RN 16 03 - Revista Neurociências
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RN 16 03 - Revista Neurociências
Neurociências Revista ISSN 0104-3579 Volume 16 Número 3 2008 Artigos Avaliação da funcionalidade de indivíduos acometidos por Acidente Vascular Encefálico Análise da pressão plantar em pacientes com acidente vascular encefálico Lombalgia crônica sem ciatalgia: correlação entre o quadro clínico e a radiologia Perfil clínico de pacientes com doença do neurônio motor no ambulatório da Unifesp Severity and Functional Ability Scale for Amyotrophic Lateral Sclerosis patients: preliminary results Estudo epidemiológico da Fisioterapia Aquática do Hospital Israelita Albert Einstein Treino prévio reduz o tempo de execução de tarefas visuo-espaciais em ambiente virtual Síndrome da Mão Alienigena após infarto no território da artéria cerebral posterior Estudos clínicos, imunopatológicos e eletrofisiológicos dos nervos periféricos na hanseníase Síndrome da Apnéia-Hipopnéia Obstrutiva do Sono e Doença Cerebrovascular Câimbra do Escrivão: perspectivas terapêuticas Reabilitação física na Paraparesia Espástica por deficiência de vitamina B12: relato de caso www.revistaneurociencias.com.br UNITER-SONO Distúrbios de Sono em Crianças, Adolescentes e Adultos Neurologia e Psicologia Equipe Clínica: Dr. Gilmar Fernandes do Prado; Dra. Lucila B.F. Prado; Dr. Luis Fabiano Marin; Dr. William A.C. Santos; Dra. Luciane B. Coin de Carvalho; Dr. Afonso Carlos Neves; Dr. João Eduardo C. Carvalho Rua Cláudio Rossi, 394. São Paulo-SP. Fone/Fax: (11) 5081.6629 E-mail: [email protected] Neuro-Sono Setor da Disciplina de Neurologia da Unifesp Laboratório de Sono Hospital São Paulo Distúrbios de sono em crianças, adolescentes e adultos Coordenador: Prof. Dr. Gilmar Fernandes do Prado Equipe interdisciplinar: neurologia, pediatria, otorrinolaringologia, cardiologia, neuropediatria, odontologia, psicologia, fonoaudiologia, nutrição, fisioterapia, educação física, terapia ocupacional. Rua Napoleão de Barros, 737. São Paulo-SP. Fone: (11) 3487.9532 E-mail: [email protected] Policlínica AMEGE Assistência Médica Geral Medicina do Sono: Dr. Cesar O. de Oliveira, Dr. Edilson Zancanella Rua dos Pintassilgos, 75. Vinhedo/SP, tel. (19) 3876-6465 OTOS – Centro Diagnóstico em Otorrinolaringologia Rua Tuiuti, 521. Indaiatuba/SP, tel. 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Indexada no Latindex — Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Cientificas de América Latina, el Caribe, España y Portugal. www.latindex.org Citação: Rev Neurocienc Rev Neurocienc 2008;16/3 168 Data de efetiva circulação deste número / Actual date of circulation of the present number Setembro de 2008 Publicações da Revista Neurociências 1993, 1: 1 e 2 1994, 2: 1, 2 e 3 1995, 3: 1, 2 e 3 1996, 4: 1, 2 e 3 1997, 5: 1, 2 e 3 1998, 6: 1, 2 e 3 1999, 7: 1, 2 e 3 2000, 8: 1, 2 e 3 2001, 9: 1, 2 e 3 2002, 10: 1, 2 e 3 2003, 11: 1 2004, 12: 1, 2 , 3 e 4 2005, 13: 1, 2, 3, 4 e suplemento (versão eletrônica exclusiva) 2006, 14: 1, 2, 3, 4 e suplemento (versão eletrônica exclusiva) 2007, 15: 1, 2, 3 e 4 2008, 16: 1, 2, 3 - Revista Neurociências — vol 16, n.3 (2008) — São Paulo: Grámmata Publicações e Edições Ltda, 2004– Quadrimestral até 2003. Trimestral a partir de 2004. ISSN 0104–3579 1. Neurociências; 169 Rev Neurocienc 2008;16/3 Editores Fundadores / Founder Editors José Geraldo de Carmargo Lima, MD, PhD, Unifesp, SP Editores Científicos / Scientific Editors 1993-1995: José Geraldo de Camargo Lima, MD, PhD, Unifesp, SP. 1996-1997: Luiz Augusto Franco de Andrade, MD, PhD, Unifesp, SP e Dr. Eliova Zukerman, MD, PhD, Unifesp, SP 1998-2003: José Osmar Cardeal, MD, PhD, Unifesp, SP 2004- : Gilmar Fernandes do Prado, MD, PhD, Unifesp, SP Assinaturas / Subscription Revista trimestral, assinatura anual. Preços e informações disponíveis em http://www.revistaneurociencias.com.br Fone/fax: (11) 3487-9532 Versão online dos artigos completos / Version of the complete articles http://www.revistaneurociencias.com.br Correspondências / Letters Todas as correspondências devem ser encaminhadas ao Editor Chefe da Revista Neurociências A/C Gilmar Fernandes do Prado – Rua Claudio Rossi 394, Jd. da Glória, São Paulo-SP, CEP 01547-000. 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Publica artigos de interesse científico e tecnológico, voltada à Neurologia e às ciências afins, realizados por profissionais dessas áreas, resultantes de estudos clínicos ou com ênfase em temas de cunho prático, específicos ou interdisciplinares. Todos os artigos são revisados por pares (peer review) e pelo Corpo Editorial. Os artigos aprovados são publicados na versão impressa em papel e na versão eletrônica. A linha editorial da revista publica preferencialmente artigos de pesquisas originais (inclusive Revisões Sistemáticas), mas também são aceitos para publicação artigos de Revisão de Literatura, Atualização, Relato de Caso, Resenha, Ensaio, Texto de Opinião e Carta ao Editor, desde que aprovado pelo Corpo Editorial. Trabalhos apresentados em Congressos ou Reuniões Científicas de áreas afins poderão constituir-se de anais em números ou suplementos especiais da Revista Neurociências. Rev Neurocienc 2008;16/3 170 Editor Chefe / Editor in Chief Gilmar F Prado, MD, PhD, Unifesp, SP Editora Executiva / Executive Editor Luciane BC Carvalho, PhD, Unifesp, SP Editor Administrativo / Manager Editor Marco AC Machado, SSD, PhD, Unifesp, SP Co-Editor / Co-Editor José O Cardeal, MD, PhD, Unifesp, SP Editores Associados / Associate Editors Alberto A Gabbai, MD, PhD, Unifesp, SP Esper A Cavalheiro, MD, PhD, Unifesp, SP Sergio Cavalheiro, MD, PhD, Unifesp, SP Corpo Editorial / Editorial Board Desordens do Movimento / Movement Disorders Henrique B Ferraz, MD, PhD, Unifesp, SP Francisco Cardoso, MD, PhD, UFMG, MG Sônia MCA Silva, MD, PhD, HSPE, SP Egberto R Barbosa, MD, PhD, FMUSP, SP Maria SG Rocha, MD, PhD, CSSM, SP Vanderci Borges, MD, PhD, Unifesp, SP Roberto CP Prado, MD, PhD, UFC-CE/ UFS-SE Epilepsia / Epilepsy Elza MT Yacubian, MD, PhD, Unifesp, SP Américo C Sakamoto, MD, PhD, Unifesp, SP Carlos JR Campos, MD, PhD, Unifesp, SP Luiz OSF Caboclo, MD, PhD, Unifesp, SP Alexandre V Silva, MD, PhD, Unifesp, SP Margareth R Priel, MD, PhD, CUSC, Unifesp, SP Henrique Carrete Jr, MD, PhD, IAMSP, SP Neurofisilogia / Neurophysiology João AM Nóbrega, MD, PhD, Unifesp, SP Nádia IO Braga, MD, PhD, Unifesp, SP José F Leopoldino, MD, UFS, SE José MG Yacozzill, MD, USP Ribeirão Preto, SP Francisco JC Luccas, MD, HSC, SP Gilberto M Manzano, MD, PhD, Unifesp, SP Carmelinda C Campos, MD, PhD, Unifesp, SP Reabilitação / Rehabilitation Sissy V Fontes, PhD, UMESP, SP Jefferson R Cardoso, PhD, UFPR, PR Márcia CB Cunha, PhD, UNIB, SP Ana LML Chiappetta, PhD, Unifesp, SP Carla G Matas, PhD, USP, SP Fátima A Shelton, MD, PhD, UOCH, USA Luci F Teixeira-Salmela, PhD, UFMG, MG Fátima VRP Goulart, PhD, UFMG, MG Patricia Driusso, PhD, UFSCar, SP Distúrbios do Sono / Sleep Disorders Lucila BF Prado, MD, PhD, Unifesp, SP Maria Ligia Juliano, SSD, Unifesp, SP Flávio Aloe, MD, USP, SP Stela Tavares, MD, HIAE, SP Dalva Poyares MD, PhD, Unifesp, SP Ademir B Silva, MD, PhD, Unifesp, SP Alice H Masuko, MD, Unifesp, SP Maria Carmen Viana, MD, PhD, EMESCAM, ES Virna G Teixeira, MD, PhD, FMUSP, SP Geraldo Rizzo, MD, HMV, RS Rosana C Alves, MD, PhD, USP, SP Robert Skomro, MD, FRPC, Canadá Sílvio Francisco, MD, Unifesp, SP Doenças Cerebrovasculares / Cerebrovascular Disease Ayrton Massaro, MD, PhD, Unifesp, SP Aroldo Bacelar, MD, PhD, UFBA, BA Alexandre Longo, MD, PhD, UNIVILLE, SC Carla HC Moro, MD, PhD, UNIVILLE, SC Cesar Raffin, MD, PhD, UNESP, SP Charles Andre, MD, PhD, UFRJ, RJ Gabriel Freitas, MD, PhD, UFRJ, RJ Jamary Oliveira Filho, MD, PhD, UFBA, BA Jefferson G Fernandes, MD, PhD, RS Jorge AK Noujain, MD, PhD, RJ Márcia M Fukujima, MD, PhD, Unifesp, SP Mauricio Friedrish, MD, PhD, RS Rubens J Gagliardi, MD, PhD, SP Soraia RC Fabio, MD, PhD, USP Ribeirão Preto, SP Viviane HF Zétola, MD, PhD, UFPR, PR Oncologia / Oncology Suzana MF Mallheiros, MD, PhD, Unifesp, SP Carlos Carlotti Jr, MD, PhD, FMUSP, SP Fernando AP Ferraz, MD, PhD, Unifesp, SP Guilherme C Ribas, MD, PhD, Unicamp, SP João N Stavale, MD, PhD, Unifesp, SP Beatriz H Kyomoto, MD, PhD, Unifesp, SP Célia H Tengan, MD, PhD, Unifesp, SP Maria JS Fernandes, PhD, Unifesp, SP Mariz Vainzof, PhD, USP, SP Iscia L Cendes, PhD, Unicamp, SP Débora A Scerni, PhD, Unifesp, SP João P Leite, MD, PhD, USP Ribeirão Preto, SP Luiz EAM Mello, MD, PhD, Unifesp, SP Líquidos Cerebroespinhal / Cerebrospinal Fluid João B Reis Filho, MD, PhD, FMUSP, SP Leopoldo A Pires, MD, PhD, UFJF, MG Sandro LA Matas, MD, PhD, UNIBAN, SP José EP Silva, PhD, UF Santa Maria, RS Ana Maria Souza, PhD, USP Ribeirão Preto, SP Neurologia do Comportamento / Behavioral Neurology Paulo HF Bertolucci, MD, PhD, Unifesp, SP Ivan Okamoto, MD, PhD, Unifesp, SP Thais Minetti, MD, PhD, Unifesp, SP Rodrigo Schultz, MD, PhD, UNISA, SP Sônia D Brucki, MD, PhD, FMUSP, SP Neurocirurgia / Neurosurgery Mirto N Prandini, MD, PhD, Unifesp, SP Antonio PF Bonatelli, MD, PhD, Unifesp, SP Oswaldo I Tella Júnior, MD, PhD, Unifesp, SP Orestes P Lanzoni, MD, Unifesp, SP Ítalo C Suriano, MD, Unifesp, SP Samuel T Zymberg, MD, Unifesp, SP Neuroimunologia / Neuroimmunology Enedina M Lobato, MD, PhD, Unifesp, SP Nilton A Souza, MD, Unifesp, SP Dor, Cefaléia e Funções Autonômicas / Pain, Headache, and Autonomic Function Deusvenir S Carvalho, MD, PhD, Unifesp, SP Angelo AV Paola, MD, PhD, Unifesp, SP Fátima D Cintra, MD, Unifesp, SP Paulo H Monzillo, MD, HSCM, SP José C Marino, MD, Unifesp, SP Marcelo K Hisatugo, MD, Unifesp, SP Doenças Neuromusculares / Neuromuscular disease Acary SB Oliveira, MD, PhD, Unifesp, SP Edimar Zanoteli, MD, PhD, Unifesp, SP Helga CA Silva, MD, PhD, Unifesp, SP Leandro C Calia, MD, PhD, Unifesp, SP Luciana S Moura, MD, PhD, Unifesp, SP Interdisciplinaridade e História da Neurociência / Interdisciplinarity and History of Neuroscience Afonso C Neves, MD, PhD, Unifesp, SP João EC Carvalho, PhD, UNIP, SP Flávio RB Marques, MD, INCOR, SP Vinícius F Blum, MD, Unifesp, SP Rubens Baptista Jr, MD, UNICAMP, SP Márcia RB Silva, PhD, Unifesp, SP Eleida P Camargo, FOC, SP Dante MC Gallian, PhD, Unifesp, SP Laboratório e Neurociência Básica / Laboratory and Basic Neuroscience Maria GN Mazzacoratti, PhD, Unifesp, SP Neuropediatria / Neuropediatrics Luiz CP Vilanova, MD, PhD, Unifesp, SP Marcelo Gomes, SP Os pontos de vista, as visões e as opiniões políticas aqui emitidas, tanto pelos autores quanto pelos anunciantes, são de responsabilidade única e exclusiva de seus proponentes. 171 Rev Neurocienc 2008;16/3 índice Revista Neurociências 2008 volume 16, número 3 editoriais Lombalgia crônica sem ciatalgia: correlação entre o quadro clínico e a radiologia Nestor C Truite Jr Severity and functional ability scale for amyotrophic lateral sclerosis patients: preliminar results Edmar Zanoteli 173 174 originais Avaliação da funcionalidade de indivíduos acometidos por Acidente Vascular Encefálico Janaíne Cunha Polese, Aline Tonial, Fabíola Kotz Jung, Rafael Mazuco, Sheila Gemelli de Oliveira, Rodrigo Costa Schuster Análise da pressão plantar em pacientes com acidente vascular encefálico Foot pressure measurements in stroke patients Rodrigo Costa Schuster, Karine Zadra, Mathias Luciano, Janaine Cunha Polese, Daiane Mazzola, Igor Sander, Gilnei Lopes Pimentel Lombalgia crônica sem ciatalgia: correlação entre o quadro clínico e a radiologia Chronic back pain without sciatica: correlation between clinical evaluation and radiological abnormalities Adolfo Vasconcelos de Albuquerque Perfil clínico de pacientes com doença do neurônio motor no ambulatório da Unifesp Clinical features of motor neuron disease patients treated at Unifesp outpatient’s clinic Denise Chiconelli Faria, Francis Meire Fávero, Sissy Veloso Fontes, Abrahão Augusto Juviniano Quadros, Acary Souza Bulle Oliveira Severity and Functional Ability Scale for Amyotrophic Lateral Sclerosis patients: preliminary results Escala de Gravidade e Habilidade Funcional para pacientes com Esclerose Lateral Amiotrófica: Resultados Preliminares Marco Orsini, Marcos RG de Freitas, Osvaldo JM Nascimento, Mariana P de Mello, Clayton A Domingues, José Mauro B Lima, Marli Pernes, Cláudio H Gress, Acary SB Oliveira, Carlos Henrique M Reis, Wandilson Júnior, Giseli Quintanilha, Eduardo B Cavalcanti, Luciane BC de Carvalho Estudo epidemiológico da Fisioterapia Aquática do Hospital Israelita Albert Einstein Epidemiological study of the Aquatic Physical Therapy at Hospital Israelita Albert Einstein Fabio Jakaitis, Andréa Sanchez Navarro Pegoraro, Silvia Gusman, Carolina Vilela Abrantes, Daniel Gonçalves dos Santos, Daniela Nascimbem Treino prévio reduz o tempo de execução de tarefas visuo-espaciais em ambiente virtual Previous training reduces the execution time of visuo-spacial tasks in virtual environment Adriano Conrado Rodrigues, Carla da Silva Santana, Roberta de Medeiros, Sandra Regina Alouche 175 179 184 189 194 204 209 revisões Síndrome da Mão Alienigena após infarto no território da artéria cerebral posterior Alien Hand Syndrome in posterior cerebral artery territory stroke Carlos Américo Pereira Viana, Lílian Tiema Sonoda, Patrícia Shoga Abreu, Suzana Valente, Luiz Felipe Giacomelli, Márcia Abranches Estudos clínicos, imunopatológicos e eletrofisiológicos dos nervos periféricos na hanseníase Clinical, imunopathological, and electrophysiological studies of peripheral nerves in Hansen’s disease Marco Orsini, Marcos RG de Freitas, Reny de S Antonioli, Mariana P de Mello, Jhon PB Reis, Carlos HM Reis, Júlio Guilherme Silva, Raimundo W de Carvalho, Osvaldo JM Nascimento, Ronald R Guimarães Síndrome da Apnéia-Hipopnéia Obstrutiva do Sono e Doença Cerebrovascular Obstructive Sleep Apnea Syndrome and Cerebrovascular Diseases Carlos Maurício Oliveira de Almeida, Dalva Poyares, Sérgio Tufik Câimbra do Escrivão: perspectivas terapêuticas Writer’s cramp: therapeutics perspectives Flavia Quadros Boisson Waissman, João Santos Pereira 215 220 231 237 relato de caso Reabilitação física na Paraparesia Espástica por deficiência de vitamina B12: relato de caso Physical rehabilitation in Spastic Paraparesis by Vitamin B12 Deficiency: Case Report Marco Orsini, Mariana Pimentel de Mello, Jhon Peter Botelho Reis, Carlos Henrique Melo Reis, Marcos RG de Freitas, Osvaldo JM Nascimento Rev Neurocienc 2008;16/3 242 172 editorial Lombalgia crônica sem ciatalgia: correlação entre o quadro clínico e a radiologia Recebi com muito interesse o artigo do Dr. Adolfo Vasconcelos de Albuquerque referente ao trabalho realizado no Centro Médico Agnaldo Machado, de Maceió, abordando o diagnóstico da lombalgia crônica sem ciatalgia, que tem grande prevalência e é causa freqüente de incapacitação1. A prática da correlação do exame neurológico com o resultado do exame por imagem pode melhorar a difícil abordagem diagnóstica e terapêutica dessa patologia de grande prevalência, que é causa freqüente de incapacitação. Em se considerando que a neurociência está entre as tecnologias mais promissoras, e quando se advoga que sistemas ultramodernos de pesquisa e tecnologia digital são mal aproveitados na medicina, é tempo de fundamentarmos nosso raciocínio em princípios clínicos ou não suportaremos o custo de nossa profissão. É difícil sermos procurados por um paciente portador de lombalgia há mais de 4 meses que não tenha já um, digamos muito importante, exame de imagem da coluna. E somos pressionados a pedi-lo cada vez mais precocemente. O diagnóstico da lombalgia possibilita estratégias de tratamento ótimas, procurando rapidez e eficácia para diminuir o sofrimento e o custo, que aumenta com a cronificação do processo, com o aparecimento da Dor doença, que se mantém além do mal que a causou. O observado absenteísmo no trabalho é custo adicional, além da perda de convivência e das atividades. A rede neural regional é difusa e entrelaçada, podendo transmitir impulsos dolorosos de todas as estruturas da coluna2. Há as dores referidas da articulação sacroilíaca ou coxo-femoral, por exemplo, que parecem vir da coluna e não raramente dificultam o diagnóstico3. Se o médico se perdeu na história e no exame clínico ele não vai se achar nos exames subsidiários. Pacientes freqüentam diferentes clínicas e consultórios cada vez com mais exames ‘sem resposta satisfatória ao tratamento clínico’. Não tem havido uma participação ativa nem comprometimento dos médicos que atendem, medicam e encaminham para tratamento. Nesses casos, se uma cirurgia for indicada, a chance de maus resultados aumenta4. A tônica do trabalho foi mostrar que uma alteração mostrada no exame por imagem pode não ser a causa da dor e/ou incapacidade: pode haver imagem de hérnia discal sem ciatalgia e pode haver dor facetária, que como observou o autor pode estar presente em 70,72% dos pacientes da amostra, com imagem normal dessas estruturas. Não há correlação entre imagem e clínica e nenhuma imagem é preditiva de dor. Um paciente com lombalgia, pela sensibilização do sistema nervoso, tem fenômenos associados, como a onipresente Síndrome de Dor Miofascial5, que pode ser pior que a doença ‘principal’ e cadeias musculares podem estar alteradas. Agradecemos a oportunidade que o Dr. Adolfo Vasconcelos de Albuquerque nos proporcionou de refletir sobre o tema, só temos que parabenizá-lo pela corajosa iniciativa e esperamos que ele continue nessa linha crítica investigatória. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Nestor C Truite Jr CREMESP 22646 Médico neurologista com Certificação em Dor pela AMB 173 Rev Neurocienc 2008;16/3:173 1. Carragee EJ. Persistent low back pain. N Engl J Med 2005;352:1891. 2. Howe JF, Loeser JD, Calvin WH. Mechanosensitivity of dorsal root ganglia and chronically injured axons. A physiological basis for the radicular pain of nerve root compression. Pain 1977;3:25-41. 3. Spengler DM, Freeman C, Westbrook R, Miller JW. Low back pain following multiple lumbar spine procedures. Failure of initial selection? Spine 1980;5:356-60. 4. Wilkinson HA. The failed back syndrome etiology and therapy. 2nd ed. New York: Springer-Verlag, 1992, 28. 5. Sola AE, Bonica JJ. Myofascial pain syndromes. In: Loeser JD, Butler SH, Chapman CR, Turk DC (eds). Bonica´s Management of Pain. 3 ed. Philadelphia: Lippincottt Williams & Williams, 2001, 530-42. editorial Severity and functional ability scale for amyotrophic lateral sclerosis patients: preliminar results A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma doença neurodegenerativa progressiva e fatal, caracterizada pela degeneração dos neurônios motores superiores e inferiores. Os pacientes evoluem com comprometimento progressivo da força muscular dos membros, da fala, da deglutição e da respiração, com o óbito ocorrendo em geral 3 a 4 anos após o início dos sintomas. O diagnóstico da ELA é baseado no quadro clínico e progressão da doença, com evidências do envolvimento dos neurônios motores superiores e inferiores segundo os critérios do El Escorial. A utilização de escalas que avaliem de forma objetiva o quadro funcional e a progressão da doença é de fundamental importância no sentido de uniformizar as informações clínicas e epidemiológicas obtidas, bem como de avaliar os efeitos de ensaios terapêuticos e da reabilitação. Dentre as escalas para ELA, a ALSFRS (Amyotrophic Lateral Sclerosis Functional Rating Scale) é certamente a mais utilizada. Essa escala quantifica e avalia as funções motoras, bulbares e respiratórias dos pacientes com ELA, funcionando como um indicativo prognóstico; e tendo ainda como vantagens o fato de ser validada e de fácil aplicação1-4. Neste número, Orsine et al. apresentam de forma preliminar a avaliação de pacientes com ELA utilizando uma escala de gravidade da doença baseada na soma das pontuações obtidas com o exame da força muscular, e da análise do comprometimento funcional, da deglutição e da respiração. Embora esta escala ainda não esteja devidamente validada, os autores demonstraram a sua simplicidade e utilidade ao avaliarem 40 pacientes com diagnóstico de ELA. Neste caso, o exame da força muscular foi baseado naquele sugerido pelo MRC. No entanto, de forma oportuna, os autores selecionaram grupos musculares representativos de todos os miótomos com o objetivo de simplificar a execução do exame. Para as outras avaliações, os autores utilizaram questões simples para quantificar o comprometimento funcional, da deglutição e da respiração. No total, o tempo de duração do exame para cada indivíduo não passou de 50 min. É bastante louvável este tipo de estudo no nosso meio, pois a padronização de protocolos e escalas, de forma mais simplificada, na avaliação de pacientes com ELA ajudaria na caracterização clínica e epidemiológica da doença em todo o território nacional, sendo de extrema importância também para a padronização do seguimento de pacientes em tratamento medicamentoso e/ou fisioterápico. Além do mais, o conjunto de resultados obtidos, sem dúvida, terão a utilidade de facilitar uma intervenção mais objetiva e eficiente em fatores que estão diretamente relacionados com o prognóstico e com a sobrevida dos pacientes, como a deglutição e respiração. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. de Carvalho Silva LB, Mourão LF, Silva AA, Lima NM, Almeida SR, Franca MC Jr, et al. Amyotrophic lateral sclerosis: combined nutritional, respiratory and functional assessment. Arq Neuropsiquiatr 2008;66(2B):354-9. 2. Gordon PH, Cheung YK, Levin B, Andrews H, Doorish C, Macarthur RB, et al. A novel, efficient, randomized selection trial comparing combinations of drug therapy for ALS. Amyotroph Lateral Scler 2008;9(4):212-22. 3. Gordon PH, Miller RG, Moore DH. ALSFRS-R. Amyotroph Lateral Scler Other Motor Neuron Disord 2004;5(Suppl 1):90-3. 4. Kaufmann P, Levy G, Thompson JL, Delbene ML, Battista V, Gordon PH, et al. The ALSFRS predicts survival time in an ALS clinic population. Neurology 2005;64:38-43. Rev Neurocienc 2008;16/3: 174 Edmar Zanoteli Clínica de Doenças Neuromusculares da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) 174 original Avaliação da funcionalidade de indivíduos acometidos por Acidente Vascular Encefálico Evaluation of the stroke patient’s functionality Janaíne Cunha Polese1, Aline Tonial1, Fabíola Kotz Jung1, Rafael Mazuco1, Sheila Gemelli de Oliveira2, Rodrigo Costa Schuster3 RESUMO SUMMARY Introdução. O objetivo deste estudo foi traçar o perfil sócio-demográfico e a funcionalidade dos pacientes com diagnóstico de Acidente Vascular Encefálico (AVE) atendidos na clínica de fisioterapia neurológica da Universidade de Passo Fundo. Métodos. Foram selecionados 16 pacientes com o diagnóstico de AVE que aceitaram participar da pesquisa, no período de março a agosto de 2006. As variáveis utilizadas foram: sexo, raça, idade, tipo de AVE, estado civil, tempo percorrido desde a lesão. O Índice de Barthel foi utilizado com o intuito de avaliar a funcionalidade de cada paciente. Resultados. 81% dos pacientes acometidos por AVE eram independentes, 13% dos mesmos necessitavam de supervisão ou assistência para desenvolver suas atividades de vida diária e 6% dos pacientes eram dependentes. Conclusão. O presente mostrou que a grande maioria dos pacientes pós-AVE é independente ou semi-dependente para as atividades cotidianas, e a reabilitação deve ser estimulada para obter uma maior funcionalidade e melhor qualidade de vida para esses pacientes. Introduction. The objective of this study was to analyze social-demographic features and funcionality of patients with diagnosis of stroke that has been seen at the neurological physical therapy clinic at Passo Fundo University. Method. Sixteen patients with diagnosis of stroke, who agreed on participating of the research, in the period from March to August 2006. The variables used were gender, ethnicity, age, kind of stroke, marital status, and time of lesion. The Index of Barthel was used to evaluate the functionality of each patient. Results. 81% of the stroke patients were independents, 13% of them needed supervision or assistance to develop their daily activities, and 6% of them were dependent. Conclusion. The present study has shown that the great majority of the patients, after stroke, were independent or needed supervision to daily activities. This fact suggested that rehabilitation must be stimulated in order to obtain a greater functionality as well as a better life quality of these patients. Unitermos: Acidente cerebrovascular. Independência. Fisioterapia. Keywords: Stroke. Independence. Physical Therapy. Citação: Polese JC, Tonial A, Jung FK, Mazuco R, Oliveira SG, Schuster RC. Avaliação da funcionalidade de indivíduos acometidos por Acidente Vascular Encefálico. Citation: Polese JC, Tonial A, Jung FK, Mazuco R, Oliveira SG, Schuster RC. Evaluation of the stroke patient’s functionality. Trabalho realizado na Universidade de Passo Fundo, RS. 1. Fisioterapeuta, graduado pela Universidade de Passo fundo (UPF). 2. Fisioterapeuta, Mestre em Gerontologia Biomédica (PUCRS), docente do curso de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo (UPF). 3. Fisioterapeuta, Especialista em Ciências Morfofisiológicas, Anatomia (UDESC), docente do curso de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo (UPF). Endereço para correspondência: Sheila Gemelli de Oliveira R. Capitão Eleutério 680/702. 99010-060 Passo Fundo, RS. E-mail:[email protected] 175 Recebido em: 03/05/08 Revisado em: 04/05/08 a 24/08/08 Aceito em: 25/08/08 Conflito de interesses: não Rev Neurocienc 2008;16/3:175-178 original INTRODUÇÃO O Acidente Vascular Encefálico (AVE) pode ser compreendido pelo rápido acontecimento de sinais clínicos decorrentes de distúrbios focais ou globais da função cerebral, resultando em sintomas com duração superior a 24 horas1. É a terceira causa de morte mundial2, no cenário brasileiro corresponde à primeira causa de óbito3. Aproximadamente 80% dos casos devem-se à oclusão de uma artéria, seja por ateroma ou êmbolos secundários, caracterizando o AVE isquêmico4. Já o AVE hemorrágico ocorre devido a um sangramento anormal para o parênquima cerebral, em conseqüência de aneurisma, malformação artériovenosa, doença arterial hipertensiva5. O Ataque Isquêmico Transitório geralmente tem duração de 10 a 20 minutos. Sintomas isquêmicos presentes por uma hora raramente (< 15%) se resolvem nas próximas 23 horas2. Após os 55 anos, a incidência do AVE dobra a cada década de vida, sendo que os homens são acometidos 19% mais que as mulheres. Os afro-americanos têm duas a três vezes mais chances de sofrer um AVE isquêmico do que brancos, e um risco 2,5 vezes maior de morrer de AVE. Entre os 65 e 74 anos a incidência da doença é de aproximadamente 14,4 por mil; entre 75 e 84 anos é de 24,6 por mil; em pessoas com idade superior a 85 anos, esse valor sobe para 27,0 por mil5. A hipertensão arterial é um fator de risco preditivo para o AVE. Doenças cardíacas são consideradas o segundo mais importante fator de risco, principalmente para quadros embólicos e aterotrombóticos. Diabete Mellitus é um fator de risco independente para doenças cerebrovasculares por acelerar o processo de aterosclerose6. Outros incluem: níveis altos de colesterol, obesidade, alto consumo de álcool, uso de cocaína e fumo7. Segundo André2, anticoncepcionais orais podem favorecer o surgimento da doença, principalmente em mulheres fumantes. Segundo a OMS (2003), a funcionalidade deve ser entendida como termo genérico para as funções e estruturas do corpo, atividades e participação, indicando os aspectos positivos entre a interação entre um indivíduo com uma condição de saúde e seus fatores contextuais, sejam eles ambientais ou pessoais8. O AVE é a primeira causa de incapacitação funcional no mundo ocidental, devido às seqüelas e déficits neurológicos que ocasiona ao paciente2, sendo uma das seqüelas mais importantes em decorrência da doença, aliado à diminuição da função cognitiva, indicando influência negativa na recuperação1. Rev Neurocienc 2008;16/3: 175-178 A associação entre o sexo feminino, à paralisia, à afasia, ao estado de coma, à disfagia e à incontinência urinária sugerem um maior grau de incapacidade, sendo esses predisponentes a uma maior mortalidade até 3 meses após a lesão. Entre 11,6% a 56,3% dos pacientes apresentam diminuição da função cognitiva após um AVE, indicando uma influência negativa à sobrevida e recuperação a longo prazo1. Mesmo com a precariedade de tratamentos sofisticados e especializados, um cuidado integrado salva vidas e diminui a morbidade que resulta de um AVE. Programas de reabilitação melhoram sua capacidade funcional, levando-as a voltar ao convívio social em 80% dos casos2. O Índice de Barthel é amplamente utilizado para a mensuração da capacidade de realização de dez atividades da vida diária, quantificando o grau de dependência do indivíduo9. O programa de fisioterapia visa desenvolver as habilidades motoras do paciente hemiplégico, e escalas de avaliação funcional são de grande valia para auxiliar no desenvolvimento do tratamento. O objetivo do presente estudo é traçar o perfil sócio-demográfico e a funcionalidade dos pacientes com diagnóstico de AVE atendidos na Clínica de Fisioterapia Neurológica da Universidade de Passo Fundo. MÉTODO Amostra A amostra foi composta por 16 pacientes com diagnóstico de AVE, atendidos na Clínica de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo, no período de março a agosto de 2006, que aceitaram participar da pesquisa através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; foram excluídos desta pesquisa os pacientes que apresentaram déficit cognitivo ou outras patologias associadas. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Passo Fundo e sua aprovação sob n°163/2006. Procedimento Analisaram-se as seguintes variáveis: sexo, raça, idade, tipo de AVE, estado civil, tempo decorrido desde a lesão. Além disso, foi utilizado o Índice de Barthel10 para avaliar a funcionalidade dos pacientes. Esse índice apresenta uma pontuação máxima de 100 pontos, no caso dos pacientes que apresentam total independência. Em situação oposta, onde os pacientes apresentam dependência total, o índice de Barthel é igual a zero. 176 original A seguir estão citados os itens avaliados pelo índice de Barthel: Alimentação, Banho, Higiene pessoal, Vestir-se, Transferência cadeira-cama, Deambulação, Continência urinária e fecal. Análise Estatística A análise dos dados foi realizada de forma simples descritiva, e estes foram relacionados entre si através do programa Excel 2000. RESULTADOS Dos 16 pacientes avaliados, 62% corresponderam a homens e 38% corresponderam a mulheres. Quanto à faixa etária, observou-se que 16,6% correspondiam à faixa etária de 35 a 45 anos; 22,2% pacientes tinham entre 46 e 55 anos; 38,8% entre 56 e 65 anos, assim como 22,2% dos pacientes tinham entre 66 a 75 anos. Estes pacientes estavam em tratamento na clínica de fisioterapia neurológica há, em média, 6 meses. Segundo o tipo de AVE, a maior parte dos pacientes apresentou AVE isquêmico, correspondendo a 85,5% e 14,5% sofreram AVE hemorrágico. Quanto ao estado civil, 43,7% dos pacientes referiram ser casados, 31,2% solteiros; 12,5% viúvos, na mesma proporção daqueles que informaram estarem separados. A avaliação da capacidade funcional através do Índice de Barthel (Tabela 1) demonstrou que 81% dos pacientes eram semi-independentes no domínio alimentação, e 19% da amostra era independente. Em relação ao banho, 69% tinham independência na atividade, e 31% eram dependentes. Em relação à higiene pessoal, a maior parte dos indivíduos era independente (75%), e 25% dos mesmos dependentes para esta atividade. No domínio transferência/higiene íntima, observou-se que 62% dos indivíduos eram independentes, 25% dependentes e 13% semi-independentes. Tabela 1. Comportamento da amostra em relação à funcionalidade de acordo com os domínios da Escala de Barthel. Dependente SemiDependente Alimentação – 13 3 Banho 5 – 11 Higiene Pessoal 4 – 12 Tranf./Higiene Intima 4 2 10 Vestir-se 1 9 6 Tranf. na Cama 3 4 9 Deambulação 3 4 9 Subir escadas 2 5 9 Dominio 177 Independente No domínio vestir-se, pode-se constatar que 56% dos pacientes eram semi-independentes, 38% independentes e 6% dependentes. Quando questionados sobre a atividade transferir-se na cama, 62% dos sujeitos referiram ser independentes, 25% semi-independentes e 13% dependentes. No quesito deambulação, 62% dos pacientes eram independentes, 25% apresentaram semi-independência e 13%, dependência. Já quando se analisou o domínio subir escadas, pôde-se notar que 56,23% eram independentes, 31,25% semi-independentes e 12,5% dependentes. Quanto à continência fecal, 94% referiram não possuir acidentes ocasionais, e 6% referiram que estes ocorriam ocasionalmente. Já em relação à continência urinária, 62% dos pacientes informaram que não ocorriam acidentes com perda de urina, 25% com acidentes ocasionais e 13% dos mesmos referiram ser incontinentes. DISCUSSÃO O Acidente Vascular Encefálico tem sido apontado como sendo predominante no gênero masculino11, com média de idade entre 60 a 74 anos12. Tais dados concordam parcialmente com este estudo, uma vez que o gênero prevalente foi o masculino, porém os indivíduos acometidos por AVE em sua maioria eram na faixa etária de 46 e 65 anos, concordando com os achados de outros estudos13, que observaram que encontraram uma média de idade semelhante a esta. O perfil dos pacientes quanto à etiologia do AVE demonstrou maior prevalência de AVE isquêmico (85,5%) em relação ao hemorrágico, indo de encontro aos dados mostrados na literatura14. O estado civil prevalente em outros estudos que analisaram o perfil dos pacientes pós-AVE foi o casado15, contrariamente a esta amostra, onde 56,2% dos indivíduos possuíam outro estado civil senão o casado. Através do Índice de Barthel observou-se que 81% dos pacientes acometidos por AVE eram independentes, 13% dos mesmos necessitavam de supervisão ou assistência para desenvolver suas atividades de vida diária e 6% dos pacientes eram dependentes. Estudos recentes encontraram que 40% dos pacientes pós-AVE ficaram dependentes de terceiros para a realização de suas atividades diárias1; trabalhos apontam que cerca de 30% a 60% dos sujeitos ficam na situação de dependência16 discordando dos dados observados nesta amostra, onde a maior parte dos indivíduos referiu ser independente ou semi-independente nas atividades relacionadas ao cuidado pessoal9. A fisioterapia melhora o desempenho dos pacientes Rev Neurocienc 2008;16/3:175-178 original em atividades de vida diária, permitindo ao paciente que este possa ser independente; além disso9 os estímulos devem buscar otimizar a reorganização cerebral, a partir de treino de tarefas básicas e atividades instrumentais das tarefas de vida diária, com estímulos terapêuticos e do ambiente sócio-familiar17. Os pacientes pós-AVE possuem dificuldade em manter o peso no hemicorpo afetado, interferindo no controle postural, o que gera dificuldades na realização de movimentos do tronco e membros18. Estudos afirmam que o maior problema encontrado nos pacientes com acometimento nervoso e musculo-esquelético é a perda da habilidade de andar19. Neste estudo pôde-se observar que 13% dos pacientes eram dependentes para deambular, discordando de outros achados20, que observaram que maioria dos pacientes que sofreram um AVE (60% a 75%) consegue caminhar, mas nem sempre este retorno é funcionalmente satisfatório. Após o AVE, muitos pacientes desenvolvem incontinência urinária, o que pode sinalizar para uma evolução ruim2. Dos pacientes avaliados, 38% não era totalmente continentes. Quanto à continência fecal, somente 6% dos pacientes referiram ser incontinentes. Pacientes com este sintoma em geral possuem distúrbios importantes de percepção, sendo mais comum em idosos e pacientes com grandes lesões2. Tal relação não foi encontrada nesta amostra. Na formulação do tratamento fisioterapêutico, o que deve ser priorizado são os objetivos funcionais, estabelecendo os componentes do movimento e as deficiências significativas que interfiram no desempenho funcional7. Dos pacientes avaliados neste estudo, 81% eram independentes, de acordo com o Índice de Barthel, sendo que a média de tempo de atendimento fisioterapêutico da amostra foi de 6 meses, sugerindo que o programa de fisioterapia auxilia na recuperação funcional de pacientes pós-AVE. Estes dados concordam com a literatura, que afirma que os pacientes pós-acidente vascular encefálico, quando enquadrados em um programa de fisioterapia, obtêm ganhos funcionais nas atividades diárias21,22. CONCLUSÃO Neste estudo pôde-se observar, a partir da avaliação através do Índice de Barthel, que a grande maioria dos pacientes pós-Acidente Vascular Encefálico são independentes ou semi-dependentes nas atividades cotidianas, indicando que o programa de fisioterapia tem um papel importante no quadro social destes indivíduos, evitando um convívio social tardio. Tendo em vista que, Rev Neurocienc 2008;16/3:175-178 no presente estudo, utilizou-se um número limitado de pacientes, sugerem-se trabalhos futuros, utilizando uma amostragem de paciente mais significativa, possibilitando assim maior credibilidade aos resultados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Nunes S, Pereira C, Silva MG. Evolução funcional de utentes após AVC nos primeiros seis meses após a lesão. EssFisiOnline 2005;1(3):3-20. 2. André C. Manual de AVC. 2ªed. Rio de Janeiro: Revinter, 2006, 250p. 3. Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares. Primeiro consenso brasileiro do tratamento da fase aguda do acidente vascular cerebral. Arq Neuropsiquiatr 2001;59(4):972-80. 4. Stokes M. Neurologia para Fisioterapeutas. São Paulo: Premier, 2000, 314p. 5. Broderick JP, Adams Jr, Feinberg W, Feldmann E, Grotta J, Kase C, et al. Guidelines for the management of spontaneous intracerebral hemorrhage. Stroke 1999;30:905-15. 6. Radanovic M. 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Arc Phys Med Rehabil 2002;83:1138-44. 