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DOI: 10.5205/01012007 DOI: 10.5205/010120 ISSN: 1981-8963 Bruns MAT. Sexualidade trans na interface com as... EDITORIAL Maria Alves de Toledo Bruns. Psicóloga, Docente e Pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia - nível mestrado e doutorado, Departamento de Psicologia da Universidade de São Paulo/Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, campus de Ribeirão Preto/SP e do Programa de Pós-Graduação em Educação Sexual nível de mestrado e doutorado do Departamento de Educação da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP/ Faculdade de Ciências e Letras –Campus de Araraquara/SP. Líder do Grupo de Pesquisa Sexualidadevida-USP/CNPq, certificado pela Universidade de São Paulo/Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, campus de Ribeirão Preto/SP. Ribeirão Preto (SP), Brasil. E-mail: [email protected] SEXUALIDADE TRANS NA INTERFACE COM AS RELAÇÕES DE GÊNERO Nos últimos 60 anos, o avanço das ciências, o processo de urbanização dos centros industrializados, o avanço da mídia, os novos arranjos familiares, as conquista das minorias sexuais: homossexuais, transexuais, travestis, entre outros fenômenos, somados à ênfase no individualismo, e na visibilidade midiática, flexibilizaram o ethos da relação de gênero de tal modo a inscrever outros olhares à hegemonia da heteronormatividade, cujas ressonâncias fazem presente nas e pelas trocas simbólicas com o outro, por meio das quais o sujeito contemporâneo constitui seu processo de subjetivação. Dessa perspectiva a temporalidade, a historicidade e espacialidade do lebenswelt/mundo vida do sujeito contemporâneo vem se transformando independente da orientação afetivo sexual ser hetero, homo, trans entre outras de modo nunca visto. Em especial ao estilo de como os relacionamentos afetivo sexuais estão sendo vividos. Se por um lado o sujeito cultiva o desejo da confiança e da possibilidade de vincular-se a um relacionamento estável, por outro lado, o sujeito expressa desconfiança, temor e medo da possibilidade de vincular-se. Dessa perspectiva ambígua os vínculos amorosos duradouros são percebidos pelas parcerias como forma de controle e opressão por não atender ao lebenswelt descompromissado próprio de “relações líquidas”, as quais seguem o padrão da lógica consumista, que valoriza a novidade, a variedade, a rapidez, enfim, a rotatividade. Português/Inglês/Espanhol Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(esp), set., 2013 O ímpeto contemporâneo é „ser transitório‟, render-se ao impulso e não ao desejo. O impulso não ameaça, não impede que o sujeito descarte um(a) parceiro(a) sexual para experimentar outro(a) – um novo impulso, uma nova ficante – despertada por uma fascinante embalagem. As embalagens aguçam as fantasias. Seguir os impulsos em vez dos desejos na visão de Bauman é deixar as portas escancaradas ao ethos das relações impessoais, flexíveis e transitórias, presentes nos laços familiares como nas relações amorosas. A trilha do desejo é sinuosa, às vezes, requer cuidados, concessões e prolongadas esperas – que retardam a satisfação. Condições essas que vão de encontro à natureza do impulso. Partindo desse cenário situo o fenômeno da sexualidade trans na interface com as relações de gênero com a intenção de provocar a reflexão acerca de horizontes de possibilidades de compreensão do lebenswelt/mundo vida de transexuais e de travestis, que enquanto sujeitos/colaboradores vêm compondo o universo de pesquisas desenvolvidas pelo Grupo de Pesquisa Sexualidadevida – USP/CNPq1. Trata-se de um fenômeno pertinente que merece atenção de profissionais que atuam nas áreas da saúde, educação, mídia, política, religião, família entre as demais instâncias da sociedade interessadas na compreensão do 1 Grupo de Pesquisa Sexualidadevida-USP/CNPq,vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia, do Departamento de Psicologia da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, no campus de Ribeirão Preto-SP. ISSN: 1981-8963 Bruns MAT. mundo vida de travestis e de transexuais de modo iluminar o imaginário cultural de nossa sociedade - que vem a séculos sendo povoado por mitos, tabus, estigmas e preconceitos que retroalimentam as posturas fóbicas e discriminatórias daqueles que por desconhecerem as artimanhas das diversidades do desejo sexual legitima o lugar hegemônico da heteronormatividade. O antídoto para posturas enrijecidas é o acesso ao conhecimento científico. É dessa perspectiva que as questões: Transexual é homem, ou mulher? Que história é essa de cirurgia da genitália? Travesti é mulher ou é homem? Transexual e travesti são iguais? Provocativas essas questões! Respondê-las é o meu desejo. Conhecendo, todavia, a complexidade das mesmas e o curto espaço de um editorial sugiro ao leitor recorrer a periódicos especializados, teses e dissertações para ampliar a compreensão do fenômeno transgênero. Pesquisas explicitam que o transexual não se identifica com seu sexo anatômico e nem com sua silhueta. Identifica-se com o universo feminino e sente desejo de recorrer à cirurgia de redesignação sexual e ou transgenitalização, que consiste