicleta), com especial ênfase na vertente de ciclismo, em www.rumoasantiago.com. Os Caminhos de Santiago são rotas milenares de peregrinação a Santiago de Compostela, onde estão sepultados os restos mortais do apóstolo que deu o nome à cidade. Embora existam imensas vias por toda a Europa, é na Península Ibérica, em particular em Espanha, que a rede de caminhos apresenta uma imensidão de diferentes alternativas. O projeto Rumo a Santiago não estaria completo sem a sua faceta solidária. Uma vez que os Caminhos de Santiago por si só já assumem um carácter de bons valores, a união desse facto a causas solidárias pareceu-nos natural. Por isso, em 2011 o projeto Rumo a Santiago incluiu uma OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 89 Descobrir modesta campanha de divulgação da Associação Acreditar no âmbito das suas atividades. O projeto teve uma nova edição em 2012, com a organização da travessia em bicicleta de um outro Caminho de Santiago (a Via de la Plata), numa viagem de 1000 quilómetros entre Sevilha e Santiago de Compostela. Com a ambição de ajudar a Associação Acreditar de uma forma mais substancial do que em 2011, foi também criada uma campanha de sensibilização e de angariação de verbas para esta Associação. Esta campanha é designada por “Rumo a Santiago 2012 Mil quilómetros para Acreditar”, cujo objetivo é doar 1000 euros à Associação Acreditar e esteve em vigor até ao passado dia 5 de setembro em www.rumoasantiago.com/apoiar. A travessia em bicicleta da Via de la Plata foi realizada entre os dias 27 de julho e 10 de agosto de 2012, num grupo de duas pessoas: Norberto Henriques, docente de Engenharia Informática no Instituto Politécnico de Leiria e investigador na área de Sistemas de Transportes Inteligentes/mobilidade urbana, e Jorge Frazão, militar de profissão, integrado numa equipa de engenharia. A viagem foi distribuída por um total de 15 etapas, que nos permitiram usufruir de tudo o que o Caminho tem para oferecer e documentar (na medida do possível) os locais por onde passámos com fotografia e vídeo sem que as jornadas diárias a pedalar se alongassem demasiado. etapas 1ª Etapa: Sevilha – Almaden de la Plata – 69,45 km 2ª Etapa: Almaden de la Plata – Zafra – 79,38 km 3ª Etapa: Zafra – Merida – 63,43 km 4ª Etapa: Merida – Casar de Caceres – 84,94 km 5ª Etapa: Casar de Caceres – Galisteo – 61,31 km 6ª Etapa: Galisteo – La Calzada de Bejar – 72,46 km 7ª Etapa: La Calzada de Bejar – Salamanca – 72,29 km 8ª Etapa: Salamanca – Zamora – 66,66 km 9ª Etapa: Zamora – Santa Croya de Tera – 87,87 km 10ª Etapa:Santa Croya de Tera –Puebla de Sanabria– 71,14 km 11ª Etapa: Puebla de Sanabria – La Gudina – 55,36 km 12ª Etapa: La Gudina – Vilar de Barrio – 54,06 km 13ª Etapa: Vilar de Barrio – Cea – 58,47 km 14ª Etapa: Cea – Silleda – 46,97 km 15ª Etapa: Silleda – Santiago de Compostela – 44,31 km 90 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR O alojamento no final de cada etapa foi garantido pela rede de albergues de peregrinos distribuídos ao longo do Caminho. Embora não tenham grandes luxos, são alojamentos perfeitamente aceitáveis para este tipo de travessia e asseguram um local com condições para tomar um bom banho e descansar convenientemente durante a noite. A travessia decorreu sem percalços mecânicos ou físicos. Para isso contribuíram vários dos apoios logísticos com que contámos, desde o treino acompanhado, a suplementação nutricional ou o comportamento e irrepreensíveis das bicicletas que nos foram disponibilizadas. Houve, contudo, algumas dificuldades a ultrapassar. Na fase inicial da viagem houve a necessidade de lidar com o imenso calor das regiões da Andaluzia e Extremadura. As primeiras etapas corresponderam a um consumo diário de cerca de 6 litros de água por cada elemento e obrigavam a uma paragem de 3 horas no período de maior exposição solar. Para além disso, as regiões do interior oeste de Espanha têm um relevo considerável, o que se traduziu em algum esforço na progressão no terreno. A transitabilidade de alguns dos troços do caminho foi também um obstáculo. A abundância de rocha irregular e alguns trilhos profundamente marcados pelas águas de Inverno impossibilitam a utilização da bicicleta, o que nos tornou caminhantes em algumas ocasiões. A viagem em si foi, como se esperava, uma experiência única. Cada caminho tem características próprias e a Via de la Plata, pela Via Sanabresa (que, em Granja de Moreruela, se apresenta como alternativa à via que une a Via de la Plata ao Caminho Francês em Astorga), é um misto de paisagens que variam desde o austero até ao verdejante e frondoso. Há alguns pormenores interessantes que ficaram na memória. A Via de la Plata atravessa imensas povoações rurais, algumas com muito poucos habitantes, onde todas as pessoas se conhecem e onde recebem de forma muito amável quem visita as povoações. O simples facto de se sentarem nas suas cadeiras à porta de casa, ao longo da rua em conversa com os vizinhos do lado e da frente é um cenário tão diferente do que se vê no dia-a-dia, que enriquece em muito a experiência da viagem. A calorosa receção que os hospitaleiros do albergue municipal de Zamora nos fizeram tocou-nos bastante. Nunca iremos esquecer o gesto amável que a Yolanda e o David tiveram para connosco (e para todos os outros peregrinos Um último pormenor que gostaríamos de referir é o facto de algumas das pessoas que conhecemos no Caminho e com quem conversámos sobre o projeto terem feito questão de contribuir para o mesmo. No total tivemos 3 contribuições de pessoas que eram perfeitos desconhecidos para nós, o que não deixa de ser curioso tendo em conta a dificuldade para recolher apoios que temos registado junto de pessoas que até nos são próximas. A viagem de 2012 já terminou, mas o projeto continua. Para além da campanha de solidariedade para a Associação Acreditar, estamos já a pensar na próxima travessia de um outro Caminho de Santiago. Como temos vindo a elevar a fasquia da dificuldade a cada ano que passa, o Caminho do Norte (que percorre toda a costa norte de Espanha partindo de Irun) é um sério candidato para a edição de 2013. Até lá, Bom Caminho! ø Norberto Henriques OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 91 Descobrir Rumo a Santiago 2012 que iam entretanto chegando), com as doces palavras de incentivo, com o chá gelado e bem açucarado para recuperar do esforço, com as pipocas salgadas para recuperar alguns dos sais perdidos, com o farto pequeno-almoço que nos esperava pela manhã, ainda de madrugada… tudo isto a troco de nada! Descobrir Livro Aventura de comboio pela europa Munique, Hauptbahnof, 19 de novembro, 08h45... Adoro estações de comboio e... quanto maiores forem, melhor. A azáfama que reina nestes locais estimula-me todos os sentidos: desde a visão de centenas, milhares de passageiros de todas as nacionalidades, raças e estratos sociais, que se atropelam de um lado para o outro, do executivo de móvel colado à orelha que corre para o próximo ICE para Frankfurt, passando pelo emigrante asiático que transporta a «casa» às costas e tenta decifrar de que linha parte o seu comboio, até ao grupo de mochileiros fora de época que aguarda, sentado sobre as mochilas, pelo próximo expresso para Praga. Os carrinhos de bagagem que apitam para pedir passagem entre a multidão... os sons dos altifalantes anunciando as próximas partidas e chegadas, bem como os atrasos, que se misturam com a cacofonia de vozes, apitos de locomotivas e as «camas musicais» que tentam ainda dar mais uma pitada de confusão a toda esta atmosfera... Os cheiros de comida, café fresco, choco92 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR onde ele afirmava que há uma diferença entre ser um viajante ou ser um turista, recorrendo a uma metáfora em que comparava o turismo com fast-food. Viajante é aquele que parte para outro local e explora ao máximo a sua viagem, observando, sentindo, saboreando