178 original Análise da pressão plantar em pacientes com acidente vascular encefálico Foot pressure measurements in stroke patients Rodrigo Costa Schuster1, Karine Zadra2, Mathias Luciano2, Janaine Cunha Polese2, Daiane Mazzola2, Igor Sander2, Gilnei Lopes Pimentel3 RESUMO SUMMARY Objetivo. Comparar o pico de pressão plantar do membro acometido com o não-acometido de pacientes hemiparéticos pósAcidente Vascular Encefálico (AVE) e verificar as regiões do pé onde se encontram os picos de pressão nesses pacientes. Método. Foram avaliadas nove pacientes, com média de idade de 56,77 anos, 5 do sexo masculino e 4 do sexo feminino, sendo 8 casos do tipo AVE isquêmicos e 1 do hemorrágico. Para avaliar a pressão plantar foi realizada baropodometria computadorizada, pelo sistema F-Scan. Foram analisadas três regiões do pé, assim divididas: ante-pé, médio-pé e retro-pé. A análise dos dados foi realizada utilizando-se a média e a freqüência absoluta dos dados. Resultados. Pôde-se observar que a amostra apresentou uma média de pressão plantar maior no hemicorpo não-acometido, quando comparado ao acometido, e que nos dois hemicorpos a região do pé onde existe uma maior pressão plantar é no ante-pé. Conclusão. Pode-se concluir que ocorre uma diminuição da pressão plantar no hemicorpo parético de pacientes pós-AVE com um predomínio de pico de pressão plantar na região do ante-pé. Objective. To compare the peak of foot pressure between the affected limb with non-affected in hemiparetics patients post stroke and verify the regions of the foot where finding the peaks of pressure in these patients. Method. We evaluated nine patients, with mean age from 56 to 77 years, 5 men and 4 women, 8 patients with ischemic stroke and 1 with hemorrhagic stroke. We used the baropodometric computerized, by F-Scan system, to evaluate foot pressure. Three regions of the foot were analyzed and divided in forefoot, midfoot, and heel. The analysis of the data was descriptive and using average and absolute frequency. Results. We observed that the sample presenting an average of foot pressure bigger in nonaffected side of the body than in the affected side, and that in the both sides, the region of the foot where have more pressure is the forefoot. Conclusion. We concluded that there is a decrease of the plantar pressure in hemiparetic side of the patients post stroke with predominance of the peak of pressure in forefoot region. Unitermos: Acidente Cerebrovascular. Hemiparesia. Marcha. Keywords: Stroke. Hemiparesis. Gait. Citação: Schuster RC, Zadra K, Luciano M, Polese JC, Mazzola D, Sander I, Pimentel GL. Análise da pressão plantar em pacientes com Acidente Vascular Encefálico. Citation: Schuster RC, Zadra K, Luciano M, Polese JC, Mazzola D, Sander I, Pimentel GL. Foot pressure measurements in stroke patients. Trabalho realizado no Laboratório de Biomecânica da Faculdade de Educação Física e Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo – UPF. 1. Fisioterapeuta, especialista em Ciências Morfofisiológicas – Anatomia, mestrando em Ciências Médicas, professor de Anatomia Humana, Neuroanatomia e Estágio Supervisionado em Fisioterapia na Universidade de Passo Fundo, RS. 2. Fisioterapeuta graduado pela Universidade de Passo Fundo, RS. 3. Fisioterapeuta, mestre em Ciências do Movimento Humano, professor e supervisor de estágio em Fisioterapia na Universidade de Passo Fundo, RS. Endereço para correspondência: Rodrigo Costa Schuster Universidade de Passo Fundo - CAMPUS I Km 171, BR 285, Bairro São José Caixa Postal 611, 99001-970 Passo Fundo, RS E-mail: [email protected] 179 Recebido em: 05/08/08 Revisado em: 06/08/08 a 20/08/08 Aceito em: 21/08/08 Conflito de interesses: não Rev Neurocienc 2008;16/3:179-183 original INTRODUÇÃO O Acidente Vascular Encefálico (AVE) é definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como “um sinal clínico de rápido desenvolvimento de perturbação focal da função cerebral, de suposta origem vascular e com mais de 24 horas de duração”1. Acomete o sistema nervoso e é a principal causa de mortalidade e incapacidade na América do Sul, uma vez que diminui tanto a expectativa quanto o modo de vida dos indivíduos2. Pode ser devido a uma obstrução de uma artéria, caracterizando o AVE isquêmico ou por ruptura de um vaso, o AVE hemorrágico3. É a doença que mais ocasiona morte em nosso país e mais incapacita no mundo, sendo que pode ocasionar alterações cognitivas e neuromusculares, tendo como conseqüências problemas psicoemocionais e socioeconômicos4. E a maioria dos sobreviventes exibirá deficiência neurológica e incapacidades residuais significativas, o que faz do AVE a primeira causa de incapacitação funcional no mundo ocidental5. O número de pessoas acometidas pelo AVE tem crescido em todo mundo devido ao grau de estresse e os hábitos alimentares6. O fator de risco mais significante é a hipertensão, mas outros fatores são importantes, como a obesidade, sedentarismo, tabagismo, hipercolesterolemia, abuso de álcool, diabetes, resposta ao estresse, doença vascular periférica, estado hormonal, dentre outros3,7. Os déficits motores decorrentes do AVE caracterizam-se por hemiplegia ou hemiparesia, tipicamente no lado do corpo oposto ao local da lesão. Estes termos costumam ser usados genericamente para designar uma ampla variedade de problemas decorrentes da doença8. A deficiência dos movimentos pode levar a limitações funcionais e incapacidades, estas se manifestam como uma perda de mobilidade no tronco e nas extremidades, padrões atípicos de movimento, estratégias compensatórias e ações involuntárias do hemicorpo afetado levando a perda da independência na vida diária3. A marcha hemiparética é comum em pacientes com hemiparesia espástica9, e apresenta alterações em sua velocidade, cadência, simetria, tempo e comprimento dos passos, desajustes quanto a postura, equilíbrio e reação de proteção, alterações quanto ao tônus muscular e quanto ao padrão de ativação neural, principalmente do lado parético, caracterizadas pelas dificuldades na iniciação e duração dos passos e em determinar o quanto de força muscular será necessário para deambular10-12. Os pacientes Rev Neurocienc 2008;16/3:179-183 pós-AVE apresentam alguma capacidade para compensar através da boa função do outro membro9. Os déficits resultantes são devido à fraqueza muscular e a anormalidades complexas no controle motor13. Para cada paciente que sofreu um AVE, a restauração da marcha desempenha um papel primordial em sua reabilitação e esta é uma das inúmeras razões pelas quais diversos métodos fisioterapêuticos vêm sendo empregados visando a auxiliar a promoção de um adequado treino de marcha funcional13. A baropodometria computadorizada é um método que permite a mensuração das pressões exercidas em vários pontos anatômicos da superfície plantar com medidas precisas, capaz de realizar uma avaliação objetiva por meio de sensores pressóricos14. Este sistema fornece dados quantitativos, como as pressões localizadas nas superfícies plantares; e qualitativos, como as linhas que mostram passo a passo a trajetória do centro de gravidade pelas superfícies plantares durante a marcha15. O sistema de baropodometria computadorizada (F-Scan) detecta e grava as forças plantares sem interferir na marcha do paciente, e pode ser usado para observação de anormalidades na marcha, controle da sustentação de peso, monitoração das desordens degenerativas dos pés e reeducação do paciente14. Mensurações da distribuição de pressão plantar são utilizadas clinicamente, pois podem identificar deformidades anatômicas, auxiliar no diagnóstico e tratamento de desordens na marcha16. O objetivo deste estudo foi comparar o pico de pressão plantar do membro acometido com o não-acometido de pacientes hemiparéticos pós-AVE e verificar as regiões do pé onde encontram-se os picos de pressão nesses pacientes. MÉTODO Amostra Foram incluídos na pesquisa 9 pacientes, sendo 5 do sexo masculino e 4 do sexo feminino, com idades entre 26 e 78 anos, todos com diagnóstico de AVE, sendo 8 do tipo isquêmico e 1 do tipo hemorrágico pacientes com diagnóstico de AVE. O diagnóstico clínico realizado por um neurologista e diagnóstico de imagem por tomografia computadorizada. Esses pacientes eram portadores de hemiparesia espástica ou não espástica com diferentes áreas de lesão encefálica, todos com mais de seis meses do ictus inicial, com capacidade de deambular. Foram 180 original excluídos dessa pesquisa os pacientes que apresentaram deformidades e déficits de sensibilidade no membro inferior parético, além de déficit cognitivo, uma vez que o mesmo teria que entender o teste para sua correta realização. Todos os pacientes aceitaram participar da pesquisa através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Passo Fundo e sua aprovação sob no. 044/2007. Procedimento Foi realizada a avaliação do pico de pressão plantar de pacientes hemiparéticos, provenientes da lista de espera de atendimento da clínica de Fisioterapia Neurológica da Universidade de Passo Fundo, que haviam sofrido AVE, que foram avaliados através da baropodometria computadorizada, com a utilização do sistema F-Scan, pertencente ao Laboratório de Biomecânica da Faculdade de Educação Física e Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo. Os pacientes responderam uma ficha de coleta de dados que continham os dados como: nome, sexo, idade, peso, hemicorpo afetado, tempo de lesão e a graduação do tônus muscular, que foi realizado através da Escala de Espasticidade de Ashworth. A avaliação baropodométrica foi utilizada para captar os dados de pressão plantar durante a marcha. Inicialmente o aparelho foi calibrado pelo peso do paciente com ele na posição bípede e estático, após os pacientes eram instruídos a deambular por um percurso de aproximadamente 10 metros com a sua velocidade de marcha habitual. Esse procedimento foi realizado por no mínimo duas vezes, a fim de minimizar as dificuldades dos pacientes de adaptação e compreensão do exame, sendo que o primeiro e o último passos foram descartados da análise. Para a interpretação dos plantigramas gerados pelo sistema F-Scan, os pés foram divididos em três segmentos: ante-pé, médio-pé e retro-pé17. Análise Estatística Os dados obtidos são apresentados por estatística descritiva (média e desvio-padrão). RESULTADOS Nesse estudo foram avaliados 9 pacientes, sendo 5 do sexo masculino e 4 do sexo feminino, com idades entre 26 e 78 anos, todos com diagnóstico de AVE, sendo 8 do tipo isquêmico e 1 do tipo hemorrágico (Tabela 1). 181 Quanto ao hemicorpo acometido, foram 56% correspondentes ao dimídio esquerdo e 44% ao dimídio direito. Quanto à graduação do tônus muscular, 4 pacientes apresentaram grau 1 (sem aumento de tônus) e 5 apresentaram grau 2 (leve aumento de tônus). Em relação à comparação do pico de pressão entre o lado acometido e não-acometido pode-se observar que o não-acometido apresentou médias maiores que no acometido. Já quanto à região do pé onde os pacientes apresentaram maior pico de pressão plantar pode-se observar esta na região do ante-pé, em ambos os pés (Gráfico 1). DISCUSSÃO O Acidente Vascular Encefálico é predominante no sexo masculino e acomete com mais freqüência a faixa etária dos 60 a 74 anos5,18. O resultado encontrado neste estudo apresenta características semelhantes às da literatura quanto ao gênero, mostrando uma predominância do gênero masculino; entretanto, em relação à idade os dados deste estudo mostram que houve, devido provavelmente a pequena amostra, uma grande variação na idade encontrada. Quanto ao tipo de lesão, o AVE isquêmico representa na população nacional, segundo diferentes estatísticas, de 53,0% a 85,0% dos casos, concordando com os dados encontrados nesta pesquisa4,19. Em relação à distribuição de pressão plantar, indivíduos normais apresentam aspectos morfológicos e pressões plantares similares entre ambos os pés20. Já em pacientes que sofreram um AVE, a distribuição de pressão entre os pés se dá de forma diferenciada21. Estudos relatam que a pressão na região do médio pé (arco plantar lateral) é aumentada, como característica do pé eqüino vara do hemiplégico, justificada pela espasticidade dos plantiflexores Tabela 1. Características demográficas da amostra. Idade Média 56,77 ± 15,84 Mínima 26 Máxima 78 Sexo N Masculino 05 Feminino 04 Tipo de AVE Isquêmico 08 Hemorrágico 01 Rev Neurocienc 2008;16/3:179-183 original 4000 3432 3500 g/cm2 3000 2500 2728 2410 2250 2000 1718 1500 1121 1000 500 0 Ante-pé acometido Ante-pé nãoacometido Médio-pé acometido Médio-pé nãoacometido Retro-pé acometido Retro-pé nãoacometido Gráfico 1. Picos de pressão plantar (médias). e musculatura intrínseca do pé21-22. Neste estudo encontrou-se uma menor pressão plantar na região do medio-pé de ambos os membros, concordando com outro estudo onde se encontrou menores pressões na região do médio-pé e justificaram esse achado devido a fatores como: redução na ação motora, distúrbios na coordenação muscular, deficiência sensorial e insuficiente transferência de peso sobre o membro parético23. Em estudo que comparou a pressão plantar de 25 pacientes hemiparéticos com 31 pacientes saudáveis verificou uma menor distribuição de pressão plantar no mediopé em ambos os grupos, porém no grupo controle, o pico de pressão apresentado entre os membros se deu de forma simétrica, indicando uma descarga de peso semelhante entre os membros e acionamento motor correto24. Um estudo da pressão plantar onde se avaliou 111 sujeitos do sexo masculino, saudáveis, com idade média de 28,76 ± 9,88, um predomínio de pressão plantar na região da cabeça dos metatarsianos, indo ao encontro com os achados analisados nesta amostra16. Outros autores obtiveram achados compatíveis, quando notaram a prevalência da pressão nos metatarsianos mediais25. O paciente pós-AVE descarrega o peso na maioria do tempo durante a marcha na perna saudável e um único período de apoio na perna parética. Isso pode ocorrer devido ao pé espástico ser mais rígido, permitindo então um movimento relativamente menor das estruturas anatômicas do pé, ou pela elevada atividade dos músculos internos do pé que resultarão em um aumento do arco plantar do pé23. Alguns autores relatam que pacientes com lesão encefálica à direita apresentam pior prognóstico para a marcha25, discordando de outros, que aponta em seu estudo que hemiparéticos com déficits à direita demonstram pior recuperação da deambulação26. Um dos maiores desafios para a equipe de reabilitação é a recuperação da marcha, pois a mesma Rev Neurocienc 2008;16/3: 179-183 apresenta um padrão descoordenado, arrítmico e desequilibrado, trazendo ao paciente um gasto desnecessário de energia10, sendo que durante a deambulação existem importantes forças agindo sobre o pé, sendo que variações nestas podem levar a condições dolorosas do pé e anormalidades em suas estruturas25. A pressão plantar assimétrica tem relação com incapacidade, inabilidade na marcha e desequilíbrio27, o que reforça a importância o treino de marcha, pois promove a possibilidade de transferência de peso para o hemicorpo hemiparético5. CONCLUSÕES No presente estudo, pode-se verificar que os pacientes pós-AVE apresentam um pico de pressão plantar maior na região do ante-pé (em ambos os hemicorpos) e uma tendência a uma maior descarga de peso no membro não-acometido. As medidas de pico de pressão plantar permitem um melhor entendimento dos mecanismos patológicos da marcha, fornece dados quantitativos, objetivos e reprodutivos que podem mostrar ser útil no acompanhamento dos pacientes. Avaliações como essas podem auxiliar ao fisioterapeuta a direcionar seus objetivos e condutas na reeducação da marcha, a fim de promover um tratamento adequado às necessidades individuais de cada paciente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Oliveira MSR, Abramo A, Mendes MRP. 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Rev Neurocienc 2008;16/3:179-183 original Lombalgia crônica sem ciatalgia: correlação entre o quadro clínico e a radiologia Chronic back pain without sciatica: correlation between clinical evaluation and radiological abnormalities Adolfo Vasconcelos de Albuquerque1 RESUMO SUMMARY Objetivo. Avaliar a correlação entre as alterações discais nos exames de imagem e a lombalgia. Método. Avaliamos 50 pacientes com lombalgia crônica em vigência de dor e que tinham alterações discais (abaulamento ou hérnia de disco). Buscamos, principalmente, identificar sinais semiológicos de ciatalgia e identificar fatores psicológicos e sociais associados. Resultados. Nenhum dos 50 pacientes apresentava sinais clínicos de ciatalgia. A alteração radiológica mais comum foi hérnia de disco (46% dos casos) seguida por abaulamento (42%). Depressão estava presente em 25,52% e havia referência a benefício previdenciário em 80,43%. Conclusão. Não havia correlação direta ou preponderante entre hérnia ou abaulamento de disco e a lombalgia crônica referida nos casos estudados. Nós acreditamos que está havendo uma supervalorização dos exames de imagem em detrimento de uma adequada avaliação clínica dos pacientes com lombalgia crônica sem ciática. Objective. To assess the correlation between disc abnormalities (disc herniation or bulging disc) and chronic back pain. Method. We assessed 50 patients with chronic back pain and disc abnormalities (disc herniation or bulging disc). We researched mainly to identify semiological signs of sciatica and associated psychosocial factors. Results. No clinical signs of sciatica were found among the 50 patients that were studied. Disc herniation was present in 46% and bulging disc in 42% of the patients. Depression was present in 25.53% and there was a correlation between the chronic back pain and social security in 80.43%. Conclusion. No correlation between disc herniation or bulging disc and chronic back pain was discovered in the evaluated cases. We believe there is an excessive valorization of radiological imaging in detriment of correct clinical evaluation of patients with chronic back pain. Unitermos: Dor Lombar. Radiculopatia. Ciática. Keywords: Low Back Pain. Radiculopathy. Sciatica. Citação: Albuquerque AV. Lombalgia crônica sem ciatalgia: correlação entre o quadro clínico e a radiologia. Citation: Albuquerque AV. Chronic back pain without sciatica: correlation between clinical evaluation and radiological abnormalities. Trabalho realizado no Centro Médico Agnaldo Machado, Maceió, AL, Brasil. 1. Neurologista, Mestrando em Neurologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Endereço para Correspondência: Adolfo V Albuquerque R. Ulisses Braga Júnior 336, .Avenida Rotary 57050-530 Maceió, AL E-mail: [email protected] Recebido em: 20/05/08 Revisado em: 21/05/08 a 28/08/08 Aceito em: 29/08/08 Conflito de interesses: não Rev Neurocienc 2008;16/3: 184-188 184 original INTRODUÇÃO A dor lombar é, atualmente, uma das principais causas de consulta médica em todo o mundo e uma das principais causas de absenteísmo ao trabalho e de incapacidade definitiva. É grande o impacto social e econômico e já se fala em uma epidemia de incapacidade relacionada com a lombalgia1. Acomete homens e mulheres igualmente e costuma ter início entre 30 e 50 anos de idade. Dois terços dos adultos irão sofrer de lombalgia em algum momento de suas vidas2. Em cerca de 85% dos casos não é possível determinar uma causa anatomopatológica precisa ou específica responsável pela lombalgia. Estudos demonstram que a dor pode se originar de muitas estruturas, as principais responsáveis são as lesões musculoesqueléticas, processos degenerativos de disco e facetas2. A principal causa de lombociatalgia é a hérnia de disco. O pico de incidência é entre a quarta e a quinta década mas, felizmente, apenas entre 4% a 6% dos pacientes tornam-se sintomáticos3. Os discos mais acometidos estão entre L4-L5 e L5-S1, sendo que em 95% dos casos a raiz acometida é L5 ou S1. O mecanismo da dor na hérnia de disco provavelmente é multifatorial, envolve estimulação dos terminais nervosos do anel fibroso, compressão direta sobre a raiz e cascata inflamatória química pela exposição do núcleo pulposo. Clinicamente podemos classificar os pacientes como tendo lombalgia inespecífica, síndrome radicular (ciática ou ciatalgia) ou lombalgia específica (associada a tumores, infecção, fratura ou outras doenças sistêmicas)4. Lombalgia inespecífica pode ser definida como dor entre a última costela e a prega glútea. Frequentemente se irradia para as nádegas e face posterior das coxas até os joelhos, geralmente com caráter difuso. Já a lombociatalgia ou ciática se caracteriza por dor lombar intermitente com irradiação por um dermátomo específico de um dos membros em geral até o pé. Tem intensidade maior, aspecto em queimação, choque ou parestesia3. É essencial que se busque inicialmente afastar causas específicas para a lombalgia. Devemos prestar atenção nas chamadas “bandeiras vermelhas” do paciente com lombalgia, são elas: início antes dos 20 ou após os 50 anos, perda de peso, referência a trauma significativo, déficit neurológico extenso (envolvendo ambos os membros) e a presença de sinais de doença sistêmica ou infecção2,4. Com a maior facilidade de acesso à tomografia computadorizada e a ressonância magnética 185 é freqüente que se identifique hérnia ou abaulamento de discos intervertebrais em pacientes com lombalgia crônica. Raramente, no entanto, essas alterações radiológicas são as responsáveis pela dor5. Como o paciente com dor lombar é avaliado por vários profissionais com diferentes formações é importante ressaltar que alterações de disco ocorrem com muita freqüência em pacientes assintomáticos. Sendo a dor lombar crônica extremamente comum, muitas vezes não há correlação entre o achado radiológico e o quadro clínico6. Valorizar demasiadamente esses achados radiológicos pode gerar ansiedade no paciente, dificultar o retorno ao trabalho (agravando o impacto social e econômico da doença) e até ocasionar cirurgias desnecessárias. Outro fator que temos percebido é a falta de conhecimento da semiologia neurológica, o que torna difícil a diferenciação entre os achados acidentais e as alterações radiológicas que realmente se correlacionam com o quadro clínico. Nosso estudo tem como objetivo avaliar pacientes com lombalgia crônica e determinar se a presença de abaulamentos ou hérnias de disco identificadas nos exames de imagem pode ser considerada a causa direta da dor lombar crônica ou são achados radiológicos inespecíficos. Avaliamos ainda a influência de questões sociais e psicológicas além da relação com a profissão informada. MÉTODO Amostra Os pacientes foram selecionados na clínica privada (consultório) de forma seqüencial a medida que fossem sendo preenchidos os critérios de inclusão. Foi obtido consentimento informado de todos os pacientes autorizando a utilização dos dados clínicos e radiológicos na pesquisa. A pesquisa foi descritiva e composta por 50 pacientes. Foram incluídos na pesquisa paciente com lombalgia crônica (dor há mais de 3 meses) que já tivessem realizado tomografia ou ressonância lombar com detecção radiológica de hérnia ou abaulamento de disco. Todos os pacientes tinham que estar com dor no momento do exame físico. Foram excluídos casos em que a dor tinha caráter recorrente com períodos de remissão (crises de dor intercaladas por ausência de sintomas). Foram excluídos ainda pacientes com relato de trauma lombar recente, fraturas, cirurgias lombares prévias ou outras doenças sistêmicas que pudessem determinar lombalgia específica. Rev Neurocienc 2008;16/3:184-188 original Procedimento Investigamos os seguintes sinais radiculares: - Sinal de Lasègue (sensibilizado através das manobras de Bragard, Sicard, Bonnet e da compressão da fossa poplítea); - Sinal de Lasègue contralateral ou cruzado (sinal de Fajersztajn); - Sinal de Neri; - Sinal de Lasègue invertido (para hérnias discais de L2, L3 e L4); Pesquisamos o reflexo patelar e o reflexo aquileu (valorizando a assimetria como evidência de compressão radicular da raiz de L4 e S1 respectivamente), a presença de paresia à flexão dorsal e plantar dos pés (raiz L5 e S1 respectivamente) e à flexão dorsal do hálux (raiz L5). Pesquisamos a sensibilidade nos principais dermátomos lombares e sacrais. Foi avaliada a presença de dor à mobilização do tronco (extensão, flexão e lateralização). Investigamos, em todos os pacientes, a presença de depressão aplicando os critérios da DSM IV. Perguntamos sobre a profissão e a relação da lombalgia com benefício previdenciário. Questionamos ainda se os pacientes haviam recebido orientações no ambiente de trabalho com o objetivo de prevenir problemas de coluna. Com relação aos exames de imagem (tomografias e ressonâncias) houve dificuldade de padronização já que foram interpretados por diferentes radiologistas. Consideramos, em nossa pesquisa, que prolapso e hérnia de disco foram termos utilizados para descrever a mesma alteração radiológica. Já abaulamento de disco foi um termo utilizado igualmente por todos os radiologistas. RESULTADOS Houve predomínio do sexo masculino (82%) na amostra estudada e a média de idade dos pacientes foi de 43,27 anos (variando entre 27 e 60 anos). Em nenhum dos 50 pacientes estudados identificamos ciatalgia ou qualquer alteração nos testes radiculares pesquisados. Todos os pacientes tinham lombalgia crônica persistente (dor há mais de 3 meses), o tempo médio referido da dor foi de 31,95 meses (Mediana: 36 meses e Moda: 24 meses). Todos referiam um caráter contínuo da dor com períodos de piora e estavam com lombalgia no momento da avaliação. Rev Neurocienc 2008;16/3:184-188 Ao exame físico o achado mais comum foi dor à mobilização do tronco (referida por 70,72% dos pacientes). Todos referiram dor à extensão do tronco, em 24,13% havia também dor à flexão e em 27,58% dor à lateralização. Sete pacientes (14%) tinham uma clara assimetria do reflexo aquileu (arreflexia ou hiporreflexia). Desses 7 pacientes em 6 encontramos imagem de abaulamento ou hérnia de disco entre L5 e S1 (indicando que a abolição ou diminuição do reflexo aquileu pode ter decorrido de compressão antiga da raiz S1). Nos exames de imagem (tomografia ou ressonância magnética) os achados foram: abaulamento de disco (42%), hérnia de disco (46%) e imagem tanto de abaulamento quanto de hérnia de disco no mesmo paciente (12%). Não houve imagem de extrusão de disco em nossa amostra. Apenas em 9 pacientes (18% dos casos) havia alterações apenas dos discos intervertebrais. Em 39 pacientes havia sinais de espondiloartrose (78% dos casos), havia ainda estenose de canal em 4 (8%), espondilolistese em 1 (2%) e osteopenia também em 1 paciente (2% dos casos). Em 25,52% dos pacientes avaliados encontramos depressão pelos critérios da DSM IV. Em 80,43% dos casos havia relação entre a lombalgia crônica e benefícios assistenciais previdenciários (pacientes que já estavam de benefício ou estavam requerendo). Dos 31 pacientes que já estavam de benefício o tempo médio de afastamento do trabalho foi de 16,16 meses. Com relação às profissões informadas pelos pacientes, em 72,34% dos casos havia a necessidade de pegar peso ou fazer esforços físicos com freqüência. Quando questionados sobre ter recebido orientações no ambiente de trabalho visando evitar problemas de coluna apenas 9 pacientes (31,03%) responderam que sim e 20 (68,96%) responderam que não. Dos 9 que afirmaram ter recebido orientações apenas 4 afirmaram considerar que as orientações foram adequadas e suficientes. DISCUSSÃO Está se tornando cada vez mais fácil o acesso dos pacientes com lombalgia crônica a exames de imagem como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética. Com isso é crescente a identificação de alterações dos discos intervertebrais. A literatura é clara sobre a falta de especificidade dos exames de imagem quando se trata de abaulamento ou hérnia de disco, estando essas alterações presentes em muitos pacientes assintomáticos2,5-8. Jensen et 186 original al.7 avaliaram 98 pacientes assintomáticos e encontraram discos normais em apenas 36% dos casos, em 52% havia abaulamento, em 27% hérnia e em 1% extrusão de disco. Jarvic et al.6, entre 148 pacientes avaliados sem lombalgia nos últimos quatro meses, identificaram em 95 (64%) abaulamento, em 48 (32%) hérnia e em 9 (6%) extrusão de disco. Ainda neste estudo a degeneração de disco foi identificada em 77% dos pacientes acima de 45 anos. A extrusão de disco é a alteração radiológica mais específica e que mais se associa diretamente ao quadro clínico6,7. Boos et al.8 fizeram um estudo prospectivo acompanhando clinicamente 46 pacientes assintomáticos com alterações de disco na ressonância magnética lombar, hérnia de disco foi identificada em 73,9% e degeneração de disco em 50%. Após um tempo médio de 62 meses de acompanhamento 19 pacientes (41,3%) apresentaram lombalgia episódica benigna, 6 (13%) tiveram lombalgia severa necessitando de tratamento e em nenhum caso houve desenvolvimento de ciática. Também em nenhum dos casos acompanhados houve necessidade de internação ou intervenção cirúrgica. Ainda nesta série, cinco pacientes perderam dias de trabalho devido à lombalgia (variando de um dia a trinta e cinco meses de ausência ao trabalho). Em nossa amostra de 50 pacientes com lombalgia crônica encontramos abaulamento de disco em 42%, hérnia de disco em 46% e imagem tanto de abaulamento quanto de hérnia de disco no mesmo paciente em 12% dos casos, não havia ciatalgia em nenhum dos casos e não houve imagem de extrusão discal. É importante ressaltar que, em nossa pesquisa, os exames de imagem foram avaliados por diferentes radiologistas, o que pode ter levado a variações nas interpretações e no uso de diferentes critérios radiológicos. Acredita-se que 80% da população terá dor lombar em algum momento da vida1. Dessa forma é essencial que os vários profissionais que tratam esses pacientes tenham conhecimento das indicações dos exames de imagem e, principalmente, saibam interpretar os achados radiológicos. É essencial que se valorize a história clínica e, principalmente, o exame físico. A semiologia neurológica é a ferramenta mais importante na identificação dos sinais radiculares. O sinal de Lasègue é o mais sensível sinal radicular e o sinal de Lasègue contralateral ou cruzado (sinal de Fajersztajn) o mais específico9. Deve-se pesquisar com cuidado a paresia da dorsoflexão do hálux, paresia da flexão dorsal do pé, o reflexo aquileu e alterações sensitivas nos dermátomos10,11. A paresia 187 da flexão plantar do pé é pouco sensível pois só há alterações clinicamente perceptíveis em lesões severas da raiz S110. Devemos valorizar assimetrias claras e mantidas do reflexo aquileu como sinal de compressão de S1, assimetrias discretas ou duvidosas em geral decorrem do relaxamento incompleto do paciente. A arreflexia do aquileu unilateral isolada pode decorrer de compressão prévia ou antiga da raiz S1, outros sinais radiculares devem ser pesquisados11. Em nossa amostra identificamos 7 pacientes em que a assimetria do reflexo aquileu correu de forma isolada sem nenhum outro sinal radicular. Consideramos que esse achado corresponde à compressão radicular anterior, sem relação com a lombalgia referida pelos pacientes no momento da avaliação. Um estudo que avaliou 2.157 pacientes com hérnia de disco confirmada foi encontrado sinal de Lasègue em 96,8%. Quando segmentado pela idade, o sinal de Lasègue estava presente em 100% dos pacientes abaixo de 30 anos, perdendo um pouco em sensibilidade acima dos 30 anos11. A sensibilidade do sinal de Lasègue como sinal de compressão radicular varia em diferentes estudos entre 72% e 97%, enquanto a especificidade varia entre 11% e 66%. O sinal de Lasègue contralateral ou cruzado é o sinal mais específico (variando entre 85% e 100% segundo diferentes autores), mas é pouco sensível (entre 23% e 42% de sensibilidade)11. Nenhum dos nossos 50 pacientes tinha sinal de Lasègue ou sinal de Lasègue cruzado (sinal de Fajersztajn). As manobras de sensibilização do sinal de Lasègue (manobra de Bragard, Sicard, Bonnet e a compressão da fossa poplítea) também não desencadearam ciatalgia. Não encontramos sinal de Neri, sinal de Lasègue invertido nem alterações sensitivas nos dermátomos pesquisados. A história também foi importante, todos os nossos pacientes tinham dor contínua, difusa, localizada na região lombar ou irradiando para ambas as coxas até o joelho. Essas características são de lombalgia crônica inespecífica e não de ciatalgia. Isso indica que não há relação causal direta entre os achados de abaulamento ou hérnia de disco e a lombalgia referida pelos nossos pacientes. Não podemos excluir que em alguns dos casos estudados as alterações discais descritas possam contribuir no mecanismo da dor mas acreditamos que isso não ocorra de forma preponderante na ausência clara de ciatalgia ao exame clínico. A estimulação dos terminais nervosos do anel fibroso e a cascata inflamatória química pela exposição do núcleo pulposo podem compor um quadro multifatorial gerador de dor mesmo na ausência de Rev Neurocienc 2008;16/3:184-188 original compressão direta de raiz, mas está claro que essas alterações discais não são o sítio anatomopatológico único ou responsável direito pela lombalgia nos casos estudados. Em 72,34% dos nossos casos a profissão informada pelos pacientes exigia a realização de esforços físicos consideráveis ou a mobilização freqüente do tronco. Esse dado vai de encontro à literatura. São considerados fatores de risco ocupacionais para lombalgia e prolapso de disco lombar: trabalhos pesados, atividades que levem a torções ou mobilização freqüente do tronco, ocupações sedentárias, falta de condicionamento físico e exposição à vibração corporal (como por exemplo, na profissão de motorista)12. O fato de apenas 31,03% (9 dentre 29 pacientes) terem afirmado que receberam orientações quanto a prevenção de problemas de coluna no trabalho pode sugerir que uma maior preocupação com os riscos ocupacionais pode ser um dos caminhos para diminuir o impacto socioeconômico da lombalgia. Questões sociais são fatores de risco bem estabelecidos para a cronificação da lombalgia4,5,13. Chamou nossa atenção a grande freqüência, na amostra estudada, de referência a benefícios assistenciais previdenciários (80,43%). A média de dias afastados do trabalho dos pacientes já em benefício foi de 16,16 meses. Esse dado é concordante com a literatura e ressalta o forte impacto econômico da lombalgia crônica1. Devemos estar atentos para eventuais ganhos secundários e questões trabalhistas que possam ser responsáveis por lombalgias crônicas que não respondem a nenhuma forma de tratamento. A grande maioria dos nossos pacientes solicitou benefício com base em atestados médicos alegando a hérnia de disco encontrada nos exames de imagem como a causa da lombalgia crônica mesmo sem haver ciatalgia. Em 25,53% dos nossos pacientes foi possível fazer diagnóstico de depressão usando os critérios da DSM IV. Sabemos que a depressão baixa o limiar de percepção à dor, sendo importante investigar e tratar as comorbidades psicológicas. Os fatores psicosociais associados à lombalgia foram marcantes em nosso estudo, tornando difícil a correlação entre as queixas álgicas e as alterações radiológicas dos discos intervertebrais. Os pacientes nos foram encaminhados com o diagnóstico de hérnia de disco, muitas vezes com questionamento sobre uma possível indicação cirúrgica. Isso deixa clara a supervalorização dos exames de imagem e o desconhecimento da semiologia Rev Neurocienc 2008;16/3: 184-188 neurológica. A hérnia de disco é a mais importante causa de lombalgia com ciática, mas o valor dessa alteração radiológica perde muito em especificidade na ausência de ciatalgia. Em nenhum dos 50 pacientes avaliados havia ciatalgia e não foi possível considerar que a lombalgia crônica pudesse ser causada diretamente por compressão radicular decorrente de hérnia ou abaulamento de disco intervertebral. Não podemos excluir que as alterações discais identificadas possam estar contribuindo para o quadro álgico em alguns dos casos estudados, mas a ausência de ciatalgia deixa claro que, em nossa amostra, esse não é o fator causal preponderante da lombalgia. CONCLUSÃO Está ocorrendo uma supervalorização dos exames de imagem em detrimento de uma adequada avaliação clínica dos pacientes com lombalgia crônica sem ciática. Há a necessidade de um maior conhecimento da semiologia neurológica e da abordagem dos fatores psicológicos e sociais como itens essenciais no tratamento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 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Foram avaliados 20 pacientes que iniciaram tratamento no ambulatório de Doenças Neuromusculares da Unifesp. Para análise foi utilizado o teste de Igualdade de duas Proporções, a Correlação de Spearman, o teste para o Coeficiente de Correlação. Resultados. Dos 20 pacientes, 60% apresentaram ELA; média de idade de 63,30 ± 4,55 anos; tempo médio da doença de 20,85 meses; porcentagem equivalente entre homens e mulheres; maioria da raça branca; e, 45% deles exerciam trabalho com esforço físico. O sintoma inicial relatado pela maioria foi fraqueza muscular (45%). Conclusão. O perfil clínico encontrado corrobora com os estudos descritos, confirmando os resultados encontrados, e o tempo entre início de sintomas e data da primeira consulta foi de 20,85 ± 6,77 meses. Introduction. Motor neuron diseases are a group of fatal, progressive neurodegenerative disorders comprising: primary lateral sclerosis, progressive muscular atrophy, progressive bulbar palsy, and amyotrophic lateral sclerosis (ALS). The most frequent early symptoms are muscle weakness, cramps, muscle atrophy, fasciculation and dysphasia. The earlier a diagnosis is obtained, the more effective a treatment or the better a management can be provided. Therefore, studies to determine the clinical profile of MND along with the determination of the time elapsed between the early symptoms and the first visit to a doctor can contribute to raise the level of awareness of such diseases. Method. Twenty patients starting their treatment at the UNIFESP outpatient’s clinic for neuromuscular diseases were subject of the present study. The statistical analysis of the data collected used the test for difference between two proportions and Spearman’s correlation test. Results. Among the 20 patients aged 63.30 ± 4.55, 60% presented with ALS. The mean time elapsed from the first symptom and the first examination at the UNIFESP clinic was 20.85 months, most patients were white with men/women ratio of 1:1, and 45% of the patients worked at jobs with physical demands. Most patients reported muscle weakness as the first symptom (45%). Conclusion. The clinical profile agrees with those reported in previous studies. The mean time elapsed between the occurrence of the first symptom and the first visit to a doctor was 20.85 ± 6.77 months. Unitermos: Doença dos Neurônios Motores. Esclerose Amiotrófica Lateral. Epidemiologia. Keywords: Motor Neuron Disease. Amyotrophic Lateral Sclerosis. Epidemiology. Citação: Faria DC, Fávero FM, Fontes SV, Quadros AAJ, Oliveira ASB. Perfil clínico de pacientes com doença do neurônio motor no ambulatório da Unifesp. Citation: Faria DC, Fávero FM, Fontes SV, Quadros AAJ, Oliveira ASB. Clinical features of motor neuron disease patients treated at Unifesp outpatient’s clinic. Trabalho realizado na Universidade Federal de São Paulo - Unifesp. 