na construção de uma neovagina. Situação semelhante ocorre com a transexual que não se identifica com seu sexo anatômico como também com os seios, útero, ovários enfim com a corporeidade feminina. Percebe-se e identifica-se com o universo masculino. Percepções e sensações de estranhezas são vividas na infância, pelo interesse por vestimentas, sapatos - adereços femininos pelo garotinho e vice versa pelo universo masculino pela garotinha. Momento em que a criança encontra-se desprovida de consciência de si devido a sua fase de desenvolvimento biopsicosocioemocional; estando, assim, submetida às condições do lebenswelt das relações intrafamiliares protagonizadas muitas vezes por pais homofóbicos que sentem dificuldades de aceitar essas brincadeiras das crianças. Importante explicitar que na temporalidade da infância é comum às crianças inverterem o papel de gênero em suas brincadeiras. Essa variável em si não da conta de explicitar as matizes dos desejos independente do sexo masculino e/ou feminino e nem tampouco a orientação afetivo sexual. Na adolescência nos horizontes de compreensão do mundo vida trans de garoto o uso de vestimentas e adereços femininos para Português/Inglês/Espanhol Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(esp), set., 2013 DOI: 10.5205/01012007 DOI: 10.5205/010120 Sexualidade trans na interface com as... se identificar com o sexo feminino e papeis de gênero acentua-se e se percebe sem atração pelo sexo oposto. Não raro na adolescência as experiências homoafetivas acontecerem, contudo não se identificam com o desejo homoerótico. Momento que vivenciam conflitos, angústias, dilemas, depressão (chegando até o suicídio) por se perceberem em dissonância com a sua identidade sexual e com os papeis de gênero. Nessa face é comum também o adolescente sentir dificuldade de tocar e até de realizar a higiene em sua genitália. A certeza de pertencer ao sexo oposto direciona o adolescente a buscar os meios disponíveis para harmonizar seu sexo biológico ao sexo psíquico. Esse trânsito ocorre tanto pelo uso de roupas, maquiagens e adereços femininos quanto pelo ato de submeter o corpo ao processo de transformação que ocorre pela – hormonoterapia que tem como finalidade desenvolver os caracteres femininos - ou seja,- o aumento de mamas, atrofiamento dos testicular e involução da pilificação e redistribuição da gordura corporal. Faz uso também de aplicações de laser, injeções de silicone e/ou botox, tatuagens, que culmina com a cirurgia de adequação sexual. Este é o caminho trilhado pela transexual como prefere ser identificada a fim de adequar seu corpo à silhueta feminina, a qual atende sempre às novas tendências do mercado. Situação análoga acontece com a adolescente em conflito no decorrer da infância, rejeita seu sexo anatômico e se identifica com o comportamento de meninos. Nessa fase, o conflito se intensifica e ela passa a rejeitar sua corporeidade feminina. Submete-se a hormoterapia com a finalidade de desenvolver os caracteres masculinos barba – timbre de voz à silhueta masculina. A terapia psicológica é necessária para viabilizar autoconhecimento de seu mundo vida trans e se autoacolher. Aqui situo o lugar do profissional tal qual um farol a iluminar a abertura de outros sentidos ao modo trans de existir. A clinica multidisciplinar é necessária - composta por profissionais conhecedores do mundo vida trans – que clama por aceitação, acolhimento e esclarecimento para possíveis tomadas de decisão acerca da realização da cirurgia de transgenitalização que consiste na construção de uma neovagina a fim de adequar o seu sexo biológico ao psíquico, como para a mulher realizar as cirurgias de mastectomia (retirada de mamas) e a de ISSN: 1981-8963 Bruns MAT. DOI: 10.5205/01012007 DOI: 10.5205/010120 Sexualidade trans na interface com as... histerectomia (retirada do útero) a fim de harmonizar–se com seu desejo trans. genéticos, cromatínico, gonádico, anatômico, hormonal, social, jurídico e psicológico. Importante situar que a corporeidade transexual se assemelha a da travesti pela inscrição também de tatuagens, piercings, aplicações de silicones e botox; cirurgias plásticas; depilação definitiva entre outros procedimentos estéticos - meio pelo qual denunciam na cartografia do corpo a subversão de gênero – e desvelam publicamente para, a família, a escola, a religião, entre outras matrizes de sentidos, o que buscam ocultar. Todavia, o sofrimento da transexual não é aliviado com o processo de transvestir-se. Dessa perspectiva, ser homem ou mulher está no como a pessoa se autopercebe no decorrer do seu processo de subjetivação e identificação com os papeis e identidade de gênero – iniciados pelas e nas expectativas e idealizações de genitores juntamente com os processos de socialização, construção de códigos sociais, modelos sociais de masculinidades e feminilidades entre outras. O fenômeno travesti se expressa em homens cujo desejo sexual é atiçado por fantasias e pensamentos de ser uma mulher e não vivencia conflitos em relação ao seu sexo e identidade de gênero, é não almeja realizar cirurgia de adequação sexual. Seu lebenswelt/mundo vida é o trânsito que vivencia