e aprendendo tudo aquilo que o outro local pode oferecer, regressando ao país de origem mais realizado por ter vivido uma experiência única que, certamente, o irá marcar para toda a vida. Quanto ao turista, é largado no aeroporto, transportado até ao hotel, muitas vezes igual a tantos outros noutros países, come onde os guias turísticos dizem para comer, vai aos sítios de que sempre ouviu falar e, mesmo assim, observa-os mais através da objetiva da sua máquina do que a olho nu, passa mais tempo a olhar para o mapa do que para os locais em redor e 1 ou 2 semanas depois (quando não apenas 3 ou 4 dias...) volta a casa com pouco mais do que fotografias e souvenirs para os amigos... e no ano seguinte faz o mesmo. Eu «percebi» esta metáfora naquele momento, Viajar… pois sempre me achei especial e diferente. ViaNos nossos dias, viajar tornou-se num verdadei- java de uma forma mais livre, mais aventureira, ro luxo. Não utilizo este termo pelo fator finan- e preocupava-me, de facto, em conhecer ao máceiro, pois tenho a certeza de que muitos dirão: ximo as cidades por onde passava, misturando«Bom, pode ser caro, mas eu ainda tenho meios -me com os habitantes locais, indo aos mesmos para viajar quando quero!» Claro que sim! Mes- sítios onde eles iam, descobrindo os restauranmo em época de crise, ainda há quem tenha di- tes onde comiam, os clubes onde se divertiam, nheiro para viajar para onde quer e como quer... os hábitos das suas famílias... mas ainda assim Agora, quando quer ou quanto quer, pode? Con- faltava algo. Havia um pouco a sensação – perfusos? Perguntem-se antes: «Posso realmente doem-me a expressão, mas creio que é a mais viajar?» O melhor será mesmo perguntarem-se: apropriada – de um «one night stand» fantástico, «O que é viajar?» Não vou começar aqui um de- mas que por força das circunstâncias não povaneio pseudocientífico ou existencialista. Pode- dia progredir para algo mais realizável. A sério! -se viajar de muitas formas que não necessitem Quando começava a sentir de facto o local, chepropriamente do ato de nos deslocarmos a outra gava a hora de partir e regressar à minha vida parte. No filme Smoke, de Wayne Wang, normal sem desfrutar do êxtase que busa personagem Augie diz a certa altucava. ra que nunca precisou de sair de “Quando coBrooklyn para conhecer o MunSó quando tive a coragem de armeçava a sentir do, pois todo o mundo passou riscar a fundo e mudar-me para pela porta da sua tabacaria. a República Checa, um país de facto o local, cheDe facto, eu próprio já «viajei» praticamente alienígena para gava a hora de partir até à Colômbia ao ler Garcia mim – apesar das muitas see regressar à minha Marquez, «atravessei» o Mali melhanças culturais e quoticom os sons de Salif Keita e dianas, as diferenças chegam a vida normal sem desdescobri a antiga Jugoslávia a ser de facto alucinantes – é que frutar do êxtase ver filmes de Kustorika... Viajar percebi o que era viajar. Não me que buscava.” pode ser, de facto, um termo muilimitei a passar um tempo neste to vasto. país, mas assentei bases: primeiro, Basta de devaneios. Falemos do termo numa pacata aldeia histórica no Sul da viajar para o ato de descobrirmos outros síMorávia; depois, na lindíssima cidade univertios, outras culturas, outros povos... É disso que sitária de Olomouc; e, atualmente, em Ostrava, querem saber. Certa vez vi um documentário antigo coração mineiro/industrial do país, que sobre o escritor norte-americano Paul Bowles, hoje se reinventa como um ativo e excitante OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 93 Descobrir Livro Aventura late quente, perfumes para todos os gostos e... o odor inconfundível de quem passou mais uma noite em trânsito (como é provavelmente o meu caso). A tudo isto há que acrescentar a imaginação: «Para onde vão todas estas almas? Quantos quilómetros? Quantas horas? Quantas viagens? Quantas histórias?» Para mim, não existe local mais fascinante. Por mais que uma cidade me deslumbre, é sempre a estação central o local que mais me marca numa visita. Talvez por ser aquele que me recebe e o que se despede de mim; talvez pela atmosfera... Não sei, sinceramente. Podem dizer-me que é possível vivermos a mesma experiência num aeroporto ou numa estação rodoviária internacional; porém, o primeiro é demasiado organizado para ser comparado e as pessoas são conduzidas tipo manada no seu interior; no segundo caso, os autocarros não transportam tantas pessoas e são muito mais simples… Esta experiência etnográfica é, sem dúvida, uma das principais razões porque prefiro viajar de comboio em vez de recorrer a outros géneros de transporte… Descobrir polo cultural desta jovem república que ainda mal celebrou década e meia de existência. Ficar com os locais não foi suficiente... tornei-me parte das suas famílias. Não me contentei em comer bramboráks, mas aprendi a cozinhá-las. A slivovice que saboreei foi aquela para a qual ajudei a apanhar as ameixas. Não observei apenas os hábitos locais, mas tornei-os nos meus próprios e insisti sempre em aprender o complexo idioma checo. Só não troquei o futebol pelo hóquei, embora vibre intensamente com os jogos da seleção nacional checa a que assisto, sempre na pivnice (taberna checa) ali da esquina, bebendo a minha «pivčo» (algo como a nossa «bejeca»). A minha imersão neste país foi tal, que deixei de ver-me como um viajante. Passei a reconhecer-me como alguém que de facto já não vê esta república somente como um local de passagem, mas como uma segunda casa. Percebem? Desta vez foi mais do que um «one night stand»... É uma verdadeira história de amor! Fora de gozos, posso dizer que finalmente viajei e que aquilo que Bowles disse no documentário faz, hoje, para mim todo o sentido. Mesmo assim, acho que esta não foi ainda a viagem da minha vida. Há muitos sítios onde quero repetir esta experiência. Porém, ainda agora cheguei à casa dos 30, por isso, espero ter tempo e saúde para tal... Tudo isto para dizer que, para viajar, não é preciso dinheiro; ou, melhor, que o fator financeiro pesa, é um facto, mas não é o mais importante... O tempo, a dedicação e uma mente aberta são os fatores realmente essenciais para que se viaje. Sem eles, por mais dinheiro que se tenha, não se consegue mais do que simplesmente fazer tu94 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR rismo. Este livro não é para vos ensinar a viajar. Aliás, acho que é algo que não se ensina. É algo que devemos encontrar dentro de nós e são de facto experiências tão pessoais que não há livro algum que nos possa ensinar. Quando muito, podemos partilhar essas experiências. Claro que tenho momentos fantásticos para recordar, os quais, certamente, adorariam que partilhasse convosco... mas já há demasiada gente que o faz neste país e, provavelmente, melhor do que eu. Por isso, prefiro limitar-me a dar algumas dicas que vos podem ajudar nos vossos próximos devaneios turísticos, que certamente serão um bom tubo de ensaio para as vossas viagens. Depois, quem sabe, talvez um dia também sejam vocês a escrever sobre elas ou, se calhar... até a dar mais dicas. Neste guia, escrevo sobre explorar a Europa de comboio. Não é a primeira vez que o faço. No meu primeiro livro, O Guia do Mochileiro – Em Viagem com InterRail e Eurail, não só explorei este género de viagem por ser aquele no qual tinha – e ainda tenho – mais experiência, mas também por não existir qualquer publicação especializada. O resultado foi mais do que positivo: não só o livro esgotou como ainda atraiu bastante a atenção dos media, o que demonstrou que havia de facto interesse por guias que ajudassem a viajar de comboio pela Europa. No entanto, houve algo de que já me tinha dado conta e que este primeiro guia acabou por reforçar: há um enorme preconceito de que viajar pela Europa de comboio é uma coisa para estudantes, algo para os mochileiros, visto pelos mais velhos como uma forma de viajar para a qual já não têm idade ou pelos mais seletos Descobrir Livro Aventura como «viagens de segunda categoria». Tentei desmistificar esta ideia, mas admito que a escolha do título, que tendia a rotular esta forma de viajar, não ajudou. No entanto, a realidade é absolutamente outra: desde 1998 que o limite de idades foi abolido, permitindo que viajantes de todas as faixas etárias possam viajar com o InterRail; até foi criado um bilhete para menores de 12 anos, de modo a incentivar as famílias a considerarem esta opção. Em abril de 2007 foi criado o passe de 1.