1. Fisioterapeuta, Especialista em Intervenção Fisioterapêutica nas Doenças Neuromusculares pela Universidade Federal de São PauloUnifesp, Aprimoranda de Fisioterapia em Clínica Médica pela FUNDAP, Hospital do Servidor Público Estadual. 2. Fisioterapeuta, Mestre em Neurociências - Unifesp, Coordenadora do Curso de Pós Graduação em Intervenção Fisioterapêutica nas Doenças Neuromusculares - Unifesp. 3. Fisioterapeuta, Doutora em Ciências - Unifesp, Docente do Curso de Fisioterapia - Umesp. 4. Fisioterapeuta, Mestre em Ciência - Unifesp, Presidente da Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica. 5. Neurologista, Livre Docente, Chefe do Setor de Investigação nas Doenças Neuromusculares - Unifesp. Endereço para correspondência: Departamento de Neurologia/Neurocirurgia Universidade Federal de São Paulo - Unifesp R Pedro de Toledo, 377 04039-031 São Paulo, SP Fone: (55 11) 8524-7559 189 Recebido em: 19/06/08 Revisado em: 20/06/08 a 21/09/08 Aceito em: 22/09/08 Conflito de interesses: não Rev Neurocienc 2008;16/3:189-193 original INTRODUÇÃO A Doença do Neurônio Motor (DNM) é uma desordem neurodegenerativa, progressiva e fatal, a incidência é de 2 a cada 100.000 habitantes por ano1. É caracterizada por degeneração dos Neurônios Motores Superiores (NMS) localizados no córtex motor, e dos Neurônios Motores Inferiores (NMI), sendo estes encontrados no tronco cerebral e células do corno anterior da medula espinal2. Existe uma classificação das DNM, os quais corresponde á Esclerose Lateral Primária (ELP) caracterizada por comprometimento predominantemente de NMS. A Atrofia Muscular Progressiva (AMP) caracterizada pelo envolvimento isolado do NMI. A Paralisia Bulbar Progressiva (PBP) e a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) por comprometimento em ambas localizações em NMS e NMI3,4. Essas doenças apresentam os sinais clínicos como hiperreflexia, clônus, sinal de Hoffmann e Babinski, correspondem a morte celular de NMS. Já os sinais de atrofia, fraqueza muscular e fasciculação correspondem à degeneração de NMI5,6. Sendo a etiopatogenia da ELA desconhecida, vários fatores genéticos, ambientais e endógenos parecem contribuir para o desencadeamento e evolução da neurotoxicidade na doença7,8, um exemplo é a maior incidência de ELA em indivíduos que residem ou trabalham em áreas rurais9,10. No entanto, não existe nenhum exame específico para diagnosticar a doença, os critérios clínicos dos sinais apresentados após lesão em NMI e NMS e o exame de eletroneuromiografia que auxiliam no diagnóstico2. Sabe-se que a sobrevida dos pacientes com ELA é em média de 2 a 5 anos11-13. E, que após o aparecimento dos sintomas iniciais uma variedade de fatores pôde contribuir para uma diminuição da sobrevida, incluindo idade mais avançada no início da doença, pacientes do sexo feminino e início dos sintomas na forma bulbar13,14. No Brasil existem alguns dados avaliados, em 1998 constatou-se que 443 pacientes foram classificados em 14,2% dos casos ELA provável, 85,8% em ELA definida, sendo 58,5% do sexo masculino. Apenas 5,9% dos casos apresentaram história familiar da doença e a idade média de início dos sintomas foi de 52 anos de idade, demonstrando neste estudo que na Europa esta média é mais alta, ocorrendo mais em pessoas entre 59 e 65 anos8. Em 2000 constatou-se em Fortaleza 78 casos de ELA, sendo que 65,3% homens e , a média de idade de início foi de 42 anos6. Rev Neurocienc 2008;16/3: 189-193 Devido a rápida progressão da doença é importante que a confirmação diagnóstica seja realizada de forma breve. No entanto, as pesquisas realizadas neste campo a respeito do diagnóstico se tornam limitadas pelos fatores de baixa incidência e pela variedade fenotípica da doença15,16. Sendo os componentes desta doença desfavoráveis à investigação, se faz necessária análise do perfil clínico dos pacientes com DNM que iniciaram tratamento no Setor de Investigação em Doenças Neuromusculares (SIDNM), quanto ao tempo, em meses, entre início dos sintomas e primeira consulta e quanto ao tempo de diagnóstico. MÉTODO Foi realizado um estudo longitudinal, no SIDNM da UNIFESP, onde o pesquisador fez contato com os pacientes em dois momentos no período de 8 meses, esses pacientes eram encaminhados pela clínica médica com suspeita ou diagnóstico de DNM. Todos os pacientes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da UNIFESP, protocolo número 1168/07. Foram incluídos os pacientes que apresentaram características clínicas de DNM/ELA. E como critério de exclusão foi adotado os seguintes quesitos: o não preenchimento de todos os dados solicitados e/ou aqueles que vieram encaminhados erroneamente ao SIDNM, apresentando características de outras doenças. Foi elaborado um protocolo com as seguintes variáveis: sexo, data de nascimento, raça, região de origem, ocupação, data de entrada no Setor, características do primeiro sintoma, data do diagnóstico, data da última consulta, classificação da DNM, informações sobre eletroneuromiografia e data de óbito. As variáveis foram coletadas em dois momentos e ao término da última coleta, foi constatado que alguns pacientes não retornaram ao setor, assim esses foram contatados via telefone. Análise estatística Teste de Igualdade de Duas Proporções foi utilizado para caracterizar os resultados das distribuições de todas as variáveis qualitativas, tais como: sexo, raça, hipótese diagnóstico inicial e etc. Já a correlação de Spearman serviu para medir a relação entre tempo de doença e data de entrada. O teste de Correlação foi utilizado para validar o valor da correlação que encontramos. Foi definido para este 190 original trabalho um nível de significância, ou seja, o erro estatístico nas análises de 0,05 (5%). Também, todos os intervalos de confiança ao longo do trabalho, foram construídos com 95% de confiança estatística. RESULTADOS Foram coletados dados inicialmente de 30 pacientes, sendo que 20 preencheram os critérios de inclusão e exclusão. Foi observado que em 40% dos casos os pacientes chegaram com os exames necessários (ENMG dos 4 membros e ressonância magnética) e, após exame físico era confirmado o diagnóstico. Porém, 50% dos pacientes não tiveram seu diagnóstico confirmado completamente, faltando na maioria destes casos a realização de alguns exames de exclusão para outras doenças. Verificou-se que 10% já haviam diagnóstico confirmado e foram encaminhados ao SIDNM para receber acompanhamento multidisciplinar. Ao analisar a hipótese diagnóstica na primeira consulta encontramos que 60% dos pacientes apresentaram sinais de ELA, sendo este resultado estatisticamente diferente das outras hipóteses, com p < 0,001 (Figura 1). Quanto ao exame de eletroneuromiografia, 70% dos pacientes apresentaram o exame compatível com degeneração de Neurônio Motor e este é um percentual considerado estatisticamente significativo e diferente dos demais. Verificamos também que a idade média dos pacientes da amostra foi de 63,30 ± 4,55 anos com Coeficiente de Variação (CV) de 16,4% sendo que CV < 50% indica uma homogeneidade de amostra. O tempo médio entre início dos sintomas e primeira consulta no SIDNM foi de 20,85 ± 6,77 meses. Quanto ao sexo dos pacientes podemos observar que, embora haja maior porcentagem de homens (55%), a diferença para os 45% de mulheres não é considerada estatisticamente significante, com p = 0,527. Averiguamos que a raça mais prevalente foi 70% 0,6 60% 50% 40% 0,25 30% 20% 10% 0,1 0,05 0% AMP ELA ELP PBP Figura 1. Distribuição de hipótese diagnóstica inicial. branca com 85% da amostra, sendo este valor estatisticamente significante. Concluímos também que a grande maioria dos pacientes reside na região sudeste. Ambos resultados com p < 0,001. Quanto ao tipo de trabalho exercido, os pacientes foram classificados em: quem nunca trabalhou, trabalho com esforço físico, trabalho rural e trabalho sem esforço físico. A ocupação mais recorrente foi “Trabalho com esforço físico” com 45%, mas não pode ser considerado estatisticamente diferente do percentual de “Trabalho sem esforço físico” com 35%. Foi considerado trabalho com esforço físico a profissão de empregada doméstica, costureira, empacotador, eletricista. Quanto à característica do primeiro sintoma, a fraqueza foi relatada pela maioria dos pacientes (9), o que corresponde a 45% da amostra, este dado apresenta uma diferença significativa em relação aos demais (Figura 2). O local do primeiro sintoma apresentou uma distribuição em que inicialmente 40% foi a região bulbar, porém esse dado não pode ser considerado estatisticamente diferente do percentual dos demais locais. Na análise da distribuição e classificação da ELA, foi encontrado que 83,3% é esporádica e 16,7% familiar. Apresentando um valor significante onde, p < 0,001. Da amostra analisada foram constatados 3 óbitos durante o período de coleta, sendo que em 1 caso a morte não foi relacionada com a hipótese inicial da doença. Ao se tratar dos outros 2 casos, a sobrevida dos pacientes a partir do início dos sintomas foi em média de 10 meses. Em um dos casos o início foi de sintomas na região bulbar e o outro caso sintoma de fraqueza em MMII. O paciente com sintomas iniciais bulbares era do sexo masculino, trabalhador rural e tinha 87 anos e, sua sobrevida foi de 8 meses. DISCUSSÃO Os resultados obtidos, a partir da coleta de 20 casos novos do SIDNM, sobre características clíni50% 45% 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% 0,45 0,15 0,15 0,1 Alt. Voz 0,05 0,05 Cãibra Cansaço 0,05 Disartia Disfagia Fraqueza Quedas Figura 2. Distribuição do sintoma inicial. AMP= Atrofia Muscular progressiva; ELA= Esclerose Lateral Amiotrófica; ELP= Esclerose Lateral Primária; PBP= Paralisia Bulbar progressiva. 191 Rev Neurocienc 2008;16/3:189-193 original cas como hipótese diagnóstica, sintoma inicial, sexo, raça, ocupação, região de origem e exame eletroneumiográfico, podem contribuir para a caracterização das DNM. Um estudo retrospectivo (1990 a 2003) realizado no hospital na Grécia, com 133 prontuários de DNM revelou que 111 (83,5%) eram de pacientes com ELA17. Apesar da etiologia da ELA ainda não estar bem definida, existem vários estudos que corroboram que a ELA esporádica é a mais comum e pode ter como principais causas fatores ambientais e predisposição as alterações genéticas18,19. A média de idade do início dos sintomas foi de 63,3 anos, valor também encontrado em outros estudos20,21. E a taxa de mortalidade aumenta em pacientes com mais de 70 anos, tendo também notado um pico de mortalidade no grupo de pacientes entre 70 e 80 anos22. A freqüência encontrada entre homens e mulheres coincide com outras pesquisas9,23. Porém há relatos de freqüência um pouco maior da doença em homens, respectivamente de 63,9% e 60%17. O estudo em questão verificou um predomínio de pacientes que residem na região Sudeste do Brasil (75%), porém este dado é relativo já que o SIDNM localiza-se nesta região. Um dado interessante é que 25% dos pacientes vieram do Nordeste para a investigação da doença. Quanto à raça, sabe-se que pode influenciar no fenótipo e na progressão da doença24. Também foi verificado que há uma menor incidência de ELA nas etnias africanas, asiáticas e hispânicas, em relação aos brancos25. Em relação ao primeiro sintoma da doença foi descrito que de 117 pacientes, 44% relataram início bulbar dos sintomas e que 56% início em membros. Pontua também que o início bulbar é mais freqüente em mulheres e em membros é mais relatado no sexo masculino16. A fraqueza muscular também foi sintoma inicial mais freqüente em outros estudos e que 72% dos pacientes apresentaram fraqueza muscular durante a evolução da doença23,26. Iwasaki et al.16 verificou que 44% dos pacientes apresentaram início bulbar da doença, com sintomas como disfagia, disartria e alteração da voz. A elevada porcentagem de pacientes com DNM, na qual a ocupação exigia esforço físico condiz com alguns indícios investigados27,28 porém não comprovam a relação entre excesso de atividade fí- Rev Neurocienc 2008;16/3: 189-193 sica e DNM. No entanto, outros trabalhos relatam esta correlação29,30. Em um estudo de 2000, na área rural a média de idade de início dos sintomas foi mais baixa (60 a 64 anos) que a encontrada na área urbana (75 a 79 anos). Porém, nos resultados do presente estudo a média de idade dos 15% dos pacientes que exerciam trabalhos rurais, não sofreu diferença em relação aos demais pacientes. A demora para confirmar o diagnóstico quando se trata de DNM foi exposta em alguns estudos, com tempo variando de 11,2 meses a 1,3 anos14,21,26. Da amostra, 8 pacientes ainda não tiveram o diagnóstico confirmado constatando-se a partir daí a necessidade de um tempo maior de acompanhamento. Mandriole et al.9, coletou 143 pacientes e destes 26 morreram no mesmo ano em que a doença foi diagnosticada. E, a demora entre início dos sintomas e primeira consulta, relatada em outro estudo, variou de 1 mês a 2,5 anos, com média de 12 meses, este tempo é um importante fator que interfere no prognóstico da doença16. O presente estudo caracterizou o perfil do pacientes atendidos como novos casos durante um período de 5 meses do ano de 2007. Alguns dados como nível de atividade física praticado, presença de concomitante déficit cognitivo e tempo de diagnóstico podem também ser explorados numa futura pesquisa. CONCLUSÃO A fraqueza muscular apresentou como um dos maiores indicativos para o diagnóstico clínico inicial. Este estudo também revelou que existe um longo período que o paciente percorre antes de realizar a primeira consulta no setor médico adequado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Michell JD, Borasio GD. Amyotrophic Lateral Sclerosis. Lancet 2007;369:2031-41. 2. 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Severely increased risk of amyotrophic lateral sclerosis among Italian professional football players. Brain 2005;128:472-6. Rev Neurocienc 2008;16/3:189-193 original Severity and Functional Ability Scale for Amyotrophic Lateral Sclerosis patients: preliminary results Escala de Gravidade e Habilidade Funcional para pacientes com Esclerose Lateral Amiotrófica: Resultados Preliminares Marco Orsini1, Marcos RG de Freitas2, Osvaldo JM Nascimento3, Mariana Pimentel de Mello4, Clayton Amaral Domingues5, José Mauro Brás Lima6, Marli Pernes6, Cláudio Heitor Gress6, Acary Souza Bulle Oliveira7, Carlos Henrique Melo Reis8, Wandilson Júnior8, Giseli Quintanilha8, Eduardo B Cavalcanti9, Luciane Bizari Coin de Carvalho10 SUMMARY RESUMO Introduction. Amyotrophic lateral sclerosis (ALS) is a progressive and fatal illness that affects the neurons of the pyramidal tracts and the anterior horn of the spinal cord. Many evaluations methods have been proposed in order to supply better follow-up information of patients as well as improved management of secondary complications. We present, in this study, a new instrument for clinical and rehabilitation follow-up of patients with ALS. Method. We evaluated 96 consecutive patients with diagnosis of ALS, in the University Hospital Antonio Pedro and in the Institute of Neurology Deolindo Couto through the Severity and Functional Ability Scale. Results. This preliminary data allowed us to delineate a 5 domain scale that measure 1) muscle strength myotome specific, 2) functional abilities, 3) swallowing function, and 4) breathing, and 5) disease stage severity. Clinical features and functional manifestations of ALS patients were heterogeneous regarding to the most frequent clinical complications and independence levels. Conclusion. These preliminary results suggest that our 5 domain scale is simple, applicable, not time consuming of, as well as easily reproducible regarding clinical course and prognosis of patients with ALS. Our pilot study grants the next step of our research that includes accuracy, internal validity, reliability, factorial analysis and other needed formal methodological and statistical procedures. Introdução. A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma doença progressiva e fatal que afeta os neurônios do feixe piramidal e da ponta anterior da medula espinhal. Inúmeras avaliações têm sido propostas no sentido de fornecer um melhor acompanhamento dos indivíduos e gerenciamento das complicações secundárias. Apresentamos, no presente estudo, um novo instrumento para acompanhamento clínico e reabilitativo de pacientes com ELA. Método. Avaliamos 96 pacientes consecutivos com diagnóstico de ELA, no Hospital Universitário Antonio Pedro e no Instituto de Neurologia Deolindo Couto com a Escala de Gravidade e Habilidade Funcional. Resultados. Estes dados preliminares permitiram delinear uma escala de 5 domínios que mensuram 1) força muscular em miótomos específicos, 2) habilidades funcionais, 3) deglutição 4) respiração, and 5) estágio de gravidade da doença. As características clínicas e manifestações funcionais dos pacientes com ELA foram heterogêneas em relação as complicações mais freqüentes e ao nível de independência funcional. Conclusão. Estes resultados preliminares sugerem que nossa escala de 5 domínios é simples, de fácil aplicabilidade, não demorada, assim como facilmente reprodutível a respeito do curso clínico e do prognóstico dos pacientes com ELA. Nosso estudo piloto garante a etapa seguinte de nossa pesquisa que inclui a exatidão, validade interna, a confiabilidade, análise fatorial e outros procedimentos metodológicos e estatísticos formais necessários. Keywords: Amyotrophic Neuromuscular Diseases. Scales. Unitermos: Esclerose Lateral Amiotrófica. Escalas. Doenças Neuromusculares. Citation: Orsini M, de Freitas MRG, Nascimento OJM, Mello MP, Domingues CA, Lima JMB, Pernes M, Gress CH, Oliveira ABS, Reis CHM, Júnior W, Quintanilha G, Cavalcanti EB, Carvalho LBC. Severity and Functional Ability Scale for Amyotrophic Lateral Sclerosis patients: preliminary results. Citação: Orsini M, de Freitas MRG, Nascimento OJM, Mello MP, Domingues CA, Lima JMB, Pernes M, Gress CH, Oliveira ABS, Reis CHM, Júnior W, Quintanilha G, Cavalcanti EB, Carvalho LBC. Escala de Gravidade e Habilidade Funcional para pacientes com Esclerose Lateral Amiotrófica: Resultados Preliminares. Lateral Sclerosis. Neuromuscular Disease Outpatient Division, Federal Fluminense University – UFF, Antônio Pedro University Hospital – HUAP. 1. Physical Therapist, Chair of the Neurological Rehabilitation, Escola Superior de Ensino Helena Antipoff (ESEHA) and Neuroscience Researcher at UFF. 2. Neurologist, Chair of the Neurology Department and Head of Clinical Neurology Staff, UFF. 3. Neurologist, MD, PhD, Chair of the Neurology Department, UFF. 4. Physical therapist, Department of Neuroscience, UFF. 5. Neuropsychiatry Institute, Instituto de Psiquiatria da Universidade do Brasil, UFRJ. 6. Neurolgist, Neurology Department, Deolindo Couto Neurology Institute, UFRJ. 7. MD, PhD, Neurologist, Department of Neurology, Unifesp. 8. Neurologist, Neurology Department, UFF. 9. Medical Student, UFF. 10. PhD, Psychologist, Neuro-Sono, Department of Neurology, Universidade Federal de São Paulo. Rev Neurocienc 2008;16/3: 194-203 Address for correspondence: Marco Orsini R. Prof. Miguel Couto, 322/1001 24230-240 Niterói, RJ Phone (55 21) 8125-7634 E-mail: [email protected] Recebido em: 01/08/08 Revisado em: 02/08/08 a 03/09/08 Aceito em: 04/09/08 Conflito de interesses: não 194 original INTRODUCTION Amyotrophic lateral sclerosis (ALS), known in UK as motor neuron disease, is a devastating illness for patients, relatives, and caregivers. It is a progressive disorder that involves degeneration of the motor system at all levels1. At present, the use and the value of standardized scales in the evaluation and follow up of patients with deficiencies/incapacities caused by neurological illnesses is consensus among medical societies and rehabilitation services. Health professionals have sought to systematically evaluate some aspects of the health of their patients in order to define specific goals of treatment and to implement more effective interventions. So, they have been introduced to the practical concept of scales, with the consequent abandonment of subjective evaluations, susceptible to individual parameters of judgment allowing contradictory results2. With the constantly increasing availability of research on new therapeutic possibilities for ALS, it has become evident that traditional evaluation would be insufficient to detect some alterations that future proposals of treatment (medical and rehabilitation) could bring for these patients. The great difficulty, at this moment, is the use of an instrument that would allow objective evaluation of the neurological deficit, the level of functional independence and, mainly, that could be applied to such patients in specific periods of their disease activity3. Many scales had been formulated, beginning with the voluntary evaluation of muscular strength and indicators of functional evaluation up to tissue samplings of affected areas of the nervous system. Besides progress has been made, no indicator proposed at this time was able to meet the criteria of biological significance, sensibility to the progression of the illness, clear relation with the general prognostic and survival, as well as easy and friendly measurement approach4. The main goal of the scales in neuromuscular diseases, as in ALS, is to evaluate objectively the relevant results of the illness and, at the same time, to recognize or to control the deficiencies/incapacities of the patients. The concepts of validity, efficiency, sensitivity, and specificity are essential to find an adequate instrument5. In this way, this study presents the partial results of the application of a new clinical and functional instrument for patients with ALS, extracted after cross-section analysis of 40 individuals. 195 METHOD We evaluated a total of 96 patients with diagnosis of ALS, 50 registered at the Neurology Outcome Sector of the University Hospital Antonio Pedro (HUAP), Fluminense Federal University – UFF, and 46 at the Institute of Neurology Deolindo Couto (INDC), Federal University of Rio de Janeiro (UFRJ). The patients were seen consecutively according to the arrival in the sector for diagnosis or clinical follow up. All the participants of the study signed the Consent Form before the scale application. The Research Ethic Committee of the Fluminense Federal University approved the study (#138309). As inclusion criteria, the patients had to have a definite diagnosis of ALS, or a probable diagnosis with or without laboratory support according to criteria of the World Federation of Neurology, revised in the year 2000 (El Escorial) and a range between 30–85 years. Fifty six patients who had presented at least one of the following items were excluded from the study: (1) electroneuromyography demonstrating either motor or sensitivity conduction block; (2) patients with emotional lability or depression that would eventually preclude follow-up; (3) patients with pain, muscular contractions or associated problems that prevented them from going through with the manual muscular test on the date of application of the scale; (4) patients with spasticity greater or equal to 2 on the Modified Ashworth Scale6; (5) patients with associated illnesses. Assessment One professional (MAO) applied the scale in the 40 included patients, 25 men (31 to 68 years) and 15 women (32 to 67 years), in the period from March to September 2007, and the results were scored after consensus with two other researchers. The rooms had been protected against external noises, had systems of adjusted refrigeration and adequate length for an optimal evaluation. The evaluations took an average of 50 minutes (for each patient) and in accordance with the necessity of the individuals, pauses had been supplied. All the participants had handbooks from HUAP and INDC with complete information related to clinical and evolutive information’s about the illness, properly written, in clear and accurate form, dated and signed by each hospitals staff. The handbooks were up to date and the necessary minimum information consisted of: identification of the patient, clinical description, finding on complementary Rev Neurocienc 2008;16/3:194-203 original exams, findings after application of the EL Escorial criteria7, description of the clinical and laboratorial findings that had allowed the diagnosis of the illness, as well as reports of patients follow-up. The disease classification of the International Classification of Diseases (ICD-10) was also included in the handbooks. The purpose of the instrument was to objectively measure the functional aspects, the muscular strength, and the speech and respiratory functions of patients with ALS (Annex 1). The first stage set out to evaluate the strength in selected myotomes. For such, one key muscle for each spinal segment was established: C5 – biceps brachii; C6 – extensor carpi radialis; C7 – triceps; C8 – fingers flexors; T1 – dorsal and palmar interosseous; L2 – iliopsoas; L3 – quadriceps femoris; L4 – tibialis anterior; L5 – extensor hallucis longus; S1 – ankle plantar flexors. Such muscles had been evaluated in accordance with the criteria of the Medical Research Council8. As there is 10 myotomes evaluated in each half of the body and the maximum punctuation for each one of them is 5, the maximum final score possible was 100 (hundred) points and the minimum 0 (zero). The second part of the scale makes reference to the functional abilities. It consists of 10 items: feeding, dressing, activities that require dexterity, and fine movements, hygiene, to rise from a chair, to carry through activities (work/ social), to ramble or to touch the wheel-chair, carry out changes of position and transfer, carry out functional activities in the erect position; to go up and go down the stairs. Each item was evaluated with score: 0 (zero) – incapable of performing the activity; 5 (five) – capacity of perform the activity, with certain difficulty, being able to refer signs of muscular weakness and abnormal fatigue; 10 (ten) – capacity of carrying through the activity independently. The maximum punctuation is of 100 (one hundred) points and the minimum 0 (zero) points. Depending on the score, the individuals were classified into the following categories: complete dependence (0 points); serious dependence (5–25 points); moderate dependence (30–60 points); mild dependence (65–95 points); and independence (100 points). The third part of the examination was destined to evaluate swallowing. Patients who possess normal alimentary habits receive the maximum score of 100. Problems of feeding associated with eventual chokings, changes in the food consistency (related to swallowing problems), and the necessity of assistance for feeding, received a score of 75, 50 Rev Neurocienc 2008;16/3:194-203 and 25 points, respectively. A complete dependency requiring enteral or parenteral nutrition was equivalent to 0 (zero). The fourth part is related to the respiratory function of the patients, being divided in 5 subitems. A score of 100 (one hundred) points signified complete ventilatory independence and therefore normal respiratory function. The score goes from 75 to 25, and the patients can present alterations in the respiratory function varying anywhere from the use of accessory muscles to the need of partial ventilatory support. In the last stage, score 0 (zero), the patient is completely dependent on ventilatory support. Finally, the patient was further classified on a scale from 0 to 400 points, into specific categories of disease activity/intensity. Stage 5: Terminal phase of ALS (maximum score obtained in all 4 items of evaluation were equal or less than 80 of the total of 400 points); Stage 4: Serious Dependence (maximum score obtained in all 4 items of evaluation between 81 and 160 points of the total of 400); Stage 3: Moderate Dependence (maximum score obtained in all 4 items of evaluation from 161 to 240 points of the total of 400); Stage 2: Mild Dependence (maximum score gotten in the 4 items of evaluation from 241 to 320 points of the total of 400); Stage 1: Initial phase of ALS (maximum score obtained in all 4 items of evaluation higher than 321 of the total of 400). The result of the total of the four items (muscular strength, functional abilities, swallowing and breathing) defined the stage of the illness and supplied an overall view of the main functions affected by the illness. Statistics analysis The model of the study was cross-section. The quantitative analyses had been carried out through software SPSS, widely used in the elaboration of descriptive statistics of the data and modeling. The study sought descriptive statistics of the motor function, the functional abilities, and vital functions and the reliability of the scale in the identification of the intensity of the illness and its consequences on specific functions of daily life. RESULTS The patients, at the moment of the diagnosis, had age ranged from 31 to 68 years. The average time elapsed between the first manifestations of the disease and final confirmation of the clinical diagnosis of ALS was 10 months, 17.5% had received the disease 196 original confirmation less than 5 months after the beginning of the first symptoms, 35% between 5 and 10 months, 22.5% between 10 and 15 months, and 25% more than 15 months after the first manifestations. The majority of our patients (97%) made use of the Rilutek, some associated it with other drugs and/or vitamin supplements. Many patients also make use of vitamin E (61.76%) and natural supplements (14.71%). Other medicaments and rehabilitative therapies had been also used (29.41%). In our study, 47.5% of the individuals related the onset of the illness in lower limbs and 42.5% in the upper limbs. The remaining pointed beginning of the illness in speech. Complaints related with not-explained stumbling, frequent falls and compromise of the dexterity in the hands were the more related by our sample. Of the total of 40 studied patients, 12 presented similar characteristics to the man-in-thebarrel syndrome. The distribution of muscular weakness in determined myotomes is presented in Table 1. The patients presented a great number of functional damages in basic and essential daily life activities, 63% out of the patients did not carry out activities related to work or social domain; 35% needed supportive equipment (wheel-chair); 53% were unable to overcome obstacles during gait; 30% were totally dependent in changing body position and transferences (Table 2). Of the total of our patients, 10% had presented symptoms related to the involvement of the motor neurons of the brain stem, beginning with speech changes (articulation, tone and intensity). Of the total, 57.5% presented problems related to swallowing; 27.5% presenting problems in the feeding with eventual choking, and 30.0% already needing changes in the food consistency, had the difficulties in the chewing and bronchoaspiration (Table 3). In our study, 62.5% of the patients had respiratory disturbances. Of these 45% present dyspnea to the great and/or medium efforts with/without increase of the respiratory frequency and use of the accessory muscles. 17.5% of our sample already needs periods of non-invasive ventilation and/or oxygen support, relating dyspnea to the small efforts and even to the rest, with increase of the respiratory frequency and use of accessory muscles (Table 4). The total score, with all parts of the scale, we classified the patients according to the stage of evolution of the ALS, showing that most of patients were in mild dependence and initial phase (Table 5). DISCUSSION In this regard, our data is in keeping with previous study results, which have shown a slight predominance of ALS in men9. More recent studies, however, show that both genders are equally affected10. An increase in the number of women with the illness can be related to improved identification of the at-risk population when compared to previous studies, being recently exposed to an unidentified environmental agent, and/or changes in patients lifestyle, with patients becoming more vulnerable to potential toxins (smoke, among other occupational hazards). New research has found a statistically significant association between gender and the survival of patients with ALS11, and the results have demonstrated that men possess a more prolonged survival when compared to women. Table 1. Distribution of the patients regarding muscular weakness in myotomes. Criteria of the Medical Research Council 0 Key muscle for each spinal segment* 1 2 3 4 5 L R L R L R L R L R L R C5 – biceps brachii 2 2 5 4 6 5 6 6 12 12 9 11 C6 – extensor carpi radialis 4 3 6 4 8 7 9 11 10 9 3 6 C7 – triceps 5 2 2 3 6 5 8 9 8 9 11 12 C8 – fingers flexors 2 3 7 3 6 3 6 11 10 8 9 12 T1 – dorsal and palmar interosseous 10 7 6 5 6 5 6 9 5 8 7 6 L2 – iliopsoas 6 5 5 5 5 4 8 12 11 9 5 5 L3 – quadriceps femoris 4 3 4 3 2 7 6 4 14 18 10 5 L4 – tibialis anterior 8 9 9 6 2 5 5 5 9 7 7 8 L5 – extensor hallucis longus 13 13 4 6 2 1 4 2 10 12 7 6 S1 – ankle plantar flexors 8 6 4 7 3 5 5 4 3 5 17 13 * Such muscles had been evaluated in accordance with the criteria of the Medical Research Council 10. L = left; R = right. 197 Rev Neurocienc 2008;16/3:194-203 original Table 2. Distribution of the patients regarding functional abilities. Functional Abilities Scale 0 5 10 Feeding 12 17 11 Dressing 16 14 10 Activities that require dexterity and fine movements 11 20 9 Hygiene 12 13 15 To rise from a chair 15 10 15 To carry through activities (work/ social) 25 11 4 To ramble or to touch the wheel-chair 14 12 14 Carry out changes of position and transfer 12 16 12 Carry out functional activities in the erect position 17 11 12 To go up and go down the stairs 21 10 9 0 = incaple; 5 = with difficulty; 10 = independent The peak age of ALS onset is from 55 to 75 years. Recently, a modest increase in incidence has been noted, along with a tendency for the condition to present at younger ages12. The patients of the present study, at the moment of the diagnosis, had age from 31 to 68 years. The factor age is identified as a strong and reliable predictor in the prognosis of patients with ALS9. Younger individuals (up to 40 years), at the moment of the diagnosis and/or at the moment of the first symptoms, had a more favorable prognostic when compared to the older subjects, with age from 40 to 70 years. In the youngest group, 60% survived at least 5 years, whereas only 8% of the eldest patients reached this endpoint. The mechanism underlying this phenomenon is unknown. Younger patients may compensate better for declining motor function and older patients may have fewer motor neurons to compensate. But such explanations provide little insights as to the mechanisms involved. Other studies have also found statistically significant results when associating the age to the prognostic of ALS13. In our study, the average time elapsed between the first manifestations of the disease and final confirmation of the clinical diagnosis of ALS was 10 months, such a factor, according to some researches, serves as an excellent prognosis marker for these patients14. This delay was negatively related to hazard, i.e., positively related to length of survival, the longer the delay the longer the survival9. These results suggest that fast progressing patients tend to seek medical care earlier, whereas those with slower disease progression are referred later on or adapt to the first symptoms for a longer time before they visit a tertiary care facility. Patients with higher economic and education level look for health services earlier than individuals of lower social classes15. Rev Neurocienc 2008;16/3: 194-203 Many causal and pathogenic hypotheses for ALS have been proposed over the years, ranging from heavy metal toxic effects to environmental and occupational exposures. More recent studies focus largely on excitotoxicity and oxidant stress. The excitotoxic hypothesis has led to the identification of Riluzole, a glutamate-release inhibitor, as the first licensed disease-modifying treatment for ALS16. The majority of our patients (97%) made use of the Rilutek, some associated it with other drugs and/or vitamin supplements. In individuals with ALS rehabilitation is mainly designed to prevent fatigue and contracture, to improve independence and activities for as long as possible, to optimize ability to live with the handicap, and finally to maximize quality of life. The functional impairment must be defined and physical therapy techniques have to be adapted to each patient and reevaluated frequently during the course of the disease17. Strengthening or endurance exercises are controversial as exercise may injure remaining muscle fibers and motor neurons. Isometric exercise, short of fatigue, of unaffected muscles is recommended. Range of motion exercise is critically important for preventing contraction. Assistive and adaptative equipments are essential for maintaining the patient’s activities of daily living and home equipment preserves independence. Several orthoses for hand, arm, foot or cervical weakness are available. A wheelchair is an important adaptative device when walking becomes too fatiguing or impossible. The choice for special options and features may require attention. Pulmonary complications are prevented with adapted techniques for bronchic obstruction18. Some patients of the present study presented with clinical acute, reactive depression after the diagnosis had made necessary psychological accompaniment. Clinically significant depression should be sought and treated regardless of the stage. Selective serotonin reuptake inhibitors are most frequently Table 3. Distribution of the patients regarding swallowing evaluation. Criteria N Score Normal alimentary habits 16 100 Problems of feeding, eventual chokings 12 75 Changes in the food consistency (provoked for difficulty in swallowing) 11 50 Necessity of sounding lead for feeding 0 25 Necessity of enteral or parenteral nutrition – complete dependence 1 0 100 = independence; 75 = choking; 50 = difficulty of swallowing; 25 = help for feeding; 0 = complete dependence 198 original Table 4. Distribution of the patients regarding breathing. Criteria N Score Patient without necessity of ventilatory support. Normal respitatory function 15 100 Patient presenting dyspnea to the great and/or medium efforts with/without increase of the respiratory frequency and use of the accessory muscles. Not needing support of oxygen and/or non invasive ventilation 18 75 Patient needing periods of not invasive ventilation and/or support of oxygen. Already relates dyspnea to the small efforts or the rest, increase of the respiratory frequency and use of the accessory muscles. 