2732 Alternância modal nas construções com aunque
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2732 Alternância modal nas construções com aunque
Alternância modal nas construções com aunque Iandra Maria da Silva (UFSC/ CEFET-MG) 1. Considerações iniciais Neste artigo analisa-se a alternância dos modos indicativo/ subjuntivo na língua espanhola com relação ao uso da conjunção concessiva aunque. Segundo Fernández Álvarez (1987, p. 57-60), esse conector é o mais representativo do grupo das concessivas no que se refere ao emprego modal, levando-se em consideração o fato de que o espanhol permite, desde uma perspectiva pragmática, a alternância dos modos subjuntivo e indicativo. Em outras palavras, admite-se a permeabilidade da codificação de informações dependentes de fatores pragmáticos numa mesma estrutura sintática, em que o falante pode com o uso da terminação modal subjuntiva, codificar um estado/ evento que pode ser tanto factual como hipotético e, com a indicativa, aludir a um estado/ evento factual. Essa proposta apresenta uma análise da possível associação entre o uso dos modos verbais e o tipo de informação, partindo da escala do contínuo de ativação proposto por Dryer (1996) entre informação ativada versus não ativada. Acredita-se que a investigação a partir da distinção entre informação ativada frente à informação não ativada, como um dos fatores que favorece a alternância entre o indicativo e o subjuntivo, é uma das maneiras de propor a análise de aspectos pragmáticos para o uso dos modos de maneira mais objetiva e confiável. 2. Pressupostos teórico-metodológicos 2732 Tendo como fundamento teórico a proposta de Dryer (1996), as concessivas são analisadas a partir da oposição entre informação ativada e informação não ativada. A ativação, nesse sentido, é o estatuto das entidades cognitivas na mente dos interlocutores de uma determinada situação comunicativa. Para Dryer, das várias coisas na mente ou memória de um indivíduo, um pequeno número é ativado, no sentido de que elas são “iluminadas” na atenção do indivíduo, na sua consciência, ou seja, o que se está pensando sobre um dado ponto no tempo, enquanto a maioria das coisas não é ativada na mente do indivíduo (cf. DRYER, 1996, p. 480). Nessa perspectiva, tem-se como pressuposto que o modo subjuntivo está correlacionado ao grau de ativação da informação, ou seja, se a informação que aparece na apódose já tenha sido proferida anteriormente pelo falante, na prótase, considera-se ativada. No excerto, “los preparativos federales se producen antes de que llegue la tormenta. Aunque la llegada del Rita vaya a dar a Bush una segunda oportunidad” (COE)1, verifica-se que o termo “tormenta” já foi ativado previamente antes da aparição da “llegada del Rita”. Pressupõe-se, então, que o indicativo é mais provável em contextos em que a informação não tenha sido ativada anteriormente. As atitudes adotadas por alguns estudiosos no momento de explicar os usos que podem ter as construções com aunque + indicativo e aunque + subjuntivo são variadas, a partir de oposições relevante/ não relevante, informação nova/ velha (LUNN, 1985, 1995), experiência/ não experiência (FERNÁNDEZ ÁLVAREZ, 1987). No entanto, para realizar a análise das concessivas é possível deparar-se muitas vezes com questionamentos sobre o fato de o que se deve considerar como relevante num enunciado, ou ainda, o que se pode considerar como informação nova ou velha. Os dados analisados pertencem a um corpus oral e escrito, coletados durante os anos de 2005 e 2006. A amostra é analisada por meio de instrumentos da Lingüística de corpus tais como o uso de concordâncias que permitem realizar uma 2733 descrição da língua baseada em padrões e informação freqüencial. Como meio auxiliar de interpretação dos resultados utiliza-se o programa WordSmith (SCOTT, 1998). 