entre o masculino ao feminino. Situação análoga é vivida pelo transito entre o feminino ao masculino pela mulher. Esse trânsito de torna-se outro(a) pode ser permanente e ou ocasional. A vivencia ocasional ocorre pelo ato de portar um adereço e ou peças de vestimenta feminina. Esse trânsito fetichista é utilizado para entrar em cena feminina, e se transveste e assume seu personagem masculino ao sair da cena. Outros se identificam com a subcultura travéstica – em geral, são profissionais do sexo cujo trânsito é permanente. Desse ethos a travesti é, e não é, mulher. É, e não é, homem. Essa é a intrigante questão! Esse seu modo de ser, rompe com a binariedade masculino e feminino - Aprecia seu sexo, adereços e silhuetas femininas. Enfim, a travesti é esse trânsito... Nesse trânsito, ao imantar seu corpo de gestos, sinais a travesti cria outras formas de comunicação e expressão e transcende o uso de seu corpo – seu habitat – pela e na reciprocidade do desejo do outro, que se funde e legitima seu lebenswelt travesti. Na visão merleau-pontyana, é na intersubjetividade que compreendo e sou compreendido pelo outro. Afinal! É na relação com o outro que nos constituímos como sujeitos. Pertinente perceber – os órgãos genitais por si só não possibilitam a uma pessoa se sentir homem e/ou mulher. Recentes pesquisas de Vieira esclarecem que o conceito de sexo é complexo por abarcar componentes Português/Inglês/Espanhol Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(esp), set., 2013 Em relação a transexual e a travesti por ultrapassarem as fronteiras entre a simetria sexo e identidade de gênero, são identificadas como pertencente ao grupo “transgênero” que abarca: transexual, travesti, crossdresser, transformista, drag-queen,drag-king, andrógino, queer entre outros que não se identificam com os esperados papéis de gênero determinado ao nascer. Compreender esse modo de ser e de estar no mundo demanda a nós acessar nossa alteridade como abertura a compreender o outro em sua singularidade e especificidade. Acolher é não julgar. O acesso a produção de conhecimentos científicos, produzidos e socializados pelos variados meios de comunicação são caminhos que podem sempre nos auxiliar. O destaque recai na mídia e redes sociais que vem trazendo para o público varias matérias acerca do mundo vida de travestis, transexuais, prostitutas, homossexuais entre outros, provocando assim ora indignação de alguns, despertando curiosidade em outros e fomentando diálogo entre profissionais da saúde e da educação acerca de diferenças e semelhanças entre transexuais e travestis e de como acolhê-los. O importante é que a curiosidade pelo fenômeno trans paira nas conversas entre amigos, colegas de trabalho, isso sem falarmos da escola espaço responsável pelo processo de socialização das relações extrafamiliares e de intensa prática bullying, juntamente às unidades básicas de saúde precisam fomentar um dialogo esclarecer com a comunidade que clama por esclarecimento de dúvidas, curiosidades e respeito. Compreender a singularidade psico-afetivosexual do lebenswelt de transexuais e de travestis pode ser um estilo de vida a desencadear o rompimento de preconceitos, estigmas e bullying que aniquilam e aprisionam as crenças desumanizadas. DOI: 10.5205/01012007 DOI: 10.5205/010120 ISSN: 1981-8963 Bruns MAT. TRANSSEXUALITY IN THE INTERFACE WITH THE GENDER RELATIONSHIPS Over the past 60 years, the advancement of the sciences, the urbanization process of industrial centers, the mediatical advancement, the new family arrangements, the conquers of sexual minorities: homosexuals, transsexuals, transvestites, among other phenomena, coupled with the emphasis on individualism, and upon obtaining mediatical visibility, have softened the ethos of gender relationships in such a way to insert other approaches to the hegemony of the heteronormativity, whose resonances are present in and through symbolic exchanges with the other being, through which the contemporary subject comprises the subjectivation process. From this perspective, temporality, historicity and spatiality of the lebenswelt/living world of the contemporary subject are being transformed, regardless of affective and sexual orientation, the fact of being hetero, homo, trans, among other options, in a never seen way. Particularly, regarding the style in which affective and sexual relationships are being experienced. If on one hand, the subject cultivates the desire of reliability and possibility to bind itself to a steady relationship, on the other hand, the subject expresses distrust, awe, and fear of the possibility to bind itself. From this ambiguous perspective, longstanding loving bonds are perceived by the partnerships as a means of control and oppression for not meeting the unconcerned lebenswelt suitable of “liquid relationships”, which follow the pattern of the consumerist worldview that values novelty, variety, rapidity, in short, the turnover of things. The contemporary impetus is 'being transient', i.e., surrender itself to the impulse and not to the desire. The impulse does not threaten, does not prevent the subject from discarding a sexual partner to meet