7 50 Patient partially dependent on mechanical ventilation (support mode). Receives a pressure from support to assist its ventilation. 0 25 Patient dependent on mechanical ventilation (Assst/ Control or controlled mode) 0 0 100 = independence; 25–75 = respiratory disorders; 0 = dependent on ventilatory support. used; however, amitriptyline has its advantages in ALS because this drug may exert favorable effects on other symptoms such as drooling, emotional lability, and sleep disturbances19. The first part – The strength in selected myotomes Motor unit enlargement by sprouting is an important compensatory mechanism for loss of functional motor units during neuromuscular diseases. Perisynaptic Schwann cells at neuromuscular junctions extend branchings that bridge between denervated and reinnervated endplates, and guide axonal sprouts to reinnervate the denervated endplates. The progression is accelerated in motoneuron disease, progressing more rapidly in the post-polio syndrome after prolonged denervation and extremely fast in ALS20. In most cases, the patients perceived the onset as weakness in a distal part of one limb. The majority of the patients relate that the illness began with slips, inexplicable falls or problems in activities that demanded dexterity. The disease begins with equal frequency in upper and lower limbs (30 to 40% of cases each) and the clinical picture depends on the area of the nervous system that is damaged21. In our study, 47.5% of the individuals related the onset of the illness in lower limbs and 42.5% in the upper limbs. The muscles of the upper arm and shoulder girdles were typically involved later. When an arm is the first limb affected, all this occurs while the thigh and leg muscles seem relatively normal, and there may come a time in some cases when the patient walks about with useless, dangling arms and mimicking the man-in-the-barrel syndrome22. Of the total of 40 studied patients, 12 presented similar characteristics to the Man-in-the-barrel Syndrome. Later the atrophic weakness spreads to the neck, tongue, pharyngeal, and laryngeal muscles, and eventually those in the trunk and lower extremities yield to the onslaught of the disease. 199 The use of the manual muscle testing (MMT) when compared to the maximal voluntary isometric contraction (MVIC) is the recommended option in patients with ALS. Reproducibility between MVIC and MMT are equivalent. However, sensitivity to detect progressive weakness over time favored MMT, an effect largely accounted for by the muscles sampled. MMT was found to be the preferred measure of global strength because of its better Pearson correlation coefficients, essentially equivalent reproducibility, and more favorable coefficient of variation23. We opted for the utilization of the scale established by the Medical Research Council for the justifications pointed above. Over the last decade, motor unit number stimulation (MUNE) methods have been applied with increasing frequency to the study of ALS. MUNE is the ideal tool for the assessment of diseases in which the primary defect is motor unit loss, as it enables quantization and tracking of motor unit numbers while simultaneously gauging countervailing collateral reinervation. These properties make it particularity useful for assessing the effects of both neuroprotective therapies and therapies designed to enhance collateral reinervation, not only in animal models but also in the living patient24. More recent efforts have incorporated MUNE into ongoing, multi-center clinical trials as a putative early biological marker, with encouraging results25. Table 5. Classification of the patient into specific categories of disease. Stage Score (points) N 0–80 1 Stage 4 – Level of Serious Dependence 81–160 5 Stage 3 – Level of Moderate Dependence 161–240 7 Stage 2 – Level of Mild Dependence 241–320 16 Stage 1 – Initial phase of ALS 321–400 11 Stage 5 – Terminal phase of ALS Rev Neurocienc 2008;16/3:194-203 original The second part – The functional abilities Knowing the presentation of the patients with ALS in terms of functional dependence allows the rehabilitation services to be structured as to take meet the demands of this population in a more efficient manner. Changes in home environment also are necessary26. The patients of this study presented countless functional damages in basic and essential daily life activities. 63% out of the patients did not carry out activities related to work or social activities; 35% needed supportive equipment (wheel-chair); 53% were unable to overcome obstacles during gait; 30% were totally dependent in changing decubitus and transfers. We must presume that such motor disabilities are directly related to corresponding myotomes affected and, therefore points to a massive destruction of the cells of the anterior horn of the spinal cord. The third part – The swallowing function Bulbar symptoms are the initial manifestations in 19% to 25% percent of ALS cases21. Of the total of our patients, 10% had presented symptoms related to the involvement of the motor neurons of the brain stem, beginning with speech changes (articulation, tone, and intensity). Swallowing and speech disorders are the dramatic consequences of bulbar and pseudo-bulbar syndrome in ALS. Control of dysphagia requires an adjustment in diet consistency. Specific swallowing techniques can help to prevent aspiration26. When oral food intake becomes intolerable because of choking, percutaneous endoscopic gastrostomy should be undertaken27. Dysarthria can lead to complete loss of oral communication. Speech therapy is helpful initially if progression is slow. Modern computer technology can enable even quadriplegic patients to communicate effectively28. Discussion of percutaneous endoscopic gastrostomy tube placement should be initiated early; placement should be presented as a positive option rather than a sign of failure. Many patients and families need time to adjust to this strategy and may be helped by information from patient groups/associations. Modern PEG techniques have low morbidity, and tubes may be placed while the patient can still swallow, to enhance nutrition and avoid exhaustion. Nutritionists and home health nurses can provide essential support to families in managing PEG tubes and achieving adequate nutrition29. Unfortunately, the majority of the patients of the present study did not present the financial conditions necessary to meeting the cost of acquiring such equipment and/or services. Counseling was supplied to patients/familiar members. Rev Neurocienc 2008;16/3: 194-203 Most previous studies have reported that disease onset in the limbs rather than in the bulbar muscles were predictive of longer survival time13. Bulbar-onset patients may have shortened survival from earlier involvement of respiratory muscles, a higher rate of respiratory complications, malnutrition, and dehydration. Some patients of the present study had presented the Dropped Head Syndrome, disabling them for a more formal communicative process and compromising the spatial orientation. Pathological crying and laughter was also shown to affect outcome. This does not seem to be due to some primary mood disorder but rather to an abnormal manifestation of affect, which can be very disturbing in certain social situations. The symptom responds well to several drugs30. The fourth part – The respiratory function Many patients have a great fear of being unable to breath, particularly at night. Symptoms usually begin with nocturnal dyspnea and orthopnea, and signs of poor nocturnal oxygenation, such as morning headache, frequent walking, nightmares, and daytime sleepiness. Although mucolytics, expectorants, theophylline, antibiotics and oxygen can contribute to respiratory management, ventilatory support should be anticipated and the options explored before clinical respiratory failure develops. Pulmonary consultants and respiratory therapists can help patients and families learn about the many approaches, and the indications for and implications of each alternative. As with gastrostomy, patients need time to consider various options and require objective information. Patient associations and organizations can be very helpful. It is believed that fewer than 5% of patients eventually use long-term ventilatory support31. Classification of the disease stages Many evaluations are proposed for patient follow-up in order to analyze the state of motor function and their consequences on activities of everyday life. Few recommendations can be formulated. Scales must be validaded and be relatively simple to use and generate results for statistical analysis. The choice of which scale to use depends on the clinical objective. Global scales can be used to evaluate progression of the disability. Some of these scales are strongly correlated with patient survival. Other scales are used to classify patients by homogeneous state of severity. The clinician should be aware of these different 200 original Figure 1. Severity and Functional Abilities Scale. SEVERITY AND FUNCTIONAL ABILITY SCALE (GFSA) AMYOTROPHIC LATERAL SCLEROSIS IDENTIFICATION Patient Name: Handbook Number: Gender: M ( ) F ( ) Occupation: Age of the time of the diagnosis: ( ) years; Present moment ( ) years Begin of the first symptoms: ( ) Upper Limbs ( ) Lower Limbs ( ) Speech ( ) Swallowing Received diagnosis from the illness how much time of beginning of the first symptoms ( ) months Carries through rehabilitative treatment: ( ) Y ( ) N How much time: ( ) months Medicaments treatment for the illness in question: ( ) Y ( ) N Which: ( ) Rilutek ( ) Vitamin E ( ) Natural supplements ( ) Others Diagnostic Date: PART 1 – MOTOR ASPECT Level Key muscle C5 Biceps Brachii C6 Extensor Carpi Radialis C7 Triceps C8 Fingers Flexors T1 Dorsal And Palmar Interosseous L2 Iliopsoas L3 Quadriceps Femoris L4 Tibialis Anterior L5 Extensor Hallucis Longus S1 Ankle Plantar Flexors Strength Grade L R Legend for motor evaluation 0 – Paralysis (movement absent); 1 – Paresis (contraction visible or palpable); 2 – Active movement, does not win the severity; 3 – Active movement, against the severity; 4 – Active movement against some resistance (outside the severity); 5 – Active movement against the ultimate strength of the examiner. Total Score of Muscle Strength: ( )/100 points Left Upper Limb ( ): total 25 points; Right Upper Limb ( ): total 25 points; Left Lower Limb ( ): total 25 points; Right Lower Limb ( ): total 25 points. PART 2 – FUNCIONAL ABILITIES Functional Ability Points Feeding Dressing (upper and lower limbs) Activities that require dexterity and hold Hygiene To get up of a chair To carry through activities (work/ social) in the community To ramble or to touch the wheel-chair Carry out changes of position and transferences Carry out functional activities in the foot position To go up and go down the stairs Total Score of Functional Ability: ( ) / 100 points Dependence grade: Complete: ( ) Modified Independence ( ) Functional Independence ( ) Grade: Complete Dependence: 0 points; Serious Dependence: 5–25 points; Mild Dependence: 30–60 points; Light Dependence : 60–95 points; Independence: 100 points. Score of Functional Ability 0 – performance total compromised (incapable you play the activity) 5 – Performance partially compromised (executes the activity with certain difficulty), being able to refer signs of muscular weakness and abnormal fatigue. 10 – Independence (executes the activity normally) with/without signals of fatigue, and muscular weakness only in the end of the activity. * With regard to the item “To carry through activities (work/social) in the community”, a maximum punctuation, 10 points, is supplied when the patient is capable to play it with complete independence in the community. In case that the patient one only carry through such activities in periods of reduced time or with aid of assistants, it receives punctuation 5. Case not to execute more activities (work/social) and to remain confined in domiciliary environment it is graduated with punctuation 0. 201 Rev Neurocienc 2008;16/3:194-203 original Figure 1. Severity and Functional Abilities Scale (cont.) Specific punctuation for gait or use chair of wheel-chair 0 – Performance total compromised (it does not touch the chair) on account of the degree of muscular weakness and fatigue. 5 – Walk with caregiver aid or equipment of assistance or touches the wheel chair with certain difficulty due to the fatigue and muscular weakness. It does not carry through the task in a long time and for great distances. 10 – Walk of independent form for 50 meters, with/without signals of abnormal fatigue. PART 3 – SWALLOWING Swallowing Points Normal alimentary habits 100 Problems of feeding, eventual choking 75 Changes in the food consistency (provoked for the difficulty in the deglutition) 50 Necessity of sounding lead for feeding 25 Necessity of enteral or parenteral nutrition –complete dependence. 0 Total Score for Swallowing: ( )/100 points Dependence grade: Complete: ( ); Partial ( ); Functional Independence ( ) Grade: Complete: 0 points; Partial: 25–75 points; Independence: 100 points. PART 4 – BREATHING Breathing Points Patient without necessity of ventilatory support. Normal respiratory standard. 100 Patient presenting dyspnea to the great and/or medium efforts with/without increase of the respiratory frequency and use of the accessory muscles. Not needing support of oxygen and/or non-invasive ventilation. 75 Patient needing periods of not invasive ventilation and/or support of oxygen. Already relates dyspnea to the small efforts or the rest, increase of the respiratory frequency and use of the accessory muscles. 50 Patient partially dependent of mechanical ventilation (support mode). He receives a pressure from support to assist its ventilation. PSV (pressure support ventilation) + PEEP (positive end-expiratory pressure). 25 Dependent patient of mechanical ventilation (Assist/Control or controlled mode). 0 Total Score for Breathing: ( )/100 points Dependence grade: Complete: ( ); Partial ( ) ; Functional Independence ( ) Grade: Complete: 0 points; Partial: 25–75 points; Independence: 100 points. FINAL SCORE OF SEVERITY AND FUNCTIONAL ABILITY SCALE Stage 5 – Maximum score gotten in the 4 items of evaluation are equal or lower than 80 points of the total of 400. Strength ( ) Functional Ability ( ) Breath ( ) Deglutition ( ) – Terminal phase of ALS. Stage 4 – Maximum score gotten in the 4 items of evaluation between 81 and 160 points of the total of 400. Strength ( ) Functional Ability ( ) Breath ( ) Deglutition ( ) – Phase of Serious Dependence. Stage 3 – Maximum score gotten in the 4 items of evaluation between 161 and 240 points of the total of 400. Strength ( ) Functional Ability ( ) Breath ( ) Deglutition ( ) – Phase of Moderate Dependence. Stage 2 – Maximum score gotten in the 4 items of evaluation between 241 and 320 points of the total of 400. Strength ( ) Functional Ability ( ) Breath ( ) Deglutition ( ) – Phase of Mild Dependence. Stage 1 – Maximum score gotten in the 4 items of evaluation higher than 321 of the total of 400. Strength ( ) Functional Ability ( ) Breath ( ) Deglutition ( ) – Initial phase of ALS. tools and their relative utility. Knowledge of these scales, their validity, their sensitivity to modification, and their specificity and interpretation pitfalls are prerequisite to good evaluation in daily practice and clinical research14. Although the present study supplies only preliminary results related to a new instrument of evaluation of patients with ALS, we believe that such a scale can be useful for professionals involved in the clinical, laboratorial, or rehabilitative care of these individuals. Moreover, our findings may be important in designing new treatment trials that use disease progression as primary endpoint. Rev Neurocienc 2008;16/3: 194-203 The appropriate stratification of eligible patients could result in recruitment of patients at an early stage of the disease, at a time when they might be more likely to respond to mediation, physical therapy as well as to rehabilitative measure in general and more likely to complete the trial. Other symptoms and secondary complications presented by our patients included: cramps, muscular pain, joint pain, spasticity, pressure ulcers, sialorrhoea, muscular contractures, and other joint abnormalities. The use of specific medications in addition to the physical therapy/nursing services is strategies used for a better management of these problems32. 202 original CONCLUSION These preliminary results suggest that our 5 domain scale is simple, applicable, not time consuming of, as well as easily reproducible regarding clinical course and prognosis of patients with ALS. The Severity and Functional Ability Scale (GFSA) is an option of easy utilization, fast application, and can be used for sequential ambulatory evaluation, allowing the to individualization of the speed of functional compromise. The classification by severity stages allows anticipating conducts. The results supplied by this scale can facilitate to take decision of the multidisciplinary team for the most adequate treatment. At present, new possibilities of treatment for patients with neuromuscular diseases are related with the principles of the scientific process, time, and efforts of countless researchers regarding therapeutic decision-making based on statistically significant results and outcomes. Considering the great number of clinical studies in the recent past, there are relatively few papers that supply results justifying new therapeutic modalities. Thus, some professionals make use of not-friction therapies and monitor the progress of the patients with empirical data. Our pilot study grants the next step of our research that includes accuracy, internal validity, reliability, factorial analysis and other needed formal methodological and statistical procedures. REFERENCES 1. Haverkamp LJ, Appel V, Appel SH. Natural history of amyotrophic lateral sclerosis in a database population: validation of a scoring system and a model of survival prediction. Brain 1995;118:707-19. 2. Rosenfeld J, Jackson CE. 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As patologias mais prevalentes são ortopédicas, neurológicas, reumatológicas e gestante, sendo as doenças neurológicas. O Acidente Vascular Cerebral foi responsável por 97 casos (54,18%), seguido do Trauma Raquimedular por 22 casos (12,29%), Trauma Crânio Encefálico por 15 casos (8,38%), Esclerose Múltipla por 10 casos (5,58%), Paralisia Cerebral por 09 casos (5,03%), Tumores por 09 casos (5,03%), Parkinson por 03 casos (1,68%) e outros por 14 casos (7,83%). Constatou-se a prevalência das doenças, acima dos 65 anos e indivíduos do sexo masculino foram mais acometidos. Conclusão. Esse estudo mostra a necessidade de elaborar protocolos específicos de tratamento para pacientes idosos com AVC para que possamos comparar o predomínio de determinadas doenças ou lesões levando em consideração todos os aspectos possíveis como: população alvo, região, país, entre outros. Objective. To describe the patients in the sector of hydrotherapy of Albert Einstein Hospital. Method. We evaluated 284 patients, from July 2004 to November 2006. Results. The higher prevalent disease areas were orthopedics, neurology, rheumatology, and pregnancy. Stroke was responsible for 97 cases (54.18%), followed by spinal cord injuries with 22 cases (12.29%), traumatic brain injuries with 15 cases (8.38%), multiple sclerosis with 10 cases (5.58%), and others with 14 cases (7.83%). The higher disease prevalence was in males and above 65 years old. Conclusion. This study shows the need to work on specific treatment protocols for the elderly population affected by stroke. We expect that in the near future we will be able to relate specific illnesses or pathologies to specific target populations, areas, and countries, among others. Unitermos: Hidroterapia. Epidemiologia. Serviço Hospitalar de Fisioterapia. Reabilitação. Keywords: Hydrotherapy. Epidemiology. Physical Therapy Department Hospital. Rehabilitation. Citação: Jakaitis F, Pegoraro ASN, Gusman S, Abrantes CV, Santos DG, Nascimbem D. Estudo epidemiológico da Fisioterapia Aquática do Hospital Israelita Albert Einstein. Citation: Jakaitis F, Pegoraro ASN, Gusman S, Abrantes CV, Santos DG, Nascimbem D. Epidemiological study of the Aquatic Physical Therapy at Hospital Israelita Albert Einstein. Trabalho realizado no Centro de Reabilitação do Hospital Israelita Albert Einstein São Paulo-SP. Apoio: Núcleo de Pesquisa em Medicina Física & Reabilitação do Hospital Israelita Albert Einstein. 1. Fisioterapeuta, especialista, Hospital Israelita Albert Einstein, professor da Universidade Bandeirante de São Paulo. 2. Fisioterapeuta, mestre, Hospital Israelita Albert Einstein, professora da Universidade Bandeirante de São Paulo. 3. Fisioterapeuta, especialista, Hospital Israelita Albert Einstein. Endereço para correspondência: Fabio Jakaitis R. Dr. Roberto Feijó 528/91 03138-001 São Paulo, SP E-mail: [email protected] Rev Neurocienc 2008;16/3: 204-208 Recebido em: 24/07/08 Revisado em: 25/07/08 a 30/08/08 Aceito em: 31/08/08 Conflito de interesses: não 204 original INTRODUÇÃO O Serviço de Fisioterapia ambulatorial, com assistência ao paciente externo teve seu início no Hospital Israelita Albert Einstein em 1993, em área adaptada de quartos de internação. Em 2003 a estrutura foi ampliada, sendo implantando o Centro de Reabilitação¹. Já no princípio de 1996 houve a primeira proposta para uma ampliação em longo prazo do Centro de Reabilitação e já se contemplava a piscina terapêutica nas instalações do hospital. Assim, após três meses de inauguração do Centro de Reabilitação do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), o Hospital inaugura o setor de Fisioterapia Aquática¹. Com 8,80m de comprimento por 4,0m de largura e duas profundidades, nossa piscina no novo centro de reabilitação foi especialmente planejada e construída para atender todas as necessidades dos pacientes. Sua arquitetura arrojada dispôs de teto de vidro para entrada de luz natural e jardim em uma de suas laterais. Os pisos foram cuidadosamente selecionados para evitar risco de acidente. O ambiente é climatizado para que o cliente não sinta choque térmico ao sair da água quente da piscina. A higienização da água da piscina é totalmente controlada por equipamentos automáticos que dosam as quantidades necessárias de cloro e pH. A qualidade da água de nossa piscina segue totalmente os padrões recomendados pela Vigilância Sanitária e ainda conta com auditoria do serviço de controle de infecção hospitalar do HIAE, composto por médicos e enfermeiros especializados¹. Contamos com banheiros adaptados para pacientes que necessitem de cuidados especiais prestados por seus acompanhantes particulares. Um dos pontos fortes da área é o equipamento de acessibilidade para entradas e saídas da piscina. Trata-se de um elevador (Lift) totalmente ergonômico que pode, sem colocar em risco a segurança do paciente, colocá-lo dentro da piscina sentado ou até quase deitado. Os profissionais que atuam no setor apresentam especializações internacionais nos métodos aquáticos, tais como Halliwick, Bad Ragaz e Watsu e contam com experiência ampla na área¹. A Fisioterapia é uma das especialidades mais freqüentes no processo de Reabilitação. A Fisioterapia trabalha para a recuperação da função, da melhoria da mobilidade, alivio da dor e prevenção ou limitação das disfunções físicas de pacientes vitima de lesões ou doenças. Avalia e aborda as seguintes variáveis: força muscular, amplitude de movimento, 205 equilíbrio coordenação, postura, habilidade, respiração e função motora, utilizando como recursos cinesioterapia, mecanoterapia, eletroterapia, termoterapia e técnicas manuais. Estimulam a habilidade do paciente para ser independente e se reintegrar na comunidade ou retornar ao trabalho². A fisioterapia Aquática é um recurso terapêutico de grande relevância para as várias áreas de atuação fisioterapêutica, aplicado em uma piscina termo aquecida através da utilização de técnicas especialmente desenvolvidas com objetivos de prevenir doenças, promover e manter a saúde, tratar, curar e reabilitar indivíduos com distúrbios funcionais e reintegrar o mesmo na sociedade3-5. O uso da água pelas pessoas vem de tempos remotos, onde muito antes da era de Cristo os povos antigos, já utilizavam a água de forma mística para a cura e equilíbrio espiritual. O uso da água como forma terapêutica data de 2400 a.C. pela cultura proto-indiana que fazia instalações higiênicas. Anteriormente egípcios, assírios e muçulmanos já a usavam como curativas. Os hindus em 1500 a.C. usavam para combater a febre. As civilizações japonesas e chinesas antigas faziam culto/adoração para a água corrente e banhos de imersão por longos períodos de tempo. Homero mencionou o uso da água como tratamento para fadiga, cura de doenças e melancolia. Na Inglaterra eram usadas as águas de Bath, anteriormente a 800 a.C. também com propostas curativas5,6. Com a formação dos fisioterapeutas, principalmente pela Escola de Winterwitz, a Reabilitação Aquática começou a criar forma e diretrizes evoluindo de técnicas passivas para exercícios aquáticos ativos, natação terapêutica, entre outras7. Assim, até os dias de hoje, o histórico enorme do tratamento pela água, faz da Reabilitação Aquática, um recurso fisioterapêutico, de grandes benefícios aos tratamentos dos diversos tipos de patologias, sejam elas ortopédicas, neurológicas, pediátricas, gineco-obstétricas e geriátricas7. O conhecimento dos princípios físicos é de fundamental importância para programação, formulação e desenvolvimento dos tratamentos, independentemente da patologia, métodos de tratamento ou quadro de deficiência dos pacientes indicados para a Reabilitação Aquática4,5,8,9. A hidrostática e hidrodinâmica estão presentes em todos os momentos da terapia, desde o momento que ocorre a imersão esses efeitos já estão atuando no corpo do indivíduo, até mesmo sem a introdução de atividades ou posicionamentos terapêuticos4,5,8,9. Rev Neurocienc 2008;16/3:204-208 original Os métodos de tratamentos seja ele Halliwick, Bad Ragaz, entre outros utilizam os efeitos físicos da imersão de forma diretamente proporcional, na formulação de posturas, movimentos e atividades funcionais4,5,8,9. Os efeitos fisiológicos são inúmeros, onde de maneira geral com a ação da flutuação o peso do corpo fica mais leve, levando a um menor gasto energético em determinadas atividades propostas, podendo manter ou aumentar o gasto dependendo do que é proposto, isso, relacionando sempre, com a posição do corpo, temperatura e profundidade ao exercício4,5,8,9. A viscosidade também influencia no aumento do gasto energético. O trabalho realizado na água é fundamental para o aumento do VO2max em diferentes atividades físicas. Em temperaturas mais frias a captação de O2 é maior que em águas quente devido o tremor realizado para captação de oxigênio. Portanto se a atividade realizada em terra mantiver o mesmo VO2 que a atividade realizada na água, o mesmo manterá as diferenças e respostas fisiológicas quanto ao trabalho muscular, metabólicos, cardiovasculares e corporais4,5,8,9. Outro efeito que ocorre durante a imersão é o renal, onde o aumento da diurese, natriurese e potassiurese potencializam a ação cardiovascular, bem como a ação no rim4,5,9. Relacionando as alterações físicas da água com exercício terapêutico, sejam eles exercícios sensoriais, motoras ou funcionais, o terapeuta terá como objetivo central à reabilitação aquática de inúmeras patologias existentes4,5,9. Em revisão da literatura especializada, não existem trabalhos evidenciando as doenças e a população atendida nos Hospitais Brasileiros que apresentam Centro de Reabilitação com setor de Fisioterapia Aquática, sendo este pioneiro e relevante para formalizações de protocolos e projeções de referência no assunto4,5. Fora do país também não foram encontrados trabalhos sobre a prevalência de patologias atendidas em serviços de fisioterapia aquática, em contra partida, existem muitos trabalhos sobre benefícios da fisioterapia aquática para determinadas disfunções. Essa gama de trabalhos em comparação com o Brasil se dá pelo fato de que nos países desenvolvidos a realidade científica ainda é bem diferente da nossa10,11. Hertz-Picciotto, 2003, descreve em seu trabalho que em estudo epidemiológico sobre a hidroterapia com grávidas, as mesmas não apresentam benefícios com o recurso, onde o corre o aumento dos abortos espontâneos com o uso de banhos em banheiras aquecidas ou piscinas11. Rev Neurocienc 2008;16/3: 204-208 Baseado na demanda populacional do setor de Fisioterapia Aquática do Hospital Israelita Albert Einstein e na escala demográfica crescente, houve a necessidade de realizar este estudo epidemiológico. O presente estudo visa estabelecer a prevalência das patologias no setor de fisioterapia aquática do Hospital Albert Einstein em uma cidade de grande porte populacional no estado de São Paulo, estabelecendo parâmetros estatísticos para estruturação de protocolos específicos para as patologias de maior incidência na população deste mesmo hospital12. MÉTODO O estudo foi realizado com pacientes do Hospital Israelita Albert Einstein, no estado de São Paulo. Foi feito um estudo observacional dos pacientes no final de cada terapia no período de julho de 2004 a novembro de 2006. O termo de consentimento foi assinado pelos pacientes ou responsáveis e aceito a publicação. O uso dos dados de exclusividade deste Hospital foi aprovado para publicação pela Gestão do Centro de Reabilitação do Hospital Israelita Albert Einstein. Procedimento Os pacientes foram avaliados pelos autores uma única vez na avaliação inicial. A avaliação desta fase consistiu em anamnese, exames físicos e análise do prontuário do paciente, para confirmação de diagnósticos. Análise estatística Todos os dados obtidos foram formatados e agrupados em planilha Excel, para análise descritiva. RESULTADOS Foram analisadas primeiramente as doenças de maior prevalência ao setor de fisioterapia aquática, onde as áreas de maior atuação são neurológicas, ortopédicas, reumatológicas e gestante, além de outras doenças de menor incidência. A prevalência das doenças neurológicas foi de 179 casos (63,03%), seguido das ortopédicas 70 casos (24,65%), reumatológicas 29 casos (10,21%), gestante por 2 casos (0,70%) e outros por 4 casos (1,41%) (Gráfico 1). Foram analisadas as doenças específicas no grupo de maior incidência. Entre as doenças neurológicas mais freqüentes, o acidente vascular cerebral (AVC) foi responsável por 97 casos (54,18%), seguido do trauma raquimedular (TRM) por 22 casos (12,29%), trauma crânio-encefálico (TCE) por 15 casos (8,38%), esclerose múltipla (EM) por 206 original neuro orto reumato gestante outros Gráfico 1. Distribuição epidemiológica da amostra. 10 casos (5,58%), paralisia cerebral por 9 casos (5,03%), tumores por 9 casos (5,03%), Parkinson por 3 casos (1,68%) e outros por 14 casos (7,83%), no qual estão distribuídas várias doenças de menor prevalência (Gráfico 2). Observou-se que a prevalência dos pacientes que realizam tratamento no setor de fisioterapia aquática do Hospital é acima dos 65 anos (62,5%) e que a predominância é para indivíduos do sexo masculino no padrão de 2:1. DISCUSSÃO O levantamento realizado neste estudo evidenciou a predominância para doenças neurológicas, sendo que o AVC é a doença de maior demanda no setor de fisioterapia aquática13. Este dado pode ser correlacionado com o fato de que anualmente 20 milhões de novos casos de acidente vascular cerebral ocorrem no mundo. Desse total, a mortalidade pode ser de cinco milhões de indivíduos. Os 15 milhões restantes são de casos não fatais de acidente vascular cerebral, e um terço evolui com alguma seqüela neural, entretanto é a maior causa de incapacidade em todo mundo13. Visto que anualmente há um novo aumento na demanda de AVC no mundo e conseqüentemente nos hospitais, tornou-se necessário à elaboração de um protocolo de AVC no Hospital Israelita Albert Einstein com o intuito de diminuir o grau de incapacidade destes pacientes. A existência deste protocolo no hospital também acaba por justificar a predominância dos pacientes com AVC no setor de fisioterapia aquática, pois o centro de reabilitação funciona com uma via de finalização do processo de recuperação destes pacientes14-16. A prevalência do AVC aumenta com a idade, dobrando em cada década sucessiva. Em diferentes países mostram taxas de incidência, ajustadas para a idade, que variam entre 200 e 320/100.000, em indivíduos da faixa etária de 55 a 64 anos, e entre 207 CONCLUSÃO Observou-se que a população participante do setor de Fisioterapia Aquática do HIAE apresenta queixa neurológica, tem idade superior aos 65 anos de idade e do sexo masculino, mostrando a necessidade de elaborar protocolos de tratamentos aquáticos específicos para estes pacientes. Existe um predomínio de pacientes portadores de AVC neste setor de fisioterapia aquática, mostrando a necessidade de uma atenção especial para elaboração de novos estudos, buscando não somente novos conhecimentos, mas também manter a excelência de qualidade nos atendimentos destes pacientes, uma vez que o Hospital apresenta um protocolo de atendimento para este tipo de patologia, onde incentiva a importância de protocolos pioneiros e atualizados para tornar a fisioterapia aquática do Hospital Israelita Albert Einstein, referência nacional no assunto em questão. 120 100 80 60 40 20 0 TU Pa rk in so n O ut ro s 20 0 PC 60 40 EM 80 E 100 TC 120 M 140 TR 160 1840 e 3.970/100.000, em indivíduos com 85 anos ou mais14-16. Este dado pode justificar a maior prevalência de pacientes idosos com AVC no setor de fisioterapia aquática. Com relação ao sexo, as mulheres apresentam AVC mais tarde que os homens, porém um estudo realizado sobre a mortalidade por esta doença no Brasil, mostrou que existe uma prevalência em homens, mesmo não sendo algo significativo14-16. Desta forma não poderíamos afirmar que a predominância de pacientes com AVC homens no nosso setor de fisioterapia aquática seja por um motivo fisiopatológico, podendo este ser uma simples coincidência. A menor incidência das demais doenças ou lesões de prevalência no setor de fisioterapia aquática do Hospital Israelita Albert Einstein, pode estar ligada ao fator regional que inclui: acompanhamento médico freqüente; diagnóstico precoce; maior poder aquisitivo, possibilitando acesso a procedimentos e tratamentos mais avançados; e não permanência em regiões de periferia, o que justifica menor número de pacientes com TRM, já que a maior incidência de lesão medular no mundo é por ferimento de arma de fogo17. AV C 200 180 Gráfico 2. Distribuição das doenças neurológicas mais prevalentes. Rev Neurocienc 2008;16/3:204-208 original Em conclusão, seria necessário que estudos de prevalência fossem realizados por outras instituições com setor de fisioterapia aquática, para que em um futuro próximo possamos comparar o predomínio de determinadas doenças ou lesões levando em consideração todos os aspectos possíveis, como população alvo, região, cidade, país, entre outros. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Manual Operacional HIAE (Endereço na Internet). São Paulo: Hospital Israelita Albert Einstein (atualizado em 01/2007; citado em 03/2003). Disponível em: http://www.einstein.br/lottusnotes/doc.suprema.op.001. 2. Stokes M. Neurologia para Fisioterapeutas. São Paulo: Editora Premier, 2000, 402 p. 3. Campion M. Hidroterapia: Princípios e Prática. São Paulo: Editora Manole, 1999, 334 p. 4. Jakaitis F. Reabilitação e Terapia Aquática, Aspectos Clínicos e Práticos. São Paulo: Editora Roca, 2007, 282 p. 5. 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Medicina 1999;32:388-400. 208 original Treino prévio reduz o tempo de execução de tarefas visuo-espaciais em ambiente virtual Previous training reduces the execution time of visuo-spacial tasks in virtual environment Adriano Conrado Rodrigues1, Carla da Silva Santana2, Roberta de Medeiros3, Sandra Regina Alouche4 RESUMO SUMMARY Objetivo. Avaliar a influência da adaptação prévia de indivíduos sadios a diferentes situações de interação em ambiente computacional, no desempenho de tarefas visuo-espaciais. Método. Trinta voluntários saudáveis, 15 homens, com idade média de 25,3 ± 3,3 anos, foram divididos em três grupos: o primeiro, considerado controle, não foi adaptado a nenhum dos ambientes propostos; o segundo grupo foi adaptado ao ambiente fechado (estável e previsível) e o terceiro foi adaptado ao ambiente aberto (imprevisível) “A”. A tarefa proposta era o deslocamento em dois ambientes abertos “B” e “C” (labirinto). As variáveis dependentes Tempo e Erro foram consideradas para a análise. Resultados. Foi observado que durante a fase de adaptação, na variável Tempo, os grupos apresentaram uma progressiva melhora no desempenho de cada tarefa (p = 0,0036). O grupo adaptado ao ambiente aberto “A” mostrou uma tendência a ser mais rápido na execução das tarefas dos ambientes abertos “B” e “C”, em relação ao grupo adaptado ao ambiente fechado (p = 0,068). Conclusão. Este estudo sugere que indivíduos adaptados à execução de tarefas visuoespaciais que envolvam situações desconhecidas e não orientadas, apresentam uma tendência a um melhor desempenho do tempo nestas tarefas, quando comparados a indivíduos adaptados em situações estáveis e orientadas. Objective. To evaluate the influence of previous adaptation to different computational environments in visuo-spacial tasks performance of healthy individuals. Method. Healthy volunteers (n = 30), 15 male, mean age 25.3 ± 3.3 years, were divided in three groups: the first group, considered control, was not adapted to the proposed environments; the second group was adapted to a closed environment (stable and expected), and the third group was adapted to an open environment “A” (unexpected). The proposed task was to go through two open environments “B” and “C” (maze). The dependent variables Time and Error were considered for the analysis. Results. It was observed that during the adaptation phase, in the Time variable, the groups presented a progressive improvement in the performance to each task (p = 0.0036). The group adapted in the “A” open environment, showed a tendency to be faster in the execution of “B” and “C” open environments tasks, than the group adapted in the closed environment (p = 0.068). Conclusion. The study suggests that subjects adapted to visuo-spacial tasks execution involving unknown and no guided situations, present a tendency to a better time performance in these tasks when compared to subjects adapted in fixed and guided situations. Unitermos: Análise e Desempenho de Tarefas. Aprendizagem. Meio Ambiente. Keywords: Task Performance and Analysis. Learning. Environment. Citação: Rodrigues AC, Alouche SR, Medeiros R, Santana CS. Treino prévio reduz o tempo de execução de tarefas visuo-espaciais em ambiente virtual. Citation: Rodrigues AC, Alouche SR, Medeiros R, Santana CS. Previous training reduces the execution time of visuo-spacial tasks in virtual environment. Trabalho realizado na Universidade Bandeirante de São Paulo. 