3. Análise dos dados Verifica-se uma possível associação entre o uso dos modos verbais e o tipo de informação. A análise parte da escala do contínuo de ativação proposto por Dryer (1996) entre informação ativada versus não ativada. Os resultados obtidos através da verificação dos dados com o programa WordSmith apontam uma correlação entre o modo subjuntivo e o traço informação ativada, e o modo indicativo e informação não ativada. Os dados seguintes evidenciam o contexto de informação não ativada e modo indicativo. 1. “[...] // yo la terminé en junio y el julio ya empecé a trabajar en lo que quería// o sea he tenido suerte// 2. ¿y si no hubieras- 1. y sigo haciendo lo que quiero/ 2. y si no hubieras hecho esto/ a qué te hubieras de-/ te hubiera gustado: dedicarte? 1. (puf)// pues probablemente me hubiese gustado ser médico o enfermero/ aunque odio la sangre y esas cosas me hubiese gustado me gusta ayudar a la gente// probablemente// pero: vamos yo soy de letras o sea que no sé/// y: -o me hubiese: gustado muchísimo dedicarme a ser crítico literario algo de eso:/ que está relacionado con esto// pero:/ a leer// o estar en una biblioteca: no me hubiese importado estar en una biblioteca pero no por atender a la gente sino por leer/...” (COE). 2. “[...] al segundo palo... acude Mateu, también Pollet... ha tocado Pollet!... Pero finalmente toda la ventaja es para el portero Alduallen, una vez más infranqueable, detiene el esférico y balón para el Real Burgos, aunque ha robado Dario Fanco. Combina con Mateu, se puede ir el rumano, sigue... Mateu intentando combinar con el argentino, la pelota que se va fuera de banda y aquí no pasa nada. Veintisiete minutos y medio de juego de la primera parte, en la Romareda...” (COE). 3. “Desde las doce y media con ustedes, nuestro tiempo ‘Segovia en Directo’. Ahora el termómetro marca 23 grados, casi 24, no llega, 23 grados y algunas décimas. Nubes y claros aunque predomina el sol. Una hora apacible de la tarde de este martes 3 de septiembre. Les hemos contado lo que ha tratado hoy la Comisión de Gobierno del Ayuntamiento que se ha reunido en sesión ordinaria. Hoy estuvo con los informadores el Teniente Alcalde Alfonso Estirado...” (COE). 2734 Em (1) o falante apresenta uma informação nova, ainda não ativada ou acessível na prótase de que “odeia sangue”. Da mesma forma, são novas as informações “do roubo a Dario Franco” e “da predominância do sol”, nos trechos (2-3), respectivamente. Esses dados fazem referência a informações que não haviam sido ativadas anteriormente até o momento da utilização do conector aunque. Nas palavras de Dryer, o estatuto cognitivo de tal informação não se havia perfilado nem na mente do falante nem na mente do ouvinte até esse momento. Alguns estudiosos como Borrego et al. (1986), Flamenco García (1999) e Lunn (1989, 1995) arrolam contextos de uso do modo indicativo correlacionado à informação nova, como nos casos (1-3), em oposição ao uso do subjuntivo correlacionado à informação velha. Nesses contextos, a escolha do modo verbal está atrelada a um valor de atitude do falante. O uso do indicativo representa, portanto, uma atitude de certeza do falante com respeito à realização do evento e de crença de que o conhecimento não é compartilhado pelo ouvinte. Dessa forma, a eleição do subjuntivo ou indicativo toma lugar a partir da intervenção de fatores pragmáticos mediante conhecimento compartilhado ou mediante atribuições de conhecimento ao ouvinte pelo falante. Além disso, somam-se os fatores contextuais e o traço informação ativada versus não ativada. Considere agora, alguns trechos que se seguem em que há a correlação entre informação ativada e subjuntivo: 4. “[...] mire, yo creo que decir en la... en la restauración, por ejemplo, de primeros de siglo... ah... de siglo había fenómenos de caciquismo, y decía ahora también. ¿Cuándo había más antes o ahora? No lo sé. Pero aunque hubiese más antes que ahora no me consuela de lo que hay ahora. Ni tapa mi conciencia ante lo que hay ahora. Evidentemente. En el régimen de Franco, que era un régimen autoritario, y afortunadamente los españoles vivimos en un régimen democrático...” (COE). 