another one – a new impulse, a new affair – awakened by a fascinating appearance. In fact, appearances can stimulate fantasies. The fact of following the impulses rather than wishes, in the Bauman‟s viewpoint, is to leave the door wide open to the ethos of impersonal, flexible and transient relationships, which are present in family bonds as well as in loving relationships. The pathway of desire is winding, sometimes, requires care, concessions and prolonged waits – which delay satisfaction. Português/Inglês/Espanhol Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(esp), set., 2013 Sexualidade trans na interface com as... Thus, these conditions go against the nature of the impulse. Based on this scenario, I place the phenomenon of the transsexuality in the interface with the gender relationships with the purpose of encouraging ref2lections about horizons of possibilities of understanding the lebenswelt/living world of transsexuals and of transvestites, who, as subjects/collaborators, are composing the universe of researches developed by the Research Group 1 Sexualidadevida – USP / CNPq . This is a pertinent phenomenon that deserves attention from professionals working in fields like health, education, media, politics, religion, family, among the other sectors of society interested in understanding the living world of transvestites and transsexuals, in order to enlighten the cultural imaginary of our society – which has, for centuries, been populated by myths, taboos, stigmas and prejudices that feed the phobic and discriminatory attitudes from those that, for being unaware of the tricks of the diversities of the sexual desire, legitimizes the hegemonic place of the heteronormativity. The antidote to stiff postures is the access to the scientific knowledge. This perspective raises the following questions: Is transsexual man, or woman? What is this issue of genital surgery? Is transvestite a man or woman? Are transsexual and transvestite equals? These questions are really provocative! My desire is to answering them. By knowing, however, their complexity and the short space of an editorial, I suggest the reader to turn to specialized journals, theses and dissertations to broaden the understanding of the phenomenon of the transgenderism. Researches explain that the transsexual is not identified with his anatomical sex, neither with his silhouette. He identifies himself with the feminine universe and feels desire to resort to sex reassignment surgery and/or transgenitalization, which is the construction of a new vagina. A similar situation takes place with the female transsexual who does not identify herself with her anatomical sex, as well as the breasts, uterus, ovaries, in short, with the female physicality. She perceives and identifies herself with the male universe. Perceptions and feelings of weirdness are experienced during childhood, through the 2 Research Group Sexualidadevida-USP/CNPq, linked to the Post-Graduate Program in Psychology, Department of Psychology, Faculty of Philosophy, Science and Letters, University of São Paulo, Campus of Ribeirão Preto-SP. ISSN: 1981-8963 Bruns MAT. interest in garments, shoes – female ornaments by the little boy and inversely by the male universe, on the part of the little girl. It is a time in which the child is devoid of self-consciousness due to its stage of biological, psychological, social and emotional development; thus, the child is being submitted to the conditions of the lebenswelt of intra-family relationships often headed by homophobic parents who find it difficult to accept such children's jokes. It is noteworthy to clarify that children usually reverse the role of gender in their jokes during the temporality of the childhood. This variable itself is not able to explain the nuances of desires, regardless of male and/or female gender, and neither sexual nor affective orientation. In adolescence, in horizons of understanding the trans living world of boy, the use of feminine garments and ornaments to identify itself with the feminine gender and gender roles accentuates up and the male child perceives itself without attraction by the opposite gender. Not infrequently, in adolescence, homoaffective experiences happen, they do not identify themselves with the homoerotic desire. It is a moment in which they experience conflicts, anguishes, dilemmas and, even, depression (which can go until a suicidal act), for becoming aware of their dissonance in relation to sexual identity and gender roles. At this stage, it is also common the adolescent feels difficulty of touching and, even, of performing the hygiene of its genital organ. The certainty of belonging to the opposite sex drives the adolescent to seek the means available to harmonize its biological gender to its psychological gender. This exchange occurs both through the use of feminine clothes, make-ups and ornaments and through the act of submitting the body to the transformation process that takes place by the hormone therapy, which aims to develop the female characteristics – in other words – breast enlargement, testicular atrophy, removal of hairs and, finally, body fat