1. Terapeuta Ocupacional, Mestre em Ciências da Reabilitação Neuro-motora – UNIBAN, Professor titular da Universidade de Sorocaba. 2. Terapeuta Ocupacional, Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento – USP, Professora Titular USP – FMRP. 3. Bióloga, Doutora em Fisiologia Comparada – UNESP, Professora Titular UNISC. 4. Fisioterapeuta, Doutora em Psicologia (Neurociências e Comportamento) – USP, Docente do Programa de Mestrado em Fisioterapia da Universidade Cidade de São Paulo. Endereço para correspondência: R Francisca Júlia 618/11 02403-011 São Paulo, SP Fone: (11) 7605-7092 209 Recebido em: 08/06/08 Revisado em: 09/06/08 a 23/09/08 Aceito em: 24/09/08 Conflito de interesses: não Rev Neurocienc 2008;16/3: 209-214 original INTRODUÇÃO A função primária da capacidade de aprender é desenvolver comportamentos adaptados a um ambiente que muda constantemente, permitindo que realizemos nossas atividades da vida diária1. Para estar adequado, o movimento deve satisfazer as condições ambientais. O movimento de pegar um copo deve estar adaptado aos fatores ambientais da forma do copo, distância do indivíduo e volume do líquido. O objeto, neste caso o copo, determina a organização espacial do movimento 2. As abordagens ecológica e dinamicista do controle motor procuram explicar a relação de um indivíduo com seu ambiente de interação. Esta relação aparece como determinante na organização e controle dos movimentos. Para os autores destas teorias, a ação é mais do que o resultado da ativação de um grupo de células nervosas corticais, como preconizado pelas teorias representacionalistas. Pode-se dizer que o movimento é primariamente determinado pela ação, e seu controle dependerá da integração entre vários parâmetros e sistemas (físicos, biológicos e culturais). Assim, não existem comportamentos específicos para a execução de uma tarefa, e sim, padrões decorrentes da relação entre estes sistemas3. A teoria dinamicista não preconiza a necessidade de representações, prescrições e programas motores. A coordenação do movimento aparece como consequência de uma auto-organização em busca de um estado de equilíbrio, permitindo que o indivíduo se adapte a uma determinada situação3-5. Esta adaptação pode dar-se em um sistema aberto ou fechado. O sistema aberto proporciona ao indivíduo uma interação constante com o ambiente, que inclui condições de desequilíbrio, exigindo a auto-organização do sistema. Já no sistema fechado, o ambiente é previsível e estável6. A partir desta interação entre o indivíduo e o ambiente durante atividades funcionais cotidianas, e da estreita ligação entre percepção e ação na execução destas atividades, têm-se que a relação entre informações do ambiente e a capacidade individual de captar e processar estas informações podem ser determinantes na avaliação do desempenho e do controle motor. Assim, a efetividade na execução da ação será limitada pela habilidade de auto-análise do indivíduo e análise do ambiente em que a ação ocorrerá, determinando problemas ou variáveis a serem enfrentados. A capacidade de gerar e controlar solu- Rev Neurocienc 2008;16/3: 209-214 ções para estas variáveis, determinará o desempenho do indivíduo na realização de suas atividades4,7-11. Este estudo tem por objetivo verificar a influência da adaptação prévia de indivíduos sadios no desempenho de tarefas visuo-espaciais, realizadas em ambiente computacional. Assim, esperamos que indivíduos adaptados à execução de tarefas visuo-espaciais que envolvam situações desconhecidas e não orientadas (ambiente aberto) apresentem melhor desempenho nestas tarefas quando comparados a indivíduos adaptados a situações estáveis e orientadas (ambiente fechado). MÉTODO Casuística Trinta indivíduos sadios (voluntários) foram identificados como normais em relação ao comportamento motor, por meio de um questionário, abordando pontos como o hábito em jogos de computador, alteração relacionada a visão, alteração física ou deficiência física, alteração mental ou deficiência mental, uso de medicação, alteração do sono (insônia), aspectos emocionais (depressão, ansiedade, apatia, stress), tremor ou algum problema relacionado a coordenação do movimento, déficit de equilíbrio, uso de álcool, drogas ou entorpecentes, alteração na audição, independência nas atividades cotidianas (trabalho, lazer e auto-manutenção), dor, dificuldade de aprendizado e memória. Foram excluídos indivíduos que referiram qualquer alteração nos pontos acima citados, que pudesse interferir em suas atividades cotidianas, assim como indivíduos que referiram experiência prévia habitual ou diária com jogos em ambiente computacional, o que poderia interferir no resultado final da pesquisa, segundo os objetivos propostos. A faixa etária da amostra foi estabelecida entre 20 e 30 anos (25,3 ± 3,292 anos), com indivíduos de ambos os sexos, sendo 15 homens e 15 mulheres, destros, e com o segundo grau de formação escolar completo. Todos assinaram o Termo de Consentimento, concordando formalmente em participar do estudo. Os procedimentos descritos neste estudo foram aprovados pelo comitê de ética da Universidade Bandeirante de São Paulo – UNIBAN, segundo o protocolo No. 006/2004, datado de 18/06/2004. Local Os experimentos foram desenvolvidos em uma sala de 9 m² (3 x 3m), com isolamento acús- 210 original tico parcial e iluminação artificial, na Universidade Bandeirante de São Paulo. Nesta sala, o voluntário foi adequadamente posicionado sentado em frente a uma mesa, sobre a qual estava um computador e um joystick utilizados para os testes. Material Para a coleta de dados e análise do comportamento motor, foram desenvolvidos quatro ambientes computacionais em forma de labirinto, utilizando-se o software Game Maker 5® – copyright© 2000–2003 (Figura 1). Os participantes (representados por um ícone controlado por joystick) foram orientados a interagir, no menor tempo, e com o menor índice de erros possíveis. O primeiro ambiente reproduziu as características de um ambiente fechado (previsível e estável); e os ambientes “A”, “B” e “C” reproduziram as características de um ambiente aberto (imprevisível). O “labirinto” que representou o ambiente fechado se caracterizou por não apresentar passagens marginais, passagens ocultas e paredes ocultas; o ícone vermelho representa o participante; o ícone Figura 1. Labirinto: Ambiente fechado – labirinto caracterizado por não apresentar passagens marginais, passagens ocultas e paredes ocultas; o ícone vermelho representa o participante; o ícone verde representa a pista a ser evitada (imóvel); os ícones alaranjados e amarelos representam pistas a serem captadas (estáticas/presentes desde o início do jogo). Ambiente aberto – labirinto caracterizado por apresentar 4 passagens marginais e 2 paredes ocultas; o ícone vermelho representa o participante; ícones verdes representam pistas a serem evitadas (móveis/direções aleatórias); ícones alaranjados e amarelos representam pistas a serem captadas (estáticas/aparecendo após o início do jogo); ícones estrela, quando captados, permitem interação com as pistas representadas pelos ícones verdes, por período específico de tempo, sem caracterizar erro. 211 verde representa a pista a ser evitada (imóvel); cada encontro com esta pista representa 1 erro cometido; os ícones alaranjados e amarelos representam pistas a serem captadas (estáticas/presentes desde o início do jogo). O “labirinto” que representou o ambiente aberto “A” apresenta 4 passagens marginais e 2 paredes ocultas; o ícone vermelho representa o participante; ícones verdes representam pistas a serem evitadas (móveis/direções aleatórias); cada encontro com esta pista representa 1 erro cometido; ícones alaranjados e amarelos representam pistas a serem captadas (estáticas/aparecendo após o início do jogo); ícones estrela, quando captados, permitem interação com as pistas representadas pelos ícones verdes, as quais tornam-se azuis por um breve período de tempo (período de interação sem caracterizar erro), retomando as características do estado inicial após alguns segundos. Os “labirintos” representados pelos ambientes abertos “B” e “C” se apresentam como o ambiente Aberto “A”, mas com nova configuração de cores, disposição das pistas, passagens e paredes ocultas. Os ambientes foram apresentados e os dados coletados por meio de um computador com microprocessador Pentium 4, 512 MB DDR e a interface apresentada por meio de uma tela plana de 17”. Para a realização dos testes, os indivíduos fizeram uso de um joystick (controle manual) Microsoft®. O tempo, em segundos, tomado para o indivíduo completar a tarefa foi aferido manualmente por meio de um cronômetro da marca TIMEX® – modelo Triathlon. Os erros ocorridos durante a interação com os ambientes foram aferidos em número absoluto, pelo pesquisador, em uma ficha individual para posterior análise. Procedimento Os participantes foram divididos em três grupos de forma aleatória, de 10 indivíduos cada, e adequadamente posicionados em uma cadeira com encosto e apoio de braços, em frente a uma mesa, segundo a Norma Regulamentadora (NR) n.0 17 – Ergonomia - Redação dada pela Portaria n.0 3.751 de 23 de novembro de 1990 do MT/PS. Os grupos foram organizados da seguinte forma: o primeiro grupo, considerado como controle, não foi adaptado em nenhum dos ambientes propostos; o segundo grupo treinou no ambiente fechado e o terceiro grupo treinou no ambiente aberto “A”. A fase de adaptação (treino) ao ambiente, foi caracteri- Rev Neurocienc 2008;16/3: 209-214 original zada pela exposição dos indivíduos a cinco oportunidades seqüenciais de interação (blocos), com intervalos de 2 minutos (repouso) entre cada bloco. Este tempo de intervalo é defendido por autores (4), em seus estudos, como adequado para a reprodução de uma determinada tarefa, favorecendo o aprendizado na realização da mesma. Após a fase de adaptação, os dois grupos e o grupo controle foram expostos à interação nos ambientes abertos “B” e “C” sequencialmente, uma única vez. Todos os participantes receberam as instruções sobre os procedimentos da pesquisa, e as dúvidas foram respondidas pelo pesquisador. Análise Estatística As variáveis dependentes Erro e Tempo para realização das tarefas foram consideradas para análise do desempenho dos voluntários. Os dados obtidos na primeira fase da pesquisa (adaptação), foram submetidos à análise estatística utilizando-se os testes de Komolgorov-Smirnov (determinando a validade da amostra para a pesquisa), Análise de Variância para Medidas Repetidas – (ANOVA) e Análise de Homogeneidade de Variância, (determinando a diferença entre os grupos nas variáveis dependentes Erro e Tempo, nos ambientes propostos), e o NewmanKeuls (um pós-teste utilizado para a verificação de diferenças entre os grupos). Para a segunda fase da pesquisa (pós adaptação), a análise dos resultados concentrou-se somente na variável Tempo, uma vez que a variável Erro não mostrou valores expressivos entre os grupos, durante a fase de adaptação. A análise foi realizada utilizando-se os testes ANOVA e Newman – Keuls. Foram considerados como significativos os valores de p < 0,05. Durante a fase de adaptação, os indivíduos do grupo treinado no ambiente fechado apresentaram uma média e desvio-padrão de tempo significativamente maior na primeira tarefa (94,8 ± 42,80 s) quando comparados a terceira (77,95 ± 25,14 s; p = 0,028), quarta (73,3 ± 29,36s ; p = 0,007), e quinta tarefas (72,5 ± 16,79 s; p = 0,007) de tarefas. O grupo que durante a fase de adaptação treinou no ambiente fechado, apresentou uma tendência (p = 0,068) a levar mais tempo para completar a tarefa dos ambientes abertos “B” (109,8 ± 49,29 s) e “C” (95,4 ± 22,37 s), do que o grupo que se adaptou no ambiente aberto “A”, ao executar a tarefa dos mesmos ambientes abertos “B” (86,1 ± 17,89 s) e “C” (91,4 ± 26,89 s). Nos ambientes aberto “A” e fechado, o tempo de desempenho dos indivíduos no quinto bloco da fase de adaptação apresentam média e desvio padrão significativamente mais rápido (72,5 ± 16,79 s) quando comparados ao tempo de desempenho nos ambientes abertos “B” (97,95 ± 38,08 s) e “C” (93,4 ± 24,16 s). Os resultados mostram não existir diferença significativa (p = 0,3940) entre o desempenho do grupo controle no desempenho das tarefas dos ambientes abertos “B” (104 ± 28,66 s) e “C” (93,3 ± 31,24 s), com o desempenho dos grupos treinados nos ambientes fechado e aberto “A”, mas o grupo controle mostrou um desempenho similar ao do grupo que treinou no ambiente Fechado. Em relação à variável Erro, a análise de variância para medidas repetidas (ANOVA) mostrou não haver diferença significativa entre os indivíduos dos grupos treinados nos ambientes fechado e aberto “A”, nas cinco tarefas realizadas durante a fase de adaptação (p > 0,05). RESULTADOS O teste de Komolgorov-Smirnov demonstrou homogeneidade e distribuição normal da amostra em relação a variável Tempo. A análise das tarefas não revelou valores significativos (p > 0,05). Neste teste, estes valores justificaram a continuidade da análise, com a validação da amostra. Houve tendência a uma interação entre os fatores grupo e tarefa (p = 0,099). O grupo treinado no ambiente fechado tendeu a melhorar o tempo de desempenho em função das tarefas, o que não foi observado com grupo treinado no ambiente aberto “A”. Houve uma diferença significativa entre as tarefas do grupo treinado no ambiente fechado e do grupo treinado no ambiente aberto “A” (p = 0,0036). DISCUSSÃO Os grupos estudados mostraram melhora progressiva de desempenho a cada tarefa realizada durante a fase de adaptação aos ambientes fechado e aberto “A”, diminuindo o tempo de execução da tarefa. O grupo treinado no ambiente fechado levou um tempo maior na execução da tarefa quando comparado ao grupo que treinou no ambiente aberto “A”, e apresentou melhora do desempenho a cada tarefa realizada. Estes dados em conjunto, sugerem que a prática de tarefas em ambientes fechados é benéfica para a fase de aquisição do aprendizado. Em contrapartida, a prática de tarefas em ambientes abertos é prejudicial para a fase de aquisição, mas benéfica para as fases de retenção e transferência do aprendizado. Rev Neurocienc 2008;16/3: 209-214 212 original Nas tarefas em ambientes abertos, o indivíduo é obrigado a observar e captar aspectos relevantes da tarefa, melhorando o desempenho. O nível de interferência contextual e o nível de conhecimento de resultados durante a aquisição de habilidades motoras influenciam a capacidade de retenção do aprendizado e transferência deste aprendizado para o desempenho de tarefas similares, o que pode ser confirmado neste estudo1. Estes resultados demonstram que à medida que o desempenho de uma habilidade melhora, certas características comportamentais do desempenho tornam-se mais estáveis, ou seja, não serão facilmente perturbadas por pequenas alterações nas características pessoais ou ambientais. A interação do indivíduo com o ambiente, pode provocar condições de desequilíbrio, exigindo a auto-organização das respostas motoras para que o mesmo se adapte a estas diferentes situações1,4. Ao interagir com os ambientes, os participantes da pesquisa mostraram variação entre os níveis de desempenho de uma tentativa para outra. As respostas motoras decorrentes da auto-organização exigida para interagir com os ambientes podem tornarse mais consistentes com a prática ou treino da tarefa a ser executada levando a um melhor desempenho6. Neste contexto, a aprendizagem não se limita a um aperfeicoamento do desempenho, mas junto a características relacionadas ao controle motor, podem expressar o comportamento motor e funcional de uma pessoa12. Ao considerarmos os resultados da análise da variável Erro durante a fase de adaptação, não foi observada diferença entre os grupos. Podemos sugerir que os indivíduos não mostraram dificuldades no aprendizado da tarefa, adquirindo comportamentos motores consistentes durante esta fase12. Assim, a aprendizagem pode ser considerada como um aperfeiçoamento do desempenho, ou seja, o desempenho aperfeiçoado permite que o indivíduo se adapte a uma grande variedade de características do contexto ou ambiente de interação13. Tanto a teoria generalizada dos programas motores como a teoria dos efeitos da interferência contextual, baseiam-se no conceito de variabilidade da pratica, relacionando-a com a melhora da retenção e transferência de habilidades motoras14. As alterações do desempenho dos participantes foram observadas na comparação dos tempos dos indivíduos no último bloco da fase de adaptação com os tempos dos indivíduos nos ambientes abertos “B” e “C”. 213 Os resultados mostram que o grupo adaptado no ambiente aberto “A” teve uma tendência a ser mais rápido, na execução das tarefas dos ambientes abertos “B” e “C”, que o grupo adaptado no ambiente fechado. e que não houve diferença significativa quando estes dois grupos foram comparados ao grupo controle, no desempenho das tarefas dos ambientes abertos “B” e “C”. O grupo controle mostrou um desempenho similar ao do grupo que treinou no ambiente fechado. Este cenário nos remete à literatura, onde temos que o conceito de transferência de aprendizado afirma que a influência da experiência prévia na interação do indivíduo com um novo contexto ou na aprendizagem de uma nova habilidade pode ser uma influência positiva, negativa ou neutra12. A transferência positiva ocorre quando a experiência com uma habilidade ajuda ou facilita o desempenho do indivíduo na tarefa. A transferência negativa ocorre quando a experiência com uma habilidade impede ou interfere no desempenho do indivíduo na tarefa. A transferência neutra não altera o desempenho em um novo contexto ou na aprendizagem de uma nova habilidade12. Então, apesar da diferença pouco significativa no tempo de desempenho das tarefas quando comparado aos demais grupos, o grupo adaptado no ambiente aberto “A” foi mais consistente em relação ao comportamento motor e interação com os outros ambientes. A adaptação prévia neste grupo determinou uma transferência positiva do aprendizado. Essa relação pode explicar ainda, a similaridade observada entre o desempenho nas tarefas do grupo controle e do grupo adaptado ao ambiente fechado. Assim, vamos de encontro à hipótese desta pesquisa, já que os indivíduos adaptados à execução de tarefas visuo-espaciais que envolviam situações desconhecidas e não orientadas (ambiente aberto) tiveram melhor desempenho nestas tarefas quando comparados à indivíduos adaptados à situações estáveis e orientadas (ambiente fechado). A interferência contextual (ambiente de interação) foi a maior determinante das estratégias motoras a serem desenvolvidas pelos indivíduos. A prática sob grande interferência contextual determinou uma tendência para o processamento mais elaborado do material aprendido, e desta forma facilitou a retenção de habilidades motoras, tanto quanto a diminuição da dependência da memória no restabelecimento do contexto inicial da ação realizada nos ambientes computacionais propostos8. Rev Neurocienc 2008;16/3:209-214 original CONCLUSÃO Este estudo sugere que indivíduos adaptados à execução de tarefas visuo-espaciais que envolvam situações desconhecidas e não orientadas (ambiente aberto) apresentam uma tendência a um melhor desempenho nestas tarefas, quando comparados a indivíduos adaptados em situações estáveis e orientadas (ambiente fechado), na realização de uma mesma tarefa. Pesquisas futuras são necessárias para avaliar as implicações clínicas dos resultados deste estudo, bem como a relação dos dados obtidos em ambiente computacional, com o ambiente natural. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Carlson NR. Fisiologia do Comportamento Motor. São Paulo: Editora Manole, 2002, 722 p. 2. Jarus T. Motor learning and Occupational Therapy: The Organization of practice. Am J Occup Ther 1994,48(9):138-44. Rev Neurocienc 2008;16/3: 209-214 3. Kamm K, Thelen E, Jensen JL. A Dynamical Sistems Approach to Motor Development. Phys Ther 1990;70:763-75. 4. Trombly CA. 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Três tipos de SMA são relatados na literatura: envolvendo lesões no corpo caloso, no corpo caloso associado ao córtex frontal medial dominante, e uma variante posterior, que afeta áreas corticais e subcorticais da circulação posterior, este último o mais raro. Existem diferenças entre os tipos em relação aos sintomas apresentados, porém são comuns nos 3 tipos: a percepção estranha do membro e os movimentos involuntários. Após revisão da literatura de 12 casos de SMA posterior por AVE, o principal sinal encontrado é a movimentação involuntária do membro afetado. Outras características clínicas encontradas freqüentemente nesta variante são: ataxia e sinais de levitação do membro, heminegligência, e hemianopsia. Não há correlação direta da topografia da lesão com os sintomas apresentados. Alien hand syndrome (AHS) is defined a involuntary motor activity associated with a strange sensation of the affected upper limb. The common onset of AHS is after an acute stroke, but it is not associated with a specific etiology. There are three variants of AHS described in the literature: lesions of the corpus callosum; associated with lesions of medial/ frontal lobes, and a rare posterior-variant AHS in association with subcortical and/ or posterior cortical injuries. Although symptoms are different between the variants, a felling of foreignness and loss of control over of the involved limb is common. In these review of the literature we found 12 cases of posterior AHS after stroke, and concluded that involuntary movement of the affected limb is the hallmark of these variant. Other frequent clinic features of posterior-variant AHS are ataxia, hand levitation, spatial neglect and hemianopsia. There wasn’t a direct correlation between the lesions’ topography and symptoms in the patients studied. Unitermos: Transtornos Motores. Acidente Vascular Encefálico. Artéria Cerebral Posterior. Keywords: Movement disorders. Stroke. Posterior Cerebral Artery. Citação: Viana CAP, Sonoda LT, Abreu PS, Valente S, Giacomelli LF, Abranches M. Sindrome da Mão Alienigena após infarto no território da artéria cerebral posterior. Citation: Viana CAP, Sonoda LT, Abreu PS, Valente S, Giacomelli LF, Abranches M. Alien Hand Syndrome in posterior cerebral artery territory stroke. Trabalho realizado no setor de fisioterapia neurológica da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP e Hospital São Paulo. 1. Especialistas do curso de Fisioterapia Neurológica da Universidade Federal de São Paulo UNIFESP. 2. Fisioterapeuta e coordenadora da empresa BCV - Saúde em Movimento. Especializada em fisioterapia motora Hospitalar e ambulatorial aplicada à neurologia pela UNIFESP e especializada em fisioterapia hospitalar pelo Hospital Israelita Albert Einstein. 3. Fisioterapeuta graduado pela Faculdade Salesiana de Vitória, responsável pela clinica Fisicor, Vitória-ES. 4. Fisioterapeuta do Hospital São Paulo e preceptora do curso de Fisioterapia motora hospitalar e ambulatorial aplicada à neurologia da UNIFESP. 215 Endereço para correspondência: Carlos Américo Pereira Viana Rua do Vintém 06/202 29015-380 Vitória, ES Fone: (27) 8801-3942 E-mail: [email protected] Recebido em: 30/11/06 Revisado em: 01/12/06 a 20/08/07 Aceito em: 21/08/07 Conflito de interesses: não Rev Neurocienc 2008;16/3:215-219 revisão INTRODUÇÃO A síndrome da mão alienígena (SMA) foi descrita em 1908 por Goldstein como um tipo de apraxia e uma sensação estranha entre o paciente e sua mão. Em 1972, Brion e Jedynak denominou-a de main étrangère ou alien hand (mão alienígena) 1,2. A partir de 1982 foi considerada um conjunto de sinais e sintomas sem correlação neuroanatômica, porque decorria de lesões em diferentes localizações 3. Trata-se de uma condição clínica rara causada por acidente vascular encefálico (AVE) isquêmico ou hemorrágico, tumores ou outras lesões no corpo caloso2,4. Sinais clínicos descritos da SMA incluem: a) conflito intermanual; b) movimento espelhado, onde uma mão move-se automaticamente imitando o movimento da outra; c) sincinesia; d) reflexo de preensão; e) busca impulsiva por objetos, ou segundo Denny-Brown uma apraxia magnética em que a mão afetada procura e agarra objetos como se fosse atraída por uma força magnética, sendo difícil soltálos e f) comportamento compulsivo de manipulação de objetos. Comum em todos os casos é a percepção do membro como estranho e os movimentos estarem fora do controle do paciente1,5,6. Dois subtipos reconhecidos de SMA ocorrem no lobo frontal e um no lobo pariental. Nas variações frontais, a SMA está associada a lesões na área dominante da linguagem, e na região anterior do córtex fronto-medial, ou mesmo em lesões da região anterior do corpo caloso. O termo SMA posterior é usado para pacientes com lesões no córtex parietal e occipital, bem como em áreas subcorticais, exceto na região do corpo caloso3. O termo usual para descrever a SMA requer somente a sensação de que “o membro não pertence ao corpo”, apresente “vontade própria” e realize atos motores involuntários7. Existe ainda a incapacidade do paciente de reconhecer parte do seu membro quando a acuidade visual é comprometida, caracterizando heminegligência5. Alguns movimentos involuntários, ataxia e/ou levitação do membro acometido6 também podem ocorrer. Aspectos da personalidade podem interferir com os sinais da SMA. A personificação da mão alienígena com mais freqüência é aquela em o paciente trata o membro como se fosse um bebê1. Até o momento, a fisiopatologia envolvida no desenvolvimento da SMA existe apenas para os casos da circulação anterior. Nesta, ocorre uma desco- Rev Neurocienc 2008;16/3: 215-219 nexão entre as áreas motoras suplementares (antecipatórias) entre os dois hemisférios, devido um dano no corpo caloso. A área pré-motora (reativa), normalmente controlada pela área motora suplementar, torna-se hiper-reativa, levando aos sinais e sintomas da SMA. As novas concepções, em casos de lesão posterior, são focadas nas mudanças de esquema corporal acompanhada de movimentos involuntários do membro superior1. O objetivo deste estudo foi revisar os casos de SMA posterior descritos na literatura a fim de encontrarmos os sinais e sintomas mais comuns entre os pacientes. E o objetivo secundário foi verificar se há correlação entre a topografia da lesão e as diferentes características encontradas nos pacientes. MÉTODO Tipo de estudo: revisão da literatura. Bases de dados: Lilacs, Medline, Pubmed, SciELO, Cochcrane, Periódicos capes. Descritores de assunto: Movement disturb, Cerebrovascular Accident, Posterior Cerebral Artery. Período de publicação: 1966–2006. Critérios de inclusão: Foram incluídos neste trabalho todos os tipos de estudo que citavam casos clínicos de SMA posterior por acidente vascular encefálico no território da artéria cerebral posterior. Critérios de exclusão: Foram excluídos estudos que mencionavam SMA por outras etiologias senão vascular e SMA frontal. Seleção dos estudos: Inicialmente os estudos foram selecionados pelo título e resumo e, quando necessário, pelo conteúdo completo do artigo. A seleção foi realizada pelos autores do estudo. RESULTADOS Após revisão da literatura e seleção dos artigos, foram inclusos neste trabalho doze artigos e colocados em duas tabelas em ordem decrescente em relação ao ano de publicação (Tabelas 1 e 2). Nos mesmos encontram-se os dados obtidos, tais como: sexo, idade, topografia da lesão e sinais e sintomas. Os sinais e sintomas quando citados nos artigos foram designados como presentes, ou ausentes, quando não citados. Dos doze pacientes relatados, oito eram do sexo feminino e cinco masculino. A idade dos pacientes variou de 50 a 81 anos, sendo a média 67,3 ± 39,96. Dez casos apresentaram isquemia à direita e apenas dois à esquerda. 216 revisão Tabela 1. Sinais e sintomas da Síndrome da mão alienígena (SMA) posterior, publicados nos anos de 2002 a 2006. Kikkert MA, Ribbers GM, Koudstaal PJ (2006)2 Muangpaisan W, Srisajjakul S, Chiewvit P (2005)12 Pappalardo A, Ciancio MR, Reggio E, Patti F (2004)9 Kato H, Iijima M, Hiroi A, Kubo M, Uchigata M (2003)15 Rohde S, Weidauer S, Lanfermann H, Zanella F (2002)3 Pack BC, Stewart KJ, Diamond PT, Gale SD (2002)5 Sexo Feminino Masculino Masculino Masculino Feminino Masculino Idade 50 57 60 63 80 73 Topografia (lado da lesão) AVE à direita. Porém a tomografia computadorizada do encéfalo estava normal Corpo caloso (rostro, corpo e joelho) à direita AVE isquêmico, devido à oclusão da artéria cerebral posterior esquerda Região da artéria cerebral posterior direita, incluindo o tálamo direito (núcleo ventral posterior) Giros pré e póscentral esquerdos e outras lesões em áreas subcorticais, sem envolvimento do corpo caloso, à esquerda. Tálamo à direita Conflito intermanual Não citado Presente Presente Não citado Não citado Não citado Movimento espelhado Presente Presente Não citado Não citado Ausente Não citado Sincinesia incapacitante Presente Não citado Presente Não citado Presente Não citado Reflexo de preensão Não citado Não citado Presente Não citado Não citado Não citado Busca/ manipulação de objetos compulsiva Presente Não citado Não citado Não citado Não citado Presente Levitação Do membro Presente Não citado Não citado Não citado Presente Não citado Não citado Não citado Não citado Presente Presente Presente Hemianopsia homônima Presente Não citado Não citado Presente Não citado Não citado Heminegligência espacial Presente Não citado Não citado Presente Não citado Presente Não citado Não citado Não citado Não citado Não citado Não citado Presente Não citado Presente Presente Presente Presente Sensibilidade severamente alterada á esquerda Agressividade verbal e física, alucinações ocasionais, parafasia e agrafia da mão esquerda. Não citado Hipoestesia tátil e alterações proprioceptivas em hemicorpo esquerdo Não citado Hipoestesia tátil e alterações proprioceptivas em hemicorpo esquerdo Autor, Ano Sinais e sintomas Ataxia Parestesia Movimentos involuntários Outros (quais) DISCUSSÃO Frente aos resultados obtidos, o sinal mais encontrado nestes pacientes foi a presença de movimentos involuntários do membro superior, como se o mesmo fosse controlado por forças externas referindo-os como tendo “vida própria”. Este sinal foi encontrado em 11 relatos de caso e não foi citado em um artigo25,8-14 . Sete pacientes apresentaram heminegligência em hemicorpo esquerdo2,4,5,10,11,13,14. Sete pacientes apresentaram ataxia do membro superior3,5,8,11,13,14, e dois casos não apresentavam ataxia4,12; nos demais artigos esta característica não foi mencionada. Hemianopsia foi encontrada em seis pacientes2,4,10,11,13,14. Comportamento de levitação e sincinesia incapacitante foram 217 encontrados em cinco casos; no entanto, a presença de um desses sintomas não foi diretamente relacionada à presença do outro apenas em dois casos2,3. A sincinesia incapacitante estava ausente em um caso4, no entanto nos outros seis casos5,8,10,11,14,15 este dado não foi citado pelos autores. Movimentos em espelho também foram relatados em quatro casos2,11,12,15, porém estavam ausentes em dois pacientes3,4. Movimentos compulsivos de agarrar objetos estavam presentes em quatro casos, alguns dos quais agarravam o próprio pescoço assemelhando-se a uma tentativa de sufocamento2,4,5,11. Dos cinco casos em que o conflito intermanual foi citado, esta característica Rev Neurocienc 2008;16/3:215-219 revisão Tabela 2. Sinais e sintomas da Síndrome da mão alienígena (SMA) posterior, publicados nos anos de 1995 a 2002. Autor, Ano Marey-Lopez J, Rubio-Nazabal E, AlonsoMagdalena L, Lopez-Facal S (2002)4 Carrilho PEM, Carameli P, Cardoso F, Barbosa ER, Buchpiguel CA, Nitrini R (2001)8 Hakan AY, Buonanno FS, Price BH, Dean AL, Koroshetz WJ, Bundick Jr T, Spinella M (2000)10 Groom KN, Wing K, Kevorkian CG, Levy JK (1999)11 Hakan AY, Buonanno FS, Price BH, Dean AL, Koroshetz WJ (1998)14 Geschwind DH, Iacoboni M, Mega MS, Zaidel DW, Cloughesy T, Zaidel E (1995)13 Feminino Feminino Feminino Masculino Feminino Feminino 64 60 73 79 81 68 Região posterior do corpo caloso e região pericalosal direita Sinais e Sintomas Sexo Idade Região dorsal e postero-lateral ventral do tálamo, corno posterior da cápsula e mesecéfalo à direita Lobo parietal direito superior à direita Parietal, temporal e frontal medial à direita Infarto da artéria cerebral posterior direita Tálamo direito, hipocampo, lobo temporal inferior, esplênio do corpo caloso e lobo occipital Conflito intermanual Ausente Não citado Ausente Não citado Não citado Presente Movimento espelhado Ausente Não citado Não citado Presente Não citado Presente Sincinesia incapacitante Ausente Não citado Não citado Não citado Presente Presente Reflexo de preensão Ausente Não citado Presente Não citado Não citado Não citado Busca/ manipulação de objetos compulsiva Presente Não citado Ausente Presente Não citado Não citado Levitação do membro Presente Presente Presente Não citado Não citado Não citado Ataxia Ausente Presente Presente Presente Presente Ausente Hemianopsia homônima Presente Não citado Presente Presente Presente Não citado Heminegligência espacial Presente Não citado Presente Presente Presente Não citado Não citado Não citado Presente Não citado Presente Não citado Presente Presente Presente Presente Presente Presente Não citado Comprometimento severo da grafia e estereoagnosia do membro esquerdo Não citado Desorientação no espaço, dismetria, Anosognosia e déficits sensoriais. Apraxia ideomotora da mão e perna esquerda Topografia (lado da lesão) Parestesia Movimentos involuntários Outros (quais) Não citado estava presente em três9,12,15 e ausente em dois casos3,4. Dois pacientes apresentaram reflexo de preensão9,10 e em um caso este sintoma estava ausente4; os outros autores não comentaram a presença ou ausência desta característica. Entre os doze pacientes, dois apresentaram parestesia, um com lesão na região parietal, tempo- Rev Neurocienc 2008;16/3: 215-219 ral e frontal medial à direita e outro com lesão na região de tálamo direito, hipocampo, lobo temporal inferior, esplênio do corpo caloso e lobo occipital, também à direita. Não foi possível correlacionar parestesia à topografia, já que houve pacientes com lesão em regiões encefálicas similares, sem a presença de déficits de sensibilidade. 218 revisão A presença de movimentos propositais ou conflito intermanual são menos evidentes nesta variante da SMA em que envolve a artéria cerebral posterior. É mais comum a ocorrência de movimentos involuntários sustentados, sensação de levitação7 e movimentos estranhos da mão6. Tem sido descrita uma combinação tripla, composta de ataxia, hemianopsia e heminegligência, juntamente com dano sensorial na ausência de comprometimento motor, sendo designada como a forma “sensorial” ou “posterior” da SMA5. Nestes casos, hipotetiza-se que o comprometimento sensorial, hemianopsia homônima e negligência espacial esquerda impossibilitam o paciente de reconhecer o movimento de sua mão esquerda, apresentando, assim, a SMA15. Podem ocorrer posturas involuntárias anormais quando a atenção não está voltada para o membro, assemelhando-se ao fenômeno de levitação8. Pode-se afirmar que não houve correlação direta da topografia da lesão com os sintomas apresentados. Muitos autores não mencionaram todos os sinais e sintomas, desta forma não evidenciaram se a característica estava ausente ou se realmente não foi avaliada. Permanece indefinido se os casos de mão alienígena associadas à lesão posterior representam um subtipo distinto daqueles onde a lesão se localiza fronto-medialmente ou no corpo caloso. Quanto à fisiopatologia, os pacientes com disfunções das estruturas corticais e subcorticais podem apresentar perda sensorial, negligência e ataxia do corpo no mesmo lado da mão alienígena. Talvez a falta de feedback sensorial pudesse resultar na sensação de o braço ter uma força controladora exterior. CONCLUSÃO O principal sinal e sintoma encontrado nos pacientes com SMA posterior é a movimentação in- 219 voluntária do membro. Outros sinais e sintomas freqüentemente encontrados nesta variante são: ataxia e sinais de levitação do membro, heminegligência, e hemianopsia. Não houve correlação direta da topografia da lesão com quaisquer dos sintomas apresentados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Scepkowski LA, Cronin-Golomb A. The Alien Hand: Cases, Categorizations, and Anatomical Correlates. Beh Cog Neuroscienc Rev 2003;2:261-77. 2. Kikkert MA, Ribbers GM, Koudstaal PJ. Alien hand Syndrome in stroke: a report of 2 cases and review of the literature. Arch Phys Med Rehabil 2006;87:728-32. 3. Rohde S, Weidauer S, Lanfermann H, Zanella F. Posterior alien hand syndrome: case report. Neuroradiol 2002;44:921-3. 4. Marey-Lopez J, Rubio-Nazabal E, Alonso-Magdalena L, LopezFacal S. Posterior alien hand syndrome after a right thalamic infarct. J Neurol Neurosurg Psychiatr 2002;73:447-9. 5. Pack BC, Stewart KJ, Diamond PT, Gale SD. Posterior-variant alien hand syndrome: clinical features and response to rehabilitation. Disabil Rehab 2002;24:817-8. 6. Biran I, Chatterjee A. Alien Hand Syndrome. Am Med Assoc 2004;61:292-4. 