5. “[...] del año es la que te gusta más// el verano// así porque te vas y eso? 1. no me gusta más entretiempo// primavera// otoño 2. ¿por qué? 1. no sé// porque no hace ni frío// ni mucho frío frío// ni: calor calor calor/ me gusta esa estación 2. ¿ahora qué te parece? 1. mucho calor// ahora todavía mucho es que 2. pero más// 2735 ha hecho bastante fresco esta tarde// ¿no? 1. este año sí// pero es que a mí este tiempo no me gusta// aunque haga// hombre si hace fresquillo sí// pero: si no no/ yo es que aquí el calor no lo soporto// me gusta más irme a sitios frescos 2. (m:)// ¿y te afecta al ánimo así el... el calor y eso? 1. ¿que si me afecta al? 2. al ánimo 1. ¿al ánimo? 2. (m:) 1. no sé yo estoy más/ decaída// no sé 2. te cansas más 1. te-// me canso más// sin hacer nada y me canso más// no sé// no sé por qué 2. sí a mí me pasa también/// ¿y las navidades? 1. me gustan también// hombre un poco triste pero... 2. ¿te parecen tristes?” (COE). 6. “[...] el asiento a personas mayores. Seguramente tienen buenos padres y buenos maestros (as). 2. Todavía quedan algunos taxistas atentos y justos con el precio. 3. En la mayoría de las casas de este país barren las aceras y recogen la basura. Aunque sea basura da gusto verla recogida en bolsas. En la mayoría de los lugares hay buena recolección de basura. La Municipalidad de San José, se preocupa mucho. 4. Muchas personas cuidan los árboles frente a sus casas” (COE). A primeira menção da informação já ativada se refere ao dado (4), em que a pergunta “¿Cuándo había más antes o ahora?” é feita ao interlocutor e ao respondêla, o mesmo retoma o assunto “aunque hubiese más antes que ahora”. Esse caso também é considerado por autores como Flamenco García (1999) como uma situação adversativa ou réplica em contextos argumentativos. Esse argumento também é mencionado por Bosque (1990) para quem os usos do modo subjuntivo, em tais casos, ocorrem devido à presença de partículas adversativas ou argumentativas como por exemplo, o uso de “pero”. Na perspectiva da análise da ativação, se poderia dizer que no enunciado (4) se trata de uma informação ativada, “haber más antes que ahora”, já que ela aparece na prótase imediatamente no discurso anterior retratando um argumento explícito do falante, e ao retomar o discurso, o seu interlocutor repete novamente essa informação já ativada com caráter argumentativo. A distinção entre informação ativada vs. não ativada e sua relação com a escolha do modo verbal permite explicar também a preferência do subjuntivo nos outros dois casos. No excerto (5), o falante 2 informa que “ha hecho bastante fresco” e o falante 1 confirma, “aunque haga...”, retomando a informação sobre o tempo. No trecho seguinte (6), retoma-se o tema “basura” já ativado na prótase. 2736 Apesar de os resultados terem revelado um alto número de usos do modo subjuntivo correlacionado ao traço informação ativada, cabe ressaltar que foram encontrados também construções concessivas com o modo subjuntivo em que a informação não havia sido ativada na prótase. Em face dessa constatação, convém mencionar o estudo de Lavandera (1983), em que o uso do modo verbal é visto como uma estratégia discursiva. Em suas amostras, a autora verificou a estratégia lingüística dos informantes em passar de uma série de emissões em modo indicativo a uma ou duas no modo subjuntivo, dentro de um texto que desenvolve uma justificação da posição do falante com respeito a um tema particular. Um dos fatores verificados por Lavandera foi a repetição em distintos modos. A autora verificou em seu estudo Shifting moods in Spanish discourse (1983) que a oração no modo subjuntivo, em sua maioria, constitui-se de repetição em forma modificada da parte proposicional do significado expresso em alguma outra parte do