redistribution. Moreover, he makes use of laser applications, silicone and/or botox injections, tattoos, which culminates in a surgery of sexual adequacy. DOI: 10.5205/01012007 DOI: 10.5205/010120 Sexualidade trans na interface com as... childhood, since she rejects her anatomical gender and identifies itself with the behavior of boys. At this stage, the conflict is intensified and she starts to reject her female physicality. Then, she is submitted to hormone therapy with sights to develop the male characteristics – beard, tone of voice and masculine silhouette. Psychological therapy is needed to enable the self-knowledge of his/her trans living world and, consequently, self-welcome his/her being. Here, I can reflect about the place of the professional, just like a beacon to light the opening of other senses in trans mode of existing. The multidisciplinary clinic is needed - composed of experts to know the trans living world – which calls for acceptance, welcoming and enlightenment for eventual decision-makings regarding the execution of the transgenitalization surgery, which involves the construction of a new vagina, in order to adjust his biological gender to the psychic gender, or for, in case of the female gender, being submitted to the surgeries of mastectomy (removal of breast) and hysterectomy (removal of uterus), in order to harmonize itself with her trans desire. It is noteworthy to clarify that the transsexual physicality is resembled with transvestite physicality, and it is also due to presence of tattoos, piercings, applications of botox and silicones, plastic surgery and permanent removal of hairs, among other cosmetic procedures – means by which they denounce the gender subversion in the body cartography – and publicly unveil to family, school, religion, among other matrices of senses, what they pursuit to hide. Nonetheless, the suffering of the transsexual is not relieved with the transsexualization process. This is the pathway covered by the transsexual, as he prefers to be identified, in order to adjust his body to the feminine silhouette, who always meet the market trends. The phenomenon of being a transvestite is expressed in men whose sexual desire is triggered by fantasies and thoughts of being a woman, but do not experience conflicts in relation to their anatomical sex and gender identity; hence, they do not aspire to perform surgery of sexual adequacy. Thus, their lebenswelt/living world is the exchange that is experienced between the masculine and feminine trends. An analogous situation is experienced by the exchange between the feminine and the masculine on the part of the woman. This feeling of turning itself in to another person can be permanent or occasional. An analogous situation happens with the female adolescent in conflict during The occasional experience takes place by the act of dressing an ornament and/or a Português/Inglês/Espanhol Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(esp), set., 2013 ISSN: 1981-8963 Bruns MAT. piece of feminine garment. This fetishistic exchange is used to enter female scene, but, subsequently, he uncover itself and assumes his male character upon exiting the scene. Others identify themselves with the transvestiting subculture – in general – they are sex workers, whose exchange is permanent. From this ethos, transvestite is, and is not, a woman. He is, and is not, a man. This is the intriguing question! His way of being, breaks with the binarity masculine and feminine – enjoys his feminized sex, as well as feminine ornaments and silhouettes. Anyway, the transvestite is this exchange... In this exchange, when highlights his body with gestures and signals, the transvestite creates other forms of communication and expression and transcends the use of his body – habitat – by and through the reciprocity of the desire of the other, which mixes itself and legitimizes its transvestite lebenswelt. In the MerleauPonty‟s viewpoint, intersubjectivity makes us to understand the other people and inversely. After all! The relationship with each other makes us to acquire a constitution as subjects. It is noteworthy to realize that genital organs, alone, do not enable a person to feel like a man and/or a woman. Recent researches of Vieira emphasize that the concept of gender is complex for encompassing genetic, chromatinical, gonadal, anatomical, hormonal, social, juridical and psychological components. From this perspective, being a man or a woman is in the way in which the person selfrealizes itself during the subjectivation and identification process with the gender roles and identity – initiated by the expectations and idealizations of parents along with socialization processes, construction of social codes, social models of masculinities and femininities, among others. Regarding the transsexual and the transvestite, due to exceeding the boundaries between sexual symmetry and gender identity, they are identified as belonging to the “transgender” group, which encompasses: transsexual, transvestite, cross-dresser, transformist, drag queen, drag king, androgynous, queer, among others who do not identify themselves with the gender