7. Bundick T Jr, Spinella M. Subjective experience, involuntary movement, and posterior alien hand syndrome. J Neurol Neurosurg Psychiatr 2000;68:83-5. 8. Carrilho PEM, Carameli P, Cardoso F, Barbosa ER, Buchpiguel CA, Nitrini R. Involuntary hand levitation associated with parietal damage. Arq Neuropsiquiatr 2001;59:521-5. 9. Pappalardo A, Ciancio MR, Reggio E, Patti F. Posterior alien hand syndrome: case report and rehabilitative treatment. Neurorehabil Neural Repair 2004;18:176-81. 10. Hakan AY, Buonanno FS, Price BH. Sensory alien hand syndrome: case report and review of the literature. J Neurol Nkeurosurg Psychiatr 2000;65:366-9. 11. Groom KN, Wing K, Kevorkian CG, Levy JK. Ego-syntonic alien hand syndrome after right posterior cerebral artery stroke. Arch Phys Med Rehabil 1999;80:162-5. 12. Muangpaisan W, Srisajjakul S, Chiewvit P. The Alien Hand Syndrome: Report of a Case and Review of the Literature. J Med Assoc Thai 2005;88:1447-52. 13. Geschwind DH, Iacoboni M, Mega MS, Zaidel DW, Cloughesy T, Zaidel E. Alien hand syndrome: Interhemispheric motor disconnection due to a lesion in the midbody of the corpus callosum. Neurology 1995;45:802-8. 14. Hakan AY, Buonanno FS, Price BH, Dean AL, Koroshetz WJ. Sensory alien hand syndrome: case report and review of the literature. J Neurol Neurosurg Psychiatr 1998;65:366-9. 15. Kato H, Iijima M, Hiroi A, Kubo M, Uchigata M. A case of alien hand syndrome after right posterior cerebral artery territory infarction. Rinsho Shinkeigaku 2003;43:487-90. Rev Neurocienc 2008;16/3:215-219 revisão Estudos clínicos, imunopatológicos e eletrofisiológicos dos nervos periféricos na hanseníase Clinical, imunopathological, and electrophysiological studies of peripheral nerves in Hansen’s disease Marco Orsini1, Marcos RG de Freitas2, Reny de Souza Antonioli3, Mariana Pimentel de Mello3, Jhon Petter B Reis3, Carlos Henrique Melo Reis4, Júlio Guilherme Silva5, Raimundo Wilson de Carvalho6, Osvaldo JM Nascimento7, Ronald Rodrigues Guimarães6 RESUMO SUMMARY A hanseníase é uma doença infecto-contagiosa, crônica, causada pelo Mycobacterium leprae, com tropismo, predominante, por pele e nervos periféricos. O tratamento da hanseníase compreende: quimioterapia específica, supressão dos surtos reacionais, prevenção de incapacidades físicas, reabilitação física e psicossocial. Este artigo revisa os conhecimentos mais atuais da hanseníase, enfocando o acometimento dos nervos periféricos, as formas clínicas e o potencial incapacitante da doença e seus aspectos imunopatológicos e eletrofisiológicos. Trata-se de um estudo de atualização da literatura, onde foi realizada uma busca nas bases de dados Bireme, SciELO, e Pubmed em português e inglês. Os artigos relacionados são do período compreendido entre os anos 1959 e 2005. Hansen’s disease is a chronic infectious-contagious disease caused by the Mycobacterium leprae, with tropism, predominant in skin peripheral and nerves. The effective treatment of leprosy includes the use of specific therapy, suppression of leprosy reactions, prevention of physical incapacity, and physical and psychosocial rehabilitation. This article reviews the most actual knowledge about Hansen’s disease, focusing the involvement of peripheral nerves, the clinic forms and the disabling potential of the disease, and its immunopathological and electrophysiological aspects. One is about a literature review, where a search in the databases Bireme, Scielo, and Pubmed in Portuguese and English was carried through. The related articles are understood between years 1959 and 2005. Unitermos: Hanseníase. Mycobacterium Eletromiografia. Reabilitação. leprae. Keywords: Hansen’s Disease. Mycobacterium leprae. Electromyography. Rehabilitation. Citação: Orsini M, de Freitas MRG, Antonioli RS, Mello MP, Reis JPB, Reis CHM, Silva JG, Carvalho RW, Nascimento OJM. Estudos clínicos, imunopatológicos e eletrofisiológicos dos nervos periféricos na hanseníase. Citation: Orsini M, de Freitas MRG, Antonioli RS, Mello MP, Reis JPB, Reis CHM, Silva JG, Carvalho RW, Nascimento OJM. Clinical, imunopathological, and electrophysiological studies of peripheral nerves in Hansen’s disease. Trabalho realizado no Serviço de Neurologia – Setor de Doenças Neuromusculares da Universidade Federal Fluminense – UFF. 1. Professor Titular - ESEHA e Doutorando em Neurociências - UFF. 2. Professor Titular de Neurologia Clínica e Chefe do Serviço de Neurologia – UFF. 3. Estagiários do Serviço de Reabilitação Neurológica da UNIFESO (Fisioterapia). 4. Professor Titular de Neurologia – UNIG e Doutorando em Neurociências – UFF. 5. Professor Adjunto de Ortopedia e Cinesiologia da UNIFESO. 6. Iniciação Científica – UNIG, Professor do Mestrado Profissional de Ensino de Ciências da Saúde e do Meio Ambiente – UniFOA, Bolsista CNPq. 7. Professor Titular e Coordenador da Pós-Graduação em Neurologia/Neurociências – UFF. 8. Professor Titular de Parasitologia da Universidade Nova Iguaçu – UNIG. Endereço para correspondência Marco Orsini R. Prof. Miguel Couto, 322/1001 24230-240 Niterói, RJ E-mail: [email protected] Fone: (21) 8125-7634 Rev Neurocienc 2008;16/3: 220-230 Recebido em: 02/02/07 Revisado em: 03/02/07 a 23/07/07 Aceito em: 24/07/07 Conflito de interesses: não 220 revisão INTRODUÇÃO A hanseníase é uma doença infecciosa, crônica, granulomatosa, causada pelo Mycobacterium leprae, que compromete a pele, o sistema nervoso periférico e, ocasionalmente, outros órgãos e sistemas. Constitui um importante problema de saúde pública no Brasil, tornando-o o segundo país em número de casos no mundo, após a Índia. No Mercosul sua prevalência é de 6,03/100.000 habitantes1,2. Aproximadamente 94% dos casos conhecidos nas Américas e 94% dos novos diagnosticados são notificados pelo Brasil3. Inúmeros estudos têm demonstrado que, diante da contaminação, a maioria dos indivíduos oferece resistência ao M. leprae, não desenvolvendo a doença, situação que pode ser alterada em função da relação entre agente, meio ambiente e hospedeiro4-6. Nos que adoecem, a infecção evolui de maneiras diversas, de acordo com a resposta imunológica específica do hospedeiro frente ao bacilo. Esta resposta imune constitui um espectro que expressa diferentes formas clínicas da doença. Com uma resposta imunológica competente o indivíduo evolui para a forma clínica localizada e não-contagiosa da doença; entretanto, se essa competência não for efetiva, uma forma difusa e contagiosa é desenvolvida. Entre estes dois extremos, encontram-se as formas intermediárias, que refletem graduais variações de resistência ao bacilo1,6. Por ser uma infecção marcada especialmente pelo acometimento de nervos periféricos, a hanseníase provoca danos relacionados à função motora, prejudicando os indivíduos na execução de atividades básicas e instrumentais da vida diária. O comprometimento sensitivo, presente em todas as formas da doença, freqüentemente precede o envolvimento da função motora. Alguns pacientes iniciam a doença com uma neuropatia periférica, enquanto outros apresentam essas complicações após iniciarem a terapia medicamentosa7-12. Embora a prevalência da hanseníase venha diminuindo consideravelmente nos últimos anos, a doença continua a ser uma das maiores causas de neuropatia periférica em todo o mundo13. O M. leprae tem a capacidade de invadir o sistema nervoso periférico e causar a neuropatia hansênica14. Quatro possíveis mecanismos estão relacionados à lesão nervosa periférica na hanseníase: a presença do M. leprae ou de seus antígenos; traumas em regiões superficiais de troncos nervosos; aumento da pressão intraneural; e alterações vasculares em vasos sangüíneos intraneurais15. Apesar do mecanismo fisiopatológico preciso da neuropatia periférica não estar totalmente esclarecido, acredita-se que a lesão 221 nervosa ocorra a partir de um infiltrado inflamatório subagudo ou crônico que pode ocupar o endoneuro, perineuro e epineuro, levando a injúria gradual das fibras neurais, seguido por remodelamento do parênquima nervoso em tecido fibrótico16. A hanseníase também provoca alterações inflamatórias e/ou secundárias na função muscular resultando em deformidades em tecidos moles e articulações. O envolvimento da musculatura estriada esquelética tem sido caracterizado como conseqüente da neuropatia periférica em função de desnervação muscular5,17,18. Entretanto, escassos estudos experimentais revelam acometimento muscular primário19-22. Em razão da complexidade da hanseníase, sua infectividade, seu potencial incapacitante e sua longa presença na história da medicina, esta tem sido historicamente uma doença confinada a hospitais ou instituições fechadas dedicadas ao cuidado de doenças complexas. Com a implementação dos esquemas de poliquimioterapia (PQT) recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), sua prevalência diminuiu drasticamente e, o mais importante, a percepção da hanseníase como doença curável teve um efeito positivo sobre as questões de controle da enfermidade, tanto do lado dos pacientes como das equipes de saúde. Entretanto, dois pontos primordiais até agora permanecem não resolvidos, sendo seu estigma e potencial incapacitantes23,24. Mesmo que a PQT tenha contribuído de várias formas para uma melhora no controle da doença, o dano neural é até o momento uma ameaça presente aos agentes de programas de controle e um desafio aos pesquisadores12,25,26. Em razão do que se conhece da patologia, do ponto de vista da lógica, a melhor abordagem para a prevenção do dano neural e as conseqüências provocadas pela hanseníase é o diagnóstico precoce e tratamento adequado. Entretanto, determinados pacientes ainda necessitarão de ações para prevenir ou evitar a progressão de deficiências/incapacidades, ou mesmo de medidas reabilitativas. Este grupo poderá ser constituído dos seguintes casos: casos novos já detectados com alguma incapacidade; casos que desenvolverão algum tipo de incapacidade durante ou após o término do tratamento, e casos antigos diagnosticados tardiamente com incapacidades já instaladas1,24. Definição e epidemiologia da hanseníase A hanseníase é uma doença na qual o bacilo responsável, M. leprae, possui preferência pelas membranas mucosas e pele, e pelos troncos nervosos periféricos1,27. O M. leprae é um microorganismo acidófilo Rev Neurocienc 2008;16/3:220-230 revisão em forma de bastonete, que se assemelha morfologicamente ao bacilo da tuberculose. Pode ser demonstrado em lesões cutâneas e, por vezes, está presente no sangue de pacientes hansenianos2,28-30. Devemos recordar que o bacilo ainda não é cultivável, mesmo tendo sido a primeira bactéria a ser identificada como agente causador de uma doença humana24. A hanseníase é uma doença contagiosa com distribuição mundial31. Estima-se um número de afetados variando em torno de 10 a 15 milhões, principalmente em países em processo de desenvolvimento32,33. Apesar de apresentar altos índices em países mais pobres e, nestes, nos estratos da população menos favorecida, não se sabe ao certo a influência de variáveis como moradia, estado nutricional, infecções concomitantes e infecções prévias por outras micobactérias. O papel de fatores genéticos tem sido avaliado há muito tempo e, de igual modo, a distribuição da doença em conglomerados, famílias ou comunidades com antecedentes genéticos comuns sugere esta possibilidade34,35. Enquanto a doença se torna mais grave em algumas regiões, 15 países com mais de 1 milhão de habitantes foram considerados endêmicos pela OMS ao final de 2000, destes países seis respondem por 88% dos novos casos, concentrando a endemia na África, Ásia e América Latina. Os países mais afetados são Angola, Brasil, Índia, Madagascar, Moçambique, Nepal, e Tanzânia, sendo que todos eles têm intensificado suas ações de controle36. Classificação da Hanseníase A classificação de Madri de 1953 adota critérios de polaridade, baseados nas características clínicas da doença, acrescidos pelos aspectos bacteriológicos, imunológicos e histológicos da hanseníase, definindo os grupos polares, tuberculóide (T) e virchoviano (V) ou lepromatoso (L); o grupo transitório e inicial da doença, a forma indeterminada (I); e o instável e intermediário, a forma borderline (B) ou dimorfa (D)6,37. Os quatro grandes critérios que definem a classificação da doença são os abaixo citados: clínico (aspectos de lesões cutâneas, variando em número, extensão, definição de margens e simetria de distribuição); bacteriológico (presença ou ausência do M. leprae, e seus aspectos morfológicos, variando de numerosos, íntegros e agrupados, formando globias, a raros, fragmentados e ausentes); imunológico (imunorreatividade a lepromina – reação de Mitsuda, com leitura após 21 a 28 dias); histológico (aspectos histopatológicos das lesões, variando de granulomas bem definidos a infiltrado difuso linfo-histocitário)38,39. Rev Neurocienc 2008;16/3: 220-230 A classificação de Ridley & Jopling adota subgrupos dentro do espectro, que obedece a critérios clínicos e bacteriológicos, e enfatiza os aspectos imunológicos e histopatológicos. Siglas são utilizadas para indicar as duas formas polares tuberculóide-tuberculóide (TT) e lepromatoso-lepromatoso (LL) e os três subgrupos: borderline-tuberculóide (BT), borderlineborderline (BB), borderline-lepromatoso (BL)1. Formas clínicas da hanseníase Hanseníase Indeterminada As lesões referentes à hanseníase indeterminada (HI) surgem após um período de incubação que varia, em média, de dois a cinco anos. É caracterizada pelo aparecimento de manchas hipocrômicas, com alteração de sensibilidade, ou simplesmente por áreas de hipoestesia na pele40. As lesões são em pequeno número e podem localizar-se em qualquer área cutânea. Freqüentemente, apenas a sensibilidade térmica encontra-se alterada. Não existe comprometimento de troncos nervosos nesta forma clínica. A hanseníase indeterminada é considerada a primeira manifestação da hanseníase e, após um período de tempo que varia de poucos meses até anos, ocorre evolução para a cura ou para outra forma clínica1. É freqüentemente observada em regiões do mundo onde a doença é endêmica ou hiperendêmica41. Discute-se que as formas indeterminadas podem ser consideradas um estágio inicial e transitório da doença, sendo encontradas em indivíduos de resposta imune não definida diante do bacilo, usualmente crianças42. Hanseníase tuberculóide A hanseníase tuberculóide caracteriza-se pela forma clínica de contenção da multiplicação bacilar, dentro do espectro da doença. As lesões cutâneas, com bordas pronunciadas, são únicas ou em pequeno número e assimetricamente distribuídas pelo tegumento. Apresenta-se, quando mácula, como lesão hipocrômica ou eritematosa, delimitada por micropápulas, e, quando placa, como lesão eritematosa ou acobreada, difusamente infiltrada, ou com tendência central ao aplainamento, e limites externos sempre nítidos e bem definidos40. Em estudo realizado por Brito a presença de infiltração pode sugerir hanseníase multibacilar43. Segundo dados da OMS, a classificação do número de lesões, adotada a partir de pesquisas de bacilos em esfregaços cutâneos, considera multibacilares pacientes que apresentarem mais de 5 lesões, diferentemente de paucibacilares, no máximo 544. 222 revisão Geralmente, as lesões não ultrapassam 10 cm de diâmetro, e os danos em ramos neurais acentuam-se rapidamente, resultando em alterações tanto sensitivas quanto autonômicas, que evoluem para hipoestesia e anestesia, em pele de superfície seca, hipoidrótica, com diminuição ou ausência de pêlos. Além da pele, o envolvimento de troncos nervosos ocorre em pequeno número, em regra, próximo às lesões cutâneas. Os nervos, preferencialmente, acometidos são o ulnar, mediano, radial, fibular comum, tibial posterior, auricular e supraorbitário6. Neste grupo clínico, podemos encontrar somente comprometimento neural, sem lesões cutâneas, denominando-se hanseníase tuberculóide neural pura6. Na forma tuberculóide, ao ser avaliada a resposta imune ao M. leprae, através da intradermorreação de Mitsuda, observa-se uma reação fortemente positiva, sempre maior que 5 mm, atingindo de 8 a 15 mm de diâmetro, muitas vezes com ulceração central. A baciloscopia, via de regra, é negativa; em alguns casos, encontram-se raros bacilos na histopatologia de cortes de pele, observando-se infiltração de células epitelióides, gigantócitos circundados por linfócitos, na periferia, constituindo granuloma bem definido, que invade a derme e, por vezes, a epiderme, além de comprometer filetes nervosos, e anexos cutâneos, como glândulas sudoríparas e aparelho pilossebáceo6. Hanseníase virchowiana Trata-se de uma forma multibacilar, reconhecida por corresponder ao pólo de baixa resistência, dentro do espectro imunológico da doença. Portanto, manifesta-se em indivíduos que apresentam imunidade celular deprimida para o M. leprae. Admite-se que a hanseníase virchowiana possa evoluir a partir da forma indeterminada ou apresentar-se como tal desde o início. Sua evolução crônica caracteriza-se pela infiltração progressiva e difusa da pele, mucosas, das vias aéreas superiores, olhos, testículos, nervos, podendo afetar, além disso, os linfonodos, o fígado e o baço. Na pele descrevem-se pápulas, nódulos e máculas. A infiltração é difusa e mais acentuada na face e nos membros. A pele torna-se luzidia, xerótica, com aspecto apergaminhado e tonalidade semelhante ao cobre. Há rarefação dos pêlos nos membros, cílios e supercílios. São sinais precoces de hanseníase virchowiana, a obstrução nasal, rinorréia serossanguinolenta e edema de membros inferiores1. Nesta forma também podemos encontrar acometimento isolado dos nervos periféricos como também mononeuropatias múltiplas e polineuropatias. 223 Hanseníase borderline ou dimorfa Na hanseníase borderline ou dimorfa, identificamos aspectos clinicodermatológicos, que se aproximam do pólo virchowiano ou tuberculóide, até no mesmo paciente, e esta aparência dimorfa reflete a instabilidade neurológica. A evolução da doença e a ausência de tratamento poderiam conduzir alguns pacientes ao pólo virchowiano. Dentro da multiplicidade de aspecto das lesões cutâneas, observamos máculas eritematosas, em pele clara, além de hipocrômicas, em pele escura, que assume por vezes uma tonalidade avermelhada, sendo comum também a presença de pápulas, tubérculos, nódulos e placas. À proximidade ao pólo tuberculóide notam-se lesões mais delimitadas e anestésicas, e a pesquisa aponta raridade ou ausência de bacilos. Por outro lado, à proximidade ao pólo virchowiano observa-se lesões mais numerosas, brilhantes, com menor delimitação de limites, cuja perda de sensibilidade não é tão intensa, e a pesquisa registra a presença de um maior número de bacilos6. Foram descritas, classicamente, como representantes do grupo borderline, lesões de aspecto anular, circulares e ovais, ou foveolar. Lesões anulares possuem anel eritematoacobreado, mais delimitado interna e externamente, quando comparadas as foveolares, estas últimas denominadas também de lesões tipo “queijo-suiço”, representadas por placas eritematosas, cujos limites externos mal definidos, com eritema que se esmaece, gradativamente, contrastam com a definição mais acentuada dos limites internos da borda da lesão cutânea6. Dentro da classificação de Ridley & Jopling, as lesões cutâneas, representadas pelo grupo borderline-tuberculóide, assemelham-se às da hanseníase tuberculóide. Elas tendem a ser definidas e hipocrômicas, embora sejam menos marcantes quanto à infiltração e pronunciamento de suas bordas, que, por sua vez, não são bem delimitadas e, gradualmente, se confundem com pele normal. Há variação na definição das margens destas lesões, quando comparadas em toda a sua extensão, podendo ser mais elevadas e bem definidas, ou aplainadas e vagamente delimitadas. Com freqüência são contatadas lesões satélites, próximas às margens de placas extensas. O número de lesões tende a ser superior a 10 ou 20, multibacilar e, caso sejam comparadas as da hanseníase tuberculóide, têm maiores dimensões, chegando a atingir um membro todo. As lesões neurais são significativas, freqüentemente graves, atingindo mais de um tronco nervoso com padrão assimétrico45. Rev Neurocienc 2008;16/3:220-230 revisão A forma clínica borderline-borderline é a mais instável dentro do espectro. Em geral, numerosas lesões cutâneas, que tendem a distribuição simétrica, de diversos tipos e dimensões, estão presentes no mesmo paciente. Máculas, pápulas e placas, de tamanhos variados, podem mostrar desde margens bem definidas, em algumas áreas, até margens pobremente demarcadas, em outras, revelando o aspecto geográfico ou polimórfico das lesões45. Na forma clínica bordeline-virchoviana máculas se disseminam progressivamente pelo tegumento, sendo mais distintas e elevadas quando comparadas ao polo lepromatoso-lepromatoso, e posteriormente, estas lesões podem dar lugar a uma infiltração difusa6. Reações Hansênicas Concomitantemente, ao curso natural da hanseníase, sobrepondo-se a uma evolução usualmente lenta e indolente, e relacionando-se aos espectros clínico, imunológico e histopatológico da doença, impõem-se os estados reacionais, produzidos por diferentes mecanismos imunológicos e responsáveis por importante componente de dano tecidual. As reações hansênicas podem corresponder à exacerbação da imunidade celular, ou demonstrar efeitos de acentuada formação de imunocomplexos, que foram denominadas por Jopling de reação hansênica tipo 1 e 2, respectivamente28,37,46. Reação Reversa A reação tipo 1 ou reação reversa (RR), que ocorre habitualmente em paucibacilares, parece estar associada a um aumento abrupto da resposta imune mediada por célula contra antígenos do Mycobacterium leprae. A histopatologia demonstra expansão do granuloma com presença de edema e um influxo de células CD4+ positivas47-49. Tende a surgir mais precocemente no tratamento, entre os seis primeiros meses, caracteristicamente na hanseníase dimorfa1,11. As lesões pré-existentes tornam-se eritematovioláceas, sensíveis, intumescidas, elevadas, e máculas tornam-se placas. Surge também elevação e melhor definição dos limites das lesões. Evoluem com descamação e, por vezes, sobrevém ulceração. Novas lesões apresentam tendência a surgir, em áreas adjacentes, assemelhando-se às lesões preexistentes, e podem ser numerosas, pequenas e esparsas45. O comprometimento neural é comum, por vezes, acentuado e grave, resultando, ocasionalmente, em marcante perda de função e paralisia súbita. Nervos comprometidos tornam-se intumescidos, com graus Rev Neurocienc 2008;16/3: 220-230 variáveis de dor e exacerbação da sensibilidade local e/ou territorial, destacando-se o comprometimento dos sítios de predileção, como os nervos ulnar, mediano, radial, fibular comum, tibial posterior e supra-orbitário6,50-52. Reação tipo eritema nodoso A reação tipo 2 ou eritema nodoso hansênico (ENH) representa uma importante causa de morbidade e incapacidade física em pacientes com hanseníase borderline lepromatosa e lepromatosa lepromatosa, acometendo, principalmente, pacientes na faixa etária economicamente ativa53,54. A reação ocorre somente em pacientes multibacilares, sendo caracterizada por uma manifestação inflamatória sistêmica, apresentando imunopatologia mais complexa. Pode manifestar-se em casos não tratados, porém um percentual expressivo de indivíduos sob tratamento pode desenvolver um ou mais episódios. Em alguns pacientes essa reação inflamatória pode se tornar crônica e aparecer mesmo após o término do tratamento55-58. Além da pele e nervos outras estruturas podem estar envolvidas: linfonodos, fígado, baço, peritônio, testículos, olhos, articulações, tendões, músculos e ossos. Pode ocorrer febre, leucocitose, estimulação policlonal de anticorpos e presença de imunocomplexos nos tecidos lepromatosos, caracterizando uma síndrome por imunocomplexos47,57. Fenômeno de Lúcio O fenômeno de Lúcio foi descrito por Lúcio e Alvarado em 1852, no México, e recebeu essa denominação em 1948 por Latapi e Zamora59,60. Representa uma variante da reação hansênica tipo 2 e, histopatologicamente, caracteriza-se como vasculite aguda necrosante, tendo como sinonímia a expressão “eritema necrosante”61,62. O fenômeno de Lúcio pode ser verificado na hanseníase de Lúcio (forma lepromatosa pura e primitiva) e em outras formas de lepromatosa-lepromatosa63-65. Apesar de descrito o quadro clínico e histopatológico do fenômeno de Lúcio, a patogênese desta reação ainda permanece obscura. Claramente, a presença de bacilos em células endoteliais, associada a fenômenos trombóticos, é importante; entretanto, prováveis fatores imunológicos, como depósitos de complexo imune em vasos da derme, genéticos, regionais, e próprios do M. leprae, considerados como envolvidos na etiopatogenia desta manifestação clínica, necessitam de um substancial investimento de pesquisa66. 224 revisão Resultados de estudos clínicos, eletrofisiológicos e imunopatológicos nas lesões de nervos periféricos decorrentes da Hanseníase As apresentações clínicas da hanseníase estão correlacionadas com padrões imunológicos distintos, variando de uma vigorosa resposta imune mediada por células ao M. leprae, com padrão Th1 no pólo tuberculóide, a uma ausência de resposta celular específica aos antígenos do M. leprae no pólo lepromatoso, com predomínio da resposta Th2 e exacerbação da resposta humoral67. O pólo de maior suscetibilidade, hanseníase virchoviana, apresenta depressão da resposta imune celular, associada ao aumento da produção de citocinas supressoras (IL-4 e TGFb) e redução dos níveis de citocinas ativadoras da resposta imune (TNFa, IL-1 e IFNg). Há ainda menor produção de elementos responsáveis pela oxidação intracelular, como intermediários do nitrogênio (RNI), avaliada pela expressão da enzima NO sintase induzida (iNOS)68. É provável que a suscetibilidade ao M. leprae seja determinada por diferentes genes polimórficos. Estudos adicionais são necessários para esclarecer os mecanismos das interações complexas entre as citocinas e a participação da diversidade fenotípica da rede de células que contribuem para a defesa do hospedeiro. O entendimento de tais mecanismos poderá oferecer novas abordagens para identificar agonistas e/ou antagonistas para os efeitos pró- ou anti-inflamatórios e em quais circunstâncias sua utilização seria apropriada para intervenções imunológicas e/ou imunoterapeuticas67. Há tempo a hanseníase é considerada uma infecção marcada pelo acometimento de nervos periféricos. Reiteradas vezes, quando existe um número limitado de lesões na pele ou, quando uma pequena quantidade de bacilos é encontrada na mesma, tais organismos estão localizados preferencialmente nos nervos periféricos. As fibras finas, amielínicas, que conduzem os impulsos de dor e temperatura, são significativamente afetadas antes das fibras grossas mielinizadas, que conduzem a sensibilidade vibratória, propriocepção consciente e os impulsos motores. Histologicamente, os bacilos são identificados em vacúolos intracelulares tanto nas células de Schwann mielinizadas quanto em macrófagos que migram da corrente sangüínea para o espaço perineural. A infecção dos nervos pode resultar em desmielinização/remielinização crônica, ocasionando com freqüência calcificações e perda permanente da função neural9,69. Essa questão torna a hanseníase uma das maiores causas de neuropatia periférica não-traumática70. 225 Embora esteja claro que as células de Schwann são os principais alvos da infecção provocada pelo M. leprae, a base molecular do mecanismo de penetração do organismo no nervo e sua posterior afinidade com as células de Schwann, ainda são pouco conhecidos9. O campo de pesquisas, envolvendo a hanseníase, foi incitado por trabalhos nos quais foram descritos mecanismos moleculares relacionados à afinidade seletiva do M. leprae com as células de Schwann. Tais estudos identificaram uma glicoproteína que se liga à superfície do bacilo e o direciona para a superfície da célula de Schwann, provocando desse modo um mecanismo potencial de internalização71,72. A unidade axonal/celular das células de Schwann dos nervos periféricos é envolvida pela lâmina basal, que consiste de um número de moléculas extracelulares, incluindo lamininas, colágeno tipo IV, entactina/nidogênio, e proteoglycans sulfato-heparina73,74. As lamininas são glicoproteínas compostas por três canais, α, β e γ. Existem 11 isoformas distintas dependendo da configuração dos canais. Na lâmina basal das células de Schwann dos nervos periféricos, a forma predominante é a laminina-2, que é composta pelos canais α2, β1 e γ1. Essa configuração não é encontrada no sistema nervoso central75. Em um dos estudos foi demonstrado que o M. leprae liga-se especificamente ao gene dominante localizado no final do terminal C, no canal α2 da laminina 270. As células de Schwann apresentam em sua superfície proteínas como, por exemplo, a α-dystroglycan, que podem realizar ligações com componentes da matriz extracelular da lâmina basal. As dystroglycans das células de Schwann são encontradas, resultando em uma porção extracelular, α-dystroglycan, e em outra transmembranosa, ß-dystroglycan76. Reforçando as considerações supracitadas, Rambukkana e um grupo de pesquisadores, demostraram que o Mycobacterium leprae associa-se com a molécula transmembranosa α-dystroglycan72. No universo intracelular, β-dystroglycan conecta-se a dystrofina, uma proteína intracelular associada a actina. Essas quatro proteínas (laminina-2, α-dystroglycan, βdystroglycan e distrofina) promovem uma ponte de conexão entre o meio externo e o meio interno, o citoesqueleto das células de Schwann9. Acredita-se que os monócitos infectados das regiões comprometidas (pele ou mucosas) transportam o bacilo para o interior do nervo durante o tráfego normal de macrófagos para o sistema nervoso periférico. Esse tipo de carreamento ocorre em todos os indivíduos, como um mecanismo de troca de Rev Neurocienc 2008;16/3:220-230 revisão substâncias metabólicas entre os nervos periféricos e a corrente sangüínea77. Entretanto, numa infecção pelo M. leprae, é possível que os macrófagos infectados penetrem e fiquem aprisionados no nervo. Quando os bacilos iniciam o processo de replicação, tem início à destruição das células de defesa e a posterior passagem do M. leprae para o espaço endoneural. Em alguns casos, a micobactéria é direcionada pela laminina α-2 e acopla-se a α-distroglycan na superfície das células de Schwann mielinizadas. Nesse caso a internalização pode ter efeito. As células de Schwann podem degenerar-se e aumentar o recrutamento de macrófagos no interior do nervo. Devido a α-2 laminina e a α-dystroglycan serem proteínas restritas ao sistema nervoso periférico, a infecção pelo M. leprae não se estabelece no sistema nervoso central78. Inicialmente a hanseníase provoca desmielinização segmentar dos nervos periféricos e secundariamente dano axonal. Os achados eletrofisiológicos precoces incluem latências distais prolongadas e lentificação segmentar da velocidade de condução nervosa, particularmente quando mesurada em regiões onde os nervos são anatomicamente vulneráveis79. Quando paresia significante é detectada no exame clínico, encontram-se evidências de bloqueio de condução motora ou alterações indicativas de dano axonal com redução da amplitude do potencial de ação muscular80. No membro superior, particularmente o nervo ulnar apresenta lentificação da velocidade de condução motora, principalmente no nível do cotovelo, poupando relativamente os segmentos no antebraço e punho. Alterações de condução do nervo mediano ocorrem especialmente no terço distal do antebraço, próximo a região do túnel do carpo81,82. No membro inferior o nervo fibular geralmente mostra lentificação da velocidade de condução no segmento entre a fossa poplítea e a cabeça da fíbula e distalmente ao tornozelo. Os estudos de condução motora do nervo facial revelam latências prolongadas ou reduzidas, e ausência de respostas dos músculos orbicular do olho e frontal83. A velocidade de condução sensitiva encontrase mais lentificada que a motora, indicando que o sistema sensorial é mais afetado que o motor. Quando há fraqueza no início da doença, os achados eletromiográficos podem revelar redução do recrutamento devido a desmielinização focal. Posteriormente potenciais de amplitude aumentada polifásicos, e potenciais motores de longa duração com recrutamento reduzido podem ser vistos devido ao dano axonal e reinervação12. Rev Neurocienc 2008;16/3: 220-230 A hanseníase pode ocasionar em alguns casos, seqüelas motoras residuais e permanentes, mesmo após o tratamento medicamentoso e a cura microbiológica da infecção. Em milhões de indivíduos, as neuropatias periféricas tornam-se incuráveis. O gerenciamento clínico dessas complicações é dificultado na maioria das vezes pela não compreensão dos mecanismos envolvidos com a patogênese da doença44,78. O dano neural, talvez a conseqüência mais importante da hanseníase pela magnitude das deficiências e incapacidades que provoca, é geralmente considerado como sendo parte e, em conseqüência, resultado de reações hansênicas. Achados clínicos referentes às reações e a presença de lesões em nervos periféricos têm sido descritos detalhadamente. Entretanto, esclarecimentos relacionados a patologia e a patogênese dos mecanismos de lesão, ainda são escassos na literatura. Similarmente, a epidemiologia do dano nervoso, em particular, sua incidência, história natural, e fatores de risco associados, são pouco descritos84. As lesões limitantes, manifestadas após dez anos de início da doença, dificilmente são acompanhadas e registradas. Inúmeros fatores contribuem para tal questão, como por exemplo: uma ampla variedade de estudos de coorte, no qual na maioria das vezes, as estimativas estão relacionadas a dados oriundos de hospitais, com um número insuficiente de estudos baseados em regiões ou numa população específica; a utilização de diferentes métodos de avaliação da função nervosa; aplicação de tratamentos diferentes; e diagnóstico tardio, muitas vezes realizado após a instalação da lesão nervosa47,85. Em 1988, Saunderson realizou um estudo de campo com 594 novos pacientes e os acompanhou durante dez anos após o tratamento medicamentoso, incluindo avaliações semestrais da função nervosa, baseadas em testes musculares e sensitivos básicos. As novas incapacidades relativas à função nervosa que porventura aparecessem eram tratadas a base de corticoesteróides. Dos 594 pacientes envolvidos, 268 (45%) não apresentaram incapacidades, quando realizado o diagnóstico, porém 73 desenvolveram um quadro neuropático tardio durante o acompanhamento. Em toda a população do estudo, 195 pacientes (33%) nunca apresentaram sinais neuropáticos85. Com base em dados longitudinais destes 73 pacientes nos quais a neuropatia ocorreu durante o acompanhamento regular, 41 (56%) exibiram um único episódio de neuropatia, com menos de 6 meses de duração e resposta satisfatória ao tratamento medicamentoso. O retorno à função normal ocor- 226 revisão reu em 88% dos nervos que apresentaram somente 1 episódio de acometimento, com nenhuma evidência de incapacidade prévia e episódios neuropáticos clinicamente evidentes. Esses episódios foram descritos como neuropáticos agudos. Os principais fatores de risco para o aparecimento das neuropatias agudas foram: idade avançada, diagnóstico tardio, significativa lesão nervosa na ocasião do diagnóstico, e a ocorrência de reações reversas. Para as neuropatias crônicas e recorrentes podemos destacar os seguintes fatores: presença de hanseníase multibacilar, grande incapacidade no estabelecimento do diagnóstico, a ocorrência de reações reversas e a presença de eritema nodoso hansênico85. Envolvimento Muscular Primário na Hanseníase Apesar de o envolvimento muscular na hanseníase ser considerado secundário à lesão dos nervos periféricos, alguns estudos relataram acometimento muscular primário22,86,87. Job20, em 1989, descreveu alterações na musculatura estriada esquelética, definindo três níveis de lesão: invasão e proliferação do M. leprae nas fibras musculares; degeneração das fibras musculares, com infiltração de linfócitos, macrófagos, células polimorfonucleares e fragmentação bacilar; destruição das fibras musculares, com presença de fibrose tecidual, com ausência do bacilo. O bacilo poderia sobreviver e multiplicar-se na musculatura estriada esquelética mais facilmente do que na pele. Relatou também que a fibra muscular possui um papel exponencial na patogênese da hanseníase, por funcionar como um reservatório de bacilos. Werneck et al.22 em 1999, em estudo que tinha como objetivo verificar tal controvérsia, selecionaram 40 pacientes com diagnóstico de hanseníase (23 da forma lepromatosa, 13 tuberculóide, 2 borderline e 2 indeterminada). Os pesquisadores realizaram a neurocondução do nervo fibular, associada a eletromiografia (EMG) e a biópsia do músculo tibial anterior. A EMG do tibial anterior apresentou sinais de desnervação recente e crônica em 77,5% dos casos, e não foi encontrada evidência de um possível padrão “miopático”. Não foram registrados potenciais eletromiográficos compatíveis com envolvimento muscular primário, como descrito raras vezes. Entretanto os autores encontraram além de um processo de desnervação decorrente da lesão no nervo fibular, um quadro miopático inflamatório intersticial com bacilos alcoolácido resistentes em 45% dos casos, denominado posteriormente de “Miosite Lepromatosa Intersticial”86. 