ª classe, que acaba por ir ao encontro dos viajantes mais requintados. Foi então que decidi não só atualizar o guia, visto terem ocorrido mudanças drásticas na estrutura do passe InterRail, mas também dirigi-lo a todos os viajantes, desde os jovens e mochileiros, que já havia abrangido no primeiro, aos mais maduros, seletos, famílias e até mesmo executivos. Basicamente, pretendo explicar o que é realmente o InterRail, como se utiliza, como aproveitar ao máximo as vantagens destes passes, que não se confinam apenas às viagens de comboio, mas também oferecem descontos não só noutros meios de transporte complementares, mas igualmente em locais de estada, restaurantes, museus e monumentos, e procuro dar ainda uma noção de como funciona o sistema ferroviário nos 30 países que estão envolvidos nas redes, com conselhos e dicas que certamente vos ajudarão. É claro que também faço uma introdução de cada país, dos melhores sítios a visitar, da cultura, do povo e da gastronomia, com os conselhos úteis referentes a formalidades a ter em conta, noções das infra-estruturas hoteleiras, serviços úteis ao viajante, comunicações, saúde e segurança e, ainda, indicações para viajantes com necessidades específicas. Só excluí as dez melhores cidades que incluí no primeiro. Fiz esta opção, pois, ao escolher apenas dez locais, estaria a excluir tantas outras pérolas do Velho Continente... Depois, há dezenas de guias que certamente vos ajudarão melhor e nos postos de turismo locais acabam por aceder a informação mais precisa e atualizada, sem custos adicionais. PORQUÊ A EUROPA? Não é por acaso que a Europa é alcunhada de Velho Continente. Se virmos bem, sendo o mais pequeno continente do Planeta (a Oceânia – ou, se quiserem, a Austrália – não se pode comparar com os restantes), nele encontra-se quase meia centena de países oficiais, não esquecendo que dentro de muitos deles coexistem ainda outras nações, umas mais autónomas do que outras, OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 95 Descobrir mas todas elas com as suas próprias cultura, história, tradição e forma de vida. Isto reflete-se não só nas suas gentes, mas também marca a fisionomia do território. gozar da paisagem ao longo do percurso. Talvez por este motivo, aconselho a quem tem a possibilidade de adquirir um bilhete de avião para um destino mais central, que o faça, pois ganha 2 dias de viagem, os quais pode, definitivamenPORQUÊ O COMBOIO? te, aproveitar para passar mais tempo noutros Respondo a esta questão apontando apenas a lugares. Ainda assim, perder estes 2 dias em única desvantagem ao decidir explorar o Velho trânsito num comboio noturno não é propriaContinente sobre carris – tempo. De facto, estar- mente um desperdício de tempo, se soubermos mos na ponta da Europa, partilhando fronteiras aproveitar outras vantagens. Viajar no Sudapenas com a Espanha, que é um dos maiores -Express até Hendaia, por exemplo, é uma exterritórios deste continente, não é o mais van- periência absolutamente gratificante. Há quem tajoso. Logo, é perfeitamente normal que exis- pense que nele só viajam os emigrantes com a tam apenas virtualmente duas ligações inter- sua valise de carton, mas não é bem assim. Esnacionais a partir do nosso país, pois a terceira, tão lá muitos, sim, mas também encontramos entre Porto e Vigo, pode ser de facto útil para viajantes oriundos de todo o Mundo, de todas as quem quiser explorar o país vizinho, mas, para idades e de todos os extratos sociais. Nesta «torquem quer descobrir os restantes membros da re de Babel» sobre carris, partilhei couchettes rede, de pouco serve. Resumindo e concluindo, com: coreanos que descobriam a Europa com o queiramos ou não, os viajantes que pretendam Eurail; romenos que regressavam a casa, depois viajar pela Europa com um passe ferrode trabalharem na construção civil em viário, tendo como ponto de partida Lisboa; italianos de mochila às coso nosso país, estão condenados a tas que queriam saber onde ouvir “Estão lá gastar 2 dias de viagem só para o melhor fado; um casal de reformuitos, sim, mas sair e regressar à nossa penínmados americano que escolheu também encontrasula! a nossa capital como ponto de Ainda por cima, estas duas partida para a sua viagem no mos viajantes oriunligações, são comboios noturVelho Continente... dos de todo o Mundo, nos, nos quais não podemos Ao chegarmos ao Centro da de todas as idades e de todos os extratos sociais.” 96 Setembro_Outubro 2011 OUTDOOR Por exemplo, voar de Paris para Amesterdão dura apenas 40 minutos. No entanto, convém fazer o check-in pelo menos uma hora antes e há que ter em conta que o aeroporto não está no centro da cidade. Depois há que esperar pela bagagem e apanhar um comboio até Amesterdão pois, mais uma vez, o aeroporto está fora da cidade. Feitas as contas, chegar do centro da capital francesa ao da congénere holandesa pode ser uma odisseia que nos consome 4 ou 5 horas. Se optarmos pelo comboio, basta-nos ir até a Gare du Nord, em pleno coração parisiense, sentarmo-nos confortavelmente no nosso lugar e 4 horas depois saímos na Amsterdam Centraal que, como o próprio nome indica, está no centro da capital holandesa. Isto tudo sem check-ins, esperas por bagagens (e menos probabilidades de estas desaparecerem), espaços confinados, equilibrismo na fila para a casa de banho, trocas e baldrocas de transportes, etc. Se a tudo isto adicionarmos o conforto de podermos, pura e simplesmente, levantar-nos do nosso lugar e espairecer ao longo da composição, ir até ao vagão-restaurante e tomar uma bebida enquanto desfrutamos da paisagem, poder ir até à casa de banho da carruagem seguinte quando a nossa está ocupada, temos outra vantagem. Depois, há a paisagem. Ao percorrermos as distâncias entre os locais que pretendemos visitar, desfrutamos da Natureza, do campo, das aldeias, das cidades, dos castelos, dos lagos e das montanhas que desfilam perante os nossos olhos e acabam por substituir livros, filmes ou portátil como forma de passar o tempo e, definitivamente, enriquecemos a nossa viagem. Quanto a segurança, há menos probabilidades de um comboio descarrilar do que um avião cair e as possibilidades de sobrevivência são mais do que claras. Aqui, nem o carro nem a camioneta podem gerar discussão. Não esquecer, também, a mobilidade. Talvez o automóvel possa oferecer alguma concorrência, mas viajar de carro tem muitas desvantagens. Nem sempre é fácil entender o trânsito local, muitos países têm formalidades a ter em conta, se quisermos evitar confusões, e encontrar estacionamento pode ser complicado, senão mesmo virtualmente impossível em algumas cidades. As horas de ponta existem em qualquer lado e os veículos com matrícula estrangeira são um alvo preferencial dos criminosos (e por vezes de polícias menos escrupulosos). Ao viajarmos com um passe ferroviário internacional, podemos saltar de composição em composição muito facilmente, sem grandes preocupações adicionais, para além de estarmos no comboio certo, se precisamos ou não de reserva ou se o passe é válido ou não. Porém, para isto, basta perder uns minutos a averiguar antes de embarcar e estes problemas deixam pura e simplesmente de existir. Por último, o meio ambiente. Embora ainda circulem locomotivas a diesel, grande parte das linhas ferroviárias europeias estão devidamente eletrificadas, tornando o comboio