roles hoped after their births. The comprehension of this way of being and living in the world require us to access our otherness as an openness to understand the other being in its uniqueness and Português/Inglês/Espanhol Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(esp), set., 2013 DOI: 10.5205/01012007 DOI: 10.5205/010120 Sexualidade trans na interface com as... specificity. Accordingly, to host is not to judge. The access to the production of scientific knowledge, produced and socialized by varied means of communication are ways that always can help us. The highlight lies in the media and social networks that have brought several issues to the public about the living world of transvestites, transsexuals, prostitutes, homosexuals, among other groups, thereby provoking, occasionally, indignation of some people, but arousing curiosity in others, which fosters dialogue between health and education professionals about the differences and similarities between transsexuals and transvestites and the way of welcoming them. The important thing is that the curiosity towards the trans phenomenon surrounds the conversations between friends and coworkers, besides the school, which is a space responsible for the socialization process of extra-family relationships and intense practice of bullying. Together with basic health units, schools need to foster a dialogue to clarify the community that calls for the clarification of doubts and curiosities, and needs to cultivate respect for differences. The fact of understanding the psychological, affective and sexual uniqueness of the lebenswelt of transsexuals and of transvestites can be a lifestyle to trigger the disruption of prejudices, stigmas and bullying cases that maintain and preserve the dehumanized beliefs. TRANSEXUALIDAD EN LA INTERFAZ CON LAS RELACIONES DE GÉNERO En los últimos 60 años, el avance de las ciencias, el proceso de urbanización de los centros industriales, el avance los medios de comunicación, nuevos arreglos familiares, la conquista de las minorías sexuales: homosexuales, transexuales, travestis, entre otros fenómenos, junto con el énfasis en el individualismo, y la visibilidad de los medios de comunicación, facilitó el ethos de la relación de género, de tal manera de registrar otras miradas a la hegemonía de la heteronormatividad, cuyas resonancias están presentes en y por los cambios simbólicos entre sí, por medio de las cuales el sujeto contemporáneo constituí su proceso de subjetivación. Desde esta perspectiva, la temporalidad, la historicidad y la espacialidad de lebenswelt/mundo de la vida del sujeto contemporáneo está transformándose independiente de la orientación Afectivo- ISSN: 1981-8963 Bruns MAT. Sexual, el hecho de ser hetero, homo, trans y otras por lo que nunca se vio. En particular, el estilo de cómo se están experimentando las relaciones sexuales afectivas. Si por un lado el sujeto cultiva el deseo de la confianza y la capacidad de unirse a una relación estable, por el otro, el sujeto expresa la desconfianza, el temor y el miedo de la posibilidad de vincularse. Desde esta perspectiva ambigua los vínculos amorosos duraderos son percibidos por las aparcerías como un medio de control y opresión por no atender al Lebenswelt algo propio de las “relaciones líquidas”, que siguen el patrón de la lógica consumista que valora la novedad, la variedad, la velocidad, en última instancia, la rotación. El impulso contemporáneo es „ser transitorio‟ rendirse al impulso y no al deseo. El impulso no amenaza, no impide que el sujeto descarte de un(a) compañero(a) sexual para tener experiencia con otro(a) - un nuevo impulso, una nueva compañía sexual despertada por un embalaje fascinante. Los embalajes despiertan las fantasías. Seguir los impulsos en vez de los deseos según Bauman es dejarse las puertas abiertas al ethos de las relaciones impersonales, flexibles y de transición, presentes en los lazos familiares como en las relaciones amorosas. El camino del deseo es sinuoso, a veces, requiere cuidados, concesiones y prolongadas esperas – que retardan la satisfacción. Son condiciones que van a encuentro de la naturaleza del impulso. Partiendo de éste escenario, sitúo el fenómeno de la transexualidad en la interfaz con las relaciones de género con la intención de provocar la reflexión sobre los horizontes de posibilidades de entender el lebenswelt/mundo vida de transexuales y de travestis, que, como sujetos/colaboradores, están componiendo el universo de la investigación desarrollada por el Grupo de Investigación Sexualidadvida-USP/CNPq3. Por tratarse de un fenómeno pertinente que merece la atención de los profesionales que trabajan en la salud, educación, medios de comunicación, política, religión, familia, entre los demás sectores de la sociedad interesados en la comprensión del mundo de la vida de travestis y transexuales para iluminar el imaginario cultural de nuestra sociedad - que ha estado poblada durante 3 Grupo de investigación Sexualidadvida-USP/CNPq, vinculado al Programa de Posgrado en Psicología, del Departamento de Psicología de la Facultad de Filosofía, Ciencias y Letras de la Universidade de São