227 A “Miosite Intersticial” foi observada principalmente em pacientes com a forma lepromatosa. As reações inflamatórias musculares, não possuíram representação eletromiográfica, sugerindo que a lesão estivesse localizada nas áreas perivasculares, perineurais e intersticiais entre as fibras musculares. Tratamento Tratamento medicamentoso Em 1981, a OMS recomendou o tratamento com os esquemas PQT (ou multidrogaterapia – MDT). Os esquemas propostos eram constituídos por várias drogas, com mecanismos de ação distintos, com a finalidade de evitar o surgimento de resistência bacteriana, sendo eficazes mesmo na presença de cepas de M. leprae resistentes a dapsona. A duração reduzida da PQT em relação ao tratamento sulfônico, que era mantido por toda a vida do paciente, tinha como objetivo aumentar a adesão dos pacientes ao tratamento. Para isso recomendava-se a associação de drogas bactericidas88. Os esquemas-padrão, na verdade, têm uma droga fortemente bactericida, que é a rifampicina, e duas drogas consideradas bacteriostáticas ou bactericidas fracas: dapsona e clofazimina23. Os esquemas-padrão já foram utilizados por 14 milhões de pacientes em todo o mundo89, sendo comprovada sua segurança e aceitação para o uso no campo. Taxas de recidiva na ordem de 0,1%/ano entre multibacilares levam em conta o esquema com duração de 24 doses90. Entretanto, têm sido relatadas recidivas em patamares considerados inaceitáveis para grupos específicos de multibacilares, com índices bacteriológicos elevados91,92. A busca de esquemas que possam agregar drogas fortemente bactericidas prossegue, com perspectivas promissoras a partir da demonstração, em animais de laboratório, da superioridade da rifapentina e moxifloxacina em relação à rifampicina e ofloxacina, e de sua associação com minociclina (PMM) considerada superior ao ROM93. A quimioterapia trouxe em seu cerne a premissa do cuidado multidisciplinar com o paciente, o estreitamento do vínculo do paciente com o serviço, melhorando os níveis de adesão ao tratamento e possibilitando diagnósticos precoces e intervenções nos estados reacionais, e o trabalho contínuo na prevenção de incapacidades físicas23. A evolução da quimioterapia ao longo do século XX permitiu que a maioria dos objetivos traçados fossem alcançados, com a cura da infecção. Espera-se que os problemas remanescentes, como os distúrbios imu- Rev Neurocienc 2008;16/3:220-230 revisão nológicos que levam aos estados reacionais e o estigma que ainda existe em muitas sociedades, tenham com a evolução dos tratamentos hoje existentes, e a consolidação das metas de eliminação nos vários níveis, o desfecho almejado no cenário da erradicação23. Reabilitação e intervenção fisioterapêutica Os aspectos referentes à reabilitação na hanseníase sofreram uma revisão recentemente. A fisioterapia, as cirurgias corretivas, o gerenciamento de úlceras plantares, os problemas oculares, e a utilização de aparelhos de proteção passaram a fazer parte da reabilitação física. A instrução do paciente e da comunidade está relacionada com a reabilitação psicossocial, enquanto a reabilitação econômica visa a promoção de treinamento, autonomia e estabilidade profissional. O objetivo final dessa inter-relação é fornecer ao paciente uma melhor qualidade de vida94. O programa de reabilitação deve ter início na época do diagnóstico e conter dois componentes primordiais: o paciente e a comunidade em que está inserido. Como os componentes fisiológicos e psicológicos da doença afetam os pacientes de formas diferenciadas, faz-se necessário identificá-los, precocemente, para traçarmos a melhor forma de gerenciamento94. Atualmente existe uma tendência para a substituição do conceito convencional de reabilitação, como tratamento de um dano já instalado nos indivíduos, para a prevenção de danos provocados por padrões patológicos distintos, que posteriormente são marcados por gerarem deficiências e/ou incapacidades95-97. As principais estratégias de reabilitação motora estabelecidas têm como meta: melhorar o condicionamento/recondicionamento aeróbico, equilíbrio, coordenação e automatismo motor; fornecer estabilidade postural; manter ou aumentar a amplitude de movimento; treinar a marcha; promover relaxamento; treinar a força e resistência nos grupamentos musculares; desenvolver programas voltados ao treinamento de atividades de vida diária (básicas e instrumentais); utilizar equipamentos para auxílio em atividades funcionais e prevenir e/ou reduzir complicações secundárias98. CONCLUSÃO A hanseníase constitui causa freqüente de acometimento de nervos periféricos, resultando, ocasionalmente, em marcante perda das habilidades funcionais e paralisia. O processo educativo nas ações de controle da hanseníase deve contar com a participação do paciente ou de seus representantes, dos familiares e Rev Neurocienc 2008;16/3: 220-230 da comunidade, nas decisões que lhe digam respeito. Assim como na busca ativa de casos e no diagnóstico precoce, através dos avanços relacionados aos aspectos imunopatológicos da doença, resultando em uma melhor prevenção e tratamento das deficiências e incapacidades físicas, no combate ao eventual estigma e manutenção do paciente no meio social. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Araújo MG. Leprosy in Brazil. Rev Soc Bras Med Trop 2003;36(3):373-82. 2. Freitas MRG, Nascimento OJM, Drago MJ, Hahn MD. Paralisia do nervo ulnar na lepra sem alterações cutâneas. Arq Neuropsiquiatr 1998;56(3-B):585-94. 3. Araújo MG. Hanseníase no Brasil. Rev Soc Bras Med Trop 2003;36(3):373-82. 4. Lombardi C. História natural da Hanseníase. In: Lombardi C, Ferreira J, Motta CP. Oliveira MLW. Hanseníase: epidemiologia e controle. São Paulo: IMESP SASEP, 1990,13-20. 5. Sabin TD, Swift TR, Jacobson RR. Leprosy. In: Dyck PJ, Thomas PH, Griffin JW, Low PA, Poduslo JF. Peripheral neuropathy. Philadelphia: Saunders, 1993, 1354-79. 6. Souza CS. 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Phys Ther 2001;81(1):411-27. 230 revisão Síndrome da Apnéia-Hipopnéia Obstrutiva do Sono e Doença Cerebrovascular Obstructive Sleep Apnea Syndrome and Cerebrovascular Diseases Carlos Maurício Oliveira de Almeida1, Dalva Poyares2, Sérgio Tufik3 RESUMO SUMMARY A Doença Cerebrovascular (DCV) e Síndrome da Apnéia do Sono (SAHOS) são entidades consideradas como importante agravo à saúde pública. Por anos, aproximadamente 500.000 casos novos de AVC são notificados gerando 175.000 óbitos na América do Norte. No mesmo período 2–4% da população adulta são diagnosticados como portadores da SAHOS. A SAHOS e a DCV são interligadas, quase sempre, aos mesmos fatores de riscos, como hipertensão arterial, doença cardiovascular, idade, obesidade, diabetes mellitus e tabagismo. Cresce a evidência de que a SAHOS seja um fator de risco independente para as doenças cardiovasculares e neurovasculares e que deve ser sistematicamente investigada no momento de sua suspeita. Até o momento, existem poucos trabalhos utilizando o CPAP em pacientes com AVC e SAHOS. Com este objetivo, realizamos uma revisão da literatura sobre a relação entre SAHOS e DCV e a utilização do aparelho de pressão positiva contínua (CPAP) no tratamento de pacientes diagnosticados com SAHOS e AVC. Cerebrovascular disease and Obstructive Sleep Apnea Syndrome (OSAS) are considered entities important to the public health. Per year, approximately about 500,000 new cases of Stroke are notified generating 175,000 deaths in the North America. In the same period 2–4% of the adult populations are diagnosed with OSAS. The OSAS and the Stroke are linked, almost always, to the same risks factors, as hypertension, cardiovascular illness, age, obesity, diabetes, and tobaccoism. It grows the evidence that the OSAS may be a factor of independent risk for the cardiovascular illnesses and stroke and must be promptly investigated when there are suspicious at the moment of diagnosis. Until this moment, there are few studies using the Continuous Positive Airway Pressure (CPAP) in patients with Stroke and OSAS. With this objective, we perform a literature review between OSAS and Stroke and the use of the CPAP in the treatment of patients with Stroke and OSAS. Unitermos: Doença Cerebrovascular. Apnéia do Sono. Pressão Positiva Contínua de Vias Aéreas. Keywords: Cerebrovascular disorders. Sleep Apnea. Continuous positive airway pressure. Citação: Almeida CMO, Poyares D, Tufik S. Síndrome da Apnéia-Hipopnéia Obstrutiva do Sono e Doença Cerebrovascular. Citation: Almeida CMO, Poyares D, Tufik S. Obstructive Sleep Apnea Syndrome and Cerebrovascular Diseases. Trabalho realizado na Universidade Federal de São Paulo. 1. Médico Neurologista e Neurofisiologista, ex-aluno de pós-graduação da Universidade Federal de São Paulo-UNIFESP. 2. Neurologista, Professora Doutora pela UNIFESP. 3. Professor Doutor e chefe da disciplina de Medicina e Biologia do Sono da UNIFESP. Endereço para correspondência: Carlos Maurício Oliveira de Almeida R. Billy Holiday 36/402c 69050-440 Manaus, AM Fone: (92) 3632-0472 E-mail:[email protected] Recebido em: 02/02/07 Revisado em: 03/02/07 a 23/07/07 Aceito em: 24/07/07 Conflito de interesses: não 231 Rev Neurocienc 2008;16/3:231-236 revisão INTRODUÇÃO A Doença Cerebrovascular (DCV) é atualmente a terceira causa de morte e uma importante causa de admissão hospitalar e incapacidade nos nossos dias. Por ano, aproximadamente cerca de 500.000 casos são notificados gerando 175.000 óbitos na América do Norte1. A Síndrome da Apnéia/Hipopnéia Obstrutiva do Sono (SAHOS) é considerada também um problema de saúde pública uma vez que é altamente prevalente em indivíduos numa faixa-etária produtiva, que vai dos 30 aos 60 anos, e está associada à história de roncos, hipersonolência, risco de acidentes automobilísticos e a morbidade e mortalidade cardiovascular1-6. A SAHOS e a DCV são entidades muito comuns e são associadas, quase sempre, aos mesmos fatores de riscos, como hipertensão arterial, doença cardiovascular, idade, obesidade, diabetes mellitus e tabagismo7-13. Baseado em estudos epidemiológicos e fisiológicos recentes cresce a evidência de que a apnéia obstrutiva do sono seja um fator de risco independente para as doenças cardiovasculares e neurovasculares e que deve ser sistematicamente investigada no momento de sua suspeita, com o objetivo de tratá-la14-21. Desde a sua invenção, por Sullivan (1981), o aparelho de pressão positiva contínua sobre as vias aéreas (CPAP) continua sendo o padrão ouro para o tratamento da SAHOS22,23. Até o momento, existem poucos estudos a respeito do uso do CPAP em pacientes com AVC. Com este objetivo, realizamos uma revisão da literatura sobre a relação entre SAHOS e DCV e a utilização do aparelho de pressão positiva contínua (CPAP) no tratamento de pacientes diagnosticados com SAHOS e AVC. Síndrome da Apnéia-Hipopnéia Obstrutiva do Sono A SAHOS é uma condição incapacitante, caracterizada por sonolência excessiva diurna, roncos e episódios recorrentes de obstrução respiratória durante o sono4. A obesidade e hipertensão, quando associados à presença de ronco ou sonolência excessiva, são altamente sugestivas da síndrome4. Estudos recentes têm demonstrado que pacientes com SAHO moderada (IAH > 20) já apresentam um risco maior de eventos cardiovasculares fatais independentes de outros fatores de risco24,25. Sabe-se que a SAHOS é devida tanto a fatores anatômicos quanto fisiológicos. Durante a inspiração há um aumento fisiológico da pressão sub-atmosféri- Rev Neurocienc 2008;16/3: 231-236 ca intratorácica sendo esta transmitida aos músculos da região faringeana. Na apnéia obstrutiva do sono, esta pressão sobrepuja então as forças abdutora dos músculos da região promovendo assim o seu colapso, total ou parcial5. O consenso da Academia Americana de Medicina do Sono (AASM 1999) considera como critério diagnóstico mínimo para a SAHOS a queixa de sonolência excessiva diurna ou insônia (inexplicada por drogas e outras condições patológicas) associadas a episódios freqüentes de pausas respiratórias, roncos ou despertares sufocados, juntamente com a presença de cinco ou mais eventos obstrutivos por hora de sono observados durante a polissonografia6. Doença Cerebrovascular e Ronco O ronco é definido como um som oriundo das vibrações dos tecidos das vias aéreas superiores parcialmente obstruído. Sua prevalência é alta variando de 4–29% nos homens e 3–14% nas mulheres2. Existem, na literatura, vários estudos que mostram uma associação do ronco com a DCV e muitos outros que não16-20 (Tabela 1). O motivo desta discordância decorre do fato de que muitos destes autores não realizaram um estudo polissonográfico conjunto definindo claramente se o ronco estava associado ou não a SAHOS. Doença Cerebrovascular e Síndrome da Apnéia-Hipopnéia Obstrutiva do Sono Alguns distúrbios respiratórios podem decorrer de uma lesão isquêmica, uma vez que os neurônios respiratórios estão localizados em alguns núcleos da medula e bulbo. Há vários relatos de distúrbios respiratórios, incluindo apnéia obstrutiva, insuficiência respiratória automática (Síndrome de Ondine), respiração de Biot, hiperventilação central, respiração apnêustica e respiração de Cheyne-Stokes descritas em pacientes com infartos supra e infratentoriais, inclusive com estudos anátomo-patológicos26-34. Há uma ligação estreita e complexa entre SAHOS e DCV9-13, uma vez que existem vários fatores modificáveis interligados como hipertensão arterial, obesidade e doença cardiovascular7-13. Desde o primeiro estudo18, muitos outros estudos de casos e estudos de caso-controle vieram, demonstrando presença elevada de apnéias obstrutivas em pacientes com DCV (variando de 54% a 89%), sugerindo que a mesma poderia representar uma causa e não apenas uma conseqüência da DCV35-45 (Tabela 2). 232 revisão Tabela 1. Artigos sobre Ronco e Doenças cerebrovasculares. Estudo Sexo Pacientes Ronco definição Tipo de AVC Odds Ratio [Intervalo de confiança] C/C M 50/100 Q isquêmico 2,08 [1,3–5,8] Prospectivo M 4388 Q Não definido 2,08 [1,20–3,62] Palomaki et al.17 Retrospectivo M 177 PSG isquêmico 3,16 [1,64–5,88] Palomaki et al.20 C/C M 177/177 Q isquêmico 2,13 [1,29–3,52] Autores Partinen e Palomaki18 Koskenvuo et al.16 Q = Questionário, PSG = Polissonogafia, C/C = Caso/Controle. Rivest descreveu um caso de um paciente de 64 anos com sintomas isquêmicos transitórios de circulação vértebro-basilar40. Tais manifestações ocorriam geralmente à noite e eram precipitadas por eventos obstrutivos respiratórios e que foram confirmados posteriormente pela polissonografia noturna. Basseti et al., em um estudo caso-controle com 128 pacientes diagnosticados como DCV ou ataques isquêmicoa transitórios (AIT), encontraram apnéia obstrutiva em 62,5% deles, versus 12,5% do grupo controle41. O mais importante é que a apnéia mostrou freqüências similares, tanto nos pacientes com DCV ou AIT. Parra et al., em um estudo com 161 pacientes diagnosticados como AVC ou AIT, realizaram avaliação polissonográfica dentro das primeiras 48 à 72 horas do diagnóstico e três meses após42. Foi observado que houve uma redução no índice de apnéia centrais e de respiração de Cheyne-Stokes, enquanto o de apnéias obstrutivas permaneceu estável. Munoz et al., em estudo de coorte com 394 pacientes e com seguimento de 6 anos, demonstraram um risco elevado para o surgimento de AVC entre apneicos graves (IAH > 30) independentes de outras variáveis (rr = 2,52; p = 0,004)43. Há achados que torna provável que a SAHOS seja mais um fator de risco para a doença cerebrovascular. Primeiramente a história prévia de roncos habituais, apnéias e sonolência excessiva são mais freqüentes nos pacientes com DCV37,41. Segundo, as apnéias obstrutivas aparecem com igual freqüência tanto nos pacientes com DCV ou AIT37,41. Terceiro, a prevalência de apnéias obstrutivas parece similar em infartos supra e infratentorias30 e persiste tanto em pacientes agudos quanto crônicos39,44. Além disto, a SAHO apresenta muitos fatores de risco para o AVC como a hipertensão arterial, arritmias e alteração na hemodinâmica cerebral46. 233 DCV, SAHOS, evolução clínica Há poucos estudos clínicos sobre a evolução da DCV, e da apnéia obstrutiva35,39,44,45. Good et al., em um estudo com 47 pacientes com DCV isquêmica admitidos em uma unidade de reabilitação, observaram que aqueles pacientes com apnéia obstrutiva, apresentaram uma alta mortalidade em 12 meses e uma pior evolução funcional39. Uma das hipóteses sobre tais achados foi que as freqüentes dessaturações e hipoxemia crônica intermitentes nestes pacientes exerçam um efeito inibitório sobre o processo de reorganização neuronal. Turkington et al. estudaram 120 pacientes admitidos nas primeiras 24hs em um serviço com diagnóstico confirmado de DCV35. Observou que a apnéia obstrutiva é bastante freqüente (80% IAH > 5; 60,8% IAH > 10; 40% IAH > 15 e 30% IAH > 20) neste período, nestes pacientes, especialmente quando associados com IMC, circunferência cervical elevado e a paresia de um membro e a que a correta identificação dos eventos respiratórios anormais e sua intervenção podem melhorar a evolução da DCV. Cadilhac et al. em estudo de coorte (SCOPES II) com o objetivo de verificar a prevalência de distúrbios respiratórios em sobreviventes de DCV, observaram que a severidade da DCV aos 30 dias e aos 3 anos, foi associada de maneira independente com Índice de Apnéias e Hipopnéias (IAH) maior que 15 eventos por horas de sono45. Fisiopatologicamente os eventos respiratórios levam a uma alteração na hemodinâmica cerebral46. No início da apnéia há aumento transitório da pressão arterial média e do fluxo sanguíneo cerebral, seguido logo após o evento, do aumento da pressão intracraniana com diminuição da pressão de perfusão cerebral (PPC) acompanhados de hipóxia e hipercapnia47. Associados a isso, existem alterações endoteliais e inflamatórias, aumento da agregabilidade plaquetária e Rev Neurocienc 2008;16/3:231-236 revisão diminuição da fibrinólise, podendo justificar o risco de elevado de infartos neste grupo de pacientes45-48. Tratamento com CPAP em pacientes com DCV e SAHOS O CPAP é o tratamento de escolha para a apnéia obstrutiva do sono, levando a uma melhora da sonolência, das funções cognitivas, da qualidade de vida e funcional destes pacientes22,23,49,50. Estudos em pacientes com SAHOS têm demonstrado que o seu uso é capaz de reduzir os níveis pressóricos nas primeiras 24 h de tratamento51, controlar a pressão em hipertensos crônicos51, diminuir a atividade simpática durante o sono52, diminuir a agregabilidade plaquetária53 e os níveis de fibrinogênio matutinos nestes pacientes54 e além disto, poder restaurar os níveis de óxido nítrico liberado pelo tecido endotelial55. No entanto, há poucos estudos randomizados, controlados que utilizaram o CPAP em pacientes com DCV e SAHOS56-62 (Tabela 3). Sandberg et al. realizaram um estudo onde 63 pacientes com DCV e com SAHOS (IAH ≥ 15) foram escolhidos randomicamente para terapêutica inicial com CPAP nasal por 4 semanas56. Aqueles pacientes tratados com CPAP especialmente aqueles com uso por mais de 4/h noturnas apresentaram melhora dos sintomas depressivos e menos “delirium” durante a fase de reabilitação (p = 0,041). Hsu et al., em um estudo randomizado controlado com o objetivo de avaliar o benefício do uso do CPAP em pacientes com AVC agudo e com SAHOS (com IAH ≥ 30)57, selecionaram 30 pacientes dentro de 2 grupos (grupo com CPAP e grupo sem CPAP). Após o 2o e 6o de mês avaliações não foram encontradas diferenças em relação à evolução neurológica entre os 2 grupos acompanhados. Mesmo assim, pelo pouco número de pacientes (15 grupo com CPAP) e pela baixa adesão ao seu uso (7 pacientes usaram por mais de 4 semanas) não foi possível descartar algum benefício do seu uso nestes pacientes. Pressman et al. descreveram dois casos de pacientes de meia-idade com sintomas sugestivos de AIT onde foi realizada uma extensa investigação sem definição conclusiva59. Pela história prévia de sonolência em ambos e de ronco e despertares sufocados em outro, foi realizado PSG noturna que revelou a presença de apnéia obstrutiva grave em um (83,4 IAH/h) e moderada em outro (22 IAH/h). A ambos pacientes foi prescrito CPAP, após correta titulação, e mantido acompanhamento por cerca de 12 meses. Em um paciente não ocorreram mais sintomas isquêmicos enquanto no outro houve melhora considerável do quadro. Em um outro estudo, Iranzo et al. estudaram 50 pacientes com polissonografia nas primeiras 24 horas do diagnóstico de AVC60. Encontrando uma IAH ≥ 10 em 62% dos mesmos. Pela análise identificou que a piora neurológica inicial (p = 0,001), o sexo masculino (p = 0,001), a dessaturação da oxihemoglobina (p < 0,001) e o AVC relacionado ao sono (aquele ocorrendo entre as 00:00 h e 06:00 h) (p = 0,002) como foram fatores preditivos e independentes de IAH elevado (p < 0,001). Segundo tais autores, as próprias alterações hemodinâmicas proporcionadas pela apnéia, sobrepõem as já encontradas na área isquêmica e de penumbra, podendo comprometer a evolução destes pacientes já na fase aguda. Wessendorf et al. observaram que o uso do CPAP em pacientes com DCV e SAHOS duran- Tabela 2. Síndrome da Apnéia – obstrutiva x AVC. Estudo Pacientes/ Controles Sexo (M/F) Análise Pacientes com AVC e IAH > 10 (%) Pacientes com AVC e IAH > 20 (%) Pacientes com AVC e IAH > 30 (%) Kapen et al.36 Caso 47/— — O (16) PSG (31) 72 53 — Good et al.39 Caso 47/— 26/21 O (47) PSG (24) 95 68 53 Diken et al.15 Caso/ controle 24/27 13/11 PSG (24) 71 45,8 41,6 Basseti et al.37 Caso/ controle 59/19 33/26 PSG (38) 69 55 — Basseti et al.30 Caso 39/— 24/15 PSG (39) 52 41 — Caso 147 95/52 PSG (147) 43,5 21,8 — Caso/ controle 128/25 71/57 PSG (80) 62,5 12,5 31 82/79 PSG (161) portátil 72 47,2 28 Autores Wessendorf et al. 44 Basseti et al.41 Parra et al.42 Caso 161/— M = Masculino; F = Feminino; O = Oximetria; PSG = Polissonografia; IAH = Índice de Apnéia/Hipopnéia por hora. Rev Neurocienc 2008;16/3: 231-236 234 revisão Tabela 3. Tratamento com CPAP em pacientes com doença cérebrovascular e apnéia obstrutiva. Autores Estudo Pacientes/ Controles Média IAH % adesão CPAP Evolução AVC Pressman et al.59 Casos 2 — — Melhora da AIT Sandberg et al.56 C/C ReC 33/30 32 ± 11 51,7 melhora da depressão delirium Wessendorf et al.44 Caso 105 38 ± 20,9 70,5 Melhora clínica e da HAS Hui et al. 62 C/C 51/25 32 ± 17,6 47 Sem melhora Martinez-Garcia61 C/C 15/36 37,4 29 Redução dos eventos vasculares Guilleminault58 Caso 52 25,5 ± 7,2 22 Sem melhora Hsu et al.57 C/C ReC 15/15 31 33 Sem melhora IAH = Índice de Apnéia/Hipopnéia; R = Randomizado; C = Cego; C/C = Caso-Controle. te a fase de reabilitação levaram a uma melhora subjetiva do bem estar e normalização da pressão arterial noturna dentro dos primeiros 10 dias de tratamento42. Martinez-Garcia et al. demonstraram em um estudo prospectivo de caso-controle com pacientes com AVC/AIT e com SAHOS, que aqueles selecionados para o tratamento com CPAP nasal quando comparados com controles que não aderiram ao tratamento, uma redução significante no surgimento de novos eventos vasculares (AVC e IAM) durante os 18 meses de seguimento61. No entanto, a baixa adesão ao uso do CPAP nasal ainda é um dos grandes fatores limites para este grupo de pacientes57,58. Guilleminault et al.58 e Hsu et al.57 já haviam retratado os diversos fatores da baixa adesão neste grupo particular de pacientes como: a desorientação noturna, efeito “sundowning”, distúrbios cognitivos, má ajuste da máscara, dificuldade no manuseio do aparelho e ausência de crença no tratamento, como fatores que levam a uma descontinuidade precoce do uso do CPAP. CONCLUSÃO A SAHOS é prevalente entre pacientes com DCV agudo e durante a fase de reabilitação. Há evidências de que a SAHOS seja um fator de risco isolado para a DCV, porém mais estudos devam ser realizados para a sua confirmação. Além disso, observa-se a necessidade de estudos controlados para melhor avaliação do benefício do tratamento da SAHOS com CPAP em pacientes com DCV, tanto na fase aguda quanto tardia. A adesão ao CPAP na fase aguda parece ser um fator limitante ao tratamento da SAHOS em pacientes com DCV. 235 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Wolf PA, D’Agostinho RB. Epidemiology. In: Barnett HJM, Mohr JP, Stein BM, Yatsu FM, Barnett HJM (eds.). Stroke: pathophysiology, diagnosis, and management. 3rd ed. Philadelphia: Churchill Livingstone,1998, 3-27. 2. Young T, Palta M, Dempsey J, Skatrud J, Webwe S, Badr S. The occurrence of sleep disordered breathing among middle age adults. N Engl J Med 1993;328:1230-5. 3. Netzer NC, Stoohs RA, Netzer CM, Clark K, Strohl KP. Using the Berlin questionnaire to identify patients at risk for the sleep apnea syndrome. 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Esta distonia focal da mão, tipo tarefa específica, compromete a qualidade de vida dos indivíduos acometidos e não mostra, até hoje, resposta adequada a terapêutica. A utilização de medicamentos de ação sistêmica como os agonistas gaba e os anticolinérgicos, entre outros, assim como a toxina botulínica não têm proporcionado a resposta farmacológica desejada. Diante disto realizou-se esta revisão de literatura com objetivo de reconhecer os aspectos clínicos da câimbra do escrivão e apresentar novas propostas terapêuticas para este distúrbio. Estudos recentes têm evidenciado o uso de órteses no tratamento deste distúrbio da escrita, tão constrangedor para esses indivíduos, para imobilização da musculatura distônica comprometida. Writer’s cramp has been recognized for at least a century and is characterized by involuntary contractions of the muscles of the upper limb involved in writing in spite of the normal motor control in other activities, sometimes painful and the pencil can be lost. Is a kind of task specific dystonia or occupational that affects the quality of life and it doesn’t have a suitable therapeutic response. The uses of drug therapy that act in a systemic way like gaba agonists, anticholinergics and botulinum toxin not have been found to be of reliable pharmacological benefit. The aim of this study is recognize the clinical aspects of writer’s cramp and introduce a recent therapeutic proposal through the use of splint to immobilize the affected muscles. Unitermos: Câimbra do Escrivão. Distonia Focal. Distúrbios Distônicos. Escrita Manual. Reabilitação. Keywords: Writer’s Cramp. Focal Dystonia. Dystonic Disorders. Handwriting. Rehabilitation. Citação: Waissman FQB, Pereira JS. Câimbra do Escrivão: perspectivas terapêuticas. Citation: Waissman FQB, Pereira JS. Writer’s cramp: therapeutics perspectives. Trabalho realizado no Setor de Distúrbios do Movimento do Serviço de Neurologia – Hospital Universitário Pedro Ernesto/UERJ. 1. Fisioterapeuta. Especialização em Fisioterapia Neurofuncional pela Universidade Castelo Branco – RJ. 2. Professor Adjunto da Disciplina de Neurologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Doutor em Neurologia pela Escola Paulista de Medicina – UNIFESP – São Paulo. Endereço para Correspondência: Setor de Distúrbios do Movimento – Disciplina de Neurologia – Hospital Universitário Pedro Ernesto – UERJ. Av. 28 de Setembro 87, 2º andar 20550-031 Rio de Janeiro, RJ E-mail: [email protected] / [email protected] 237 Recebido em: 29/05/07 Revisado em: 30/05/07 a 20/08/07 Aceito em: 21/08/07 Conflito de interesses: não Rev Neurocienc 2008;16/3:237-241 revisão INTRODUÇÃO Reconhecida há mais de um século a câimbra do escrivão foi interpretada originalmente como uma desordem física. Entretanto, o uso inadequado do termo “neuroses profissionais” para descrever esta e outras condições semelhantes denominadas tarefas específicas, associadas a conceitos psiquiátricos levaram a opinião enganosa de que a câimbra do escrivão seria mais decorrente de uma patologia psíquica do que orgânica. Evidências encontradas nos últimos anos têm mostrado que realmente é um distúrbio do sistema motor, tendo forte relação com a distonia1. Relatada inicialmente por Bell e Bruck em 1830, somente em 1864 foi descrita por Solly a natureza focal da câimbra do escrivão, a qual ele denominou “paralisia do escrivente”2. Em 1893, Gowers facilitou a descrição dos sintomas ao descrever que “a caneta não é movida como se pretende, um leve movimento involuntário causa um sinal não intencionado causando um espasmo evidente, que não pode ser controlado”2. Nas gerações seguintes, houve uma tendência em rotular essa embaraçosa condição motora como uma desordem neurótica ou mesmo histérica1. Embora nenhuma evidência patológica tenha sido encontrada nas estruturas cerebrais de pacientes com câimbra do escrivão, outras observações, incluindo os achados fisiopatológicos, suportaram a noção que a mesma e outras paralisias ocupacionais ocorressem devido à doença neurológica funcional, ao invés de uma condição de infelicidade ou insatisfação. Define-se a câimbra do escrivão como sendo uma distonia focal decorrente de uma tarefa específica, caracterizada por contrações musculares involuntárias no membro superior ao escrever, apesar do controle motor normal ao realizar outro tipo de atividade3. Estas contrações podem ser dolorosas com perda do controle da caneta, associando-se por vezes à contorção do punho ou do cotovelo e ocasionalmente do ombro. Embora incerta, tem se observado maior incidência entre a terceira e quinta década de vida, independente do sexo, provavelmente por falta de reconhecimento prévio dessa patologia e demora para o diagnóstico. Estudos em Rochester, USA, mostraram prevalência de 69 por milhão de habitantes entre 1950 e 1982 e acredita-se que sua redução ocorreu com o uso da máquina de escrever e do computador1,2. Em cerca de 5% dos indivíduos ocorre comprometimento de outros membros da família, acometendo geralmente aqueles que, embora possuam outras ocupações e vocações, passam grande parte do tempo escrevendo4. Rev Neurocienc 2008;16/3: 237-241 Fisiopatologia Através da análise dos padrões de organização sensório-motora no córtex cerebral encontrouse comprometimento na modulação sensorial da excitabilidade motora em indivíduos com câimbra do escrivão, sugerindo que o estímulo sensorial da mão desempenhe diferentes funções e provoque alterações patológicas5. A avaliação do processamento anormal de estímulos sensoriais simultâneos em adultos utilizando a ressonância magnética funcional, evidenciou interação não proporcional entre a resposta sensorial cortical e a estimulação individual dos dedos, o que pode estar contribuindo para as anormalidades motoras6. Estudando-se os potenciais evocados somatossensoriais através de estimulação sensitiva simultânea ficou evidenciada a lentificação na supressão de seus componentes, ou seja, havia menos potenciais evocados inibidos nesses indivíduos. Ocorria preferencialmente estímulo dos fusos musculares e havia menor atividade dos estímulos cutâneos, sugerindo que, em pacientes com distonia, a inibição anormal não está somente restrita ao córtex cerebral, mas provavelmente ocorre por comprometimento na medula espinhal, sem que haja possível inter-relação7. Diagnóstico O diagnóstico da câimbra do escrivão depende amplamente de uma boa anamnese e exame físico. Embora descrita a apresentação clínica, se ignorada, pode conduzir ao erro diagnóstico2. Não existem exames clínicos, laboratoriais específicos ou de imagem para confirmar o diagnóstico da câimbra do escrivão. Entretanto, a perda de inibição, excesso de estimulação muscular e incapacidade de descontração (relaxamento) muscular podem ser confirmados pela eletromiografia8. Este exame ao ser realizado nas extremidades superiores, apresenta normalmente co-contração excessiva, característica de músculos agonistas e antagonistas com intervalos prolongados de atividade elétrica. Já a avaliação dos mecanismos de inibição recíproca entre músculos extensores e flexores do antebraço revela redução ou ausência de inibição dos terminais aferentes Ia dos músculos flexores2. A tomografia por emissão de pósitron (PET) tem sido utilizada em pacientes distônicos para mostrar a ativação metabólica dos núcleos da base e áreas corticais. Estimulação tátil-vibratória passiva da mão comprometida resultou em aumento atenuado do fluxo sanguíneo cerebral no córtex sensório-mo- 238 revisão tor e hipofuncionamento metabólico do córtex motor presente durante o movimento ativo da mão. Entretanto, não se pode estabelecer se esses achados se referem a alterações da atividade neural excitatória ou inibitória visto que essa é uma técnica que detecta o metabolismo total e, portanto, fornece uma medida indireta da atividade neural7. Pacientes com câimbra do escrivão normalmente têm um exame neurológico normal quando realizam atividades funcionais. A observação do início dos movimentos anormais quando da realização de tarefas específicas é fundamental para o diagnóstico deste distúrbio. Não é incomum relato de estresse, excessivo uso das mãos, trauma neural e músculo esquelético (fraturas do rádio, trauma craniano), doença discal degenerativa ou dano cervical, limitações biomecânicas (má postura, limitação para extensão dos dedos assim como para rotação do ombro e cotovelo) e comprometimento dos nervos periféricos. A perda de inibição entre agonistas e antagonistas e padrões anormais de estiramento neural no córtex motor, gânglios basais, medula espinhal e córtex sensorial em pacientes com câimbra do escrivão pode ser analisado através deste estudo8. Tratamento Medicamentoso O tratamento da câimbra do escrivão é basicamente sintomático, sendo a mesma resistente ao tratamento farmacológico. Os agonistas dopaminérgicos, embora utilizados em parte das distonias idiopáticas, praticamente não têm sido empregados neste tipo de distúrbio. Os agentes anticolinérgicos, embora apresentem efeitos adversos, são utilizados no tratamento desta patologia e devem ser usados em baixas doses. Outras medicações como os agonistas GABA (baclofen e clonazepam e outros benzodiazepínicos), os anticonvulsivantes e até mesmo os neurolépticos atípicos, podem fazer parte do arsenal terapêutico9. A introdução da toxina botulínica revolucionou o tratamento da câimbra do escrivão. Pode-se utilizar nesta terapêutica duas toxinas botulínicas distintas: a tipo A (Botox® e Dysport®) e a tipo B (Myobloc®), sendo esta utilizada preferencialmente naqueles indivíduos não responsivos a primeira. Ambas apresentam duração do efeito medicamentoso por aproximadamente três a quatro meses9. Estudos em animais mostraram que a toxina botulínica pode ocasionar efeitos periféricos bloqueando os terminais dos motoneurônios gama sobre as fibras intrafusais nos 239 fusos neuromusculares. Isto provocaria diminuição nas descargas das aferências musculares primárias e secundárias durante a contração muscular ou durante o estiramento passivo. A toxina reverte as alterações existentes na inibição recíproca espinhal em pacientes distônicos. Sugere-se que possa atuar diretamente sobre o sistema nervoso central mediante o bloqueio da liberação de acetilcolina e de outros neurotransmissores. A aplicação de toxina botulínica nos músculos afetados normaliza seu mapeamento de representação cortical, possivelmente por ação central10. Estudo sobre a avaliação da força muscular até duas semanas após a ministração de toxina botulínica A na câimbra do escrivão mostrou acentuada fraqueza nos músculos distônicos onde a droga foi injetada, ocasionando redução da contração e subjetivamente alguma melhora funcional, sem entretanto ocorrer o mesmo com a escrita. Neste distúrbio os músculos distônicos embora não estejam ativos ao repouso, podem ser seletivamente ativados por tarefas específicas, tal como a escrita11. Não Medicamentoso O tratamento tradicional da câimbra do escrivão é desafiador e mostra que os programas terapêuticos inovadores vêm enfatizando os princípios da neuroplasticidade, parecendo promissores8. Comportamentos sensoriais e motores repetidos, direcionados objetivamente e agradáveis podem levar a mudanças na função e estrutura neural, porém, se os comportamentos se tornarem esteriotipados e muito próximos, o cérebro pode não ser capaz de distingui-los precisamente. Estudo realizado em primatas submetidos a movimentos diários, com grande repetição, esteriotipados e simultâneos mostraram perda da habilidade de realizar tarefas específicas9. Os aspectos anatômicos são importantes para a avaliação do comportamento físico. Alguns indivíduos apresentam alterações anatômicas ou morfológicas desfavoráveis para exercer a atividade profissional a que se propõe e necessitam de reforço muscular adicional para estabilizar a articulação. Em caso de instabilidade articular, deve-se modificar o ângulo articular para compensar o desvio, que inconscientemente possibilita o aparecimento de espasmo, dor, estresse e sobrecarga articular12. A reabilitação engloba o indivíduo como um todo, não se podendo separar os aspectos físicos dos psicológicos, que devem ser assistidos conjuntamente. O primeiro passo na terapêutica não medicamentosa para recuperação funcional dos indivíduos Rev Neurocienc 2008;16/3:237-241 revisão com câimbra do escrivão seria alterar a maneira como seguram a caneta, devendo fazê-lo de forma individualizada. Outra técnica seria o uso de um artifício para escrever, no qual a caneta pudesse deslizar em um plano ou ficar apoiada em um triplo suporte e controlada pelos músculos do antebraço e ombro2. A elaboração de treinamento motor em pacientes com câimbra do escrivão, durante quatro semanas, imobilizando-se o punho e os dedos da mão com uma órtese plástica (de flexão ou extensão), a exceção daquele dedo que foi treinado, com intuito de reduzir a co-contração e o sinergismo anormal (“fenômeno de overflow”) dos dedos não envolvidos na tarefa, pode contribuir para melhora da distonia e reversão das alterações organizacionais no córtex motor13. O acessório para escrever, ou seja, a órtese de mão, era confeccionada de forma individualizada para que escrevessem sem desconforto. O uso da órtese parece prevenir o aparecimento da câimbra por um mecanismo de substituição da ação dos músculos distais, que apresentam co-contração, pelos músculos proximais (do ombro) que não estão afetados. O uso de órteses ao repouso pode ser útil quando há tensão significativa nos músculos da mão e antebraço12. Estudo empregando o aprendizado da leitura em Braille como forma de treinamento sensorial promoveu melhora da acuidade espacial, avaliada pela graduação da tarefa de orientação e discriminação e da distonia, utilizando-se a Escala de Fahn. O treinamento sensorial após oito semanas produziu melhora contínua da escrita em alguns pacientes, podendo a manutenção da prática regular deste procedimento conduzir a mudanças no córtex sensorial13. O tratamento da câimbra do escrivão pode ser o início do re-treinamento sensorial a fim de restaurar a organização e a representação cortical dos dedos14. A hipótese de que após imobilização ocorrem mudanças na plasticidade cortical e que estas modificações contribuem para a melhora da distonia, recebe respaldo em estudo recente, onde se observou melhora temporária desta após fadiga motora, o que transitoriamente minimiza e remodela áreas motoras corticais15. Distintas modalidades fisioterápicas como as técnicas de relaxamento, o alongamento e os exercícios de condicionamento, além de recursos eletroterápicos podem atuar conjuntamente com a terapia medicamentosa no tratamento da câimbra do escrivão16. Estudo utilizando a eletroestimulação nervosa transcutânea (TENS) nos músculos flexores do antebraço evidenciou melhora dos sintomas distôni- Rev Neurocienc 2008;16/3: 237-241 cos por cerca de três semanas. Havia-se observado previamente, que o TENS, a alta freqüência, por 30 minutos nos músculos flexores do antebraço provocavam diminuição da excitabilidade acima dos músculos estimulados e aumento da mesma nos músculos antagonistas com duração aproximada de 40 minutos. Sugere-se que a eletroestimulção nervosa transcutânea pode remodular as relações inibitórias e excitatórias entre músculos agonistas e antagonistas através da ativação de fibras aferentes de maior diâmetro, melhorando assim a co-contração de músculos agonistas e antagonistas17. A estimulação magnética transcraniana repetitiva demonstra ser uma ferramenta adequada para explorar a plasticidade e modular as alterações motoras corticais, oferecendo estratégias úteis de reabilitação para pacientes com déficits motores crônicos18. A mesma, a baixas freqüências (1 Hz) no córtex motor primário, tende a aumentar a inibição intracortical e diminuir os sintomas em pacientes com câimbra do escrivão19. CONCLUSÕES Embora seja de grande valia para o tratamento da câimbra do escrivão, a terapêutica farmacológica não tem específicidade para este distúrbio e pode apresentar limitações em seu uso devido as intercorrências sistêmicas. Como outras tentativas terapêuticas não têm evidenciado a resposta clínica esperada, acredita-se que o emprego de dispositivos, como a utilização de órteses na imobilização da musculatura comprometida pela câimbra do escrivão, que atua irregularmente como agonista de forma não sincronizada e excessiva com o antagonista, caracterizando o fenômeno de overflow, poderá proporcionar melhores resultados para o desempenho motor e a habilidade manual, assim como na elaboração da escrita. A realização de estudos prospectivos se faz necessária para que se observe a evolução clínica deste distúrbio em longo prazo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Marsden CD, Sheehy MP. Writer’s cramp. TINS 1990;13:148-53. 