num dos meios de transporte menos poluentes. Ao fim e ao cabo, “De Comboio Pela Europa” é mais um guia de viagens, mas escrito de uma forma muito pessoal por alguém que correu meia Europa sobre carris na última década e meia... não sei se isto me torna num especialista na matéria, mas acredito que posso ajudar bastante quem queira viver experiências semelhantes às que eu vivi. “De Comboio Pela Europa” é mais um guia de viagens, mas escrito de uma forma muito pessoal por alguém que correu meia Europa sobre carris na última década e meia... não sei se isto me torna num especialista na matéria, mas acredito que posso ajudar bastante quem queira viver experiências semelhantes às que eu vivi. Boas viagens! ø António Pedro Nobre OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 97 Descobrir Livro Aventura Europa, estes contrastes humanos atingem proporções inacreditáveis. Aqui, o fator tempo já não pesa tanto, pois as distâncias são menores e o comboio acaba por ser quase sempre a melhor opção. Mesmo quando voar é mais rápido, nem sempre ganhamos tempo. Descobrir Ironmena rescaldo E navegação para outros atletas que o façam! Em circunstâncias normais poderia ser penalizada, mas o tempo que perdi nesta situação (cerca de 25min.) acabou por funcionar como tal, e tentei recuperar a calma e o discernimento, bem como o tempo e os quilómetros perdidos. O percurso era um clássico de montanha, que só teria a ganhar com a presença anunciada, e à última da hora cancelada, de Lance Armstrong. Os Alpes não são os mesmos sem essa figura incontornável do ciclismo e triatlo mundiais. Tanto eram subidas intermináveis, como descidas de cortar a respiração, tal como as paisagens, se bem que o esforço e concentração impediam, em certa medida, que se apreciasse devidamente tal cenário. Qualquer distração podia ter um preço demasiado elevado! Passo por um atleta SEM UMA PERNA E SEM UM CRENQUE na bicicleta, e lanço-lhe um incentivo. É nestes momentos que me sinto uma felizarda por ter todos os membros e condições físicas que me impelem para os usar. Ao mesmo tempo, sinto enorme admiração por aquele e muitos outros atletas que tentam superar-se todos os dias, com ou sem limitações físicas. É aqui que penso também nos dadores de sangue e naqueles que dele precisam para so“Passo por um breviver. Vale a pena pensaratleta SEM UMA mos nisso… PERNA E SEM UM ram cerca das CRENQUE na bicicle06h30 de 24 Junho ta, e lanço-lhe um 2012 quando uma incentivo. ” massa humana, de toucas azul e rosa, se atirou às calmas e tépidas águas da Praia do Centenaire em Nice. Por entre cotovelos, braços e pernas, é difícil arranjar lugar para nadar… Mas decorrida 1h29 para os 3.800mts de natação, estou a sair da água e a recolher o saco azul da “BIKE” marcado com o meu nº de dorsal. Equipo-me para o segmento de 180kms de ciclismo em montanha e sigo para o lugar de “estacionamento” da minha Specialized Tarmac, quase no fim do Parque de Transição (PT) e muito perto da saída para o segmento. Começo então a engrenar mudanças enquanto ainda é plano, dando-me então conta de um problema: tinha o guiador um pouco desalinhado com a roda, o que se agravou nos quilómetros seguintes. De tal forma que tive de parar e arranjar uma ferramenta para poder prosseguir em segurança. Tal foi uma consequência do transporte da bicicleta num porta-bagagens, pelo que serve de lição para futuras ocasiões e um aviso à 98 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR Filomena Gomes www.ironmenanice.blogspot.pt Facebook WE ARE IRONMEN, mais pelo tempo dispendido em treinos durante meses, e sacrifício inerente, do que pelo tempo de prova propriamente dito. WE ARE IRONMEN, pela coragem de escolher desafios cada vez mais difíceis, e não pela habilidade que possamos ter. Sinto-me recompensada por ter escolhido participar em prol de uma campanha de divulgação da Dádiva de Sangue. Mas todos nós podemos ser IRONMEN, se tivermos a abnegação de DAR SANGUE, e assim APOIAR A VIDA! AJUDAR é a grande prova das nossas vidas! Agradeço a todos os meus apoiantes: MOVEFREE; COFIDES Competição; Portal Aventuras; Revista Outdoor, e dedico a prova a todos os Dadores de Sangue, pelo ato altruísta que regularmente praticam. Bem hajam! OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 99 Descobrir Ironmena Após 07h04, entro no PT, estaciono a Tarmac, meto no bolso várias pastilhas de dextrose que me sobraram e apanho o saco vermelho da “RUN”, pronta para a maratona, com muito público a encher toda a Promenade des Anglais. Fui parando em quase todos os abastecimentos (que até tinham chuveiros para refrescar), bebendo água e ingerindo gel a cada volta completa, além de ir chupando lentamente pastilhas de dextrose. A cada volta de cerca de 10kms ganhamos um elástico de cor diferente para marcar o nº de voltas efetuadas. Até que cheguei à última volta, acompanhada de outro atleta português. Com 4h18 de corrida, apanho a Bandeira Nacional que me é passada e entramos juntos no funil de meta, de bandeira esticada e orgulhosamente empunhada. Ouvimos então as palavras mais desejadas: “YOU’RE AN IRONMAN”! ø Kids quintas pedagógicas Reunimos neste espaço algumas sugestões de quintas pedagógicas! Vai ser um dia inesquecível! QUINTA PEDAGÓGICA ARMANDO VILLAR Muito perto da confusão da cidade, apenas a um minuto da A5 e a três minutos de Cascais, pode encontrar o espaço ideal para passear em família. Esta Quinta Pedagógica foi concebida a pensar nas crianças, e tem a missão de promover ações de educação ambiental e científica complementares aos programas escolares, integrando, para além da componente pedagógica, as componentes lúdico-recreativas e de desenvolvimento pessoal. Durante a visita pode conhecer os amistosos habitantes deste espaço: galinhas Pretas Lusitânicas e Pedrês, patos, perus, gansos, coelhos, o famoso Elétrico, um burro de Miranda, as ovelhas Merino Preto, as cabras e os porcos pretos alentejanos, todos tratados com muito carinho e respeito. A horta com os legumes da época é tratada sem recurso a quaisquer produtos químicos. No forno de lenha artesanal é cozido um delicioso pão que antes foi amassado pelas crianças. Os engenhos tradicionais de água, a Picota, a Nora e o Moínho de Vento Americano ainda fazem parte deste espaço, sendo a sua demonstração um dos pontos altos das visitas. Na Quinta Pedagógica Armando Villar, para além de visitas de estudo realizam-se visitas e workshops para famílias, e ainda programas de férias para os mais novos! A partir do corrente mês de setembro serão dinamizadas aulas de Yoga aos sábados de manhã e atividades extracurriculares de artes plásticas para crianças dos 7 aos 11 anos. Para mais informações contacte: Tlm.: 932 500 600 E-mail: [email protected] Site: www.quintadovillar.com 100 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR O Parque Biológico da Serra da Lousã é visita obrigatória para quem quer conhecer a vida selvagem de Portugal. Visa associar a biofilia e a paixão pela natureza com a inclusão de pessoas com deficiência ou doença mental grave, exemplo único no mundo. O Parque integra a Quinta Pedagógica com raças autóctones da agro pastorícia tradicional, Centro Hípico, pioneiro na equitação adaptada e hipoterapia (1ª representação Paralímpica portuguesa em Atenas), mostra de Animais Selvagens, Labirinto de Árvores de Fruto (único no mundo), Ecomuseu Vivo de Artes e Ofícios Tradicionais e Tanoaria (onde os artesãos são pessoas com necessidades especiais), Loja de Artesanato e Restaurante Museu da Chanfana. Promove atividades como alimentação animal, equitação, tiro ao arco, festas de aniversário, visitas guiadas, programas de férias, passeios de charrete… O Parque recebeu o Prémio Damião de Góis 2012 atribuído pela Embaixada do Reino dos Países Baixos. Contatos: Parque Biológico da Serra da Lousã Quinta da Paiva, 3220-154 Miranda do Corvo Tel: 239 538 444/5 Tlm: 915 361 527 E-mail: [email protected] Site: www.parquebiologicoserradalousa.com Kids Quintas Pedagógicas parque biológico da serra da lousã Kids QUINTA PEDAGÓGICA DOS OLIVAIS A Quinta Pedagógica dos Olivais é um lugar distinto, no centro da cidade de Lisboa, onde os sons e os cheiros do campo, a observação de várias espécies de animais domésticos e as tarefas agrícolas e pecuárias permitem diariamente, àqueles que nos visitam, uma constatação do mundo rural. Para este novo ano, a Quinta Pedagógica dos Olivais acrescenta ao seu Programa Escola, especialmente elaborado para a população escolar, quatro propostas, todas elas repletas de conceitos que em comum têm a natureza como a essência principal, sendo ainda a deficiência visual uma questão contemplada com programação específica. Caça aos Insetos, Encher a Barriga de Histórias e Plantas com História são atividades que pretendem, no seu todo, tornar a aprendizagem num acontecimento essencialmente divertido através da possível observação direta e a experiência prática. Sentir e Cheirar destina-se a toda a população visitante com deficiência visual. Com a ajuda de um dossier guia, que contém circuitos pré-definidos e informação simultânea em Braille, será possível uma pormenorizada exploração dos animais e algumas espécies de plantas do Jardim das Ervas Aromáticas. As tradicionais receitas das diversas regiões de Portugal em Aromas e Sabores, O Ciclo do Pão, Veterinário por uma hora, aprender a cuidar da horta na Agricultura Biológica, calçar as galochas e participar nas tarefas da Vida na Quinta, ou a interação com Florinda, a camponesa da nossa Quinta, entre muitas outras propostas, continuarão a constar como oportunidades de se usufruir de momentos nomeadamente marcantes. Mantendo-se o calendário rural, não deixaremos de celebrar as principais festividades, de norte a sul do país, como a Apanha da Azeitona, a Desfolhada ou a Queima dos Espantalhos. Pelo sexto ano consecutivo daremos lugar ao concurso de Espantalhos e de Histórias que a cada ano tem um acréscimo significativo de participantes. Todas as atividades são gratuitas e destinam-se a crianças a partir dos 3 anos. Para mais informações: Quinta Pedagógica dos Olivais Tel: 21 855 09 30 E-mail: [email protected] Site: www.quintapedagogica.cm-lisboa.pt Facebook: Quinta Pedagógica dos Olivais 102 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR OUTDOOR Até 25€ Atividades Outdoor capuchos arribas Partimos do Convento dos Capuchos e seguimos rumo a Pedra Amarela para contemplar uma O percurso que vai realizar possui a nossa majestosa costa e o vasto oceano, é imponente e grandiosa esta vista.. Preço: 25€ / pax Dificuldade: Médio Um Programa: Caminhos da Natureza vista privilegiada. Onde: Serra de Sintra Preço: 25€ / pax Um Programa: Caminhos da Natureza lisboa, cidade dos miradouros Mar de Palha. Preço: 20€ / pax Um Programa: Geosphera No Parque Natural da Serra da Arrábida há um mundo maravilhoso por descobrir. Preço: Sob consulta. Dificuldade: Fácil/Médio Onde: Parque Natural Arrábida Um Programa: Geosphera paintball linha torres vedras E que tal um jogo entre os seus amigos de paintball? Quem disse que a história é aborrecida? Um dia passado em boa companhia e com muitas histórias divertidas. Atrevam-se! Preço: 9,90€ / pax Dificuldade: Fácil/Médio Um Programa: Sniper Em cada miradouro abraçamos o Tejo e respiramos a luz única da cidade reflectida nas águas do Onde: Parque Aventura Sniper; Preço: 17,50€ / pax Dificuldade: Fácil Um Programa: Sniper rappel noturno Na fase final da Lua Nova, desafie-se participando neste rappel noturno em rocha natural no Parque Natural Sintra Cascais. Preço: 19,90€ / pax Dificuldade: Médio Um Programa: MuitAventura Escalada guia em cascais Venha passar um momento único, escalando em rocha natural, junto ao mar de Cascais. Preço: 15€ / pax Dificuldade: Iniciação Um Programa: MuitAventura arrábida mar topo arrábida Este percurso leva-nos a conhecer as praias a poente e nascente do Portinho da Arrábida e outras Passeio Pedestre ao Formosinho, ponto mais alto da Serra da Arrábida com identificação de fauna curiosidades do Parque Marinho. Preço: 25€ / pax Dificuldade: Fácil Um Programa: Vertente Natural e flora. Preço: 15€ / pax Dificuldade: Alto Um Programa: Vertente Natural bridge jumping soft rafting Saltar de uma ponte com cerca de 50 metros de altura, apenas com O percurso que vai realizar possui uma bela paisagem num vale protegido do vento, descendo por umas águas tranquilas e limpidas. Preço: 20€ / pax Dificuldade: Médio Um Programa: Rafting Atlântico uma corda especial e um arnês. Onde: Minho Preço: 25€ / pax Um Programa: Rafting Atlântico 104 outão Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR A revista Outdoor não se responsabiliza por eventuais alterações de preços e informações das atividades divulgadas. As mesmas são da responsabilidade das empresas que as organizam. Lisbon by Kayak Um passeio de kayak a não perder junto à costa com paisagens e recordações inesquecíveis. Não há mais bela vista de Lisboa do que a vista do Tejo. Vamos voltar ao tempo dos descobrimentos! Distância: 10 Km Percurso: Praia dos Pescadores – Tamariz ou “Boca do Inferno”. Um Programa: Bork You Distância: 4 km Percurso: Belém – Algés Dificuldade: Médio Um Programa: Bork You Batismo surf canoagem óbidos E que tal um batismo de surf na praia da Ericeira? Venha apren- Um passeio em plena Lagoa de Óbidos onde desfrutará de paisagens magníficas. Local: Lagoa de Óbidos Preço: Desde 25€ / pax Dificuldade: Fácil Um Programa: ExperienceSport der esta modalidade. Preço: 25€ / pax Dificuldade: Iniciação Um Programa: Pocean Surf Academy passeio aldeias xisto Talasnal, Casal Novo e Chiqueiro são aldeias cravadas na serra da Lousã. Onde: Lousã Preço: Sob consulta Dificuldade: Fácil/Médio Um Programa: Javsport escalada serra da freita Venha experimentar escalada em vários lagos e escalar a Cascata da Mizarela por uma via acessível. Preço: 20€ / pax Um Programa: Nicho Verde Canoagem no mondego canoagem no zêzere Venha conhecer esta modalidade no Rio Alva e emocione-se com esta descida! A beleza natural, a água translúcida ou a proximidade de Lisboa são fatores que o levarão a descer este Rio. Preço: Sob consulta. Dificuldade: Fácil/Médio Um Programa: Aventur Realizado por marcação. Preço: 20€ / pax Dificuldade: Fácil Um Programa: Transserrano cultural bike tour Venha conhecer a zona do Oeste duma forma diferente. Através de um bike tour levamo-lo a conhe- trekking sintra cascais Conheça o Parque Natural Sintra Cascais num trekking fabuloso. cer esta zona lindíssima! Preço: Desde 20€ / pax Dificuldade: Fácil Um Programa: Experience Sport Onde: Sintra/Cascais Preço: 20€ / pax Dificuldade: Fácil Um Programa: Guincho Adventours canoagem no zêzere escalada&rappel A beleza natural, a água translúcida ou a proximidade de Lisboa são fatores que o levarão a descer este Rio. Preço: Sob consulta. Dificuldade: Fácil/Médio Um Programa: Aventur Venha conhecer a Serra de Sintra por ângulos únicos. Uma atividade outdoor a não perder! Onde: Serra de Sintra Preço: 25, 22 € / pax. Dificuldade: Fácil/Médio Um Programa: Equinócio OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 105 Atividades Outdoor cascais by kayak OUTDOOR até 75€ Atividades Outdoor guincho à praia grande de sintra ao palácio da pena Venha descobrir a costa do Guincho a Praia Grande, com passagem pela ponta mais Ocidental da Europa – O cabo da Roca Preço: 49€ / pax Um Programa: Caminhos da Natureza Um passeio à descoberta dos mais belos trilhos de Sintra, com passagem pela Vila e subida ao Palácio da Pena e Cruz Alta. Preço: 49€ / pax Um Programa: Caminhos da Natureza visita à berlenga workshop de escalada Desfrute de uma fantástica visita guiada à ilha e às grutas da Berlenga. Onde: Ilha da Berlenga Preço: Sob consulta. Dificuldade: Fácil/Médio Um Programa: PortugalWestzone arrábida terra mar paintball + Aventura 3 Circuito de Multiatividade com rappel, escalada, caminhada e canoagem numa das mais belas zonas da Arrábida. Preço: 35€ / pax Dificuldade: Médio/Alto Um Programa: Vertente Natural Tenha um fim de semana em cheio! Venha connosco fazer batismo surf praia sta rita canyoning ribeira de quelhas Venha desfrutar de uma zona cheia de potencial. A lagoa de Óbidos irá proporcionar-lhe uma inesquecível experiência. Preço: Desde 30,70€ / pax Um Programa: Experience Sport btt Idanha a monsanto multi-atividades! Onde: Parque Aventura Sniper Preço: Desde 34€ / pax Dificuldade: Fácil/Médio Um Programa: Sniper Atividade que envolve a descida a pé da Ribeira das Quelhas. Onde: Ribeira de Quelhas, Lousã Preço: 40€ / pax Dificuldade: Fácil/Médio Um Programa: Transserrano canyoning rio poio para dias intensos de BTT. Preço: 51€ / pax Dificuldade: Fácil/Médio Um Programa: Caminhos da Natureza Situado em Ribeira de Pena (Cerva), o Rio Poio é o rio mais extenso e técnico de Portugal continental. Apresenta um verdadeiro desafio aos amantes desta modalidade. Preço: A partir de 40€ / pax Um Programa: Nicho Verde caminhada noturna em sintra canoagem + passeio noturno no rio sado Esta incursão noturna pelas encostas da Serra de Sintra destina-se a aventureiros. Onde: Serra de Sintra Preço: 30€ / pax Um Programa: Papa-Léguas Uma experiência com a plena presença de uma lua fantástica que nos irá guiar neste passeio noturno pelo rio Sado. Preço: 50€ / pax Um Programa: Papa-Léguas Muitos single tracks e trilhos por calçadas históricas esperão por si 106 Este Workshop é destinado aos que se pretendem iniciar na escalada em rocha. Onde: Sesimbra Preço: 29€ / pax Um Programa: Vertente Natural Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR kayak tour Desafiamos-te à diversão num dos nossos automáticos Moto 4 ou Buggy todo o terreno. O percurso disponível em Cascais, o kayak tour leva-te a conhecer a baía de Cascais de uma perspetiva Onde: Sintra Preço: 75€ /para duas pessoas. Dificuldade: Fácil Um Programa: Guincho Adventours totalmente diferente. Preço: 35€ / pax Dificuldade: Médio Um Programa: Guincho Adventours Passeio a cavalo por terras do Vez Cores, Sabores e Tradições Onde: Arcos de Valedevez Preço: 75€ / pax Um Programa: Oficina da Natureza Venha descobrir as Cores, os Sabores e as Tradições de Paredes de Coura através de um percurso interpretativo de grande beleza paisagística. Um Programa: Oficina da Natureza douro vinhateiro Canyoning no Gerês Uma atividade que mostra uma A revista Outdoor não se responsabiliza por eventuais alterações de preços e informações das atividades divulgadas. As mesmas são da responsabilidade das empresas que as organizam. vila carregada de história: O Vez. Lugar da vida duriense por excelência, a quinta é o ponto privilegiado para se encontrar o fio condutor entre a vinha e o produto final. Preço: 55€ / pax Um Programa: Oficina da Natureza canyoning ribeira de pena Com vários rios à disposição, apresentamos um programa a não perder para os amantes da modalidade de Canyoning. Venha desfrutar destas paisagens. Preço: 49€ / pax Um Programa: Equinócio travessia do cabo Atividade que implica a descida a pé da Ribeira da Pena, com recurso a saltos para a água. A não perder! Preço: 35€ / pax Um Programa: Transserrano Passeio em barco semi-rígido ao longo da linha de costa de Sesimbra até ao Cabo Espichel, na área da Reserva Marinha Professor Luis Saldanha. Preço: 27€ / pax Um Programa: Vertente Natural golfinhos do sado batismo de parapente Viagem de barco à descoberta dos golfinhos do Sado, partilhando as belezas do estuário e da costa da Arrábida. Venha e divirta-se! Preço: Sob Consulta. Dificuldade: Fácil/médio Um Programa: Muitaventura Desfrute de voos de Parapente nas bonitas praias de Sintra. Onde: Arribas das praias Grande, Aguda ou S. Julião. Preço: S ob consulta Dificuldade: Fácil/médio Um Programa: Muitaventura travessia pedestre canyoning rio arado Venha descobrir a espetacular linha de costa de Lagos a Sagres, com as suas falésias, enseadas de agua cristalina... Preço: Sob Consulta Um Programa: Caminhos da Natureza Venha sentir a adrenalina do Rio Paiva e desfrutar de um momento de aventura. Onde: Terras de Bouro Preço: Sob consulta Dificuldade: Médio Um Programa: Equinócio OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 107 Atividades Outdoor buggy ou moto4 Salto Tandem por terras durienses O Salto Tandem consiste numa experiência única e inesquecível, na qual o cliente se liberta, com a sensação da Queda Livre em pura adrenalina. Preço: Sob consulta Um Programa: Rafting Atlântico Passeio pelas Terras Centenárias da Região Demarcada do Douro que terá início no Porto com uma viagem de comboio até ao Pinhão. Preço: Sob consulta. Um Programa: Nicho Verde Curso de iniciação à fotografia Autonomia na serra do Alvão Este curso foi concebido para quem quer dar os primeiros passos na fotografia, abordando os principais temas da fotografia. Preço: 325€ / pax Um Programa: Papa-Léguas Atividade recomendada a bons caminheiros e a quem queira uma experiência inesquecível. Preço: 150€ / pax Dificuldade: Médio/Alto Um Programa: Papa-Léguas rafting no paiva lagos, terra de navegantes Este é um rio para um contacto inicial para a modalidade de Rafting. Onde: Rio Paiva. Preço: Sob consulta. Dificuldade: Fácil/Médio Um Programa: Rafting Atlântico a fóia marafada Não fique aí, venha à descoberta do Algarve verdadeiro! Atividade não recomendada a principiantes. Locais: Sagres a Monchique. Preço: Sob consulta. Dificuldade: Médio Um Programa: Geosphera de semana. Preço: Sob consulta. Um Programa: Geosphera GRANDE FALHA A Grande Falha situa-se no Cabo Espichel e é parte integrante do sistema cársico deste. Não perca este workshop. Preço: 98€ / pax Dificuldade: Médio Um Programa:Vertente Natural léguas peneda aulas surf Eis uma oportunidade para conhecer uma das mais belas regiões de Portugal, o Parque Nacional da Peneda- Gerês. Preço: 195€ / pax Dificuldade: Médio Um Programa: Papa-Léguas Venha aprender a modalidade na praia da reserva de surf portuguesa. lagos a sagres Rota dos antepassados em Buggy Venha descobrir a espetacular linha de costa de Lagos a Sagres com as suas falésias, enseadas de agua cristalina. Preço: 395€ / pax Dificuldade: Médio Um Programa: Caminhos da Natureza 108 Venha passear ao lado do Infante D. Henrique e sentir-se ao leme de um fantástico fim Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR Onde: Praia de Ribeira d´Ilhas Preço: 100€ /pack de 10 aulas Um Programa: Pocean Surf Academy Conheça Cascais e Sintra em buggy. Preço: 105€ (inclui entrada e vista ao Convento dos Capuchos) Um Programa: Guincho Adventours A revista Outdoor não se responsabiliza por eventuais alterações de preços e informações das atividades divulgadas. As mesmas são da responsabilidade das empresas que as organizam. OUTDOOR mais de 75€ Atividades Outdoor Vela sem Limites Desporto Adaptado T odas as segundas, quartas, quintas e sábados o cais do Clube Naval de Cascais tem outra animação. Prepara-se mais um dia em que os cidadãos portadores de deficiência podem praticar vela. A ideia chegou num barco vindo da Galiza tripulado por deficientes motores em 2004. O Clube Naval de Cascais, a Cercica, e a Câmara Municipal de Cascais acolheram a ideia de imediato. Era necessário desenvolver esta atividade em Portugal pelo seu potencial lúdico, terapêutico e desportivo seguindo na esteira do que já se fazia na Inglaterra, EUA e Austrália e começa agora a 110 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR ter alguma expressão na Europa. Unimos então esforços, consagrados num protocolo tripartido: a Câmara Municipal de Cascais deu o seu apoio institucional e financeiro estável; a Cercica ofereceu as coordenadas técnicas aplicáveis e emprestou dois semi-rígidos que estavam parados e agora servem de embarcações de apoio e segurança; o Clube Naval de