Paulo, en el campus de Ribeirão Preto-SP. Português/Inglês/Espanhol Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(esp), set., 2013 DOI: 10.5205/01012007 DOI: 10.5205/010120 Sexualidade trans na interface com as... siglos por los mitos, tabúes, estigmas y prejuicios que retroalimentan las actitudes fóbicas y discriminatoria por aquellos que desconocen de las artimañas de la diversidad del deseo sexual legitima el lugar hegemónico de la heteronormatividad. El antídoto a las posturas rígidas es el acceso al conocimiento científico. Es desde esta perspectiva que surge la pregunta: ¿Transexual es hombre o mujer? ¿Qué es la cirugía de los genitales? ¿Travesti es un hombre o una mujer? ¿Transexual y travesti son iguales? ¡Estas preguntas son provocativas! Contestarlas es mi deseo. Conociendo, sin embargo, la complejidad de las mismas y el corto espacio de un editorial sugiero al lector recurrir a revistas especializadas, tesis y disertaciones para ampliar la comprensión del fenómeno transgénico. Encuestas explican que el transexual no se identifica con su sexo anatómico, ni con su silueta. Se identifica con el universo femenino y siente el deseo de recurrir a la cirugía de reasignación de sexo o la transgenitalización, lo que consiste en la construcción de una neovagina. Una situación similar ocurre con la transexual que no se identifica con su sexo anatómico, así como las mamas, el útero, los ovarios, finalmente, con la corporalidad femenina. Se percibe y se identifica con el universo masculino. Percepciones y sensaciones extrañas ocurren en la infancia, el interés por la ropa, zapatos - accesorios femeninos para el niño y viceversa para el universo masculino de la niña. Tiempo en que el niño carece de la conciencia de sí, debido su estado de desarrollo biopsicosocioemocional; estando, así, sujeta a las condiciones de lebenswelt de las relaciones intrafamiliares protagonizadas a menudo por los padres homofóbicos que tienen dificultades para aceptar eses juegos de los niños. Es importante aclarar que en la temporalidad de la infancia es común que los niños inviertan el rol de género en sus juegos. Esta variable en sí no tiene como explicar los matices de deseo independiente del sexo masculino y/o femenino y tampoco la orientación sexual afectiva. En la adolescencia los horizontes de la comprensión del mundo vida trans de niño, como: el uso de trajes y accesorios femeninos para identificarse con el género femenino y los roles de género se acentúan. Con eso, el niño darse cuenta que no tiene ninguna atracción por el sexo opuesto. No es raro suceder las experiencias homoafetivas en la ISSN: 1981-8963 Bruns MAT. adolescencia, pero muchos no se identifican con el deseo homoerótico. La adolescencia es un momento que experimentan conflictos, ansiedades, dilemas, depresión (el deseo de suicidio surge) porque se dan cuenta en desacuerdo con su identidad sexual y con los roles de género. En esta fase es común el adolescente sentir dificultad de tocarse e incluso realizar la higiene de sus genitales. La certeza de pertenecer al sexo opuesto encamina el adolescente a buscar los medios disponibles para armonizar su sexo biológico al sexo psíquico. Este cambio ocurre tanto a través de la utilización de las ropas, los maquillajes y los accesorios, como el acto de someter el cuerpo al proceso de transformación que ocurre por hormonoterapia que tiene como objetivo desarrollar características femeninas - es decir, - ampliación de las mamas, atrofiar los testículos e involución de la pilosidad y la redistribución de la grasa corporal. Hace uso también de aplicaciones de láser, inyecciones de silicona y/o botox, tatuajes, que termina con la cirugía de adecuación sexual. Este es el camino tomado por el transexual como prefiere ser identificado con el fin de ajustar su cuerpo a la silueta femenina, que responde a las novas tendencias del mercado. Situación similar ocurre con la adolescente en conflicto durante la infancia, rechaza a su sexo anatómico y se identifica con el comportamiento de los niños. En esta etapa, el conflicto se intensifica y ella empieza a rechazar su corporeidad femenina. Someterse a la hormoterapia con el fin de desarrollar las características masculinas – la barba, el tono de voz y la silueta masculina. La terapia psicológica es necesaria para permitir el autoconocimiento de su mundo vida trans y auto acogerse. Aquí sitúo el lugar del profesional como un faro para iluminar la apertura de otros sentidos al modo trans de existir. La clínica multidisciplinaria es necesaria - compuesto por profesionales expertos en el mundo vida trans - que clama por la aceptación, el acogimiento y el esclarecimiento para posibles decisiones relativas a la ejecución de la cirugía de transgenitalización, que consiste en la construcción de una neovagina con el fin de ajustar su sexo biológico al psíquico, así como para la mujer hacer las cirugías de mastectomía (extirpación del seno) y la histerectomía (extirpación del útero) con el fin de armonizarse con su deseo de trans. Es importante situar que la corporeidad transexual se asemeja a del travesti por el registro también de tatuajes, piercings, y