texto. Considere o exemplo retirado de Lavandera (1983): a. [...] porque la economía está mal (ind) b. si estuviera bien la economía (impf subj) a. hay más problemas (ind) b. si no hubiera este problema... (impf subj) (cf. LAVANDERA, 1983, p. 227). Através do fragmento apresentado em (a) entende-se que a economia está mal e em (b) dá-se a mesma informação, no entanto, ao utilizar a cláusula condicional si com o tempo imperfecto de subjuntivo, o informante assinala que, com fins argumentativos, supõe-se que está bem. O uso do modo subjuntivo nesses casos também não tem a função de introduzir uma nova informação. Apesar de os resultados terem revelado um alto número de usos do modo subjuntivo correlacionado ao traço informação ativada, cabe ressaltar que foram 2737 encontrados também construções concessivas com o modo subjuntivo em que a informação nova não havia sido ativada na prótase. 4. Considerações finais A motivação principal em propor este artigo foi a de contribuir para o estudo do modo verbal espanhol em perspectiva empírica. De acordo com as análises apresentadas, nota-se que a oposição informação ativada vs. não ativada permite captar as diferenças de significado que a alternância modal supõe. Esse traço facilita a busca de pistas que evidenciam o emprego favorável de um ou outro modo, ou seja, é possível capturar no próprio contexto as informações necessárias para predizer o uso do modo indicativo ou do subjuntivo nas construções concessivas. Mesmo assim, reconhece-se que oposições tais como “informação nova x velha” e “informação relevante x irrelevante” utilizadas por autores que estudam o uso das concessivas na língua espanhola, também são características importantes com relação à análise da escolha modal. O traço informação ativada apresentou-se, portanto, como um contexto favorecedor de uso do modo subjuntivo em contraste com o indicativo e, como mais uma importante variável de análise para a qual se somam as inferências derivadas pragmaticamente, o conhecimento compartilhado e a atribuição de pressupostos como fatores significativos na escolha dos modos verbais. Referências BORREGO, J.; ASENCIO, J. G.; PRIETO, E. El subjuntivo: valores y usos. Madrid: Sociedad General Española de Librerías, 1986. 2738 DRYER, Matthew S. Focus, pragmatic presupposition, and activated propositions. Journal of Pragmatics, v. 26, n. 4, p. 475-523, 1996. FERNÁNDEZ ALVAREZ, Jesús. El subjuntivo. 7. ed. Madrid: Edi-6,1987. FLAMENCO GARCÍA, Luis. Las construcciones concesivas y adversativas. In: BOSQUE, I.; DEMONTE, V. Gramática descriptiva de la lengua española. Madrid: Real Academia Española/ Espasa Calpe, 1999. p. 3805-3878. LAVANDERA, Beatriz. Shifting moods in Spanish discourse. Discourse perspectives on syntax. New York: Academic Press, 1983. p. 209-236. LUNN, Patrícia V. Spanish mood and the prototype of assertability. Linguistics, v. 27, p. 687-702, 1989. ______. The evaluative function of the Spanish subjunctive. In: BYBEE, J.; FLEISHMANN, S. Modality in grammar and discourse. Amsterdam/ Philadelphia: John Benjamins, 1995. MOYA CORRAL, Juan Antonio. Valor modal del llamado subjuntivo concesivo polémico. Lingüística Española Actual, Madrid, v. 2, p. 161-174, 1996. REAL ACADEMIA ESPAÑOLA. Esbozo de una nueva gramática de la lengua española. Madrid: Espasa Calpe, 1973. 2739 SCOTT, Mike. WordSmith tools manual version 30. Oxford: Oxford University Press, 1998. VALLEJO, José. Notas sobre la expresión concesiva. Revista de Filología Española, n. 9, p. 49-51, 1922. ______. Sobre un aspecto estilístico en D. Juan Manuel. Homenaje ofrecido a Menéndez Pidal: miscelánea de estudios lingüísticos, literarios e históricos, II. Madrid, Hernando, 1925. p. 63-85. Nota 1 Os exemplos apresentados neste artigo são extraídos de dois corpora — oral e escrito — coletados durante os anos de 2005 e 2006 para a realização da tese de doutoramento da autora e estão identificados por (COE). 2740