Cascais tratou da parte técnica e monitorizou e formou os nautas, recorrendo a muitos voluntários e alguns profissionais, alem de conceber o pontão de apoio e adquirir as embarcações Access. Por definição um cidadão deficiente faz o mesmo mas precisa de mais tempo. É só essa a di- Desporto Adpatado Vela sem Limites ferença. Assim decidimos chamar o projeto Vela sem Limites. Os patrocinadores têm sido fundamentais para o sucesso do projeto, e desde o primeiro dia a Seth, a Lindley, a SIC Esperança e a Plastimo, este último através do fornecimento de equipamentos, têm nos apoiado sem hesitação. A estes juntaram-se recentemente a Administração do Porto de Lisboa e a BRISA, que apoia os Encontros anuais, e que vão já na sua sexta edição em 2012! E não se trata só de apoios monetários. Temos muitos e variados apoiantes, pois todas as ajudas são bem vindas, como por exemplo o apoio da Garland no transporte subsidiado das embarcações Access da Inglaterra e da Holanda, ou dos Escuteiros do Estoril com voluntariado para os nossos eventos. Esta iniciativa depende da responsabilidade social, que apesar das crises económicas e vários apertos a que estamos sujeitos, continua bem presente na mente de muitos, felizmente! Os barcos – da Classe “Esta iniAccess – adaptados a ciativa depende pessoas com condicionamentos físicos, da responsabilidade são uma excelente social, que apesar das escola. Dos oito discrises económicas e vários poníveis no Clube apertos a que estamos Naval de Cascais, sujeitos, continua bem presente na mente de muitos, felizmente! ” OUTDOOR Julho_Agosto 2012 111 Desporto Adaptado dois estão preparados com motores eléctricos para serem utilizados por tetraplégicos. Uma técnica comprovada por uma travessia do Canal da Mancha realizada com comando do leme e da escota por sopro da tripulante feminina, ou uma volta as Ilhas Britânicas pelo Geoff Holt, tetraplégico, num trimaran da Classe Challenger. Existem uns 50 Access em Portugal, no entanto apenas um número reduzido em atividade regular. Só o Clube Navais de Cascais, Funchal e da Horta navegam sistematicamente, embora os Clubes na Povoa, Viana de Castelo, e o Centro Náutico do Parque das Nações começam a aumentar a sua atividade. “Qualquer desporto precisa de jovens e competição, mas reconheço, no entanto, que na vela adaptada a idade não é crucial para se obterem os melhores desempenhos. “ Através da Associação Portuguesa da Classe Access (APCA), estamos empenhados na maior divulgação da Vela Adaptada, através de empréstimos gratuitos de barcos Access e de equipamento auxiliar, e o apoio na organização de eventos, mas os resultados têm demorado em aparecer. Sem o alargamento da prática da vela adaptada, dificilmente iremos progredir. Na Inglaterra, uns 120 Clubes praticam a Vela Adaptada regularmente! Mas não vamos baixar os braços, e vamos insistindo na divulgação da modalidade para o qual a competição é um meio ideal. Em termos de competição nos últimos três anos a APCA tem fomentado a organização de regatas em barcos Access 2,3 para a selecção dos melhores velejadores para a equipa representante de Portugal em campeonatos internacionais. Os resultados têm sido excecionais. O Bruno Pereira ganhou o Campeonato Europeu em 2009, ficando com a medalha de bronze nos Mundiais de 2010. O Pedro Reis é Campeão da Europa em título, tendo conquistado o primeiro lugar na Itália em 2011. Ambos são do CNCascais. Qualquer desporto precisa de jovens e competição, mas reconheço, no entanto que na vela adaptada a idade não é crucial para se obterem os melhores desempenhos. Na desloca- 112 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR Desporto Adpatado Vela sem Limites ção em junho da nossa equipe ao Funchal para o Campeonato Nacional, aonde o Pedro Reis conquistou o primeiro lugar, o Domingos Cagembe com 55 anos, classificou-se no 5º lugar na geral! A Vela em Limites do Clube Naval de Cascais compõe-se não só de velejadores regulares (uns 80) como também daqueles que vêm experimentar a vela adaptada nos Encontros (uns 60 por ano), duns 25 voluntários, que ajudam regularmente em todas as sessões, e de 5 monitores profissionais. Os voluntários são particularmente importantes, pois recebem os velejadores, tratam da estatística e organização, preparam e vestem os coletes, aparelham as embarcações e através da grua colocam os velejadores nos Access. As dificuldades existem evidentemente, mas o voluntarismo e a vontade tudo ultrapassa. A procura é maior que a oferta e se mais meios existissem maior seria o desenvolvimento desta modalidade. Assim, pouco a pouco vamos ultrapassando os obstáculos: por exemplo este ano inauguramos um novo cais flutuante, especificamente concebido para a prática da vela adaptada, e iniciamos sessões de vela para invisuais, com muito sucesso. E este sucesso reflete-se na estatística: desde 2005 realizamos mais de 690 sessões, com 6300 saídas a vela, apoiado por mais de 7000 presenças de voluntários e profissionais! Hoje em dia, calcula-se que 10% da população europeia seja portadora de deficiência, e a vela adaptada corresponde em pleno a essa população oferecendo possibilidades de ócio ativo, estudo e utilização de conhecimentos náuticos para um melhor desempenho e até um pouco de aventura. Tudo aspetos muito importantes na vida de qualquer pessoa, e particularmente dos Portugueses, a beira-mar plantados! ø Charles Lindley Clube Naval de Cascais [email protected] OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 113 Espaço APECATE plano de formação de aCtivos turismo de ar livre C onforme foi noticiado no último número, a APECATE entregou à ANQEP a proposta de criação de uma nova qualificação profissional no sector turístico – o Técnico de Turismo de Ar Livre, acompanhada da proposta de um CET - Curso de Especialização Tecnológica em Turismo de Ar Livre. Dissemos então que, num momento em que tanto se afirma a importância da adequação da formação profissional às exigências do mercado, é elementarmente justo que esta proposta, assente num Referencial de Formação exigente, realista e concebido por es114 Setembro_Outubro 2012 OUTDOOR pecialistas com a chamada “mão na massa”, seja aprovada com a urgência possível. Terminámos o artigo manifestando a intenção da APECATE de relançar o seu Plano de Formação de Activos, reorganizado, em conteúdos e duração, em função da proposta apresentada, remetendo para este número a apresentação de uma síntese do Referencial de Formação e deste novo Plano. SÍNTESE DO REFERENCIAL DE FORMAÇÃO Os Cursos de Especialização Tecnológica são cursos pós-secundários não superiores, que conferem uma qualificação de nível 5 do Qua- Espaço APECATE Animação Turística Foto:Transerrano dro Nacional de Qualificações (QNQ). O seu objectivo fundamental é suprir as necessidades verificadas, no tecido empresarial, ao nível de quadros intermédios, constituindo-se como uma alternativa válida para a profissionalização de técnicos especializados e competentes. De acordo com a Portaria nº 782/2009, de 23 de Julho, e a Recomendação do Parlamento europeu e do Conselho de 23 de Abril de 2008, os técnicos de nível V devem possuir “conhecimentos abrangentes, especializados, factuais e teóricos numa determinada área de estudo ou de trabalho e consciência dos limites desses conhecimentos; ser portadores de “uma gama abrangente de aptidões cognitivas e práticas necessárias para conceber soluções criativas para problemas abstractos”; e, sob o ponto de vista das atitudes, devem ser capazes de “gerir e supervisionar em contextos de estudo ou de trabalho sujeitos a alterações imprevisíveis” e “rever e desenvolver o seu desempenho e o de terceiros”. Quando falamos em Técnico de Turismo de Ar Livre estamos, pois, a falar de um técnico cujo OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 115 Espaço APECATE No actual quadro legislativo, podem frequentar estes cursos: a) titulares de um curso de ensino secundário, ou de habilitação legalmente equivalente; b) os que tendo obtido aprovação em todas as disciplinas dos 10.