2. Rhoad RC, Stern PJ. 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Rev Neurocienc 2008;16/3:237-241 relato de caso Reabilitação física na Paraparesia Espástica por deficiência de vitamina B12: relato de caso Physical rehabilitation in Spastic Paraparesis by Vitamin B12 Deficiency: Case Report Marco Orsini1, Mariana Pimentel de Mello2, Jhon Peter Botelho Reis2, Carlos Henrique Melo Reis3, Marcos RG de Freitas4, Osvaldo JM Nascimento5 RESUMO SUMMARY A deficiência de vitamina B12 manifesta-se através de distúrbios neurológicos, psiquiátricos, gastrointestinais e hematológicos. É mais freqüente entre idosos, vegetarianos e indivíduos que adotam baixa dieta protéica ou apresentam distúrbios da absorção gastrintestinal. Sua prevalência é próxima a 20% na população geral, tendo como causa mais freqüente a anemia perniciosa. A degeneração combinada subaguda (DCS), é uma das manifestações neurológicas mais freqüentes na deficiência de vitamina B12, sendo marcada por lesões nas colunas posteriores e laterais, que acarretam déficits sensoriais e motores. Relatamos o caso de um paciente com degeneração subaguda combinada e revisamos a literatura acerca das principais estratégias fisioterapêuticas empregadas na reabilitação de pacientes acometidos por essa condição patológica. Vitamin B12 deficiency causes a wide range of hematological, gastrointestinal, psychiatric, and neurological disorders. Its deficiency is very frequent among old people, vegetarians, subjects who use a low protein diet, or who present gastrointestinal absorption failure. The prevalence of vitamin B12 deficiency is around 20% in the general population, and the pernicious anemia is the most common cause. Subacute combined degeneration (SCD) is one of the most frequent neurological manifestations, which is characterized by lesions in the posterior and lateral columns, leading to both sensory and motor deficits. We report a case of a patient with subacute combined degeneration and revise the literature about the main physical therapy strategies employed in the rehabilitation of patients attacked for this pathological condition. Unitermos: Paraparesia Espástica. Degeneração Combinada Subaguda. Deficiência de Vitamina B12. Fisioterapia. Keywords: Spastic Paraparesis. Subacute Combined Degeneration. Vitamin B12 Deficiency. Physical Therapy. Citação: Orsini M, Mello MP, Reis JPB,Reis CHM, de Freitas MRG, Nascimento OJM. Reabilitação física na Paraparesia Espástica por deficiência de vitamina B12: relato de caso. Citation: Orsini M, Mello MP, Reis JPB, Reis CHM, de Freitas MRG, Nascimento OJM. Physical rehabilitation in Spastic Paraparesis by Vitamin B12 Deficiency: Case Report. Trabalho realizado no Serviço de Reabilitação Neurológica do Centro Universitário Serra dos Órgãos – UNIFESO e Serviço de Neurologia – HUAP – UFF. 1. Professor Titular de Neurologia – ESEHA e Doutorando em Neurociências – UFF. 2. Estagiários do Serviço de Reabilitação Neurológica da UNIFESO. 3. Professor Titular de Neurologia – UNIG e Doutorando em Neurociências – UFF. 4. Professor Titular e Chefe do Serviço de Neurologia – UFF. 5. Professor Titular e Coordenador da Pós-Graduação em Neurociências – UFF. Endereço para Correspondência: Marco Orsini R. Prof. Miguel Couto 322/1001. 24230-240 Niterói, RJ Tel: (21) 8125-7634 E-mail: [email protected] Rev Neurocienc 2008;16/3: 242-247 Recebido em: 10/11/06 Revisado em: 11/11/06 a 23/07/07 Aceito em: 24/07/07 Conflito de interesses: não 242 relato de caso INTRODUÇÃO A deficiência de vitamina B12, observada na anemia perniciosa pode associar-se a atrofia da mucosa intestinal e produzir distúrbios neurológicos, psiquiátricos, gastrointestinais e hematológicos1,2. As síndromes neurológicas associadas à deficiência de vitamina B12 incluem mielopatia, polineuropatia, anormalidades neuropsiquiátricas, e menos freqüentemente atrofia do nervo óptico3,4. Em países industrializados, estudos epidemiológicos mostraram uma prevalência da deficiência de vitamina B12 próxima a 20% na população geral. É freqüente entre idosos, vegetarianos e indivíduos que adotam baixa dieta protéica ou apresentam distúrbios da absorção gastrointestinal5. A incidência aumenta na sexta e sétima décadas de vida2,6. O diagnóstico precoce da deficiência de vitamina B12 é de grande importância para evitar seqüelas irreversíveis5. A maioria dos pacientes responde bem ao tratamento, entretanto anormalidades neurológicas, como lesão dos cordões posterior e lateral, persistem na maioria dos casos6. A fisioterapia tem como objetivo principal adequação do tônus muscular para melhora dos padrões da marcha em indivíduos com paraparesia espástica. Relatamos o caso de um paciente com degeneração subaguda combinada por deficiência de vitamina B12 e revisamos na literatura acerca das principais estratégias fisioterapêuticas empregadas na reabilitação de pacientes acometidos por essa condição patológica. Relato de caso SAC, sexo masculino, 55 anos, relatou que há aproximadamente 2 anos começou a apresentar um quadro marcado por fraqueza muscular seguido de “enrijecimento” dos membros inferiores, com posterior dificuldade na marcha. Após oito meses do início dos sinais e sintomas tornou-se dependente de cadeira de rodas. Recebeu o diagnóstico de degeneração subaguda combinada por deficiência de vitamina B12 um ano e dois meses após o início das manifestações clínicas. O resultado do exame de sangue revelou uma deficiência significativa de vitamina B12, com valor aproximado de 48.000 pg/ml, sendo os valores de referência 117.000 a 830.000 pg/ml. A ressonância magnética apontou comprometimento da medula espinhal a partir do quarto segmento lombar. Ao exame físico apresentou uma paraparesia espástica, de acordo com o MRC7 (Quadro 1); com comprometimento da sensibilidade profunda (apa- 243 Quadro 1. Comprometimento da força muscular nos membros inferiores. Miótomos Esquerdo Direito C5 – Bíceps 5 5 C6 – Extensor Radial do Carpo 5 5 C7 – Tríceps 5 5 C8 – Flexor dos Dedos 5 5 T1 – Interósseos Dorsais e Palmares 5 5 L2 – Iliopsoas 4 4 L3 – Quadríceps 5 5 L4 – Tibial Anterior 3 3 L5 – Extensor Longo do Hálux 3 3 S1 – Flexores Plantares 4 4 lestesia, anestesia proprioceptiva) e superficial (anestesia tátil, térmica e dolorosa); os reflexos patelares e aquileus encontraram-se hiperativos bilateralmente; o grau de espasticidade segundo a escala de Ashworth (modificada)8 recebeu pontuação 4 nos músculos comprometidos; presença do sinal de Babinski e sucedâneos (Oppenhein e Chaddock), reforçaram os achados de lesão de neurônio motor superior. DISCUSSÃO A vitamina B12 (ou cianocobalamina) faz parte de uma família de compostos denominados cobalaminas. É uma vitamina hidrossolúvel, sintetizada exclusivamente por microrganismos, presente em praticamente todos os tecidos animais, sendo estocada primariamente no fígado sob a forma de adenosilcobalamina. A fonte natural de vitamina B12 na dieta humana restringe-se a alimentos de origem animal especialmente leite, carne e ovos5. A causa mais freqüente da deficiência de vitamina B12 é a anemia perniciosa, que decorre da ausência do fator intrínseco, que é uma proteína secretada pelas células parietais necessária para a absorção de vitamina B129. Outras causas incluem gastrectomia parcial, doença de Crohn, esclerodermia, alcoolismo, hipertireoidismo, anemias hemolíticas, alimentação exclusivamente vegetariana, linfoma, exposição a óxido nítrico, e em indivíduos infectados pelos vírus HTLV-1 e HIV10. O dano neurológico proveniente da deficiência da vitamina B12 pode ser conseqüência das alterações vasculares associadas à elevação da homocisteína, ou a distúrbios nas reações de metilação, que afetam a proteína básica da mielina, o que impede sua correta conformação ou acelera sua destruição11. Isso ocorre porque a vitamina B12 atua como um co-fator essencial na metilação da homocisteína a metionina, a qual produz a S-adenosilmetionina, necessária para a Rev Neurocienc 2008;16/3:242-247 relato de caso metilação de proteínas e fosfolipídeos que recobrem a mielina5,12. Histopatologicamente, nos estágios iniciais da hipovitaminose, observa-se edema da bainha de mielina, resultando em vacúolos. Com o avançar da doença os axônios dos tratos ascendentes do funículo posterior e dos tratos piramidais descendentes degeneram-se13. O envolvimento isolado de um desses tratos pode ocorrer em diversas situações clínicas como esclerose múltipla e neoplasias, embora a degeneração combinada de ambos seja característica da deficiência da vitamina B12, levando à designação desta condição de degeneração combinada subaguda da medula espinhal14. As manifestações clínicas são decorrentes da desmielinização progressiva, algumas vezes seguida por dano axonal, que se inicia nas colunas posteriores e avança anteriormente envolvendo as colunas laterais e anteriores13,15. O processo em geral inicia-se na região cervical inferior e torácica alta, progredindo para outros segmentos da medula. O mesmo padrão patológico pode ser encontrado nos nervos periféricos, nervo óptico, e mais raramente, na substância branca do cérebro. Esses achados refletem o curso da doença, que resulta em um quadro de mielopatia associada a polineuropatia15. O paciente do presente estudo começou a apresentar tais alterações (lesão dos cordões posterior e lateral) a partir da medula lombar. Não foram encontradas lesões em nervos periféricos e em outras áreas do sistema nervoso central. A deficiência assintomática de vitamina B12 pode ocorrer por longos períodos antes do aparecimento de qualquer sinal ou sintoma clínico, desencadeando uma deficiência crônica de vitamina B12 que, se mantida durante anos, pode levar a lesões neurológicas irreversíveis16-18. As manifestações clínicas são polimórficas, variando desde estados mais brandos até condições muito graves1. O presente relato de caso refere-se a uma lesão grave das colunas laterais e posteriores da medula espinhal, devido ao grau de espasticidade da musculatura extensora e paresia nos membros inferiores, prejudicando o paciente na realização dos padrões funcionais da marcha. O tempo decorrente entre a presença dos primeiros sintomas e o fornecimento do diagnóstico clínico foi de aproximadamente 2 anos, fato que contribuiu significativamente para o agravamento da degeneração medular. Em geral a deficiência de vitamina B12, apresenta um quadro clássico caracterizado por anemia megaloblástica associada a sintomas neurológicos. Entretanto 10% dos indivíduos com déficit neuro- Rev Neurocienc 2008;16/3: 242-247 lógico não possuem alterações hematológicas. As alterações hematológicas apresentadas no estudo de caso, incluíram diminuição da hemoglobina, caracterizando anemia, e hipercelularidade na medula óssea com maturação anormal, representando uma anemia megaloblástica5,10. A DCS pode apresentar um início insidioso, com parestesias nas mãos e pés, e posteriormente com fraqueza e alterações da marcha12. Clinicamente se caracteriza por disestesias simétricas, alteração da sensibilidade vibratória e da propriocepção consciente, ataxia sensorial, parestesias e sinal de Babinski1,4,19. As deficiências motoras são simétricas, com graus variados de espasticidade. A paraparesia ou tetraparesia decorre de um comprometimento das vias piramidais, associando-se em geral a hipopalestesia, por comprometimento cordonal posterior9,10. Constatamos em nosso paciente um comprometimento total do tato epicrítico, sensibilidade vibratória e sentido posicional, funções exclusivas do cordão posterior. A presença dos sinais de Babinski e sucedâneos associada a hiperreflexia tendínea e espasticidade apontaram para lesão do feixe piramidal. Com freqüência há associação de lesão medular e dos nervos periféricos, pois os reflexos tendinosos podem encontrar-se exaltados, normais ou hipoativos12. Não encontramos tal associação, descartando assim um possível comprometimento periférico. A ocorrência de paraparesia espástica com inicio a nível lombar preservando a medula cervico-torácica, como no paciente apresentado, é incomum20. Healton et al. relataram apenas sete casos de paraparesia espástica com início nos segmentos lombares, em uma série de 153 indivíduos com sintomas neurológicos decorrentes da deficiência de vitamina B12, todos acompanhados de déficits da propriocepção consciente6. A polineuropatia é discreta, quando comparada a mielopatia, e muitas vezes pode ser mascarada pelas manifestações centrais21. O envolvimento é freqüentemente axonal, com os estudos eletrofisiológicos e histopatológicos indicando desmielinização insignificante22. As alterações sensitivas, como as parestesias, podem ser resultantes do envolvimento isolado da coluna posterior da medula ou de polineuropatia associada9,14. O quadro cognitivo caracteriza-se por síndrome demencial de padrão subcortical, sendo uma das causas tratáveis de demência. Há poucos casos relatados de mielite transversa por deficiência de vitamina B12. A presença de nível sensitivo, explicada pelo comprometimento do trato espino-talâmico, é raramente observada, e quando ocorre, denota quadro grave e pode ser considerado 244 relato de caso um achado associado a mau prognóstico. Podemos identificar esse raro quadro, pois ao exame neurológico evidenciamos uma anestesia tátil, térmica e dolorosa a partir do dermátomo de L4. A deficiência de vitamina B12 pode raramente levar a alterações visuais, que ocorrem devido à atrofia óptica9,10. Tais anormalidades não foram observadas. O diagnóstico laboratorial inicial baseia-se na dosagem sérica de vitamina B12, que na maioria dos casos se encontra diminuída6. Entretanto, a ela possui sensibilidade e especificidade limitadas, podendo ocorrer sintomas de deficiência mesmo com níveis séricos normais ou, de outro modo, ocorrendo baixos níveis de vitamina B12 sérica sem, contudo, apresentar baixos níveis da fração de vitamina realmente disponível para as células e com ausência de sintomatologia5,9,23. Os níveis de vitamina B12 séricos são considerados baixos quando sua concentração é inferior a 200 pg/ml5,23. Níveis séricos normais não excluem o diagnóstico, especialmente em indivíduos que receberam suplementação, ou naqueles com alterações mieloproliferativas ou doenças hepáticas. Nesses casos o diagnóstico pode ser estabelecido através da dosagem dos níveis de homocisteína e ácido metilmalônico, que se encontram elevados em mais de 90% dos casos9,12. No hemograma observa-se anemia e menos comumente leucopenia, além de plaquetopenia. A anemia megaloblástica está presente na maioria dos casos sendo que em até um terço dos casos pode estar ausente9. A identificação precoce da deficiência de vitamina B12 é importante devido ao inapropriado tratamento com ácido fólico, que corrige os sinais hematológicos, mascarando a deficiência dessa vitamina, propiciando o desenvolvimento de sintomas neurológicos através de provável aceleração da desmielinização e permitindo progressivos e irreversíveis danos neurológicos4,5,24. A ressonância magnética (RM) pode mostrar áreas de desmielinização no cérebro ou medula correspondendo a áreas de hiperintensidade na seqüência ponderada em T2, este achado é mais comumente encontrado no cordão posterior da medula3,9. Silva et al. relataram o caso de uma paciente com paraparesia associada a sinais piramidais e anestesia proprioceptiva, que apresentava RM medular sem alterações e RM do crânio com áreas de desmielinização na topografia do trato córtico-espinhal bilateralmente, demonstrando que os achados de imagem podem estar restritos ao encéfalo em pacientes paraparéticos13. Essas lesões podem ser explicadas pelo fenômeno da degeneração axonal retrógrada 245 relacionada à lesão desmielinizante que se inicia no nível médio-torácico medular. Em pacientes com sintomas de longa duração (20 meses), pode ser encontrado atrofia da medula torácica25. As alterações radiológicas podem levar até 12 meses após o tratamento para desaparecer, e associadas ao exame físico e dados laboratoriais, também são úteis para a avaliação da resposta ao tratamento3,26. Nos casos de polineuropatia, a eletroneuromiografia revela em geral diminuição ou ausência dos potenciais de ação sensitivos e velocidade de condução normal27. A terapêutica consiste na reposição parenteral de vitamina B126. Com tratamento adequado, a maioria dos indivíduos apresenta uma melhora ao menos parcial, que é máxima nos 6 primeiros meses. Após este período a recuperação é lenta podendo durar até alguns anos. A reversibilidade dos sintomas se relaciona de forma inversa à gravidade do quadro e ao tempo transcorrido entre o início dos sintomas e do tratamento, tendo os casos de evolução mais prolongada um prognóstico de recuperação mais reservado9,28. Nas fases iniciais da doença (2 a 3 meses de evolução), o quadro neurológico pode ser completamente revertido, porém em fases avançadas é possível apenas interromper a progressão dos sintomas29. O ponto em que a DCS torna-se irreversível ainda não é conhecido. Casos de resolução completa das manifestações clínicas e anormalidades radiológicas indicam que o tratamento precoce pode levar a reversão das alterações patológicas. As parestesias freqüentemente se resolvem em poucas semanas, enquanto os sinais objetivos de disfunção da medula espinhal, incluindo paresia, espasticidade, e alterações proprioceptivas, podem levar meses para apresentar melhora. Com o reconhecimento precoce, os indivíduos podem retornar um estilo de vida normal, com alterações limitadas da marcha. Recidivas podem ocorrer devido a interrupção da suplementação vitamínica6,26,30. Acreditamos que o paciente em questão apresenta um prognóstico reservado, não só pela gravidade e tempo da lesão, mas também por não apresentar melhorias relacionadas à força muscular, retorno sensitivo e independência funcional. As estratégias fisioterapêuticas utilizadas no tratamento da espasticidade devem ter por objetivo maximizar a função, promovendo o treinamento e ativação das funções motoras residuais, e prevenir complicações secundárias. A efetividade da terapia deve ser avaliada não apenas em termos de adequar o tônus ou de melhorar a força muscular em situações estáticas, mas no sentido de melhorar os padrões de marcha31,32. Rev Neurocienc 2008;16/3:242-247 relato de caso O tratamento fisioterapêutico visa à inibição da atividade reflexa patológica para normalizar o tônus muscular e facilitar o movimento normal, devendo ser iniciado o mais precocemente possível, a fim de evitar os padrões de movimento e posturas relacionadas a liberação dos mecanismos reflexos. Movimentos inibidores de reflexos e um posicionamento adequado podem inibir mecanismos reflexos de postura anormal. Foram realizados exercícios funcionais e de sustentação de peso, em diversas posições, que são úteis para normalizar a movimentação, assim como exercícios diários ativos e passivos para auxiliar na manutenção da amplitude articular. Desta forma a fisioterapia pode propiciar condições que facilitem o controle do tônus auxiliando nos movimentos e na aquisição de posturas, oferecendo estímulos que favoreçam os padrões normais33,34. O alongamento muscular neste paciente foi realizado de forma lenta e diária, para manter a amplitude de movimento e reduzir o tônus muscular, sendo mantido por 20 a 60 segundos. Outras alternativas que podem ser utilizadas para reduzir a espasticidade são a aplicação de calor ou frio durante períodos prolongados e massagens rítmicas profundas, aplicando pressão sobre as inserções musculares, estes mecanismos atuam reduzindo a excitabilidade reflexa tendínea, diminuindo e tornando mais lenta a condução de impulsos nos nervos e músculos33,35,36. Grupos musculares espásticos encontram-se geralmente com reduzida capacidade de força, sendo relevante à realização de exercícios de fortalecimento, embora sejam freqüentemente evitados na reabilitação deste tipo de paciente, devido ao receio de exacerbarem a restrição imposta a estes músculos, podendo posteriormente reforçar os padrões anormais de movimento. Entretanto, trabalhos que empregaram programas de fortalecimento muscular, associado ao condicionamento físico, em pacientes com diversas patologias que cursam com espasticidade obtiveram ganhos funcionais, sem provocar alteração do tônus muscular33,34. Talas e splints foram indicados para auxiliar no posicionamento ou facilitar os movimentos dentro de um padrão mais próximo do normal. As órteses podem ser prescritas para pacientes com paraparesia espástica com o objetivo de diminuir a espasticidade, por aumentar o comprimento muscular através de um alongamento, inibir padrões de movimento em massa, e melhorar a estabilidade durante a marcha33,37,38. Rev Neurocienc 2008;16/3: 242-247 CONCLUSÃO Indivíduos com degeneração combinada subaguda da medula espinhal, apresentam progressiva deterioração funcional, comprometendo especialmente a deambulação, como no caso relatado. Programas terapêuticos que visem a adequação do tônus, manutenção da amplitude de movimento e flexibilidade são utilizados tanto para favorecer a independência funcional quanto na prevenção de complicações secundárias. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Russel JSR, Batten FE, Collier J. Subacute combined degeneration of the spinal cord. Brain 1900;10:849-50. 2. Yousry TA, Strupp M, Brüning R. Common variable immunodeficiency leading to spinal subacute combined degeneration monitored by MRI. 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ABRASPI Associação Brasileira da Síndrome das Pernas Inquietas A Associação Brasileira da Síndrome das Pernas Inquietas – ABRASPI, é uma associação sem fins lucrativos criada para dar suporte a pacientes e promover pesquisa e treinamento sobre a Síndrome das Pernas Inquietas (SPI). Criada desde 2005, a ABRASPI tem recebido correspondências de pacientes, familiares e médicos do Brasil todo e de Portugal, que procuram tirar dúvidas sobre a doença, tratamento e indicações de médicos. Fone: (11) 5081–6629. E-mail: [email protected] www.sindromedaspernasinquietas.com.br 247 Rev Neurocienc 2008;16/3:242-247 NORMAS DE PUBLICAÇÃO A Revista Neurociências é voltada à Neurologia e às ciências afins. Publica artigos de interesse científico e tecnológico, realizados por profissionais dessas áreas, resultantes de estudos clínicos ou com ênfase em temas de cunho prático, específicos ou interdisciplinares. Serão aceitos artigos em inglês, português ou espanhol. Seus volumes anuais e números trimestrais, serão publicados em março, junho, setembro e dezembro. A linha editorial da revista publica, preferencialmente, artigos Originais de pesquisa (incluindo Revisões Sistemáticas). Contudo, também serão aceitos para publicação os artigos de Revisão de Literatura, Atualização, Relato de Caso, Resenha, Ensaio, Texto de Opinião e Carta ao Editor, desde que aprovados pelo Corpo Editorial. Trabalhos apresentados em Congressos ou Reuniões Científicas de áreas afins poderão constituir-se de anais em números ou suplementos especiais da Revista Neurociências. Os artigos deverão ser inéditos, isto é, não publicados em outros periódicos, exceto na forma de Resumos em Congressos e não deverão ser submetidos a outros periódicos simultaneamente, com o que se comprometem seus autores. Os artigos devem ser submetidos eletronicamente, via e-mail, para o endereço: [email protected]. Recebido o manuscrito, o Corpo Editorial verifica se o mesmo encontra-se dentro dos propósitos do periódico e de acordo com as Normas de Publicação, recusando-se aqueles que não cumprirem essas condições. O Corpo Editorial emitirá um Protocolo de Recebimento do Artigo e enviará a Carta de Autorização, a ser assinada por todos os autores, mediante confirmação de que o artigo seja inédito, e uma declaração de eventuais conflitos de interesse pessoais, comerciais, políticos, acadêmicos ou financeiros de cada autor. O Corpo Editorial enviará, então, o artigo para, pelo menos, dois revisores dentro da área do tema do artigo, no sistema de arbitragem por pares, que em até 60 dias deverão avaliar o conteúdo e a forma do texto. O Corpo Editorial analisará os pareceres e encaminhará as sugestões para os autores, para aprimoramento do conteúdo, da estrutura, da redação e da clareza do texto. Os autores terão 15 dias para revisar o texto, incluir as modificações sugeridas, cabendo-lhes direito de resposta. O Corpo Editorial, quando os revisores sugerirem a adição de novos dados, e a depender do estudo, poderá prover tempo extra aos autores, para cumprimento das solicitações. O Corpo Editorial verificará as modificações realizadas no texto e, se necessário, sugerirá correções adicionais. O Corpo Editorial poderá aceitar o artigo para publicação ou recusá-lo se for inadequado. Para publicação, será observada a ordem cronológica de aceitação dos artigos e distribuição regional. Os artigos aceitos estarão sujeitos a adequações de gramática, clareza do texto e estilo da Revista Neurociências sem prejuízo ao seu conteúdo. Ficará subentendido que os autores concordam com a exclusividade da publicação do artigo no periódico, transferindo os direitos de cópia e permissões à publicadora. Separatas poderão ser impressas sob encomenda, arcando os autores com seus custos. Os artigos são de responsabilidade de seus autores. INSTRUÇÕES PARA OS AUTORES www.unifesp.br/dneuro/neurociencias www.revistaneurociencias.com.br Submissão do artigo: os artigos deverão ser encaminhados ao Editor Chefe via e-mail: [email protected] e poderão ser utilizados editores de texto, preferencialmente Word, no formato “.doc”, espaço duplo, Times New Roman, fonte 12. Rev Neurocienc 2008;16/3 Categoria de artigos: Editorial, Original, Revisão Sistemática, Revisão de Literatura, Atualização, Relato de Caso, Resenha, Ensaio, Texto de Opinião e Carta ao Editor. O número de palavras inclui texto e referências bibliográficas (não devem ser considerados folha de rosto com título, autores, endereço de correspondência, resumo e summary e tabelas, figuras e gráficos). Adotar as recomendações abaixo. I – Editorial: a convite do Editor, sob tema específico, deve conter no máximo 2000 palavras e no máximo 10 referências bibliográficas (estilo Vancouver). II – Artigo Original, Revisão Sistemática e Relato de Caso: resultado de pesquisa de natureza empírica, experimental ou conceitual (6000 palavras). Título: em inglês e em português ou espanhol, sintético e restrito ao conteúdo, contendo informação suficiente para catalogação, não excedendo 90 caracteres. A Revista prefere títulos informativos. Autor(es): referir nome(es) e sobrenome(s) por extenso. Referir a instituição em que foi feita a pesquisa que deu origem ao artigo. Referir formação acadêmica, titulação máxima e vínculo profissional de cada autor, por ex.: 1- Neurologista, Livre Docente, Professor Adjunto da UNIFESP, 2- Neurologista, Pós-graduando na UNICAMP, 3- Neurologista, Residente no Hospital São Paulo - UNIFESP. Referir suporte financeiro. Identificar o autor e endereço para correspondência. Resumo e Summary: devem permitir uma visão panorâmica do trabalho. Para os Artigos Originais, o resumo deve ser estruturado em objetivos, métodos, resultados e conclusões. Não exceder 200 palavras. Unitermos e Keywords: Máximo de 6 (seis), referir após o Resumo e o Summary, respectivamente. Como guia, consulte descritores em ciências da saúde (http://decs.bvs.br). Corpo do Artigo: apresentar a matéria do artigo seqüencialmente: introdução e objetivo; método (sujeitos ou relato de caso, Comitê de Ética, Consentimento Informado, procedimento ou intervenção e análise estatística) com detalhes suficientes para a pesquisa poder ser duplicada, resultados (apresentados de forma clara e concisa), discussão (interpretação dos resultados comparados à literatura), conclusões, agradecimentos, referências bibliográficas. As abreviações devem vir acompanhadas do seu significado na primeira vez que aparecerem no texto. Nomes comerciais e marcas registradas devem ser utilizadas com parcimônia, devendo-se dar preferência aos nomes genéricos. Quadros, Gráficos e Tabelas: Juntos não poderão exceder 5. Deverão ser apresentados em páginas separadas e no final do texto. Em cada um, deve constar seu número de ordem, título e legenda. Figuras: até 2 ilustrações com tamanho não superior a 6 cm x 9 cm cada uma, com alta resolução. As fotos devem ser em preto e branco contrastadas com eventuais detalhes como setas, números ou letras. Identificar cada ilustração com seu número de ordem e legenda, devem ser encaminhadas em outro arquivo com nome do autor e do artigo. Ilustrações reproduzidas de textos já publicados devem ser acompanhadas de autorização de reprodução, tanto do autor como da publicadora. Ilustrações em cores podem ser publicadas; dado seu custo elevado, será de responsabilidade dos autores, assim como o custo por número de tabelas e ilustrações acima dos mencionados e desde que sua publicação seja autorizada pela editora. O material recebido não será devolvido aos autores. Manter os negativos destas. Referências: Máximo de 30 (as Revisões Sistemáticas deverão solicitar o aumento do número de referências ao Editor, conforme a necessidade), restritas à bibliografia essencial ao conteúdo 248 do artigo. Todos os autores e trabalhos citados no texto devem constar na listagem de referências bibliográficas. No texto, as citações devem seguir o sistema numérico, isto é, são numerados por ordem de sua citação no texto, utilizando-se números arábicos sobrescritos segundo o estilo Vancouver (www.icmje.org). Por exemplo: “....o horário de ir para a cama e a duração do sono na infância e adolescência6-12,14,15.”. As referências devem ser ordenadas consecutivamente na ordem na qual os autores são mencionados no texto. Mais de 6 autores, listar os 6 primeiros seguidos de “et al.”. a) Artigos: Autor(es). Título do artigo. Título do periódico (abreviados de acordo com o Index Medicus) ano; volume: página inicial – final. Ex.: Wagner ML, Walters AS, Fisher BC. Symptoms of attention-deficit/hyperactivity disorder in adults with restless legs syndrome. Sleep 2004;27:1499-504. b) Livros: Autor(es) ou editor(es). Título do livro. Edição, se não for a primeira. Tradutor(es), se for o caso. Local de publicação: editora, ano, total de páginas. Ex.: Ferber R, Kriger M. Principles and practice of sleep medicine in the child. Philadelphia: W.B. Saunders Company, 1995, 253 p. c) Capítulos de livros: Autor(es) do capítulo. Título do capítulo. In: Editor(es) do livro. Título do livro. Edição, se não for a primeira. Tradutor(es), se for o caso. Local de publicação: editora, ano, página inicial e página final. Ex.: Stepanski EJ. Behavioral Therapy for Insomnia. In: Kryger MH; Roth T, Dement WC (eds). Principles and practice of sleep medicine. 3rd ed. Philadelphia: W.B. Saunders Company, 2000, pp. 647-56. d) Resumos: Autor(es). Título. Periódico ano; volume (suplemento e seu número, se for o caso): página(s). Quando não publicado em periódico: Título da publicação. Cidade em que foi publicada: editora, ano, página(s). Ex.: Carvalho LBC, Silva L, Almeida MM, et al. Cognitive dysfunction in sleep breathing disorders children. Sleep 2003; 26(Suppl):A135. e) Comunicações pessoais só devem ser mencionadas no texto entre parênteses. f) Tese: Autor. Título da obra, seguido por (tese) ou (dissertação). Cidade: instituição, ano, número de páginas. Ex.: Fontes SV. Impacto da fisioterapia em grupo na qualidade de vida de pacientes por AVCi (Tese). São Paulo: UNIFESP, 2004, 75 p. g) Documento eletrônico: Título do documento (Endereço na Internet). Local: responsável (atualização mês/ano; citado em mês/ano). Disponível em: site. Ex.: The pre-history of cognitive science (endereço na Internet). Inglaterra: World Federation Neurology. (última atualização 12/2005; citado em 01/2006). Disponível em: http://www.wfneurology.org/index.htm. III – Artigos de Revisão de Literatura e Atualização: revisão crítica de literatura ou atualização relativo a neurociências, com ênfase em causa, diagnóstico, prognóstico, terapia ou prevenção (8000 palavras). Título: em inglês e em português ou espanhol, sintético e restrito ao conteúdo, contendo informação suficiente para catalogação, não excedendo 90 caracteres. A Revista prefere títulos informativos. Autor(es): referir nome(es) e sobrenome(s) por extenso. Referir a instituição em que foi feita a pesquisa que deu origem ao artigo. Referir formação acadêmica, titulação máxima e vínculo profissional de cada autor, ex.: 1- Neurologista, Livre Docente, Professor Adjunto da UNIFESP, 2- Neurologista, Pós-graduando na UNICAMP, 3- Neurologista, Residente no Hospital São 249 Paulo – UNIFESP. Referir suporte financeiro. Identificar o autor e endereço para correspondência. Resumo e Summary: devem permitir uma visão panorâmica do trabalho. Para os Artigos Originais o resumo deve ser estruturado em objetivos, métodos, resultados e conclusões. Não exceder 200 palavras. Unitermos e Keywords: Máximo de 6 (seis), referir após o Resumo e o Summary, respectivamente. Como guia, consulte descritores em ciências da saúde (http://decs.bvs.br). Corpo do Artigo: apresentar a matéria do artigo seqüencialmente: introdução, conclusão e referências bibliográficas. Referências: citar até 100 referências, seguindo o sistema numérico por ordem de sua citação no texto, segundo o estilo Vancouver. Quadros e Tabelas: juntos não devem exceder 2, apresentados em páginas separadas e no final do texto. Em cada um, deve constar seu número de ordem, título e legenda. IV – Artigos de Resenha: é a apresentação do conteúdo de uma obra (livros publicados, teses e dissertações dos últimos dois anos), acompanhada de uma avaliação crítica (3000 palavras). As Resenhas devem seguir os itens: título em inglês e em português ou espanhol, sintético e restrito ao conteúdo, mas contendo informação suficiente para catalogação, não excedendo 90 caracteres. Nome do(s) autor(es), com formação, titulação acadêmica e vínculo profissional, instituição onde o trabalho foi realizado, endereço para correspondência. Resumo e Summary: até 200 palavras com Unitermos e Keywords: Máximo de 6 (seis), referir após o Resumo e o Summary, respectivamente. Como guia, consulte descritores em ciências da saúde (http://decs.bvs. br). Corpo do texto contendo: tema, hipótese ou idéia central; argumentos; evidências científicas; avaliação pessoal quanto à organização da obra, pontos fortes e fracos, bibliografia utilizada (estilo Vancouver); conclusão, críticas e comentários. V – Ensaios: é um texto literário breve, situado entre o poético e o didático, expondo idéias, críticas e reflexões morais e filosóficas a respeito de certo tema pesquisas da área das neurociências (3000 palavras). Deverá conter: título em inglês e em português ou espanhol, sintético e restrito ao conteúdo, mas contendo informação suficiente para catalogação, não excedendo 90 caracteres. Nome do(s) autor(es), com formação, titulação acadêmica e vínculo profissional, instituição onde o trabalho foi realizado, endereço para correspondência; e no máximo 10 referências bibliográficas no estilo Vancouver. Resumo e Summary: até 200 palavras com Unitermos e Keywords: Máximo de 6 (seis), referir após o Resumo e o Summary, respectivamente. Como guia, consulte descritores em ciências da saúde (http://decs.bvs.br). VI – Texto de Opinião e Carta ao Editor: deve conter opinião qualificada sobre um tema na área de neurociências, nota curta, crítica sobre artigo já publicado na Revista Neurociências ou relato de resultados parciais ou preliminares de pesquisa (1000 palavras). Deverá conter: título em inglês e em português ou espanhol, sintético e restrito ao conteúdo, mas contendo informação suficiente para catalogação, não excedendo 90 caracteres. Nome do(s) autor(es), com formação, titulação acadêmica e vínculo profissional, instituição onde o trabalho foi realizado, endereço para correspondência; e no máximo 10 referências bibliográficas (estilo Vancouver). Modelo de Carta de Autorização e Declaração de Conflito de Interesse: http://www.revistaneurociencias.com.br Instructions for authors: http://www.unifesp.br/dneuro/neurociencias Rev Neurocienc 2008;16/3 A Editora OMNIFARMA é uma empresa especializada na área da saúde, voltada aos autores e sociedades médicas. Realizamos os seguintes projetos: Publicações: livros, revistas, periódicos. Eventos: cursos, reuniões, congressos, simpósios. Captamos recursos para a concretização do seu projeto científico. Estamos à disposição para eventuais contatos no telefone (11) 5181-6169. [email protected] R. Américo Brasiliense 2171 Cj. 109 Chácara Santo Antonio S. Paulo - SP - CEP 04715-004
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