Português/Inglês/Espanhol Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(esp), set., 2013 DOI: 10.5205/01012007 DOI: 10.5205/010120 Sexualidade trans na interface com as... aplicaciones de botox de siliconas, cirugía plástica, depilación permanente y otros procedimientos cosméticos – por medio del cual muestran la cartografía del cuerpo a la subversión de género - y desvelan públicamente a la familia, escuela, religión, entre otras matrices de sentidos, que tratan de ocultar. Sin embargo, el sufrimiento del transexual no se alivia con el proceso de transvestirse. El fenómeno travesti se expresa en los hombres cuyo deseo sexual es alimentado por fantasías y pensamientos de ser mujer y no por la vivencia de conflictos en relación a su sexo e identidad de género, que no aspira a realizar cirugía de adecuación sexual. Su lebenswelt/mundo vida es la transformación que ocurre del masculino para el femenino. Una situación similar es vivida por las mujeres que cambian el femenino por el masculino. Estos cambios de convertirse en otro(a) puede ser permanente u ocasional. La vivencia ocasional ocurre por el hecho de llevar un accesorio o pieza de ropa femenina. Este cambio fetichista es utilizado para entrar en una escena femenina, después se transveste regresando su personaje masculino al salir de la escena. Otros se identifican con la subcultura travéstica - en general, son las profesionales del sexo, cuyo cambio es permanente. En este ethos el travesti es o no mujer. Es o no hombre. ¡Esta es la pregunta intrigante! Esta su manera de ser, rompe con la binaridad masculino y femenino, pues utiliza los accesorios y las siluetas femeninas. Por lo tanto, el travesti es un cambio… En este cambio, al magnetizar sus gestos corporales, señales, el travesti crea otras formas de comunicación y expresión y trasciende el uso de su cuerpo - su hábitat - y por la reciprocidad del deseo del otro, que surge y legitima su lebenswelt travesti. Según Merleau-Ponty, es por medio de la intersubjetividad que comprendo y soy comprendido por el otro. ¡Por fin! Es en relación con el otro que nos constituimos como sujetos. Es importante percibir - los órganos genitales por sí solo no posibilitan a una persona a sentirse hombre y/o mujer. Investigaciones recientes de Vieira aclaran que el concepto de género es complejo, por tener componentes genéticos, cromatínico, gonádico, anatómico, hormonal, social, jurídico y psicológico. DOI: 10.5205/01012007 DOI: 10.5205/010120 ISSN: 1981-8963 Bruns MAT. Sexualidade trans na interface com as... En esta perspectiva, ser hombre o mujer está en la manera como la persona se autopercibe durante el proceso de subjetivación e identificación con los roles e identidades de género - iniciados por las expectativas e idealizaciones de los padres, junto con los procesos de socialización, construcción de códigos sociales, modelos sociales de la masculinidad y la feminidad, entre otros. El transexual y el travesti por exceder los límites entre la simetría sexo e identidad de género, son identificados por el género y pertenecientes al grupo "transgénero" que compone: transexual, travesti, cross-dresser, transformista, drag-queen, drag-king, andrógino, entre otros que no se identifican con los esperados roles de género determinado al nacer. La comprensión de esta manera de ser y de vivir en el mundo exige que tengamos que acceder nuestra alteridad como apertura a comprender a los demás en su singularidad y especificidad. Acoger no es juzgar. El acceso a la producción de conocimientos científicos, producidos y socializados por diversos medios de comunicación son siempre caminos que pueden ayudarnos. El punto culminante se encuentra en los medios de comunicación y en las redes sociales que han traído al público varios reportajes acerca del mundo vida de los travestis, transexuales, prostitutas, homosexuales, entre otros. Lo que causa cierta indignación de algunos, despertando la curiosidad en otros y fomentando el diálogo entre los profesionales de la salud y educación acerca de las diferencias y similitudes entre los transexuales y travestis y de modo como los acogemos. Lo importante es que la curiosidad por el fenómeno trans esté en las conversaciones entre amigos y compañeros de trabajo, no podemos, también, olvidar de la escuela, espacio responsable por el proceso de socialización de la relaciones extrafamiliares y de intensa práctica de bullying. Juntamente con las unidades básicas de salud, las escuelas deben promover un diálogo para aclarar con la comunidad que requiere de aclaración de dudas, curiosidades y necesita cultivar el respeto. Comprender la singularidad psicoafectivo-sexual de Lebenswelt de transexuales y de travestis puede ser un estilo de vida para desencadenar el rompimiento de prejuicio, estigmas y bullying que mantienen y aprisionan las creencias deshumanizadas. Português/Inglês/Espanhol Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(esp), set., 2013 Correspondência Maria Alves de Toledo Bruns Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras / USP / Ribeirão Preto Av. Bandeirantes - 3900 - bloco 5 / Monte Alegre CEP: 14040-901 Ribeirão Preto (SP), Brazil