º e 11.º e tendo estado inscritos no 12.º ano de um curso de ensino secundário ou de habilitação legalmente equivalente não o tenham concluído; c) titulares de uma qualificação profissional de nível 4; d) titulares de um Diploma de Especialização Tecnológica (DET) ou de um grau ou diploma de ensino superior que pretendam a sua requalificação profissional. Podem igualmente candidatar-se à inscrição num curso de especialização tecnológica num estabelecimento de ensino superior os indivíduos com idade igual ou superior a 23 anos, aos quais, com base na experiência, aquele reconheça capacidades. Composição do Referencial de Formação O CET em Turismo de Ar Livre proposto à ANQEP inclui 150 h de Formação Geral e Científica e 725 h de Forma- 116 ção Tecnológica, nas quais se incluem 200 h de formação em áreas técnicas específicas, correspondentes à escolha de 4 das 6 áreas de actividade consideradas (cf artigo do número anterior). Para além da Formação em Contexto de Trabalho, este referencial corresponde a uma aprendizagem teórico-prática, como é, aliás, exigência do próprio modelo de formação dos CET. Neste conjunto encontram-se: - UFCD comuns a outros CET da área do Turismo e Lazer, que correspondem a unidades de formação já formatadas no Catálogo Nacional de Qualificações (é o caso, entre outras, das UFCD Português, Língua Inglesa, Relações Interpessoais, Tecnologias de Informação e Comunicação, Turismo, Áreas Protegidas); - UFCD que, embora formatadas no Catálogo, exigem uma adaptação criteriosa à profissão (ex: Cartografia e Orientação ou Metodologias de Avaliação dos Riscos Profissionais); - UFCD totalmente concebidas pelos técnicos responsáveis pela nossa proposta e que integram, na sua quase totalidade, o nosso Plano de Formação de Activos (ver ponto seguinte). “O Plano de Formação de Activos da APECATE dirige-se fundamentalmente a pessoas que estão ao serviço de empresas de animação turística (...)” Julho_Agosto 2011 OUTDOOR O PLANO DE FORMAÇÃO DE ACTIVOS DA APECATE O Plano de Formação de Activos da APECATE dirige-se fundamentalmente a pessoas Fotos: Sniper perfil de competências se enquadra claramente nestes descritores do Quadro Europeu de Qualificações para a Aprendizagem ao longo da vida. Espaço APECATE Animação Turística que estão ao serviço de empresas de animação turística, mas tem também como destinatários estudantes ou profissionais que pretendam complementar a sua formação nestas áreas. Porquê lançar já este Plano em vez de esperar que o Governo se manifeste sobre as nossas propostas? Não foi questão que não nos tivéssemos colocado mas a resposta foi clara e unânime: não faz sentido esperar. Pelo contrário, temos obrigação de não esperar. No Plano para 2012-2013 será dada prioridade à organização e calendarização, em regime de UFCD avulsas, das disciplinas que consideramos a essência da formação base de qualquer técnico de turismo de ar livre. São elas: Relações interpessoais (50h); Territórios de Turismo de Ar Livre – Interpretação da Paisagem (25h); Territórios de Turismo de Ar Livre – Interpretação do Património (25h); Planificação e gestão de programas de turismo de ar livre (25h); Promoção da saúde e fisiologia em ambientes de ar livre (50h); Metodologias de avaliação de riscos profissionais (25h); Cartografia e orientação (25h); Meteorologia em turismo de ar livre (50h); Socorrismo (25h); Tiro com arco, besta e zarabatana (50h); todas as áreas técnicas específicas *(50h cada). No que respeita às línguas estrangeiras, pressupomos o seu domínio, estando prevista, em cada área técnica específica, a aquisição do respectivo vocabulário técnico. Sempre que possível, a formação será dada em regime intensivo – blocos de 25 horas distribuídas por 4 dias – e em regime de internato. Nas UFCD de 50 horas, caberá ao formador propor o intervalo entre os dois blocos que considerar mais adequado ao sucesso da aprendizagem. No momento de lançamento de cada curso será disponibilizada, no website da APECATE, informação sobre os seus objectivos, conteúdos e respectivos formadores. Os potenciais formandos que queiram enviar-nos desde já a sua intenção de inscrição nas UFCD referidas receberão directamente esta informação. ø Ana Barbosa Presidente da Direcção da APECATE *Ver Espaço APECATE do número anterior Este texto encontra-se escrito com o antigo acordo ortográfico. OUTDOOR Setembro_Outubro 2012 117 Equipamento timberland Pathrock TIMEX CYCLE TRAINER 2.0 – COMPUTADOR DE BICICLETA Descrição: GPS - Velocidade, distância, Lat/Longitude SiRFstarIII GPS Technology Incluí sensor de frequência cardíaca Flex Techo Digital 2.4 HRM Sensor de pressão Barométrica: Altitude/Elevação e Inclinação/ Grau; Temperatura; Memória para 100-treinos; 5 ecrãns costumizáveis; Mãos livres; Auto Start, Auto Split, Auto Stop, Auto Resume; PC e Mac Device Agent Download Data para software de treino online Powered by TrainingPeaks; Batería recarregável de Li-Ion até 18-Hour; 2 Quick-Release, Adaptadores com dupla posição. 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De forma simples e prática irá encontrar um sem fim de sugestões que o farão sair da rotina e partir à aventura. Ao entrar no nosso mundo de aventuras descobrirá inúmeros locais dentro e fora de portas para a prática de atividades ao Ar Livre, conhecer alguns pontos de interesse turísticos, como barragens, castelos, zonas protegidas, rotas e muito mais! Para onde for, ou onde estiver não pode deixar de consultar as sugestões do Portal Aventuras. Brevemente disponível no teu smartphone! corre jamor A terceira edição da prova chega a 11 de Novembro, pelas 10h30, e oferece duas distâncias: 9 km (prova principal) e 3 km (prova mini). As inscrições estão abertas e podem ser feitas através do site oficial do evento: www.correjamor.com. Sabe Mais em www.portalaventuras.clix.pt observanatura A OBSERVANATURA é a oportunidade para o encontro entre as empresas de turismo de natureza, as organizações não governamentais, as editoras e empresas de material óptico e os turistas ornitológicos, em torno dos valores da biodiversidade. Nesta 4.ª edição da feira, contamos com a sua participação, a entrada é gratuita!” Sabe Mais em www.portalaventuras.clix.pt 122 Setembro_Outubro 2011 OUTDOOR agenda outdoor A agenda do Portal Aventuras encontra-se ao rubro! Existem inúmeras atividades de Norte a Sul do nosso país que te farão viver muitos momentos de emoção. Canoagem, Surf, Caminhadas, Trekking, Viagens de Aventura, Canyoning, Rappel, Escalada, Montanhismo, Sobrevivência....e muito mais! Boas Aventuras! Mais em www.portalaventuras.pt nova categoria equipamento Vais partir a aventura? Precisas de novos equipamentos outdoor? O Portal Aventuras abriu uma nova categoria com as últimas novidades do mundo do desporto outdoor. Damos-te a conhecer novas marcas e modelos acabados de ser lançados. Não percas esta oportunidade e escolhe já o teu próximo material! Sabe Mais em www.portalaventuras.pt 3ª edição do Festival de Observação de Aves Encontram-se abertas as inscrições para a 3ª edição do festival, que tem atividades abertas ao público entre 5 e 7 de out., em Sagres. A inscrição é gratuita na maioria das iniciativas, mas a inscrição é obrigatória. Este ano o festival destaca as ações a pensar nos mais novos e nos amantes da natureza. Sabe Mais em www.portalaventuras.pt Norte Alentejano “O” Meeting 2012 Se gostas de praticar desporto e de explorar a natureza o Grupo Desportivo dos Quatro Caminhos tem para ti um evento muito especial! Pelo sétimo ano consecutivo, o Grupo Desportivo dos Quatro Caminhos, organiza o Norte Alentejano O’ Meeting, desta vez em parceria com a Câmara Municipal de Nisa e a Federação Portuguesa de Orientação. Sabe Mais em www.portalaventuras.pt OUTDOOR Setembro_Outubro 2011 123